sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Morte junto ao rio



Minha biografia pessoal tem algumas marcas bem destacadas. Elas são como sulcos profundos na pele, que moldam não apenas a minha fisionomia, mas também o meu caráter e os próprios contornos e cores da minha alma. Boney M é uma dessas marcas. By the rivers of Babylon já foi até inspiração para uma prédica empolgadíssima, quando fui homenageado pelo Vocal Isaec com a gravação da minha Canção para a América Latina.

A impressionante história deste negro spiritual belíssimo, que conta a épica história do povo de Israel morrendo de saudades da pátria, no exílio, junto aos dois rios que cercam a Mesopotâmia, em referência ao salmo bíblico "como vamos cantar a canção do Senhor numa terra estranha?".

Letra magistral e um credo de confissão de esperança, virou um kitch romântico no Brasil, na pobre e vazia tradução cantada pela Perla (Rios da Babilônia), que falava de um romancezinho bobo, que em nada lembrava o belíssimo negro spiritual composto pelos escravos norte-americanos para tracar um vigoroso paralelo entre o seu exílio e infortúnio escravo em terra estranha. A belíssima canção foi honrada também na inesquecível voz de Bob Marley.

Relembro tudo isso para mencionar aqui, com muita tristeza, que ontem morreu Bobby Farrell. Ele era a alma do Boney M e, aos 61 anos, ainda era seu mais emblemático representante. Com sua partida, Farrell desfalca de sua voz mais vigorosa o coral dos exilados nas barrancas do Eufrates (ou do Tigre, tanto faz).

Com eles eu canto:
By the rivers of Babylon, where we set down,
and there we wept when we remembered Sion.
Oh, the wicked karried us away in captivity,
required from us a song,
now how can we sing de Lords song in a strange land.
So lat de words of our mouths and the meditation of our hards
be acceptable in thy sight heare tonight.

Seja esta a canção de todos nós, na noite em que começa um novo ano.
Um abençoado 2011 a todos e todas!

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Natal do burrico


Nesta noite de véspera de Natal, li para os meus a história de um livro natalino da Editora Sinodal, que narra a visão do burrico do espetacular acontecimento na noite de Belém. "Eu estava lá", diz o animal, que protesta por confundirem o seu nome com falta de inteligência. "Eu estava lá, enquanto animais como o leão, o rei da selva, o condor, o rei dos ares, e o tubarão, o rei dos mares, não estavam lá."

Ver o cenário do nascimento de Jesus do ângulo de visão do burro é muito interessante. E revelador. Mostra a extrema humildade da vida do maior rei de todos os tempos. E nós, seres humanos, tão apegados às pompas do poder e dos poderosos, não nos conformamos com tanta simplicidade e tamanho desprendimento.

Acostumados à ostentação, em nossa visão este rei maior deveria vir com a escolta de mil Harley-Davidson, confortavelmente acomodado no banco traseiro de uma reluzente Rolls-Royce. Ele deveria ser seguido de um gigantesco séquito de puxa-sacos com títulos de nobreza, enquanto a sua própria figura deveria estar envolta na mais fina seda, a cabeça coberta por uma coroa de ouro finíssimo e repleta do brilho de milhões de quilates de diamantes.

Mas, à nossa revelia, ele optou pelo caminho da humildade. Ele escolheu uma estrebaria, pela companhia de um burro contando a história da sua vinda. Ele escolheu para si ser coroado com uma coroa de espinhos. Ele decidiu ser gente como nós. Revelou uma face totalmente estranha à nossa visão de poder. Deus mostra um novo rosto, segundo Leonardo Boff, "um novo tipo de poesia e lirismo divino".

Segundo Boff, é exatamente por isso que o Natal nos fornece a chave para decifrar alguns dos mais profundos mistérios da existência humana. "As pessoas se perguntam angustiadas: por que a dor? A humilhação? Qual o sentido do sofrimento? As pessoas perguntavam a Deus e Deus silenciava", escreve o sábio teólogo.

"Agora no Natal, Deus fala. Com este menino no cocho de palha, Deus dá a resposta: ele nasceu pequeno, se fez história; resume tudo no presépio. Ali ele não explica o porque do sofrimento. Ele sofre junto. Ele não responde ao porquê da dor. Ele se fez homem de dores. Ele não responde ao porquê da humilhação. Ele se humilha. Já não estamos mais sós na nossa imensa solidão."

Este menino, segundo o Evangelho, é Emanuel, que quer dizer "Deus conosco". Esta é a maravilhosa e surpreendente história de um Deus que se fez criança, que não pergunta mas faz, que não responde mas se torna, ele próprio, a resposta. Ele vive a resposta; e quê resposta! Isto é Natal. É a noite mais iluminada da história humana. O mundo estreito e escuro em que vivemos tem saída, um desfecho feliz e abençoado. Por isso, podemos desejar FELIZ NATAL uns aos outros!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em nome da honra e da dignidade



Em protesto contra o reajuste de 62% que os parlamentares concederam aos seus próprios salários, o bispo emérito de Limoeiro do Norte, do Ceará, D. Manuel Edmilson da Cruz, recusou a comenda de Direitos Humanos D.Hélder Câmara, que este ano foi conferido pelo Senado, pela primeira vez.

