sexta-feira, 30 de julho de 2010

Vem aí um novo cacique no topo do mundo


Shanghai e o porto de Yangshan

O tigre asiático cresceu na surdina nas últimas décadas. Hoje, os Estados Unidos assistem, completamente impotentes, o seu primeiro lugar na economia sendo lentamente tomado pela China, o que deve ocorrer inevitavelmente até 2025. As autoridades chinesas anunciaram, nesta sexta-feira, que a sua economia superou o segundo colocado, que é o Japão. As projeções para o primeiro quarto do século 21 não são chinesas, mas do Banco Mundial, do Goldman Sachs e de outros economistas.

Já no ano passado, a China passou bem perto de ultrapassar o Japão no ranking mundial da economia. Crescendo 11.1% no primeiro semestre de 2010 sobre igual período do ano passado, a ultrapassagem foi um passeio. O ritmo vem acelerado, com média de 9,5% ao ano, desde que adotou reformas de mercado em 1978.

Para resumir a história, enquanto os EUA mergulhavam de cabeça na pendenga com a União Soviética, nos anos 1970 e 1980, a China, na mais absoluta surdina, fazia a terraplanagem do terreno para erguer a maior economia do século 21.

A guerra fria consumiu trilhões de dólares, afundou a economia da União Soviética – que chegou ao derretimento completo e nem existe mais – e deixou os EUA com a maior dívida pública do planeta e bolsões de pobreza cada vez mais parecidos com o terceiro mundo, tão desprezado pelos americanos por décadas.

E agora, Tio Sam? A escuderia chinesa está encostando o seu bólido da economia na sua traseira... Nenhuma manobra de pilotagem vai evitar a ultrapassagem, porque a sua gasolina está no fim e os seus pneus estão gastos. O pior de tudo, Tio Sam, é que não há onde fazer pitstop. O Box europeu também está em ruínas e os melhores mecânicos estão de partida... Muitos deles já trabalham nos boxes da escuderia chinesa.

Quanto ao mundo, é melhor arranjar outra maneira de trabalhar geopolítica. Os EUA não são mais os parceiros de ponta nesta conversa. O cacique está mudando. A segunda metade do século 21 terá um tigre gigantesco bem na frente de tudo e de todos. É melhor começar a abrir caminho para ele e sentar-se à mesa com ele para planejar o futuro comum. Caso contrário, as surpresas podem ser bem grandes num futuro próximo...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um show religioso muito indigesto


A Igreja Católica se enreda cada vez mais em atitudes controvertidas e discutíveis. Segundo a Associated Press, os fiéis que quiserem ver Bento XVI de perto durante a sua visita ao Reino Unido em setembro, terão que pagar para participar dos dois eventos públicos em que o papa deve aparecer. Agora virou show. Pela primeira vez, se cobra para ver o líder máximo da igreja, como se fosse um pop-star.

A cerimônia da beatificação do cardeal John Henry Newman em Birmingham tem 700 mil ingressos disponíveis, ao custo de 25 libras, o equivalente a R$ 68,80. Por si só, esta beatificação é um tapa na cara da Igreja Anglicana, uma vez que o beatificando foi anglicano e converteu-se ao catolicismo.

Não só por isso, a visita de quatro dias do papa pela região tem provocado muita oposição. Centenas de britânicos assinaram petições contra a presença de Bento XVI após os escândalos de pedofilia na igreja. João Paulo II foi o último papa a visitar a Inglaterra, em 1982.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A impressão que deixamos é única


Cada um de nós tem um modelo único de minúsculas linhas nos dedos, que nos diferenciam uns dos outros de maneira inconfundível. Não há possibilidade de que tais linhas se repitam em outra pessoa, mesmo daqueles que já morreram ou dos que ainda irão nascer. Todas as pessoas podem ser diferenciadas umas das outras por meio da sua impressão digital. Nem mesmo uma cicatriz pode alterar a configuração original da identificação exclusiva de cada um.

Essa intuição já existia no século 14, na Pérsia, onde já havia papéis que tinham a assinatura e a impressão digital como forma de identificação. Mas o dia 28 de julho de 1858 ficou marcado no calendário como o dia em que um funcionário britânico adotou o método pela primeira vez para identificar os funcionários de uma empresa em Calcutá, na Índia. Era sir William Herschel, que já não suportava mais ter mais funcionários na fila do pagamento do que a empresa tinha nos registros. Todos os meses era o mesmo suplício. Com a identificação pela impressão digital, a confusão mensal acabou.

Para muito além da nossa impressão digital, cada um de nós é um ser humano único. Desde o DNA até os traços da personalidade, somados às experiências e conhecimentos que acumulamos durante a vida, somos seres únicos. Amantes da simetria e da beleza, todos somos frutos da assimetria e do acaso. Esta é a lei que rege todo o universo.

