sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fazendas em prédios


Usando a hidrocultura, o norte-americano Dickson Despommier pretende cultivar legumes, frutas e grãos em uma espécie de torre de estufas em forma de edifício nas grandes cidades. O microbiologista novaiorquino Despommier as chama de fazendas verticais.

Até agora, isso é só um projeto que ganha vida em gráficos de computador: arranha-céus de 30 andares que se erguem sobre cânions urbanos de uma megacidade. Pelo vidro das janelas, sobressai a cor verde das plantas em seu interior – trata-se de grandes estufas onde frutas, verduras e cereais são cultivados para milhares de pessoas. Nos diferentes andares das fazendas verticais, as plantações, por exemplo, de tomate, se alternam com a cultura de mandioca, terraços de arroz, campos de trigo, alfaces e batatas.

O visionário professor tem uma percepção detalhada de como a tal fazenda vertical deveria ser. As plantas cresceriam a partir do princípio da hidrocultura, em grãos de argila expandida. A luz para as plantas viria do Sol, através de uma grande fachada de vidro ou de LEDs orgânicos, que são diodos emissores de luz especialmente eficientes. Até mesmo o ar-condicionado poupará energia, já que serão as plantas que irão regular a temperatura.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Baixaria em campanha é isso!

Se você achou a campanha presidencial brasileira uma das campanhas de mais baixo nível da história, então precisa ver o que está acontecendo nos EUA. A um mês e meio das eleições para o novo congresso americano, a ultra-direita conservadora extravasou toda sorte de impropérios sobre o presidente Barak Obama, deixando claro que detesta o atual ocupante da Casa Branca. É uma gama quase infindável de criatividade. Não faltou nem mesmo o bigodinho de Hitler no rosto do presidente. A idéia é protestar contra o que os extremistas consideram o fim: os Estados Unidos perderam o respeito do mundo e estão falidos. Culpa de Obama.

Um ataque fundamentalista a Obama: „Não é o meu Deus”, insinuando que o presidente lê e rege algumas de suas decisões pela obra de Karl Marx.

A saudade de um tempo em que se tinha bem claro quem é quem. Este militante não esqueceu o extinto inimigo do lado de lá da Guerra Fria, e deixa bem claro: o presidente Obama é um comunista! Cuidado com ele!

O bótom da militante é claro: o Presidente Obama é um grave erro da história, esquecendo que a frase já era usada em larga escala para referir-se a Bush.

Milhares de adeptos do movimento ultraconservador „Tea Party Movement“ marcharam rumo ao capitólio, enquanto enchiam as ruas de infindáveis ataques a Obama.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O fim do embargo contra Cuba é uma questão humanitária


A Assembléia-Geral da ONU condenou ontem, pela 19ª vez, o embargo econômico e comercial a Cuba, decretado há quase meio século pelos EUA. Só não foi unanimidade dos 192 países que integram as Nações Unidas porque era bastante óbvio: 187 países votaram pelo fim do embargo, dois foram contra (EUA e Israel, que dúvida...) e três abstiveram-se (Ilhas Marshall, Palau e Micronésia; o seu micro-tamanho impede outro tipo de postura).

O embargo impede as relações comerciais entre Cuba e EUA, distantes menos de 200 km, e proíbe empresas americanas de investir ou mesmo se associarem a outras, de outros países, que mantenham comércio com os cubanos.

Esse embargo foi imposto unilateralmente pelos EUA em 1962. Nesses 48 anos, o povo cubano sofreu perdas de 173 bilhões de euros, atualizado a preços no mercado norte-americano, ou de 543 bilhões segundo a cotação do ouro no mercado internacional.

Washington impõe uma “guerra econômica cruel de meio século contra o povo de Cuba”, diz o ministro cubano dos Negócios Estrangeiros. O arquiteto do embargo foi Dwight Eisenhower, presidente dos EUA que começou por reduzir a importação de açúcar cubano, antes de John F. Kennedy decretar o embargo, a 7 de Fevereiro de 1962. Antes da revolução de 1959, o mercado norte-americano era o destino de 67% das exportações cubanas e 70% de suas importações vinham dos EUA.

Além dos problemas econômicos e sociais a que é submetida a ilha de Castro, a duras penas por uma teimosia política que beira à birra diplomática, o embargo traz uma série de problemas na área de saúde, por não poder comprar tecnologia e equipamentos cirúrgicos fabricados apenas nos Estados Unidos ou em outros países que não os vendem por temerem ser atingidos pelas represálias previstas nas leis que regem o embargo.

Por incrível que pareça, nem mesmo a oposição a Fidel Castro defende o embargo. Para o economista e opositor cubano Oscar Espinosa Chepe, o embargo serviu unicamente “para fazer mal ao povo cubano e justificar a repressão” e acaba por ser “um álibi para Havana justificar o desastre nacional”.