Ao falar no plenário, na sessão de entrega da comenda, o religioso lamentou que o Congresso tenha aprovado aumento para seus próprios salários, com efeito cascata nos vencimentos de outras autoridades, enquanto os trabalhadores no transporte coletivo de Fortaleza mal conseguiram 6% de reajuste, em recente reivindicação trabalhista.

Segundo o bispo, enquanto o Congresso premia a si próprio, as aposentadorias estão reduzidas e o salário mínimo cresce "em ritmo de lesma". "Só me resta uma atitude: recusá-la (a comenda). Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte, para o bem de todos com o suor no seu rosto e a dignidade no seu trabalho", disse. Para D.Manuel, o deputado e o senador que aprovaram o reajuste "não é parlamentar. É para lamentar". O bispo foi um dos cinco contemplados pela comenda D.Helder Câmara. (Estadão)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Espectro da discriminação



A campanha “The Spectrum of Discrimination” (“O Espectro de Discriminação”) da ONG francesa Ligue Internationale Contre le Racisme et l’Antisémitisme (LICRA) (Liga Internacional contra o Racismo e o Anti-semitismo), desnuda o racismo em sua forma mais simples e cruel: a discriminação pela cor da pele. A escolha de um catálogo de cores – desses comumente utilizados pela indústria de tintas para ajudar os seus consumidores na escolha de cores – para mostrar que o preconceito de cor é uma das formas discriminatórias mais comuns e cruéis entre todas as formas de discriminação, é simplesmente genial. Conforme a cor vai escurecendo, cresce o índice de desemprego. Ao pé da página, a frase: “Vamos fazer algo contra a discriminação”.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Papai Noel anti-ecológico


Por Edelberto Behs

O planeta Terra terá que suportar demandas de matéria-prima extraídas da natureza para dar conta da produção dos presentes que serão distribuídos na festa do Papai Noel deste ano. Estudo da Worldwatch indica que o mundo extrai da Terra, a cada dia, o equivalente a 112 edifícios Empire State. Em 2006, mostra o estudo Estado do Mundo 2010, a humanidade gastou 30,5 trilhões de dólares em bens e serviços, seis vezes mais do que os 4,9 trilhões gastos em 1960.

Entre 1960 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo oito e o consumo de gás natural 14 vezes. No total, 60 bilhões de toneladas de recursos são extraídos anualmente da natureza, cerca de 50% a mais do que há 30 anos. Só em 2008, pessoas adquiriram 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de celulares.

O Indicador de Pegada Ecológica, que compara o impacto ecológico humano com a quantidade de terra produtiva e área marítima disponíveis para o abastecimento de ecossistemas centrais, aponta que a humanidade está usando um terço a mais da capacidade da Terra do que ela efetivamente possa dispor, afetando a regeneração dos ecossistemas, fundamentais para a espécie humana.

“Apenas nós, seres humanos, produzimos resíduos que a natureza não consegue digerir”, declarou o oceanógrafo Charles Moore ao se deparar com montanhas de lixo plástico vagando pelo Oceano Pacífico, em 1997. No mundo atual, com 6,8 bilhões de habitantes, os padrões de consumo moderno, mesmo em níveis básicos, não são sustentáveis.

Os 65 países de renda mais elevada foram responsáveis, em 2006, por 78% dos gastos com consumo, embora abrigassem apenas 16% da população mundial. Naquele ano, cada estadunidense gastou 32,4 mil dólares, equivalente a 32% dos dispêndios globais de apenas 5% da população mundial! Se todos vivessem nesse padrão, a Terra poderia sustentar apenas 1,4 bilhão de pessoas.

O Estado do Mundo 2010 remete à pesquisa de 2008 sobre gastos no Natal em 18 países com a aquisição de presentes e eventos sociais. Irlandeses despenderam então, em média, 942 dólares, ingleses 721 dólares e estadunidenses 581 dólares. Embora apenas 2% dos japoneses sejam cristãos, o Natal é comemorado no país com generosas entregas de presentes, onde a data é feriado, inclusive.

A mídia é uma importante instituição social de estímulo ao consumismo, uma vez que representa uma ferramenta poderosa na transmissão de símbolos, normas, costumes, mitos e histórias culturais. A cada hora adicional de televisão a que as pessoas assistem semanalmente, elas gastam 208 dólares a mais na aquisição de bens e serviços, mesmo que tivessem menos tempo diário para usá-las.