Também é a lei que rege a nossa relação uns com os outros e com Deus. Somos únicos, moldados pelas oportunidades e pelas escolhas que fazemos. Não há como culpar as circunstâncias, os outros ou a vida. O que fazemos ou deixamos de fazer, vai lentamente moldando a impressão digital da nossa alma, que também é única. Nem mesmo as piores cicatrizes podem maculá-la. É com ela que nos apresentamos nesta existência e na eternidade. É uma impressão exclusiva, com a qual comparecemos diariamente diante dos nossos semelhantes e diante de Deus.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O Haiti de Eli






Você foi ao cinema para ver O Livro de Eli? Não viu? Vai à locadora para pegar o DVD? Então, enquanto você assiste às cenas apocalípticas com Denzel Washington, lembrando as profecias do profeta bíblico, lembre do Haiti. O terremoto transformou o país mais pobre das Américas num cenário igual ao do filme. A mídia mostrou, comentou, fez documentários e exibiu para quem quisesse ver. Depois, vieram outras histórias, que vendem mais jornais, mantêm as equipes de reportagem ocupadas e despertam a comoção planetária. Mas o Haiti, pobre Haiti... Lá tudo continua como há seis meses. Os entulhos nas ruas, a cidade devastada, montanhas de lixo acumuladas, pessoas morando como ratos em tocas, falta tudo em todos os lugares. O caos absoluto, apocalíptico, insano... Mas o mundo não toma mais conhecimento...

Enquanto você olha O Livro de Eli, lembre-se do Haiti...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Evita, um dos grandes mitos do século 20


No dia 26 de julho de 1952 morria Eva Perón. Depois de um intenso sofrimento por causa de um câncer uterino, a “Mãe dos Descamisados” morria aos 33 anos, causando uma comoção nacional jamais vista na América Latina. Seu velório durou 14 dias, em Buenos Aires, sendo acompanhado por milhares de argentinos que se comprimiam nas ruas e praças para se despedir dela.

Seu corpo foi embalsamado e foi exposto para visitação pública até 1955, quando Perón foi derrubado do poder pelos militares, e o corpo de Evita foi roubado e enterrado em Milão, na Itália. Dezesseis anos mais tarde, ele foi exumado e transladado para a Espanha, onde Perón vivia no exílio, sendo entregue a ele. Seu corpo parecia uma boneca de porcelana, tão bem-feito havia sido seu embalsamamento. Em 1973 Perón retornou à Argentina e foi reeleito presidente, agora casado com Isabelita Perón, que trouxe o corpo de Evita de volta à Argentina e o sepultou no cemitério da Recoleta, no mausoléu da Família Duarte.

O túmulo de Evita é visita obrigatória para quem vai a Buenos Aires, bem como o cemitério da Recoleta, um gigantesco monumento à vaidade humana, que mostra a opulência de uma era passada dos milionários da carne argentina, que ousaram reconstruir Paris na capital portenha. Os excessos desta elite ainda hoje podem ser vistos e comprados em inúmeros antiquários. O próprio cemitério é uma demonstração de fé no dinheiro e no poder, com requintes dignos dos faraós.


Evita foi e continua sendo, ao lado do cantor de tango Carlos Gardel, a maior figura lendária da Argentina. Sua impressionante história de superação, astúcia política e veia filantrópica a transformaram numa heroína nacional. Vale a pena digitar o seu nome na Wikipédia e passar os olhos por sua biografia. É o supra-sumo do caudilhismo travestido de pura beleza e tragédia. No teatro, o musical “Evita”, de 1978, é reconhecido por sua mais bela canção, “Don’t kry for me, Argentina”, gravada pela primeira vez em 1976 por Julie Kovington, e foi transformado em filme em 1996 com Madona no papel de Evita.

O belíssimo musical “Evita” foi produzido por Andrew Lloyd Webber, produtor musical inglês e um dos maiores compositores teatrais do século 20. Além de Evita e outros 15 musicais, Webber foi o criador do espetacular “Jesus Christ Superstar”.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Não temos vergonha dos nossos muros



Em 1986 – lá se vão vinte e quatro longos anos! – eu estive pela primeira vez diante do muro de Berlim; cruzei o muro de Berlim; senti o clima de terror da Stasi à espreita nas ruas de Berlim Oriental permitidas para visitação dos turistas; ouvi um alemão oriental fugitivo dando depoimento no Check-point Charlie; senti o gelo subindo a espinha na hora de enfrentar a verificação do passaporte para voltar a Berlim Ocidental...

Dois anos depois, estive diante da Cortina de Ferro – mais de 1,7 mil quilômetros de cerca dupla, com minas terrestres e mais Stasi em torres de observação, espiando para o ocidente com metralhadoras em punho –, na região de Fulda. Em 1988 também estive em Dresden-Radebeul com a minha família, por uma semana, visitando primos da minha avó materna, com um carro alemão. O passaporte brasileiro facilitou algumas coisas, mas, um ano antes da queda da cortina de ferro, a Stasi virou aquele Monza do avesso antes de nos deixar seguir de volta para o Ocidente... Se alguém ousasse pensar em voz alta que, um ano depois, aquilo tudo iria para o espaço, ririam dele despudoradamente e o chamariam de louco.