Por isso mesmo, para bem longe da rançosa questão ideológica que move o embargo, seu fim é simplesmente uma questão de razões humanitárias. Todo esse tempo só fez do povo cubano um grande especialista em sobrevivência e, assim que o embargo finalmente cair, a pequena ilha irá deslanchar de modo espetacular. Êta povo duro na queda! Manter o regime funcionando em meio a tanta carestia só demonstra o valor que cada cidadão cubano dá ao seu direito de autodeterminação.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Novas tecnologias em 2010

Como um pequeno exemplo do que eu disse ontem sobre as tecnologias de que nem sabemos, veja este vídeo. Se Lutero vivesse em 2010, ficaria entusiasmado com todos esses recursos à disposição da causa da Reforma. Veja, aprecie e se sinta desfiado a embarcar em pelo menos alguns desses recursos espetaculares.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tecnologia de comunicação


Na semana da Reforma, comemorada em diversas comunidades cristãs oriundas da Reforma de Lutero, é um tempo bom para falar da importância da comunicação para a igreja. Vejo com preocupação crescente muitas comunidades, até em grandes centros urbanos, que mal têm computador e e-mail.

Falta avançar corajosamente, num tempo em que acontece uma revolução comunicacional a cada novo ano. Desde os anos 1970, o mundo nos revelou o computador, o videocassete, o CD, o DVD, o celular, a TV digital, a internet, o iPad e o iPod, e muitas outras tecnologias que facilitam a comunicação. Uma a cada novo ano, repito. Vivemos, portanto, um tempo bendito no que se refere à extrema facilidade que temos na divulgação do Evangelho. Mas aproveitamos isso muito pouco.

"É o primeiro culto que eu assisto com apresentação de powerpoint", me disse a minha filha, no sábado passado, numa confirmação em Joinville, na igreja do pastor Renato Creutzberg. "Achei bacana", ela concluiu. Observei que estava tudo instaladinho para usar o recurso constantemente, um projetor de imagens num longo braço, para que reflita a imagem bem sobre uma tela estratégica, à vista de toda a comunidade. Enquanto o Renato falava, ele só ia trocando as lâminas com um discreto controle remoto em sua mão direita. Uma beleza!

No tempo de Lutero houve somente uma revolução na comunicação. E Lutero não perdeu o bonde. Ele soube fazer uso da invenção da impressão, do seu conterrâneo Johannes Gutenberg (1390-1468). Lutero tinha quinze anos quando Gutenberg morreu.

Sobre a maravilhosa tecnologia da impressão de livros, Lutero escreveria mais tarde: A impressão é o último dom de Deus e o maior. Por seu intermédio, Deus quer dar a conhecer a verdadeira Religião a toda a terra e expandi-la em todas as línguas. É a chama que brilha antes da extinção do mundo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O legado do Manifesto de Curitiba


Enquanto ocorre o Concílio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB, de 20 a 24 de outubro, em Foz do Iguaçú, não dá para esquecer de um outro concílio, ocorrido na mesma data, em Curitiba, há 40 anos. Um clima pesado imperava, então. Não só pela angústia provocada pela realidade da ditadura no poder na época, mas pelo vexame da própria igreja luterana, que havia sido descartada como cede da assembléia da Federação Luterana Mundial e viu o evento ser realizado em Evian-França, o clima era pesado. Havia protesto, vergonha e vontade de resposta no ar, naqueles dias de 1970, em Curitiba. A seguir, eu conto a história do resultado que este clima daquele concílio gerou. As linhas a seguir foram publicadas no jornal O Caminho (http://www.jornalocaminho.com.br/) e também estarão nas páginas da próxima edição da revista Novolhar (http://www.novolhar.com.br/). É um resgate histórico oportuno e necessário. Boa leitura.

A porta da sala da Presidência da República em Brasília se abria, na manhã do dia 6 de novembro de 1970, para os pastores Karl Gottschald, presidente da IECLB, Augusto Kunert, regional da RE IV, e Ernesto Schlieper, pároco da comunidade luterana de Brasília. Os três tinham uma missão difícil, que exigia um alto grau de coragem e amor ao evangelho. Estavam prestes a ter uma audiência com o presidente Emílio Garrastazu Médici, para entregar-lhe um documento.

Este documento completa 40 anos. Entrou para a história como o “Manifesto de Curitiba”. Havia sido aprovado pelos conciliares do VII Concílio Geral da IECLB, na plenária do dia 24 de outubro de 1970, na capital paranaense. Com a ousadia, a igreja luterana entrava para o seleto grupo das instituições não coniventes com a ditadura instalada no Brasil em 1964 e com a tortura e o desprezo aos direitos humanos.

O documento também era uma reação tardia a um fato que havia frustrado profundamente a cúpula da IECLB. Por causa da situação política no Brasil, a Federação Luterana Mundial (FLM) havia cancelado a realização da sua assembléia mundial em Porto Alegre, marcada para 14 a 24 de julho de 1970.