A indústria que produz alimentos e produtos para animais de estimação empreendeu mais de 300 milhões de dólares em publicidade, em 2005, nos Estados Unidos. Só com ração animal, essa indústria fatura 42 bilhões de dólares/ano no mundo, recorrendo à “humanização” dos animais. O fast-food movimenta 120 bilhões de dólares nos Estados Unidos, em 200 mil restaurantes. Só o McDonald's atende 58 milhões de pessoas, em 118 países.

Resultado: 1,6 bilhão de pessoas no planeta apresenta sobrepeso ou são obesas, fator responsável pela diminuição da qualidade de vida desse grupo. O estudo da organização Worldwatch defende uma mudança cultural profunda porque “neste planeta finito, definir sucesso e felicidade através de quanto uma pessoa consome não é sustentável”.

O governo brasileiro concedeu incentivo à indústria automobilística no ano passado, em virtude da crise econômica global. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, nos anos 40 do século passado, após o término da Segunda Guerra Mundial, que mobilizara uma potente economia de guerra, mas sem mercado após o conflito.

Uma solução foi canalizar a produção voltada à guerra para outros setores. Em 1955, o economista Victor Lebow argumentava: “Nossa economia, tremendamente produtiva, exige que façamos do consumo nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de produtos em rituais, que busquemos no consumo a satisfação espiritual e do ego”.

O crédito foi facilitado via prestações mensais. A introdução do cartão de crédito ampliou ainda mais esse leque de facilidades. Os produtos passaram a ser projetados para terem menor durabilidade ou sair de moda – a obsolescência física e psicológica. Os gastos globais com publicidade alcançaram 643 bilhões de dólares em 2008. Empresas destinam 1% do produto mundial bruto para vender seus artigos.

Worldwatch defende a mudança dos sistemas culturais para tentar salvar o planeta da falência e ganhar sustentabilidade. O ativista Gary Gardner, da organização, propõem que instituições religiosas se engajem nessa luta, disseminando culturas de sustentabilidade e de bloqueio do consumismo desenfreado.

Para prevenir o colapso da civilização humana, alerta o pesquisador Erik Assadourian, autor do capítulo “Ascensão e queda das culturas de consumo” no documento “Estado do Mundo 2010”, “é necessário nada menos do que uma transformação generalizada de padrões culturais dominantes”.

Essa transformação, sugere o autor, “rejeitaria o consumismo – a orientação cultural que leva as pessoas a encontrar significado, satisfação e reconhecimento através daquilo que consomem – que seria tido, então, como um tabu, e criaria em seu lugar um novo arcabouço cultural centrado na sustentabilidade”.

Assadourian sugere a recuperação ecológica como o principal mote da humanidade. No novo significado cultural construído, passaria a ser “natural” encontrar valor e sentido na vida através do quanto uma pessoa ajuda a recuperar o planeta, “e não de acordo com o que esse indivíduo ganha, o tamanho de sua casa, ou quantos utensílios ele tem.”
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Edelberto Behs é jornalista, correspondente da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Interpol, a torneira e as camisinhas de Julian Assange


Uma semana depois de ser preso em Londres, o fundador do WikiLeaks Julian Assange conseguiu uma importante vitória nos tribunais. Apesar de ainda preso por dois dias para confirmar alegações e resolver questões burocráticas, ele será libertado e, com uma tornozeleira, poderá responder os processos contra ele em liberdade e sem ser extraditado para a Suécia, país que expediu um mandado internacional de prisão contra ele. Promotores suecos emitiram um mandado de prisão para o australiano de 39 anos, que é procurado na Suécia sob suspeita de cometer crimes sexuais, acusação que ele nega.

“Agentes da unidade de extradições da polícia metropolitana prenderam Julian Assange em nome das autoridades suecas por suspeita de estupro”, declarou a polícia. A polícia acrescentou que Assange recebeu uma acusação de coerção ilegal, duas acusações de assédio sexual e uma de estupro, todas elas supostamente cometidas em 20 de agosto.

Segundo o NYT, as acusações são baseadas em encontros sexuais com duas mulheres. As relações, que começaram consentidas pelas envolvidas, acabaram não consentidas quando Assenge não quis mais usar camisinha. A Suécia expediu o primeiro mandado de prisão para Assange em 18 de novembro, mas a ação foi invalidada por um erro processual. Um novo mandado foi emitido em 2 de dezembro.

O que não dá para entender, nem pela importância tradicionalmente dada aos casos que resolve, que a Interpol se preste a uma caçada internacional por causa de acusações tão inconsistentes quanto estas que pesam contra Assange. É uma verdadeira piada. O cara se negou a transar com camisinha e é caçado pela Interpol? Que espécie de polícia internacional é essa? Fala sério. Até parece que na Suécia, um dos países mais liberados do mundo, uma relação sexual sempre envolve um homem, uma mulher e um advogado...

