segunda-feira, 27 de junho de 2016

Blumenau Farroupilha


A construção da Estrada de Ferro Santa Catarina trouxe os primeiros "forasteiros" a Blumenau. Vieram para cavar o leito da EFSC, deitar os dormentes e prender os trilhos sobre eles. A construção da bela ponte de ferro, no centro da cidade, também fez surgir a primeira favela de Blumenau. Na cabeceira da ponte em obras, surgiu um agrupamento de casebres em terra invadida, pejorativamente denominado de “Farroupilha”. Com a estrada e a ponte prontas, foram ficando e faziam os piores serviços na “cidade jardim”. Aos domingos, eram uma animada torcida do Palmeiras, clube de futebol dos moradores da "Palmenstrasse", a rua das palmeiras plantadas pelo Dr. Blumenau.
Mas aquela mancha desordenada de barracos de pau a pique e ruas feitas com pás e picaretas em barrancos íngremes incomodava. O dono do terreno já havia entrado na justiça diversas vezes para tentar sua remoção. O centenário da orgulhosa cidade se aproximava, e a Farroupilha não podia permanecer ali para os festejos. Assim em 1949, um ano antes do centenário, a prefeitura empenhou-se em relocar aquela exibição farrapa em pleno centro.

O primeiro “zoneamento” do município jogava para longe dos olhos um problema habitacional que surgia no rastro da pujança do município. A lei foi assinada pelo memorável prefeito Frederico Guilherme Busch Jr., em seu segundo de três mandatos (1947-1951). A Farroupilha foi transportada de mala e cuia para o Beco Araranguá e o que é hoje a Rua Pedro Krauss Sênior.
A orgulhosa Blumenau podia comemorar seu centenário com a cabeceira da ponte livre da Farroupilha e receber com distinção os descendentes do Dr. Blumenau. Vieram receber as merecidas honrarias pela bela cidade que seu pai e avô havia fundado à beira de um rio exuberante. Desde então, a loira Blumenau aprendeu a amar os meios-fios das calçadas do centro caiados de branco.
Enquanto comemoravam 100 anos de conquistas, mal suspeitavam os blumenauenses que a relocação da Farroupilha acabasse por criar o maior problema do futuro da cidade, a regularização fundiária: a ocupação desordenada em áreas de risco e invasão de reservas ambientais. Quem conhece o Beco Araranguá sabe do que eu estou falando. O “longe dos olhos”, que colocou para fora da vista das belas tardes do Tabajara Tênis Clube uma mancha indesejável, expôs de maneira dolorosa o que significa varrer a sugeria para debaixo do tapete.
Estou entre os que divulgam essa história para que a Farroupilha não seja também varrida para debaixo do tapete da história e desapareça da memória coletiva de Blumenau.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Idosos maltratados


No Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, é necessário apontar para o crescimento desse tipo de crime. O Brasil, como todos os demais países que iniciam um processo de declínio da curva de crescimento populacional, torna-se rapidamente um país de gente idosa. Conforme relatório da Organização Mundial de Saúde, a porcentagem de pessoas com idade acima dos 60 anos no país cresce acima da média mundial. Até 2050 o número de idosos deve triplicar no Brasil.
O que diminui com o aumento do número de pessoas idosas é a paciência dos mais jovens com elas. Velho é peso. Velho é estorvo. Velho devia morrer mais cedo.
O assunto foi meio que varrido para debaixo do tapete em meio à crise institucional brasileira. Mas não deixou de existir por isso. O Disque 100, que foi criado em 1997 para receber denúncias de violência contra crianças, desde 2011 está também recebendo denúncias de violência contra pessoas deficientes e idosas. No caso das pessoas idosas, as denúncias aumentaram 195% em 2012 só no Paraná, e no ano seguinte mais 75%.
Violência não é só bater ou humilhar. Há numerosas maneiras de violentar uma pessoa idosa, confiscando sua aposentadoria, confinando-a num quarto insalubre nos fundos da casa ou do rancho, deixando-a numa solidão desoladora enquanto o resto da família passa o dia fora (ainda mais quando preso à cama ou a uma cadeira de rodas), não tratando devidamente de seu bem-estar físico e psicológico. Nem falo de um asilo, pois lá quase sempre ela terá tratamento condizente. E a coisa vai por aí. Tudo pode ser resumido na palavra ABANDONO, que tem em sua raiz o verbo "to ban" (inglês), que significa "banir".
A Bíblia recomenda respeito à pessoa idosa. A lei de Israel diz: “Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito” (Lv 19.32). Paulo diz a Timóteo: “Não repreendas asperamente ao homem idoso, mas exorta-o como se ele fosse seu pai” (1 Tm 5.1). O Conselho dos Anciãos era o círculo de poder mais respeitado na antiguidade em diversos povos, sendo um dos últimos recursos para deliberar questões polêmicas ou jurídicas.
Cabe também à igreja cristã olhar com atenção esta questão. Não esqueçamos que, para o bem ou para o mal, as pessoas idosas são grande parte de nossas comunidades ativas. As crianças rareiam. Os adultos estão atarefados demais. São as pessoas com tempo livre, na aposentadoria, que formam o grosso da membresia ativa de nossas comunidades. Então, nada melhor que tratá-los com carinho e cuidado.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Ouso corrigir o Castelo Forte

Hoje é um dia especial para mim e para todas as ministras e os ministros da igreja cristã. Minha homenagem a todas as e todos os colegas. Subir num púlpito, missionar ou ensinar não é fácil numa sociedade líquida, em que mudar de opinião também segue os ditames do consumismo e da moda. Por isso, não se trata de modismo, mas a Igreja precisa adaptar sua linguagem a um mundo que muda todos os dias, para falar ao coração das pessoas com clareza. E nós, mulheres e homens dos ministérios, estamos diariamente diante deste desafio gigante!
Às vezes, a dureza da linguagem e o exagerado apego a detalhes da tradição atrapalham a igreja. Por isso, não posso deixar de compartilhar estas duas fotos com um sentimento de frustração. São fotos do devocionário Castelo Forte, na página da meditação para o dia de hoje. Foram tiradas por mãos de mulher. Este dedo de bem decorada unha é da pastora Beta Lieven, ministra da IECLB. Com razão, ela protesta em sua página do Facebook contra o texto e a chamada (esquecimento ou intenção, não sei...) para o dia DO PASTOR, voltada apenas para os homens. Não vou entrar em detalhes aqui sobre a parceria de duas igrejas luteranas que produz o Castelo Forte, uma das quais rejeita as mulheres pastoras (às vezes de forma ostensiva).
Afirmo apenas que não é somente uma questão de linguagem inclusiva. Dói! É como se todas as pastoras e ministras fossem deliberadamente empurradas para fora dos altares das igrejas. É como se o maior devocionário do mundo luterano brasileiro afirmasse a elas: "Sentem-se aí na fila dos bancos e calem-se!". Assim, eu ouso CORRIGIR esta página do Castelo Forte.

DIA DO PASTOR E DA PASTORA
Ou, como bem disse a Valmi Becker, "Dia da Ministra e do Ministro"
1 Coríntios 16.1-12
O texto fala dos dons espirituais, comparando a igreja a um corpo humano. Aponto com o dedo os versículos 4 e 5, que falam da diversidade de DONS e diversidade de MINISTÉRIOS. Insisto que o Espírito inclui as MULHERES entre as pessoas agraciadas pela multiformidade dos dons espirituais e também de TODOS os ministérios da igreja, a saber: missionário, catequético, diaconal e PASTORAL! Vamos tirar do nosso caminho (e dos nossos corações) esta pedra do machismo eclesial. No dia de hoje, eu proclamo: FALEM, MULHERES! VOCÊS TÊM MENSAGENS LINDAS E A IGREJA QUER OUVIR VOCÊS!