Posso garantir que aquela foi uma das experiências mais arrasadoras e humilhantes da minha vida. O mundo inteiro entrou em choque com a Guerra Fria e o terror dominava a mente de todo cidadão ocidental consciente. Os protestos contra o muro de Berlim e a Cortina de Ferro eram diários, intransigentes, insistentes mesmo. Os países poderosos do Ocidente promoviam sanções e havia hostilidades explícitas, com exércitos inteiros na zona. Ainda sinto um arrepio na espinha quando lembro o som das esquadrilhas de caças-bombardeiro americanas fazendo voos rasantes sobre o território da Alemanha Ocidental (rasantes mesmo, a menos de 150 metros acima das nossas cabeças!).

Todos protestavam contra aquele barulho infernal e diuturno. Um clima constante de guerra, tudo para mostrar força e descontentamento por aquela cerca que separava vidas, economias, parentes, irmãos de sangue... Era o muro da vergonha. O mundo tinha vergonha dele...

E este novo muro do filme deste post? Um replay do muro da vergonha?

Você sabe onde fica essa nova área minada, de guerra fria (ou quente?) mesmo? É um gigantesco muro, ainda mais alto que o de Berlim, com as mesmas torres de observação, com os mesmos soldados prontos a atirar até numa lebre dentro da “zona proibida”... com a mesma política do terror, da morte, da intimidação, da humilhação, da exclusão, do ódio... Sim, é o novo muro da vergonha, erguido por Israel na Faixa de Gaza.

O mundo assiste calado, indiferente, dando “o maior apoio”...

Jamais imaginei que fôssemos capazes de repetir aquela barbaridade do século 20. Mas somos. E vamos ser capazes de repetir muitas outras vezes. Sabe porquê? Porque os EUA, que estão dando “o maior apoio” a Israel com o seu muro da vergonha, tem o seu próprio muro da vergonha, que separa, isola, exclui o território mexicano. Quem faz, apóia e aplaude seus imitadores.

O que fazer? Na cabeça de alguns de nós até já existe um muro – invisível ainda – entre o sul e o resto do Brasil... Maldita xenofobia! E este mundo, que é tão pequeno e se transformou numa aldeia global, está muito longe de ser uma grande família de seres humanos que se sabem iguais e que respeitam as suas diferenças. Talvez a maior marca da nossa aldeia seja mesmo uma vida típica de aldeia provinciana, em que se sente inveja, se despreza o visinho...

Quem cerca a sua casa e a isola do visinho, não terá escrúpulos em levantar muros contra outros povos, outra religião, outros de qualquer espécie... O pior de tudo, é que não temos vergonha dos nossos muros, achando-os normais, pertinentes, justificados.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Luteranos pedem perdão aos menonitas


A Federação Luterana Mundial (FLM), reunida em assembleia geral em Stuttgart-Alemanha, pediu perdão aos menonitas pela sangrenta perseguição no século 16. A pequena Igreja Menonita é o ramo principal dos herdeiros do movimento anabatista. Os cristãos luteranos expressaram “dor e profundo lamento em vista da perseguição dos anabatistas por autoridades luteranas e, especialmente, que teólogos luteranos deram suporte à perseguição”, afirma a declaração aprovada por unanimidade pela 11ª Assembleia Geral em Stuttgart.

A União Mundial dos Menonitas aceitou a oferta de reconciliação. Especialistas em ecumenismo classificaram a decisão dos luteranos como um acontecimento significativo para a história eclesiástica.

Os luteranos pedem perdão “a Deus e aos nossos irmãos e irmãs menonitas pelo sofrimento que os nossos antepassados impuseram aos anabatistas no século 16”. Lamentam também que durante os séculos seguintes tais atos de perseguição foram esquecidos e ignorados ou, em muitos caos, o movimento anabatista foi difamado ou visto de forma distorcida em escritos científicos ou não científicos sobre o tema. A perseguição também foi justificada por argumentos dos reformadores Martim Lutero e Philip Melanchthon e, em muitos casos, os julgamentos levaram a execuções.

Os menonitas têm hoje em todo o mundo cerca de um milhão de filiados, muitos deles nos EUA e Canadá. Na Europa há 62 mil adeptos, cerca de 30 mil na Alemanha. Seu nome faz referência ao teólogo holandês Menno Simons (1496-1561).

O pedido de perdão é o resultado de uma comissão internacional de estudos luterana-menonita que trabalhou no processo entre 2005 e 2008. O objetivo do pedido de perdão não é somente reparar erros do passado, mas corrigir preconceitos “não condizentes, enganosos e negativos” sobre os anabatistas. Mesmo que permaneçam grandes diferenças teológicas, as mesmas agora poderão ser analisadas e debatidas sob uma nova perspectiva. As principais diferenças dizem respeito ao conceito de batismo e a relação dos cristãos e da igreja com o estado.