As razões para esta caçada, ainda mais com argumentos tão microscópicos, ultrapassam a tênue barreira da obviedade. Eles querem que a torneira pare de vazar. E isso é tudo. E o que a gente faz com uma torneira teimosa? Troca a bichinha por outra. O destino de Essange, infelizmente, já está traçado... Cabe a todos nós erguermos nossas vozes contra este estupro contra a livre expressão. Essange e a sua torneira pingante prestaram um inestimável serviço à humanidade, desmascarando a horda de mascarados que domina o planeta há décadas. Ele é um herói.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vai nevar no Natal!

Um frio fora de época está pegando no Rio Grande do Sul. Em Cambará da Serra, nesta madrugada, a temperatura chegou a 2,5ºC. (Foto: Juan Barbosa/Pioneiro/Agência RBS)

Em Cambará do Sul (RS), na madrugada desta terça-feira (14), foi registrada a mínima de 2,5ºC, segundo medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Trata-se da menor temperatura registrada no estado em dezembro, desde 1982, quando Bom Jesus registrou 2,2ºC. Mas por aqui a coisa não está sendo diferente. Em Santa Catarina, Urubici registrou 1,1ºC. Acho que vai cair neve neste Natal! Pelo menos o Papai Noel brasileiro vai sentir-se mais à vontade com esse frio. Porque, casaco de pele, botas e gorro, convenhamos, não combina com o Brasil, não é mesmo? Mas, como nós somos uns copiões, vamos que vamos, de neve. Agora, talvez, tudo vai se confirmar, afinal.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Falso brilhante: luxo de Dubai esconde massa de miseráveis

Esta é a Dubai pela qual o mundo se encanta

Este é o bastidor de um mundo glamuroso, servido por gente miserável


Por Marcia Camargos

A sensação começa no aeroporto, na hora do embarque. O traje das comissárias de bordo, arrematado por um chapéu coco vermelho, de onde pende um meio lenço, tentando esconder metade do rosto, procura fazer uma ponte fashion entre o que o senso comum define como Oriente e Ocidente. Também a mistura étnica já se faz presente durante o voo, com mulheres filipinas, africanas e europeizadas servindo as várias refeições da viagem interminável. A chegada não deixa dúvidas. Adentramos um mundo de ficção, espécie de parque temático ou ilha da fantasia onde o dinheiro compra tudo. No saguão principal do aeroporto, colunas de arenito emitem faíscas cintilantes. Brilho nouveau riche, aliás, será parte do cardápio desta cidade-estado que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. A limpeza asséptica estende-se do teto ao assoalho. Na fila do passaporte, confirma-se a impressão da artificialidade, marca registrada desta invenção que se quer pós-moderna. Os jovens que manejam os carimbos vestem impecáveis túnicas brancas, como se tivessem acabado de sair da lavanderia, num cenário perfeito para um comercial de sabão em pó. Tão engomados são as cafias na cabeça, em contraste com a barba negra cerrada, que o cérebro custa a aceitar como verídico o que se enxerga.

Lá fora, esqueça a muvuca acolhedora de um país árabe. Enfileirados, os táxis zero quilômetro são dirigidos por homens ou mulheres em corretíssimos uniformes igualmente recém-passados a ferro. Nem uma prega fora de linha no automóvel de ar condicionado nas últimas. Cadê os carros usados de um ano atrás? Decerto exportados para os irmãos menos afluentes, pois aqui não cabe a pátina do tempo. No trajeto para o hotel, os famosos arranha-céus “mais altos do planeta” capturam a vista e causam estranheza. Eles crescem como cogumelos no horizonte inóspito. A motorista filipina, no seu inglês ininteligível, tenta obter informações sobre o caminho com o gerente de origem hindu. Nada se compreende e eles tampouco se entendem. Eu ainda não sabia, mas aquilo era uma amostra da falta de identidade, produto fora do mercado em Dubai.

Ao invés de um caldeirão cultural, em que as diversas raízes se interpenetram e se transformam, formando um atraente mosaico, nota-se um emaranhado de nacionalidades desconectadas entre si, que não conversam e não se comunicam. Pela proximidade geográfica, migrantes das áreas pobres da terra afluem para este trecho do Golfo Pérsico, que não passava de uma pequena aldeia com 20 mil habitantes vivendo do comércio até meados dos anos 1960, quando o petróleo jorrou. Trata-se, evidentemente, de um superlativo nunca citado, o das massas mais miseráveis da Índia, Paquistão e Filipinas que fogem da indigência para formar um exército de mão de obra não qualificada nesta máquina financeira. Eles habitam guetos – ou pelo menos assim suponho, pois tal qual uma Brasília do século XXI, ali os empregados existem apenas para servir, refluindo para a invisibilidade de cidades-satélites após o expediente. Dizem que moram em containers, ardendo no calor de quarenta e cinco graus, mas isso é um assunto que escapa da pauta. Porém, nem com o maior dos esforços se consegue pensar numa passeata, greve ou paralisação de trabalhadores. Porque eles não formam uma nação, não possuem um idioma nem laços em comum. São meros braços hiper explorados a desempenhar funções subalternas neste aglomerado que se impõe como uma cópia futurista e desfocada de Las Vegas.