Dois meses antes, mesmo com quase tudo pronto, os parceiros luteranos europeus alegaram “falta de segurança” para realizar a assembléia no Brasil, transferindo-a para Evian, na França. Se isto realmente era assim e atemorizava até mesmo os europeus, a IECLB não podia continuar calada diante do que a ditadura fazia no país.

Mas não se espere um documento contundente, que vai direto ao ponto e expressa com clareza a que veio. Antes, é um texto cuidadoso, que hoje facilmente seria classificado como morno. “O texto era irênico”, defende o Dr. Lindolfo Weingärtner, aportuguesando o termo “eirene”, que significa “paz” em grego. "Mas não apaziguador, no sentido de condescendente, e sim no jeito que os cristãos têm de falar entre si sobre questões difíceis", ele esclarece.

Na época, Weingärtner era reitor da Faculdade de Teologia em São Leopoldo e coordenador da Comissão Teológica da IECLB. “Eu elaborei um texto-base, que discutimos na comissão teológica e oferecemos à Direção da Igreja para ser publicado ou encaminhado ao governo, de alguma maneira”, relembra. A direção da IECLB levou o texto ao Concílio, dando início ao processo que terminou no Gabinete da Presidência, naquele nervoso dia 6 de novembro, em Brasília.

Considerando a mão que conduziu a pena, o texto de três páginas datilografadas era recheado de sólidos argumentos teológicos acerca das relações entre Igreja e Estado. Como portadora da mensagem de Deus, a Igreja não pode se esquivar de testemunhar sem desobedecer ao seu Senhor, defendia o texto. Sua mensagem “é dirigida ao homem todo, não só à sua alma”. Por isso, “terá consequências e implicações em toda a esfera da sua vivência – inclusive física, cultural, social, econômica e política”.

Reivindicando para a Igreja o papel de “consciência da Nação”, o documento justifica sua crítica aos rumos do governo, “não de fiscal, mas antes de vigia”.

O faz com extremo cuidado. “A Igreja, em tais casos, não procurará contestar o poder do Estado, como se ela fosse um partido político, mas proclamará o poder de Cristo. Onde ela se sentir compelida a contrariar medidas governamentais, antes de tomar qualquer atitude pública, procurará dialogar com as autoridades respectivas”, procurando sempre agir “sem intuitos demagógicos”.

“Conta-se que Médici não se mostrou muito impressionado com esta argumentação teológica”, diz o pastor Meinrad Piske, que também participou da entrevista com Weingärtner. Mas ele anuiu ao ser lido o trecho que deixava claro que “o culto terá consequências políticas, por despertar responsabilidade política, mas não deverá ser usado como meio para favorecer correntes políticas determinadas”. Entusiasmou-se ao ouvir “A pátria será honrada e amada; seus símbolos serão respeitados e usados com orgulho cívico, no sentido mais legítimo, mas o cristão não poderá falar da pátria em categorias divinizadoras”.

Mas o semblante do presidente foi se fechando quando o manifesto passou a discorrer sobre os direitos humanos. O texto fala de “notícias alarmantes sobre práticas desumanas que estariam ocorrendo em nosso País”. Não acusa. Apenas constata que essas notícias corriam por aí.

O Manifesto de Curitiba não se intimida ao chegar, finalmente, ao ponto: “Entendemos mesmo, como Igreja, que nem situações excepcionais podem justificar práticas que violam os direitos humanos”. E é por esta determinação e ousadia profética que o Manifesto deve permanecer na história como um dos mais corajosos documentos já publicados pela IECLB.

Ele foi divulgado somente depois das eleições de 15 de novembro, num acordo com a Presidência, para evitar seu uso para fins eleitorais. “As lideranças da Igreja ficaram impressionadas ao ler o texto no jornal O Estado de São Paulo, que publicou o Manifesto na íntegra”, lembra o pastor Piske. “Este jornal vivia cheio de poesias e colunas pretas no lugar dos textos que haviam sido cortados pela censura”, completa.

O Manifesto de Curitiba, quarenta anos depois dessa ousadia luterana, continua sendo um marco. Num momento de euforia ideológica do Estado, que se agigantava em atitudes e leis anti-democráticas e repressoras, ele propõe reflexão sobre os princípios éticos em jogo e defende os direitos humanos.

Ao mesmo tempo, a IECLB oficializa, com aquele documento, o seu “inteiro apoio a quem se acha seriamente empenhado em coibir abusos cometidos e em oferecer ao mais humilde dos brasileiros – inclusive ao politicamente discordante – a absoluta certeza de que será tratado segundo as normas da mesma lei com a qual possa ter entrado em conflito”.