Um dos objetivos das duas organizações cristãs com a declaração é deixar claro que a intromissão do estado para impor conceitos teológicos ou práticas religiosas é condenável. Os luteranos e os menonitas irão empenhar-se pela liberdade de expressão e de religião na sociedade que pretende ser livre e democrática.

Uma garrafa de sucata


A Shalmor Avnon Amichay/ Y&R Interactive Tel Aviv usou 80 carros e 15 toneladas de metal retorcido para montar uma torre de 20 metros de altura em formato de garrafa. A escultura foi colocada à margem de uma rodovia, para alertar para os riscos de dirigir alcoolizado.

Consumo, logo existo!


Hoje reproduzo um texto magistral de Frei Beto. Deixo-o à sua apreciação, sem maiores comentários. Dedique alguns minutos do seu dia e, depois, tente refazer o seu jeito de viver. Confesso que, diante da magia das vitrines sedutoras, muitas vezes tenho me sentido como um rato seguindo o flautista mágico. A gente vai na onda. Se deixa levar... Na verdade, precisamos de tão pouco para ser felizes... Ao texto do Frei!

“Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. “Quem trouxe a fome foi a geladeira”, disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc.

A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.

É próprio do humano – e nisso também nos diferenciamos dos animais – é manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.

A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.

Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos “Manuscritos econômicos e filosóficos” (1844), ele constata que “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós.” O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.

Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista, a gata borralheira transforma-se em cinderela...

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de “com mercê”, com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas.

Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. “Nada poderia ser maior que a sedução” – diz Jean Baudrillard – “nem mesmo a ordem que a destrói”.

E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com frequência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. “Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático”, respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”. (Frei Beto - Dominicano, Escritor)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Preconceito não combina com democracia


“Se você não é da raça branca, este site não é para pessoas como você. A IKA odeia negros, hispânicos, asiáticos e judeus”. Quem acessa o site do “Klans Imperiais da América” dá de cara com esta mensagem. Assim funciona a cabeça desse pessoal, em pleno século 21. O grupo é apenas um dos muitos herdeiros modernos da organização racista cristã Ku Klux Klan (KKK), que atua nos EUA desde 1860. Sua atividade começou na década de 1920, promovendo a perseguição a negros e imigrantes, queimando cruzes e vestindo capuzes brancos.

Sob a proteção da Constituição Americana, que garante liberdade irrestrita de expressão – a KKK ampliou o leque do seu ódio e prega a superioridade da “raça branca cristã” sobre negros, judeus, homossexuais e imigrantes em geral. Novos grupos inspirados na KKK crescem nos Estados Unidos em pleno século 21. De acordo com levantamento do Southern Poverty Law Center (SPLC) – organização americana que monitora os chamados “grupos de ódio” – o número de organizações do tipo passou de 110 no ano 2000 para 187 em 2009, um crescimento de 70%.

O problema maior não é mais a violência que eles praticavam no passado, incendiando igrejas, fazendas e casas de negros e imigrantes ou batendo neles nas ruas. Hoje, tais eventos são muito raros. O problema maior é o espaço que suas idéias estão alcançando na internet, onde qualquer um tem acesso irrestrito a seus sites. A propaganda acaba influenciando o debate político, as teorias da conspiração propagadas por eles ameaçam a discussão democrática e muita gente acaba entrando nessa onda.

Infelizmente, também aqui no Brasil – onde a mania de copiar os americanos em tudo parece não ter fim nunca – idéias assim conseguem um bom espaço, especialmente aqui no Sul, em grupos separatistas, com pensamentos de extrema-direita e inspiração neo-nazista. O ódio aos nordestinos é crescente nesses grupos e, em diversos casos, chega às vias de fato, com violência e assassinatos. Outras vítimas de seus preconceitos e perseguição são os povos indígenas (Xokleng e Guarani em particular, na nossa região). Apesar de pequenos, eles são organizados e combatem qualquer um que defenda pensamentos de paz, não-violência e inclusão de minorias.

Dar espaço a tais idéias ultrapassa os limites da liberdade democrática, porque o modo de conquistar adeptos e de defender sua ideologia não faz uso dos instrumentos democráticos. Antes, os subverte em benefício próprio. Igrejas, escolas, ONGs, partidos políticos e todas as entidades legais da sociedade devem combater esses ideais a cada momento que aparecem, na sala de aula, no grupo de jovens, na rua, dentro de casa com os filhos ou onde quer que seja.

domingo, 18 de julho de 2010

Fato real eternizado

O acidente real e sua reprodução no Mundo do Vapor, em Gramado.