Fruto do voluntarismo dos xeques da dinastia Al Maktoum, no poder desde o século XIX, Dubai esbanja torres envidraçadas, praias e ilhas artificiais, resorts e shoppings gigantescos, com badaladas marcas internacionais. Tudo induz ao consumo de luxo, passando a ideia de que os desejos mais extremos serão saciados, num turbilhão hedonista levado às últimas consequências. Mas se engana quem confunde tal frenesi com modernidade. Ali impera uma monarquia ditatorial, fincada numa leitura estreita do islamismo, que desrespeita os direitos humanos, ignora a liberdade de expressão, oprime a mulher, proíbe relações sexuais fora do casamento e mantém a população sob estrito controle. Nesse contexto, não é difícil imaginar os bastidores de lavagem de dólares, prostituição, contrabando de armas, pedras e outros males a sustentar a voracidade do consumismo emergente.

Aparência enganosa
No alto de um edifício, a efígie de dimensões exageradas de Mohammed bin Rashid Maktoum, que acumula as funções de primeiro-ministro e vice-presidente, vigia como o Grande Irmão de George Orwell. Culto à personalidade? Ninguém parece se importar com tais detalhes em meio a tantas lojas, restaurantes e locais de diversão. Quer um zoológico com pinguins em carne e osso? Vá ao Dubai Mall. Sonha com uma pista de patinação no gelo ou até rampas de esqui com neve? No Emirates Mall elas emulam a experiência de um passeio nos Alpes suíços que se erguem até o infinito do... teto de plástico, a laTruman Show.

Do ônibus vermelho, cópia dos congêneres londrinos, turistas deslumbrados admiram a paisagem urbana que se espalha entre viadutos, pontes e auto-estradas. Não há ruas, esquinas ou calçadas em que a gente caminha e se encontra. As altas temperaturas e a areia que cisma em aflorar nos terrenos ainda desocupados expõe a face real desta shopping-city que nega a natureza e a sabedoria ancestral dos povos do deserto, em vez de fazer delas sua aliada. Com exceção de uma ou outra ousadia arquitetônica digna de nota, o que se vê é um enfiado de construções sem estilo, de aparência enganosa, que não esconde o aspecto fake nem a falta de bom gosto e charme, num vácuo de qualquer coisa semelhante ao que chamamos de “espírito”. Indivíduos deslocados, expatriados, perdidos e sozinhos nesse caos aparentemente ordenado de um sistema que pulou direto da vila comunitária dos beduínos para o capitalismo do terceiro milênio - ou o que há de pior nele.

Não por acaso, no avião regressando de Amã, capital da Jordânia, cuja balbúrdia aparece como um bálsamo refrescante, pergunto a um passageiro de origem inglesa como ele consegue viver em Dubai. A resposta, dada após uma breve hesitação, vem afiada o bastante para compor o retrato que tão bem define este simulacro de sociedade: “O dinheiro”, diz ele, com um brilho falso nos olhos claros.
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Marcia Camargos é escritora com pós-doutorado em história pela USP. Tem 22 livros publicados, entre eles O Irã sob o Chador. Esteve recentemente em Dubai, em escala de viagem rumo à Jordânia e à Palestina. Artigo originalmente publicado pela Agência Carta Maior.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Deixem os homossexuais em paz!


O teólogo presbiteriano Juan Stam, hoje vivendo na Costa Rica, propôs às igrejas evangélicas uma moratória de cinco anos para que elas analisem com calma o assunto da homossexualidade, deixem os homossexuais em paz e se fixem em outros temas mais importantes e evangélicos.

O tema da homossexualidade entrou com força nos debates durante a última campanha presidencial e já vem sendo um dos principais pomos de discórdia dentro das igrejas ao longo de vários anos. Dentro da igreja luterana (IECLB) basta lembrar o lamentável episódio protagonizado pelo pastor Ademir Creutzfeld, cuja homofobia somente entrou num período de mais moderação quando foi processado pela vítima, que, numa demonstração de mais espírito cristão do que o próprio pastor, retirou a queixa de homofobia contra ele diante do juiz.

O tema ficou bem demarcado pelas balizas da moralidade e amparado por versículos bíblicos do Antigo Testamento, que tentam sobrepor a lei ao evangelho, como se a salvação não passasse pela cruz e pela Páscoa, ou seja, pelo próprio sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Segundo Stam, a guerra homofóbica está causando dano à igreja. “Os evangélicos parecem estar presos a uma obsessão pelos temas sexuais, como se fossem os únicos problemas críticos de nosso tempo e como se deles dependesse o futuro da igreja e da civilização”, vaticinou.

O tema domina, de modo a cansar, o discurso de políticos protestantes. Ele indaga, por exemplo, por que as igrejas não se uniram para organizar marchas contra as guerras do Iraque e do Afeganistão? Ou em protesto contra o golpe de Estado em Honduras e, agora, contra o regime repressivo do seu governo?