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Refugiado Político na Origem

Imagem: Martim Lutero é sequestrado e levado à Wartburg

A Reforma Luterana tem uma forte ligação com a figura do asilo político. Assim que Martim Lutero disse que, "por razões de consciência" ele não podia renegar seus escritos, ele subiu o último degrau do que no século 20 passou a ser conhecido como "desobediência civil", que é uma forma de protesto político, feito pacificamente, que se opõe a uma ordem injusta e repressora.
Como resultado do que o imperador Carlos V e a Igreja consideravam uma insolência, veio a proscrição. O monge insolente perdeu a bênção da igreja e a proteção do estado. Só um asilo político poderia salvar a sua vida. Qualquer um que o matasse, nem seria chamado a depor. Talvez fosse ainda homenageado com uma medalha...
O asilo político de Martim Lutero veio com o seu sequestro. Ele, é claro, pensou que o seu fim havia chegado. Mas, seus sequestradores eram enviados pelo Príncipe Frederico, para salvá-lo de ser morto a pauladas, como uma serpente que surpreende um caminhante à beira da estrada.
Durante mais de um ano, Lutero foi um refugiado político no Castelo de Wartburg. Assim, foi ali que ele traduziu o Novo Testamento e organizou as suas ideias cuidadosamente. O movimento da Reforma tem em sua origem um forte ingrediente ligado aos direitos humanos e à condição de refúgio político. Portanto, 500 anos depois, em meio à maior crise de refugiados da história humana, a experiência de Lutero nos ilumina e inspira. (CHL)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O Cristianismo e o Homem de Aço


Você sabia que o verdadeiro nome de Stalin (1927-1953) era Georgier Josef Wissarionowitsch Dschugaschwili? O apelido “Stalin” era seu nome de guerra, e vem de Stal=Aço, ou seja, "homem de aço". A imagem que se via ao encontrá-lo, entretanto, não corresponde nadinha com a desta foto, propositalmente tirada de baixo para cima para dar a impressão de grandiosidade. Com uma estatura de 1,62 metro, o presidente americano Harry Truman o chamava de “Three Cheese High” (em alemão “Drei Käse Hoch”, ou “Baixinho”), algo como o pequeno príncipe real do filme “Shrek”.
Este baixinho invocado espalhou o terror estatal pela União Soviética contra todos os seus opositores. Milhões morreram em campos de trabalhos forçados durante sua limpeza política. Outros milhões morreram de fome por conta de suas reformas econômicas mal planejadas. O pequeno malvado Stalin era um monstro de aço contra quem quer que atravessasse o seu caminho.
Joseph Stalin era um ditador implacável, que desonrou o socialismo e manchou para sempre a luta pela igualdade. Assim, não é historicamente honesto citar Stalin sempre que se toca em qualquer tema ligado a conquistas sociais dentro ou fora do cristianismo. A divisão justa e igualitária é um princípio fundamental da fé judaico-cristã e a Bíblia não é “comunista” por isso. Quem acusa cristãos que lutam por justiça social de comunistas, incorre em gravíssimo erro teológico e histórico.
Tanto que temas como um ano sabático para a terra (Levíticos 25) era lei no antigo Israel desde o Monte Sinai. A cada sétimo ano, ninguém plantava e o que os campos produziam espontaneamente era dos pobres, das viúvas e dos animais. A maioria da população devia armazenar nos outros seis anos para deixar a terra descansar no sétimo ano.
Também a tão odiada reforma agrária está na Bíblia. “A terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo” (Levítico 25.23).
O amor aos “pequeninos irmãos”, estabelecido por Jesus Cristo como um critério para separar os salvos dos perdidos no dia do juízo (Mateus 25.31ss), nada tem a ver com Stalin ou com o comunismo que ele impôs ao povo soviético. Qualquer confusão entre essas duas visões de mundo é forçar a barra e buscar argumentos equivocados para atacar cristãos que defendem a justiça social e o amor aos pobres. Etimologicamente, socialismo vem de “social”, e comunismo vem de “comum”, a mesma raiz da palavra "comunidade". O “comunismo”, no sentido bíblico, vem da expressão de atos dos apóstolos: “e todos tinham TUDO EM COMUM” (Atos 2).

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...