Um acidente real, ocorrido na estação ferroviária de Montparnasse, em Paris-França, no dia 22 de outubro de 1895, é fielmente reproduzido num dos locais preferidos para as fotos, em Gramado, na Serra Gaúcha, o Mundo do Vapor, um museu ferroviário em Gramado. O acidente de Paris causou somente uma morte, de uma mulher que andava na rua no momento em que o trem atravessou a espessa parede da estação ferroviária e caiu com o pesado nariz de ferro no meio da rua abaixo da estação. Existe outra reprodução fiel desta cena, num museu da África do Sul. Apesar de o acidente ter sido causado pela falha dos freios do trem, o foguista foi multado em 25 francos e o maquinista em 50 francos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A primeira tampa que "funciona"

Fecha-se o vazamento no fundo do mar, canaliza-se o óleo mortal, para que seja jogado na atmosfera do planeta depois, por meio de milhões de outros pequenos vazamentos que movem a economia do mundo...
Na noite passada, uma primeira notícia positiva veio do Golfo do México. A empresa petrolífera britânica BP disse que conseguiu interromper temporariamente o vazamento de petróleo, depois de quase três meses de tentativas decepcionantes. O anúncio foi feito logo após engenheiros terem fechado a última das três válvulas de um dispositivo colocado sobre o poço, a 1.500 metros de profundidade. A fase de testes deve durar 48 horas, durante as quais os engenheiros medirão a pressão sob a tampa instalada sobre o poço. Alta pressão significa que o procedimento está funcionando. Baixa pressão indicaria a existência de um vazamento em outro ponto.

Se os resultados dos testes forem positivos, o sistema será conectado a dutos, que direcionarão o óleo para navios na superfície. O mecanismo é temporário. Uma solução final só deverá ser alcançada em meados de agosto, com a construção de dois poços alternativos.

É o primeiro sinal de esperança para os moradores das regiões costeiras afetadas pela mancha de óleo em quase três meses e um alívio para milhares de espécies ameaçadas no Golfo, muitas delas endêmicas. O vazamento de petróleo no Golfo do México é o maior desastre ambiental da história da prospecção do óleo que move a economia do mundo. O vazamento maldito começou em 20 de abril, após a explosão e afundamento, dois dias depois, da plataforma Deepwater Horizon. Onze funcionários da BP morreram no acidente, mas o número de vítimas do desastre jamais poderá ser calculado realmente. Enquanto isso, quem se importa realmente com toda essa coisa na hora de encher o tanque do seu carro no posto mais próximo?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um processo educativo sem palmadas

Peça da excelente campanha da RBS: “O amor é a melhor herança; cuide das crianças” (2006)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem (14/07) uma mensagem apresentando ao Congresso um Projeto de Lei (PL) para abolir a prática de castigos corporais contra crianças. O ato marcou os 20 anos de vigência da lei 8.069, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A proposta foi encaminhada ao governo federal por organizações e pessoas físicas representadas pela “Rede Não Bata, Eduque”, com o objetivo de suprir lacunas existentes no ECA e criar mecanismos que garantam a integridade física e psicológica das pessoas com menos de 18 anos.

De acordo com a proposta, a definição de “castigo” passa a ser incluída no artigo 18 do Estatuto como “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente”. Aqueles que infringirem a lei podem receber penalidades como advertência, encaminhamento a programas de proteção à família e orientação psicológica. O documento foi analisado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), junto com o Ministério da Justiça (MJ) e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), e agora está pronto para ser encaminhado ao Congresso Nacional.

Vejam o que publiquei no Jornal de Santa Catarina sobre o assunto há alguns anos. Na época o jornal tinha uma belíssima campanha com o mote “O amor é a melhor herança; cuide das crianças”, na qual uma das peças apontava para a necessidade de abandonar o uso do castigo na educação. O psicólogo blumenauense Allan Buettgen desqualificou a peça e defendeu a palmada como “modus educandi”. Segue o meu texto da época (Não lembro a data da publicação, mas o meu computador marca o dia 06/02/2006 na memória. Também não tenho mais o texto do psicólogo em mãos. Pena.):

O psicólogo Allan Buettgen qualifica de perseguição religiosa a iniciativa de abolir a palmada, segundo ele uma característica inerente ao modo cristão de educar. Afirmo que a palmada não tem nada de cristão. Ao citar Provérbios, ele aponta para a lei do Talião (olho por olho, dente por dente), que caracteriza o Antigo Testamento. O Novo Testamento tem a marca de Cristo, que suplantou o Talião pela lei do duplo mandamento do amor.

O amor é a característica marcante da educação cristã. Jesus, que abomina a violência, impediu os apedrejadores da mulher adúltera de consumarem seu “castigo” mortal, porque lhes mostrou que também não eram justos. A seus discípulos – que como muitos adultos querem impedir as crianças de ter seu espaço –, disse: “deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus”. Esta palavra contradiz o educador Dante Donatelli (de Sorbonne), citado por Buettgen, que ensina que “quem manda é o adulto e a criança obedece porque é criança”.

O problema da palmada é justamente o que Donatelli procura caracterizar como risco em sua própria argumentação: “Eu digo bater nas nádegas. Não é bater no rosto, humilhar uma criança”. Quem estabelece qual é o limite entre uma palmada educativa e uma violência contra a criança? Os próprios pais, com seu livre arbítrio? Palmadas quase sempre são aplicadas quando o estado de humor está alterado e descambam para a violência com facilidade assustadora.