Stam está certo ao afirmar que “as igrejas evangélicas carecem de autoridade moral para que suas campanhas anti-homossexuais sejam convincentes. Suas arengas contra a homossexualidade caem no ridículo ante os setores pensantes e críticos da população e, às vezes, cheiram a oportunismo e hipocrisia”.

O evangelho não se sustenta com a negação da salvação para este ou aquele, como se nos coubesse classificar os que estão na lista dos salvos ou fora dela. O evangelho é boa nova de salvação. “Na América Latina os evangélicos têm se destacado por serem anti: anticatolicismo, anticomunismo, antiecumenismo e agora anti-homossexualidade. O evangelho é o ‘sim’ e o ‘amém’ de Deus; quando o negativo domina a Igreja, ela está doente”, defende Stam.

Toda esta campanha gerou ódio e fanatismo, ao mesmo tempo em que ignora solenemente dados preocupantes e assustadores para quem defende o valor último da vida. De 1980 a 2009, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 3.196 assassinatos de homossexuais no Brasil, uma média de 110 por ano. O Paraná é o Estado mais homofóbico do país, ao lado da Bahia, e seguido por São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Alagoas. No ano passado, foram mortos 15 travestis, oito gays e duas lésbicas no Paraná. Entre travestis e transsexuais, 70% já sofreram algum tipo de violência naquele Estado. O ex-presidente do Grupo Gay da Bahia, o antropólogo Luiz Mott, frisa que a maioria dos crimes contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais (LGBT) é motivada por “homofobia cultural”.

A comunidade LGBT luta pela aprovação do projeto de lei, em tramitação no Congresso nacional, que criminaliza a homofobia. O presidente da Associação Brasiléia de LGTB, Toni Reis, destaca que o maior empecilho para a aprovação da lei é a oposição de grupos religiosos conservadores. A reivindicação da comunidade LGBT, ao contrário do que afirmam os “cristãos” em sua campanha moralista e discriminatória, não é o casamento religioso, mas a união civil.
(Com informações da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

John Lennon está em nós

Ainda na noite do assassinato, multidões de fãs fizeram vigília diante do Dakota Building, edifício em que Lennon morava.

Três décadas depois, ninguém esquece. Está nas entranhas das nossas almas. Um selo definitivo, inapagável. Eu me lembro com um vínculo ainda mais especial. Esperávamos a nossa primeira filha, que nasceu dois dias depois, prematura de oito meses. A notícia nos paralisou diante da TV. Estávamos de luto, todos nós, como quem perde um irmão.

Mas não é só o maldito tiro de Mark Chapman que ninguém esquece. O que ficou na mente de todos, como uma trilha sonora da inconformidade, é a obra de John Lennon. Mother, Give Peace a Chance, Imagine, Power to the People... melodias que são narrações do modus vivendi de uma geração de jovens que queria transformar o mundo com as suas próprias mãos.

O seu espírito contestador – mais vigoroso aos 40 do que quando integrava a mais famosa banda de todos os tempos – incomodava. Ainda mais porque, em Nova Yorque, ele pisava diretamente no calo do Tio Sam com canções como Happy X-Mas (War is Over). Incomodava porque cobrava a paz para o mundo, enquanto Tio Sam investia fortunas na guerra do Vietnã, vergonhosamente perdida, e que marcou definitivamente os EUA até os dias de hoje.

Por conta da sua irreverência crítica, quiseram extraditá-lo e retirar dele a cidadania americana. Mas não houve tempo para isso. Por se recusar a permanecer um prisioneiro da própria fama, ele foi para as ruas, andava nas ruas, se expunha, participava de protestos e movimentos. Num tempo sem sites, nem blogs ou twitters, ele botava a cara famosa para bater.

E num desses encontros do famoso com o incógnito, ele topou com Chapman. No dia 8 de dezembro de 1980 tombava, numa poça de sangue na calçada de Nova Yorque, o maior ativista pop que a humanidade já produziu.

A sua vida divide-se em dois períodos de uma década. É difícil determinar qual das duas foi mais marcante, mais definitiva, mais visceral. De 1960 a 1970 ele foi um dos gênios que integraram os Beatles. Nada mais é preciso dizer sobre esta década. De 1970 a 1980 ele foi John Lennon, a lenda. Há poucas personalidades no mundo que podem comparar sua história de vida como a dele.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A tecnologia do apocalipse

Foram abertas ao público, no final de novembro, as fotos e os filmes de um projeto ultra-secreto dos Estados Unidos: registrar, com o maior número possível de detalhes, cada milionésimo de segundo das explosões nucleares que eram realizadas nas ilhas do pacífico. Este blogueiro revela alguns desses inacreditáveis instantâneos dessa nefasta tecnologia do apocalipse.