Leia o manifesto na íntegra, digitando “Manifesto de Curitiba” na ferramenta de busca do portal da IECLB: http://www.luteranos.com.br/.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nosso poder destrutivo e o tempo


O poder de destruição da espécie humana é impressionante. Que o diga esta obra de arte (clique sobre a imagem para ampliar), que compara o tempo geológico com o tempo de existência da humanidade sobre o planeta. A Terra, segundo os cientistas, tem a idade de 4 a 5 bilhões de anos. Já o ser humano, desde que é homo sapiens, tem em torno de 200 mil anos. Mas o período conhecido, registrado da história humana sobre a face do nosso planeta, tem somente cerca de 5 mil anos.

Na escala do tempo desta espiral, que leva em conta os 4 a 5 bilhões de anos e as diferentes eras geológicas, passando pelo surgimento dos primeiros organismos vivos, pela evolução até a origem dos mamíferos, passando pelos dinossauros, a história da humanidade representa somente um curto trechinho de menos de um centímetro nesta quilométrica espiral do tempo.

Se pegássemos esse trechinho de um centímetro que representa a história da presença humana sobre a terra e o dividíssemos num dia de 12 horas, o período com registro histórico começaria somente às 11h53min, as Cruzadas teriam ocorrido há cerca de um minuto e 44 segundos e a América teria sido descoberta há cerca de 55 segundos.

A era industrial somente teria ocorrido nos últimos 10 segundos e os 100 anos que levamos para colocar o planeta diante de um colapso climático irreversível, que ameaça elevar o nível dos mares em 7 metros nos próximos 50 anos, está ocorrendo nos últimos segundos deste dia de 12 horas da existência humana sobre a Terra.

Comparada com a história da própria Terra, a existência do ser humano fica totalmente fora de quaisquer proporções. Se a idade da Terra fosse comprimida num único ano, os primeiros oito meses estariam completamente desprovidos de vida; os mamíferos não apareceriam senão na segunda semana de dezembro; o ser humano faria a sua entrada em cena a 31 de dezembro, às 11h45 da noite, a escrita teria sido inventada há menos de um minuto, Cristo teria nascido há 22 segundos, e a América teria sido descoberta há seis segundos. Nessa comparação, a era industrial teria lançado o planeta na ameaça de um colapso climático somente no último segundo antes do fim do dia.

Se a existência do universo fosse compactada num único ano, no dia 1º de janeiro ocorreu o Big Bang, no dia 1º de outubro apareceu a Terra, no dia 31 de dezembro, às 23 horas, 59 minutos e 6 segundos nasceu Jesus Cristo. No mesmo dia, às 23 horas, 59 minutos e 59 segundos e 59 centésimos de segundo estamos prestes a provocar o tal colapso climático irreversível no nosso planeta, a única morada que temos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O aborto e as eleições

Dom José Cardoso Sobrinho excomungou a menina de 9 anos que abortou em 2009. Agora, o Brasil diz que ele é do bem e agiu corretamente.

No ano passado uma menina de 9 anos, grávida de gêmeos após abusos do padrasto, realizou o aborto legal na cidade do Recife. Na época, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a garota, a mãe e os médicos que realizaram o procedimento na menina. O estuprador não foi excomungado, embora tivesse nome e endereço e, com certeza, registro de membro na igreja católica.

Agora, o tema do aborto voltou à discussão no Brasil por uma via absolutamente torta e questionável: é usado como golpe abaixo da linha de cintura para derrubar o adversário numa eleição presidencial. Tenta-se ganhar votos com argumentos pseudo-religiosos.

Ou são muito burros ou realmente usam de tacanha má fé para não esclarecer a flagrante diferença que há entre apoiar o aborto como meio de controle do crescimento populacional – o que seria criminoso e perfeitamente condenável – e a descriminalização de um ato cometido a rodo neste país, às escondidas, em clínicas clandestinas, longe dos olhos das autoridades, e, sim, como crime cometido bem à vista de uma sociedade de moralidade torta, hipócrita, oportunista e desmedidamente maliciosa, que faz de conta que não enxerga o que está bem à vista. A quem querem enganar com esta conversa? A mim me parece muito claro: ao eleitor, que sequer tem informação para manter o debate sobre o tema num patamar minimamente razoável.

Senão, vejamos.

No primeiros seis meses deste ano, 54.339 mulheres brasileiras foram hospitalizadas em decorrência de tentativas de interrupção de gravidez, abortos provocados (veja bem, a lei proíbe isso e prescreve cadeia para quem se submete ao procedimento e também para quem monta uma clínica clandestina para concluir o ato nefasto). Os métodos mais utilizados são os medicamentos abortivos (falsificados, fabricados sem qualquer controle, vendidos em camelôs), além de chás caseiros e práticas estranhas, como “beber três goles de água e ficar pulando”, até procedimentos altamente perigosos, como a introdução de agulhas e talos, ou a utilização de permanganato de potássio e de substâncias cáusticas. Todos os anos, 250 mulheres brasileiras morrem em decorrência de abortos provocados.

