Este é o ano que insiste em nos trazer de volta à lembrança a mais espetacular década do século 20, os anos 1960 e, de modo especial – como não poderia deixar de ser – , a mais emblemática banda de todos os tempos: The Beatles.
Não tem como não lembrar deles. Neste verão europeu, faz 50 anos que a banda iniciou a sua trajetória com a formação mais conhecida, com John, Paul, George e Ringo, na cidade de Hamburgo-Alemanha. Depois de uma década da mais estonteante carreira de uma banda em todos os tempos, 2010 lembra que em abril fez 40 anos que a banda acabou. Uma briga monumental, no ano de 1970, durante as gravações do White Album (Álbum Branco), pôs fim à banda.
E hoje, exatamente no dia 7 de julho, o mais bonachão do grupo, Ringo Starr, completa 70 anos. É o primeiro beatle a chegar aos 70 anos. A lembrança volta, forte e morna, como se tudo aquilo tivesse acontecido ontem.
Depois de quatro décadas sem os Beatles, tem-se a nítida impressão de que a banda jamais acabou. Uma dispendiosa caixa de CDs com as principais canções dos Beatles, lançada no ano passado, vendeu 13 milhões de cópias em poucos meses. O total de vendas das gravações e regravações já ultrapassou a casa de um bilhão de cópias comercializadas.
Quando se fala em Beatles, no entanto, o que menos importa são esses números. O fenômeno Beatles permanece tão vivo e se transformou no maior mito musical de todos os tempos porque a sua música e a sua história mexem com qualquer ser humano que tome conhecimento delas. Tanto faz se ele vive na Polinésia Francesa, nos EUA ou em Uganda.
“Devemos a eles o definitivo e grande consenso da música pop. Não gostar deles é quase tão perverso quanto detestar o sol”, escreveu o crítico de rock Paul Evans sobre os Beatles. Até Keith Richards, guitarrista dos eternamente concorrentes Stones, disse certa vez a Paul McCartney: “Vocês tinham quatro homens de ponta. Nós temos somente um”. O resultado de toda essa história foi que, nos últimos 40 anos, surgiu uma espécie de consenso mundial em torno dos Beatles, somente comparado à Carta das Nações Unidas; com a diferença de que, em relação aos Beatles, não há uma lista de países não-signatários.
Não existem muitas dessas unanimidades culturais no mundo. Nem mesmo Elvis Presley conseguiu galgar o mais alto degrau cultural do seu tempo. Beethoven, por exemplo, é uma dessas unanimidades, embora nem ele esteja sozinho no pedestal da sua época, onde ao seu lado estão outros compositores da sua envergadura, como Bach e Mozart. Ainda assim, os grandes nomes da música, da literatura e das artes do passado foram elevados ao céu das divindades por professores de música e literatura e pelos críticos.
Os Beatles jamais foram transformados em celebridades por artigos ou livros, embora também os críticos tivessem se rendido bem cedo ao seu talento. Eles se tornaram o maior fenômeno pop de todos os tempos nas mãos do povo. Talvez se devesse exagerar sem exagero e dizer logo que eles foram o primeiro fenômeno de popularidade unânime de toda a humanidade, ou seja, de todos os habitantes do Planeta Terra.
E isso ainda hoje é assim. Todo mundo conhece as suas principais canções, que se mantiveram intactas, com exceção de algumas nuances técnicas. A canonização dos Beatles foi a primeira a ser promovida democraticamente. Nenhuma associação nos impôs tal gosto. Cada um de nós deu o seu voto apaixonado e muitos continuam enchendo as urnas até explodirem.
Ou existe alguém aí que não é tocado pela euforia quando ouve “She loves you, ye, ye, ye”? As músicas dos Beatles despertam os sentimentos universais em qualquer pessoa que ouça suas canções pela primeira ou enésima vez. Quando eu comprei e assisti pela primeira vez o DVD de Paul “Back in US”, eu chorei que nem uma criança pequena, transbordando na mais sincera e pura emoção primária, e isso durante os mais de 120 minutos do show. A cada nova canção, de “Help!” a “Can't buy me love”, de forma convulsiva e incontida, as explosões de emoção tomaram conta de mim.
E é assim com todo mundo. A cada novo show de Paul McCartney (68 anos), em qualquer parte do mundo, meninas de nove ou dez anos, crianças ainda, gritam como as adolescentes que tiveram o privilégio de ver os Beatles tocando juntos. Ou seja, a emoção também ataca descontroladamente as novíssimas gerações, que poderiam ser os bisnetos de Ringo ou de Paul. Como descreveu Aaron Copland, “se você quiser saber alguma coisa sobre os anos 1960, simplesmente ouça as músicas dos Beatles”. As grandes transformações culturais e de comportamento que aconteceram desde então, tiveram o despretencioso e ousado início com esta banda. Na minha opinião, e na de muitos, a maior de todos os tempos.
A propósito: Parabéns, Ringo Starr! Que tenhas muitos anos de vida ainda! E obrigado por teres participado deste fantástico legado, que é a história dos Beatles.