O material agora divulgado foi compilado num estúdio secreto, em Los Angeles, entre os anos de 1947 e 1969, sendo retirado de um total de 6500 filmes. Um grupo de 40 fotógrafos e câmera man fizeram o trabalho sujo de registrar este material, que documenta um período único e assustador da história recente da humanidade. “Espero que este tempo nunca mais volte”, desabafa o diretor do projeto de “exumação” deste material, o documentarista Peter Kuran. A seguir, umas poucas gotas do sangue de quem o deu para registrar em detalhes o que de pior o ser humano já foi capaz de produzir.

Operação Greenhouse: A imagem registra um privilegiado grupo de observadores VIP, no ano de 1951. Eles estão na primeira fila do teatro dos horrores, com óculos especiais, para não perderem nenhum detalhe da detonação de uma arma atômica sobre o Atol de Eniwetok, localizado nas Ilhas Marshall, no Oceano Pacífico.


Projeto secreto da arte da catástrofe: Um homem registra em 1955 a décima primeira série de testes americanos de armas nucleares, na chamada Operação Teapot, no campo de testes de Nevada. A operação executou ao todo 14 testes de armas atômicas.


Cronista de bombas: Protegido com máscara e traje especial, um câmera man filma um teste nuclear nos EUA. Durante o seu trabalho, tais profissionais estavam quase sempre no epicentro do teatro de operações sem qualquer proteção especial. Alguns usavam somente bermuda e camiseta, tornando-se vítimas posteriores de câncer.

Atribuição mortal: Um dos cerca de 40 câmeras do 1352. Photografic Group, da Força Aérea Americana, registra uma explosão nuclear no campo de testes de Nevada, em 1957. Esses homens do comando especial secreto tinham que se aproximar até bem poucos quilômetros do cenário da explosão, estando diretamente expostos a seus efeitos altamente nocivos.


Detalhes incríveis: A foto foi registrada com a câmera especial “Rapatronic”, que permitia registrar os primeiros micro-segundos da explosão atômica. As mais modernas câmeras da época eram capazes de registrar 15 milhões de imagens por segundo.

Operação Dominique: O registro de uma explosão em 1962 sobre o Atol de Kiritimati, feito com um filme especial XR, que permitia o registro das explosões que eram dez vezes mais claras do que o Sol. “A gente podia ver a onda de choque atravessando o vale, vindo em nossa direção”, lembra o fotógrafo George Yoshitake. Quando a bomba explodia, com seus 1,5 quilotons de TNT, George primeiro sentia o calor da explosão. Em seguida, a onde de choque o forçava a ficar de joelhos, como numa tempestade. Enquanto ele resistia àquela força gigantesca, a sua câmera não parava de registrar cada detalhe. Yoshitake é um dos únicos que esteve diretamente exposto a esta força descomunal e ficou vivo até hoje para contar a experiência. “As fotos ficavam psicodélicas”, diz o documentarista Peter Kuran, que está organizando esses impressionantes registros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Privação ritual do prazer



A Comissão Europeia e várias ONGs estão conclamando os países-membros da União Europeia a apoiar as vítimas de mutilação genital feminina que vivem no bloco e a proteger adolescentes do risco desta prática.

O procedimento envolve a remoção parcial ou completa da genitália externa da mulher e é geralmente executado sob condições precárias de higiene e sem anestesia, em crianças e adolescentes de até 15 anos de idade, representando uma violação severa dos direitos humanos. A prática constitui tortura e degrada a vítima. Trata-se de uma violação dos direitos da mulher à integridade física e também dos direitos da criança. A prática é mais comum na África, em cerca de 30 países onde as crianças e adolescentes são submetidas ao procedimento. Ela é praticada na África, em alguns países do Oriente Médio, comunidades da Ásia, da América Latina e até na Europa.

A mutilação genital feminina já foi explicada e denunciada por este blogueiro (http://clovishl.blogspot.com/2010/02/abaixo-mutilacao-feminina.html), por ser uma prática que viola inúmeros direitos humanos. Apesar de ter sido a postagem campeã de acessos deste blog, a prática perniciosa é pouco conhecida e não tem levado a comunidade internacional a ações que realmente denunciem e combatam esta grave violação contra as mulheres. Para muitos, talvez, a curiosidade tenha sido o principal ingrediente da consulta ao post. Espero que a curiosidade os tenha levado à indignação e à denúncia.

As imagens desta postagem são de dois cartazes de uma campanha da Anistia Internacional contra a prática, que atinge até países da Europa e, infelizmente, também tem casos registrados no Brasil. O principal objetivo dos agressores (por incrível que pareça, na maioria são as próprias mães que realizam a agressão às suas filhas) é manter uma tradição nefasta, que reduz a mulher a mera procriadora, sem direito a prazer.