Isto não é o que será, se o aborto for descriminalizado. Isto é o que acontece neste momento, neste país hipócrita!

Mesmo assim, tem gente e, entre eles, cristãos (!), muitos cristãos, milhões de cristãos, católicos e evangélicos, que fazem deste um assunto bom para ganhar votos. Todos gente “do bem”!

Em nome das 100 mil brasileiras que, todos os anos, são submetidas a uma legislação absurda que quer mandar para a cadeia (ou excomungar para o inferno) meninas em pânico com uma gravidez fruto de abuso sexual do padrasto (muitas vezes sob a bênção da própria mãe da menina) e que, por isso, agridem o próprio corpo com agulhas de tricô ou soda cáustica, declaro aqui que sou inteiramente a favor da descriminalização do aborto no Brasil.

Não faço isto para defender qualquer partido, pois não sou nem jamais fui filiado a nenhum partido. Tenho posição e opinião independentes e procuro me informar sobre a realidade, de preferência longe, bem longe das fontes que a maioria anda lendo por aí e aplaudindo entusiasmada, como uma patética torcida de futebol.

Temos milhões de problemas num país que quer, desesperadamente, livrar-se de seu subdesenvolvimento. E debater a temática do aborto com sobriedade, inteligência, conhecimento de causa e, antes de mais nada, longe de fundamentalismos patéticos, é um bom começo para nós. Como ponto de partida, é um tema muito sério para ser debatido no calor de uma campanha conduzida por marqueteiros e jogadores de pôquer. Por isso, chega desse assunto durante a campanha. Ou amadurecemos, ou nossa estupidez nos devorará.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um parente remoto nos Alpes


No ano de 1991, alguns alpinistas alemães subiam os Alpes italianos, quando encontraram uma múmia no meio de uma geleira. Como não é difícil encontrar cadáveres de alpinistas que se deram mal em alguma escalada, acharam tratar-se de algum desafortunado que congelou durante uma tempestade recente. Mas a análise do cadáver num laboratório revelou uma extraordinária descoberta científica. Tratava-se de um corpo com idade aproximada de 5.300 anos. O homem do gelo foi batizado de Ötzi e, desde então, voltou à “vida” com muitas histórias e instigantes perguntas sobre o passado humano. Hoje ele está num centro de pesquisas da Itália e, quase 20 anos depois da descoberta, teve seu DNA mapeado no mês de julho.

Com o sequenciamento do DNA, que demorou três meses, os cientistas têm à disposição um modelo da estrutura genética de Ötzi. Eles sabem a disposição dos pares de bases de DNA, mas ainda têm que decifrar exatamente a que traços genéticos eles correspondem, e estes variam entre a cor dos olhos até as doenças que ele pode ter tido.

Mas além de fatos simples sobre a fisiologia de Ötzi, a múmia pode ajudar a esclarecer como evoluíram doenças humanas como diabetes, o que pode levar a melhores tratamentos no futuro. Além disso, os cientistas se perguntam se é possível que elementos do seu DNA tenham ainda persistido na região dos Alpes.

Para a espécie humana, trata-se de um precioso mapa do nosso próprio passado, impresso na sequência de informações dos genes de Ötzi. De qualquer modo, tanto a descoberta quanto a pesquisa em torno dela é algo fascinante.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guerra suja na Wikipedia

A versão em português da enciclopédia eletrônica Wikipedia decidiu suspender ontem, quarta-feira (13), a possibilidade de alterar informações relacionadas aos verbetes Dilma Rousseff e José Serra. O objetivo é barrar o número excessivo de edições que ocorreram nas últimas semanas. Os verbetes não poderão ser alterados até o próximo dia 31, dia da votação do 2º turno das eleições. A informação é do Portal Imprensa.

O segundo turno da campanha presidencial, com toda a sua baixaria e guerra desmedida de bastidores, chegou à Wikipedia. Enquanto a internet foi decisiva para ajudar o eleitor americano a eleger seu presidente nas últimas eleições nos EUA, aqui ela está sendo usada para o achincalhe, o deboche, o ataque rasteiro, a difamação, e tudo o que há de mais desprezível numa campanha sem nível. Ainda precisamos amadurecer muito a nossa democracia, para que sejamos capazes de realizar uma campanha eleitoral civilizada, cidadã e, sobretudo, edificada sobre o respeito mútuo.

Um Natal antecipado

Mario Gomez (63 anos), o mais velho dos mineiros que estava soterrado na mina de San José, cai de joelhos em oração, após sair da cápsula para renovar sua vida. Ele fez o papel de pai espiritual do grupo de 33 mineiros durante o tempo em que estavam soterrados.