Abolir a palmada como meio educativo é muito bem-vindo, especialmente para os cristãos. Os pais a usam como último recurso educativo. Isto significa que, antes deste último, há um penúltimo recurso educativo, antecedido de muitos outros. Se os pais se esforçassem mais para aplicar melhor todos os recursos educativos anteriores à palmada, ela se tornaria desnecessária.

Portanto, não se trata de uma “anarquia educativa”, mas de privilegiar todas as ações educativas anteriores à palmada, e que se originaram num dos campos mais férteis da pesquisa humana, o da pedagogia. A palmada é apenas o atestado de que, como educadores, fracassamos em todas as ações educativas anteriores. O erro maior não está na criança que expõe sua nádega à mão que a agride, mas no pai que, ineficiente na sua ação educativa anterior, agride o filho para impor seu poder de adulto e mais forte sobre a criança, mais fraca. O amor é a melhor herança; cuide das crianças.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um estatuto que defende as crianças do nosso fracasso educacional


O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) está completando 20 anos de existência hoje (13 de julho). O documento é um marco dos direitos humanos no Brasil. Por causa dele, a mortalidade infantil reduziu em 58% no país e cerca de cinco milhões de crianças foram retiradas da vida antecipada de trabalho, que lhes roubava o direito de brincar e de serem crianças.

A insistência de muitos na redução da idade penal de 18 para 16 anos significa a declaração de fracasso na condição que tem a sociedade de educar os menores e de resolver satisfatoriamente a situação do menor infrator. Em vez de reeducar, muitos preferem vê-los mofando na cadeia. Em vez de buscar caminhos que realmente melhorem disciplina e aproveitamento escolar de crianças-problema, muitos preferem vê-las longe das escolas. Que sociedade somos nós, que negamos aos mais jovens o direito de aprender a ser gente?


Preferimos nossa hipocrisia moral e institucional, em vez de assumir nossa responsabilidade como educadores e educadoras. Ao desistir de uma criança, estamos desistindo do próprio futuro da nossa sociedade, não é mesmo? O que esperamos de nossas instituições, que tanto prezamos? Ao aceitar de volta o seu filho, que foi ao mundo farrear e gastar toda a sua herança, o pai do filho pródigo nos deixou o caminho a seguir. O ECA protege as nossas crianças, mesmo aquelas que, segundo a nossa moral enviesada e torta, não merecem. Que continue assim.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Playboy fecha Playboy de Portugal


A intenção da “Playboy” portuguesa era causar polêmica com a capa ilustrada por Jesus Cristo e uma mulher nua, mas a repercussão foi longe demais. A Playboy Entertainment anunciou, nesta quinta-feira, que vai rescindir o contrato com a versão de Portugal por causa da edição que homenageia o livro “Evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago.

“Não vimos nem aprovamos a capa e as fotografias do número de Julho da ‘Playboy’ Portugal. Trata-se de uma violação chocante das nossas normas e não teria sido permitida a publicação, se tivéssemos conhecimento antecipado”, declarou Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy, ao site Gawker.

A duração da versão portuguesa da revista foi curta. O primeiro número saiu em março de 2009, com a cantora Mônica Sofia na capa. (O Globo, 08/07/2010).

Le Ballon Rouge

Albert Lamorisse «Le Ballon Rouge» (1956) from radioelectron on Vimeo.


Esse filme de cerca de 30 minutos ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1956. O diretor é Albert Lamorisse, que conta a história de um menino que "liberta" e cativa afetivamente um balão vermelho nas ruas de Paris. Cinema puro, quase sem palavras. Lindo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Parabéns, Ringo Starr!


Este é o ano que insiste em nos trazer de volta à lembrança a mais espetacular década do século 20, os anos 1960 e, de modo especial – como não poderia deixar de ser – , a mais emblemática banda de todos os tempos: The Beatles.

Não tem como não lembrar deles. Neste verão europeu, faz 50 anos que a banda iniciou a sua trajetória com a formação mais conhecida, com John, Paul, George e Ringo, na cidade de Hamburgo-Alemanha. Depois de uma década da mais estonteante carreira de uma banda em todos os tempos, 2010 lembra que em abril fez 40 anos que a banda acabou. Uma briga monumental, no ano de 1970, durante as gravações do White Album (Álbum Branco), pôs fim à banda.

E hoje, exatamente no dia 7 de julho, o mais bonachão do grupo, Ringo Starr, completa 70 anos. É o primeiro beatle a chegar aos 70 anos. A lembrança volta, forte e morna, como se tudo aquilo tivesse acontecido ontem.

Depois de quatro décadas sem os Beatles, tem-se a nítida impressão de que a banda jamais acabou. Uma dispendiosa caixa de CDs com as principais canções dos Beatles, lançada no ano passado, vendeu 13 milhões de cópias em poucos meses. O total de vendas das gravações e regravações já ultrapassou a casa de um bilhão de cópias comercializadas.