Mal sabem eles/elas que o prazer sexual é uma das poucas coisas boas que Deus permitiu aos seres humanos levar consigo depois da expulsão do paraíso. O pensamento é de Ricardo Wangen, um saudoso professor de teologia que eu tive na minha juventude.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Passeio amoroso virtual



Esta impressionante produção levou dois anos para ficar pronta. É comovente ver como este homem constrói um mundo holográfico em 3D para a sua amada, que está em coma. Com um ship acoplado à cabeça dela, ele consegue transmitir-lhe todas as sensações de um passeio real por uma cidade deslumbrante, em cujo jardim ele planta uma flor. O filme impressiona pela genial composição, mas também pelo alto grau de sensibilidade humana embutido no enredo.

Será que um dia poderemos ter tal interatividade com os computadores que seremos capazes de despertar as sensações do real a partir do virtual? Eu não duvido.

Entretanto, na minha caminhada de vida até aqui com pessoas em coma ou em fase terminal de vida, percebi que, mesmo ausentes, elas estão presentes. O coma dá a impressão de total paralização; um stand by biológico e emocional. Mesmo neste estado letárgico agudo, o doente sente, percebe, ouve e entende o que é dito em sua presença. Ele não pode reagir, mas registra, se emociona ou se apavora, tem esperança ou entra em desespero com tudo aquilo que capta.

Por isso, mesmo sem os recursos sugeridos neste vídeo, simplesmente com a nossa voz e as nossas mãos, podemos transmitir milhões de sensações a alguém amado e que esteja no fundo da cama.

Dá para comparar com a historinha que contamos aos nossos filhos antes de dormir. Estimula, anima, desperta a fantasia e faz qualquer um ir longe, viajar sem sair do lugar, mesmo que esteja no fundo de uma cama esperando a morte chegar. Um passeio virtual pelas melhores lembranças de qualquer pessoa é possível, mesmo sem os recursos 3D. Você pode até colher e entregar uma flor virtual à pessoa amada durante este passeio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As revelações do WikiLeaks


Os milhares de documentos revelados pelo site WikiLeaks nos últimos dias apenas escancaram o que já se sabia há tempos. Ou o que, ao menos, se deveria saber sobre as coisas que realmente acontecem nos bastidores da diplomacia mundial. É tudo uma grande encenação, cujo principal objetivo é garantir o seu espaço, os seus negócios, a sua fatia, o seu domínio estratégico.

Não há porque ficar espantado com afirmações do que os diplomatas pensam sobre Lula, Ahmadinejah, Berlusconi ou Angela Merkel. No fundo, eles convivem com esses “líderes” e sabem exatamente como eles são, como se comportam, quais as suas manias e manhas na hora de negociar, o quanto são patéticos ou estão apenas representando um papel ensaiadinho.

O que incomoda profundamente os poderosos é que Wikileaks deu voz alta e sonora aos seus mais íntimos pensamentos. E agora o mundo sabe exatamente com quem está lidando, ou seja, uma turma extremamente desonesta, falsa, mentirosa, enganadora e que está representando o tempo inteiro.

Ah, e não adianta o Chávez pedir que Hillary renuncie. Irão colocar outro especialista em representação no lugar dela.

O que mais assusta em toda esta revelação do Wikileaks é a abertura das portas mais secretas, por trás das quais se decide o futuro do mundo em que todos nós vivemos. O que se vê é um bando de “líderes” tão perdidos quanto nós comuns mortais, e que estão mais preocupados em dar “pitacos” sobre os tiques nervosos uns dos outros do que com o que realmente deveriam fazer: garantir um futuro razoável para uma nau que, no fundo no fundo, está à deriva.
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PS: O verbo To Leak significa vazar e leaks é vazamentos. Mais uma prova do estreito parentesco das línguas anglosaxônicas: a palavra no alemão é Lecken.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Rosa não saiu do lugar

Rosa Parks sendo fichada na polícia depois de seu ato de rebeldia

Rosa Parks, metodista e costureira negra americana, ficou famosa por ter recusado ceder o seu lugar a um branco no ônibus. O episódio aconteceu em Montgomery, no dia 1º de dezembro de 1955, e obteve uma repercussão extraordinária, iniciando o movimento de luta pela igualdade de direitos entre negros e brancos nos EUA, liderada por Martin Luther King. Depois do seu ato de rebeldia, pelo qual ela foi expulsa do ônibus e presa, da noite para o dia foram impressos mais de 35 mil folhetos e, no dia seguinte, os negros passaram a boicotar os ônibus de Montgomery.

O ônibus em que Rosa se recusou a ceder lugar está no museu.

Rosa Parks não foi a primeira a recusar o lugar a um branco nem a primeira a ser expulsa do ônibus e presa. Mas porque era membro do National Association for the Advancement of Colored People, o seu caso obteve um eco que viria a chegar a Martin Luther King e a mudar a história dos EUA. Rosa Parks nasceu em Tuskegee, no dia 4 de fevereiro de 1913, e morreu em Detroit, no dia 24 de Outubro de 2005. O ônibus no qual ela cometeu o seu ato de rebeldia foi restaurado e pode ser visto no museu dedicado ao tema.
Rosa com o pastor Martin Luther King Jr.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...