Para os 33 mineiros soterrados por 70 dias dentro da mina, no deserto do Atacama, hoje é Natal. Todos foram trazidos de volta à vida, numa operação de resgate altamente arriscada e temerosa, que jamais havia sido testada, cheia de improvisos e movida a muita expectativa e orações. Com o sugestivo nome de Fênix II, a cápsula de resgate desceu e subiu os mais de 700 metros de túnel para resgatar um a um do fundo da terra, como num novo nascimento.

É, de fato, um Natal antecipado, que traz como presente a própria vida, uma vez que as previsões iniciais para o resgate dos mineiros eram justamente pelo Natal, daqui há mais de dois meses.

Por isso, para esses 33 mineiros, hoje é Natal. Começa uma nova vida para cada um deles. A alegria, a emoção, a euforia típica dos dias de Natal é plenamente justificada. Contra todas as expectativas, a vida deles recomeça. Brota da terra, como a esperança que renasce do chão da expectativa. Que possa ser, para cada um deles, uma bênção.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A genialidade é simples e direta


Quando a publicidade tem o toque da genialidade criativa, a mensagem é direta, simples e bela. Os anúncios deste post foram feitos para a divulgação do programa Kacophonia, um programa que toca clássicos do Rock, da rádio mineira Guarani FM.

As peças mostram fitas cassete (muitos até já se esqueceram delas!) desenroladas e amassadas para formar a imagem dos artistas, com a frase escrita no corpo da fita cassete: “Ouça os mais velhos”. Uma mensagem simples, clara e direta. São obras de arte tão geniais, que dispensam maiores comentários. Nas três peças mostradas, estão Bob Dylan, Elvis Presley e Jimi Hendrix. Quem viveu os Anos 60, reconheceu de primeira!

A produção é da agência RC Comunicação, de Belo Horizonte.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma festa pelos 70 anos de Lennon


Amanhã, dia 9 de outubro, John Lennon completaria 70 anos. Em dezembro, no dia 9, será o 30º aniversário de sua morte. Entre as homenagens por uma das figuras mais importantes da música pop do século 20 estão um show de luzes na Islandia e uma reedição de seus discos solo e de músicas inéditas. Yoko Ono, a viúva de John, está na coordenação dessas homenagens.

Amanhã, dia do nascimento do artista, Yoko acenderá a Torre da Paz Imagine, na ilha de Viðey, próxima a Reykjavik, Islândia, num espetáculo ao vivo na internet, na página http://imaginepeace.com/. Também será entregue o Prêmio da Paz John Lennon a quatro personalidades, entre elas Alice Walker (escritora e ativista) e o escritor Michael Pollan, seguida de show do grupo Yoko Ono, Plastic Ono Band.

A referida torre foi inaugurada em homenagem a Lennon há três anos, na presença de Ringo Starr, Olivia Harrison (viúva de George) e Sean Lennon, filho de Ono com John. A torre está erguida sobre uma plataforma que representa um poço dos desejos e tem a inscrição “Imaginando a Paz” em 24 idiomas, entre eles o português.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desmond Tutu aniversaria hoje


O arcebispo anglicano Desmond Tutu completa hoje (7/10) 79 anos. Ele está aposentado das funções religiosas há 14 anos, mas nunca deixou de se envolver em negociações para a solução de conflitos. Em julho, anunciou que passaria a ter uma agenda mais leve. Agora, anuncia que vai retirar-se da vida pública.

Ordenado em 1960, fez da sua igreja, no bairro negro de Soweto, um local de encontros e discussões da resistência ao regime do apartheid, da África do Sul. Com menos de 30 anos, ele já era um dos mais abertos críticos da política racista. Pregava a resistência nas comunidades negras carentes, mas sempre pacificamente, como secretário-geral do Conselho das Igrejas da África do Sul.

Em 1984 recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Dois anos depois, tornou-se o primeiro arcebispo anglicano negro da Cidade do Cabo. Logo depois do fim do apartheid, em 1995, presidiu a Comissão da Verdade e Reconciliação, que investigou crimes cometidos durante o regime racista. Ao lado de Nelson Mandela, é herói na África do Sul e em todo o continente africano.

Tutu também fez campanhas de esclarecimento contra o vírus HIV e a aids, além da homofobia e do racismo em geral. Em várias ocasiões, defendeu a causa palestina no Oriente Médio, o fim dos conflitos na Faixa de Gaza e comparou o sionismo ao apartheid. Israel não permitia a entrada dele no país até 2008.

“Vamos sentir falta do seu senso de humor, mesmo ao tratar das questões políticas mais delicadas”, disse Brian Sokutu, porta-voz da Comissão Nacional Sul-Africana, partido do presidente Jacob Zuma e de Nelson Mandela. “Verdadeiro com o seu caráter, Tutu nunca calou sua voz ao defender as campanhas para acabar com o regime do apartheid”.