Quando se fala em Beatles, no entanto, o que menos importa são esses números. O fenômeno Beatles permanece tão vivo e se transformou no maior mito musical de todos os tempos porque a sua música e a sua história mexem com qualquer ser humano que tome conhecimento delas. Tanto faz se ele vive na Polinésia Francesa, nos EUA ou em Uganda.

“Devemos a eles o definitivo e grande consenso da música pop. Não gostar deles é quase tão perverso quanto detestar o sol”, escreveu o crítico de rock Paul Evans sobre os Beatles. Até Keith Richards, guitarrista dos eternamente concorrentes Stones, disse certa vez a Paul McCartney: “Vocês tinham quatro homens de ponta. Nós temos somente um”. O resultado de toda essa história foi que, nos últimos 40 anos, surgiu uma espécie de consenso mundial em torno dos Beatles, somente comparado à Carta das Nações Unidas; com a diferença de que, em relação aos Beatles, não há uma lista de países não-signatários.

Não existem muitas dessas unanimidades culturais no mundo. Nem mesmo Elvis Presley conseguiu galgar o mais alto degrau cultural do seu tempo. Beethoven, por exemplo, é uma dessas unanimidades, embora nem ele esteja sozinho no pedestal da sua época, onde ao seu lado estão outros compositores da sua envergadura, como Bach e Mozart. Ainda assim, os grandes nomes da música, da literatura e das artes do passado foram elevados ao céu das divindades por professores de música e literatura e pelos críticos.

Os Beatles jamais foram transformados em celebridades por artigos ou livros, embora também os críticos tivessem se rendido bem cedo ao seu talento. Eles se tornaram o maior fenômeno pop de todos os tempos nas mãos do povo. Talvez se devesse exagerar sem exagero e dizer logo que eles foram o primeiro fenômeno de popularidade unânime de toda a humanidade, ou seja, de todos os habitantes do Planeta Terra.

E isso ainda hoje é assim. Todo mundo conhece as suas principais canções, que se mantiveram intactas, com exceção de algumas nuances técnicas. A canonização dos Beatles foi a primeira a ser promovida democraticamente. Nenhuma associação nos impôs tal gosto. Cada um de nós deu o seu voto apaixonado e muitos continuam enchendo as urnas até explodirem.

Ou existe alguém aí que não é tocado pela euforia quando ouve “She loves you, ye, ye, ye”? As músicas dos Beatles despertam os sentimentos universais em qualquer pessoa que ouça suas canções pela primeira ou enésima vez. Quando eu comprei e assisti pela primeira vez o DVD de Paul “Back in US”, eu chorei que nem uma criança pequena, transbordando na mais sincera e pura emoção primária, e isso durante os mais de 120 minutos do show. A cada nova canção, de “Help!” a “Can't buy me love”, de forma convulsiva e incontida, as explosões de emoção tomaram conta de mim.

E é assim com todo mundo. A cada novo show de Paul McCartney (68 anos), em qualquer parte do mundo, meninas de nove ou dez anos, crianças ainda, gritam como as adolescentes que tiveram o privilégio de ver os Beatles tocando juntos. Ou seja, a emoção também ataca descontroladamente as novíssimas gerações, que poderiam ser os bisnetos de Ringo ou de Paul. Como descreveu Aaron Copland, “se você quiser saber alguma coisa sobre os anos 1960, simplesmente ouça as músicas dos Beatles”. As grandes transformações culturais e de comportamento que aconteceram desde então, tiveram o despretencioso e ousado início com esta banda. Na minha opinião, e na de muitos, a maior de todos os tempos.

A propósito: Parabéns, Ringo Starr! Que tenhas muitos anos de vida ainda! E obrigado por teres participado deste fantástico legado, que é a história dos Beatles.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um mapa impressionante


O telescópio europeu Planck, que foi lançado em maio do ano passado, é o maior experimento de cosmologia da última década. Os primeiros resultados do seu trabalho de mapeamento do universo já começam a aparecer. Ontem (5) os cientistas ligados ao projeto apresentaram esta imagem, o primeiro mapa celeste completo da radiação cósmica de fundo, a luz mais antiga do Universo.

A imagem mostra a Via Láctea como uma linha brilhante atravessando horizontalmente todo o centro do mapa. Acima e abaixo dessa linha, podem ser vistas grandes quantidades de pontos amarelos na Via Láctea, acima e abaixo dela, representam gás e poeira cósmicas. Não são estrelas, pois o telescópio não registra luz visível, mas radiação cósmica. A maior parte dessa radiação originou-se 380 mil anos após o Big Bang, quando a matéria havia se resfriado o suficiente para que a formação de átomos fosse possível. Antes disso, o cosmos era tão quente que matéria e radiação estavam acopladas, e o Universo era opaco.