Tutu celebra seu aniversário com a esposa Leah a bordo de um navio de estudos, o September At Sea, ancorado na Cidade do Cabo, de onde parte amanhã para as Ilhas Maurício. De lá, irá para a Índia, o Vietnã, o Japão e o Havaí, antes de chegar a San Diego (EUA), em dezembro.

A escolha entre a vida e a morte


O movimento contra a pena de morte no mundo vem crescendo, embora lentamente. Para a ONU, a pena capital é considerada incompatível com os direitos humanos desde 1966. Desde então, 95 países já abriram mão da pena de morte, abolindo-a para todos os tipos de crime e em qualquer tempo, havendo paz ou guerra. Lentamente, o movimento vem ganhando força.

No Pacto dos Direitos Humanos da ONU (1966), todos os países-membros foram instados expressamente a renunciar a essa forma de punição ou, pelo menos, a aplicá-la somente a crimes excepcionalmente graves. Entretanto, o projeto de resolução apresentado pela União Europeia à ONU em 1998, no sentido da abolição em nível mundial, não surtiu efeito. Além da resistência da China e dos Estados Unidos, as ex-colônias europeias na África e na Ásia também se mostraram reticentes.

Em 2007, a Assembleia Geral da ONU aprovou, pela primeira vez, uma resolução de moratória na aplicação da pena de morte, um primeiro passo para a sua eliminação total. Desde 2009, entre as 57 nações africanas somente o Sudão e Botsuana a aplicaram e no continente americano apenas os EUA ainda a mantém. Mas até nos EUA o número de exeduções foi de 106, o mais baixo desde o triste recorde de 1994, quando 328 pessoas foram executadas.

A Ásia e o Oriente Médio continuam sendo as regiões mais problemáticas, onde ocorreram mais de 600 das 714 execuções documentadas em todo o mundo pela Anistia Internacional no ano passado. Dessas, 388 somente no Irã, 120 no Iraque e 69 na Arábia Saudita. A este número deve acrescentar-se as mais de 2 mil mortes ordenadas na China, das quais só há indícios, uma vez que o governo chinês se recusa a dar informações sobre sua prática da pena capital. Já na Arábia Saudita e no Irã as execuções são feitas em praça pública, para intimidar opositores e criminosos. São também as duas únicas nações que executaram menores de 18 anos, o que é uma clara violação dos direitos humanos.

Contra a batalha da ONU e dos movimentos de direitos humanos que combatem a pena capital, há no Brasil muita gente que defende a sua legalização. Houve até candidatos com este tema na sua plataforma de propostas parlamentares nas últimas eleições. E eles juntam muitos adeptos.

Entretanto, a questão puramente humanitária e dos direitos humanos que o tema levanta, deve considerar também a preocupante precariedade da justiça penal brasileira, que reiteradamente tem levado gente inocente à prisão por anos a fio. E se tivessem sido condenados à morte e executados? É um risco elevado demais, num país de justiça morosa e extremamente falha.

Além do mais, como um dos países signatários da resolução da ONU de 1966, o Brasil poderá lançar-se na vala comum dos países fundamentalistas, caso o tema volte com força e se chegue a cogitar seu debate no Congresso ou um plebiscito a respeito.

O curioso é que a maioria daqueles que acusam a esquerda brasileira de defender o aborto e ir contra a vida são justamente aqueles que querem a pena capital no Brasil. Você pode escolher agora entre a vida e a morte: o que vai ser?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ONU-Mulheres para Bachelet


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, para chefiar a ONU-Mulheres. Pesou na sua decisão o fato de ela ter sofrido perseguição política na ditadura, ter 80% de popularidade e ter sido considerada a melhor governante do país andino em 200 anos de história por 43% da população.

A tarefa de Bachelet será atuar na dignificação das mulheres, na nova entidade da ONU, que surge da fusão de quatro agências e fundos especializados em gênero.

Bachelet sabe que sua maior luta será por respeito aos direitos humanos. Ela entende o convite como “um sinal claro da vontade política de que a situação das mulheres no mundo tem que melhorar”. Animada, ela crê que a fusão dos organismos é um bom início do trabalho de levar adiante melhores condições para meninas e mulheres em todo o mundo, inclusive na América Latina.

O secretário-geral da Federação Luterana Mundial (FLM), o pastor luterano chileno Martin Junge, enviou carta de congratulações a Michele Bachelet. Junge reiterou o apoio dos luteranos aos objetivos do ONU-Mulheres e afirmou o compromisso da FLM para vencer o pecado “da violência contra a mulher”.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Por moradia digna

O Edifício Prestes Maia foi um dos ocupados pelos homeless

Ainda há muito a ser feito no nosso país. Um bom exemplo disso é o grupo de duas mil pessoas sem-teto que invadiu, na madrugada de segunda-feira 4 de outubro, quatro prédios abandonados do centro de São Paulo. Essas famílias são vítimas de despejo nos últimos meses e moradores de favelas sob ameaça de remoção.