Um dos principais objetivos do projeto é encontrar evidências para a “inflação”, teoria segundo a qual o Universo não é estático, mas está em expansão, “inflando” como um balão de borracha, processo iniciado no chamado Big Bang a velocidades acima da velocidade da luz. Segundo a teoria, tal “inflação” deveria estar registrada na radiação cósmica de fundo e seria passível de detecção.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Rodeio 12, espaço de musculação cerebral

O pastor Meinrad Piske idealizou e concluiu Rodeio 12

Cheia de boas recordações foi a festa dos 25 anos do Centro de Eventos Rodeio 12, ontem. Mais de cem mil pessoas passaram pelos registros da casa durante este tempo, participando de encontros, seminários, cursos e eventos de diversas envergaduras. As homenagens principais, como não poderia deixar de ser, foram para o pastor Meinrad Piske e esposa, que sonharam, planejaram e concretizaram o Lar, e o timboense Alidor Pieritz, homenageado ao lado da esposa, que coordenou os trabalhos de implantação do complexo em Rodeio 12 por 17 anos.

Piske sonhou em reproduzir no Brasil a experiência das academias alemãs. "Um dos motivos pelos quais essa ideia não emplacou, é que os jovens riam de nós com um nome desses, pois na opinião deles a academia é lugar de fazer ginástica". O espantoso número de 100 mil registros, entretanto, comprova que, do nosso jeito brasileiro, não passamos longe deste objetivo inicial.

Conheci o fantástico trabalho das academias evangélicas da Alemanha em 1988, e esta experiência foi uma das mais ricas da minha vida. Mal sabem os jovens que riram da ideia do pastor Piske que as 29 academias criadas pela Igreja Evangélica da Alemanha no período pós-guerra promoveram exatamente isso: ginástica. Melhor ainda: musculação. Mas não para tornar os alemães mais bombados (apesar do nome, Schwartznegger é austríaco de origem!). A ginástica que as academias evangélicas fizeram nos alemães ao longo dos últimos 60 anos foi para o cérebro. Musculação cerebral da mais cevera.

Essas academias contribuíram decisivamente para formar a nova sociedade alemã, que acabava de sair da mais traumatizante experiência da história da humanidade. Se existe um fundo do poço para a barbárie humana, então este foi alcançado de maneira total com a experiência do nazismo. O trabalho de reconstruir uma nação de dentro de todo este lodo certamente não foi fácil, nem simples. As academias evangélicas foram um espaço de reflexão profunda, madura e exemplar em torno deste delírio coletivo.O futuro foi minuciosamente trabalhado, em longos debates, nos seminários, encontros e eventos propostos nas academias evangélicas.

Temas ousados e polêmicos foram cuidadosamente levantados e trabalhados pela sociedade alemã nessas seis décadas, como a social-democracia, os direitos humanos, o feminismo, a ajuda para o desenvolvimento do terceiro mundo, a realidade do leste europeu, o ecumenismo, a paz mundial, o capitalismo e o socialismo, e muitos outros. Muitos deles levaram a embates fervorosos, dentro dessas a cademias.

À nossa maneira, Rodeio 12 foi a nossa academia nos últimos 25 anos. Ainda nos falta um pouco da determinação alemã em enfrentar com mais desenvoltura os temas mais polêmicos da nossa vida em sociedade, que gostamos tanto de empurrar para debaixo do tapete, ou de esconder para evitar o duro embate que sua discussão fatalmente vai trazer. Mas também esta disposição faz parte de um processo de amadurecimento em meio ao qual nos encontramos. No nosso ritmo, vamos chegar lá.

O que precisamos de momento, é manter aquela casa funcionando. Se, por algum motivo, perdermos Rodeio 12 porque nos faltou amor àquele patrimônio tão arduamente erguido, não estaremos somente voltando as costas ao debate das nossas polêmicas, mas abrindo mão de um espaço importantíssimo no qual podemos fazer isto com a profundidade necessária. Sobretudo, estaremos permitindo que os músculos dos nossos cérebros se atrofiem irremediavelmente.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Não volte as costas para os direitos humanos


Uma nova campanha da Anistia Internacional, de conscientização sobre os direitos humanos, tenta, mais uma vez, nos atingir em nossa displicente indiferença. Criada pela agência de publicidade neozelandesa Colenso BBDO, a campanha é composta de três peças idênticas, das quais você pode ver uma aí, na imagem acima. "Ignore us, ignore human rights" (Ignore-nos, ignore os direitos humanos) é o mote da campanha, que não carece de nenhuma palavra explicativa.

Ela aponta diretamente para o desrespeito que é a nossa indiferença ao sofrimento imposto a milhares de homens, mulheres e crianças mundo a fora. Tortura, assassinato, desaparecimento, cerceamento das liberdades, humilhação... a lista é gigantesca. E nós, no conforto dos nossos lares e do pleno gozo dos nossos direitos, dizemos que defender os direitos humanos é defender bandidos. Não vire as costas você também. Comece visitando o site da Anistia Internacional (http://www.br.amnesty.org/). Conheça as intermináveis histórias de horror, que se repetem em todo o mundo. Depois, volte os seus olhos para o centro da roda...

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...