Os homeless ocuparam o Edifício Prestes Maia (foto), um prédio abandonado da Avenida Ipiranga, outro da Avenida São João e um edifício que pertencia ao INSS, na Avenida Nove de Julho. A prefeitura havia concedido em abril três meses de bolsa-aluguel a aos despejados que tomaram o prédio da Av. Ipiranga, mas não houve renovação. Os sem-teto chegaram ao prédio da Avenida Ipiranga em 15 ônibus e 25 carros.

A Frente de Luta Por Moradia, que organizou os homeless durante a invasão, informou em nota que seu objetivo é pressionar o governo a transformar os imóveis abandonados em moradias populares. Eles também pedem o desenvolvimento de programas de habitação social para famílias com renda inferior a três salários mínimos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um show de democracia

As urnas eletrônicas chegaram aos lugares mais remotos de uma das mais populosas democracias do mundo, numa demonstração de competência e organização.

Um domingo festivo, sem nenhum incidente digno de nota, em que milhões de eleitores e eleitoras foram às urnas para eleições majoritárias, limpas e democráticas. Um espetáculo que se vê em poucos lugares. Nem mesmo em países do chamado primeiro mundo as eleições são tão ordeiras. Você poderia supor que estou falando da Alemanha, dos EUA, da França ou da Inglaterra. Não, estou falando do Brasil.

E o show de democracia e transparência seguiu durante a apuração. Sem incidentes, os resultados das urnas eletrônicas de todo este imenso país-continente estavam quase 100% apuradas meras cinco horas depois (eu disse horas, e não dias!). Além de um show de democracia, um espetáculo de competência e tecnologia, que dá um baile nas grandes e orgulhosas nações da Europa e da América do Norte.

Ah, você poderia dizer, mas esta grande nação democrática e ordeira elegeu o Tiririca, o Romário, o Marcelinho Carioca... A grande nação democrática quase deu um cargo de senado ao Netinho em detrimento da Marta. Mas essas eleições somente indicam o nível da democracia, em que qualquer cidadão pode candidatar-se e ser eleito. Um Tiririca somente canalizou os votos de protesto de um eleitorado absolutamente descontente com o que estava aí, representando a classe dos políticos tupiniquins. Me diga, qual é a diferença entre um Tiririca ou um Roriz? Seria mais democrática a volta de Renan Calheiros ao senado federal? Mas ele voltou, apesar de tudo...

Então, na soma geral, o Brasil deu mais um show. Vamos ao segundo turno, sem medo de que estejam pisoteando a democracia. Essa conversa é tão desmedida quanto absurda. É conversa de quem quer semear a desordem. Não somos mais um país de bananas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Baruleira dentro da cabeça


Ao dar uma passada habitual no blog do meu amigo Marcelo, encontrei um post que é uma obra-prima de texto. Não resisti. Control C + Control V nele, para que você também tenha acesso ao mergulho de Marcelo em seu mundo mais íntimo. É pura sensibilidade com a vida; emoção vertendo pelos poros. Aprecie sem moderação:

Foi perto das quatro da manhã. Acordei de repente. Achei que iria dormir profundamente a noite toda, como havia acontecido na noite anterior. Que nada. Lá estava eu, de olhos esbugalhados, no escuro do quarto, olhando para os números verdes do mostrador digital da tevê. Silêncio absoluto.

É impressionante a barulheira que se ouve na nossa cabeça num momento de insônia como esse. Parece que os problemas, as preocupações, as ansiedades, medos e esperanças têm voz e estão todos falando ao mesmo tempo. É como se todos saíssem da toca quando notam que a gente dormiu.

Acordar no meio da madrugada é como flagrar os assuntos na nossa cabeça batendo papo animadamente, como se estivessem num intervalo com cafezinho. Enquanto dormimos profundamente, eles finalmente podem socializar um pouco, aliviar o próprio stress. Acho que vi minhas neuroses conversando com meus medos do futuro; vi minhas preocupações com a saúde aos risos com meu ufanismo. Mas a melhor cena foi mesmo ver minha certeza flertando com meu plano pro futuro. Ficou claro que tem algo entre eles. Vi ele passando a mão no rosto dela. Vi ela sorrir e inclinar o rosto na direção da mão dele. Os dois me viram. Sorriram pra mim.

Peguei no sono de novo em maio àquela barulheira toda. Não havia nada a fazer. É sempre assim: quando durmo, a turma das gavetas na minha cabeça sai e fica trocando ideias por conta própria. Pareciam bem entrosados, até aqueles que sempre achei que jamais iriam se acertar uns com os outros.
(Marcelo Schneider, em http://www.skelter.blogspot.com/)

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...