quinta-feira, 31 de maio de 2012

Paz ameaçada na Europa


Os grandes institutos de pesquisa para a paz vêem na crise financeira uma ameaça para a estabilidade da União Europeia. “A crise é uma ameaça para a paz na Europa”, afirma Margret Johannsen, do Instituto de Hamburgo para a Pesquisa para a Paz e Política de Segurança, no dia 22 de maio, em Berlim.

Os pesquisadores acusam os governos da UE de proteger os bancos enquanto submetem países inteiros a um duro regime de privações econômicas, colocando toda a Europa sob um dramático regime de pressão por poupança, forçando os países mais fracos a uma recessão absurda e à desconstrução de um estado social.

Segundo Johannsen, reina uma “absurda falta de solidariedade”, especialmente dos economicamente bem-sucedidos estados do norte contra os do sul do continente. Em nome da paz, uma mudança nessa política financeira é urgente.

Outro ponto crítico para o futuro da paz na Europa é a política de migração. A Europa está se fechando, inclusive para um trabalho de maior cooperação com os países da chamada “primavera árabe”.

Os estudiosos da paz também criticam a incapacidade da Europa em lidar de forma parceira com os países emergentes, como a China, e até com atores como bancos e agências de avaliação. Isso questiona a capacidade da política de dirigir os destinos do mundo, afirmam. Eles exigem uma postura mais responsável dessas novas potências, bem como novos esforços para o controle de armas e o desarmamento mundial.

Os pesquisadores da paz também qualificaram as ameaças de Israel de ataques aéreos às instalações nucleares do Irã como atentado ao direito dos povos. Não há alternativa que substitua a diplomacia. O grupo sugere abandonar a exigência de que o Irã desista do enriquecimento de urânio em troca de autorizar inspeções regulares às suas instalações.

Segundo a análise dos pacifistas, também não seria recomendável resolver a crise síria com uma intervenção militar na região. As consequências para a região seriam difíceis de quantificar. Uma solução de “paz suja”, segundo o modelo do Líbano, poderia conduzir a uma guerra civil interminável, advertem.

Sempre foi assim. Onde há dinheiro, ou a falta dele, há briga.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

De “baianos” a “bolivianos”


A maior cidade do Brasil, sempre na vanguarda em tudo, também tem um triste protagonismo no que se refere ao preconceito. Na segunda metade do século 20, o termo “cabeça chata” era parte de um vocabulário discriminador e generalizador para referir-se a qualquer migrante oriundo do Nordeste brasileiro. Na época, o bullying racial voltado contra os nordestinos era resumo de uma série de adjetivos: lento, vagabundo, burro, incompetente; sempre para enaltecer uma suposta aptidão paulistana ao trabalho e ao sucesso individual.

Agora o alvo mudou, mas o preconceito continua o mesmo. Com a mudança da economia fazendo muitos nordestinos voltarem às suas origens em busca de melhores oportunidades na terra da qual outrora tiveram que retirar-se, a nova força trabalhadora é formada por uma crescente comunidade latino-americana. Destaque neste novo grupo de trabalhadores semi-escravos são os bolivianos. O rosto andino, de descendentes do outrora orgulhoso e poderoso povo Aimara, a cor escura da pele, os traços indígenas e o sotaque espanhol acentuado fazem ressurgir um velho preconceito antes voltado contra os povos indígenas brasileiros. O baiano agora virou boliviano, com os mesmos adjetivos: sujo, preguiçoso e bêbado.

A comunidade que agora recebe o mesmo tratamento já dispensado aos nordestinos já é integrada por mais de 150 mil bolivianos, a maioria trabalhando em espeluncas que chamam de confecções, em espaços apertados, quentes e de suado trabalho das 7h30min às 22h30min, nos quais a maioria também se abriga. Para piorar sua situação, boa parte deles vive na ilegalidade no Brasil.

É contra essa gente que a São Paulo do século 21, sempre orgulhosa de sua vanguarda, sai na frente outra vez ao tratar os bolivianos de agora como os nordestinos de outrora. À medida que o Brasil se consolida como pólo regional, naturalmente nossas fronteiras vão receber um contingente cada vez maior de estrangeiros. É uma inversão da história. A cidade que recebe a todos de braços abertos tem os punhos cerrados para os bolivianos.

Mais detalhes sobre essa dura realidade de xenofobia, preconceito e bullying racial, com numerosos relatos de casos pessoais, você pode ler na matéria da Revista do Brasil.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Ensino, um negócio que rende mais do que o ouro


Por que a educação no Brasil vai mal? Há diversos motivos que podem ser apontados. Particularmente, penso que há dois abismos impedindo o Brasil de chegar ao outro lado e se instalar entre as nações “bem educadas”.

O primeiro abismo é o ensino público. Ele dá certo em muitos países, mas não deslancha no Brasil. Um bom exemplo disso é a Noruega, onde até os filhos da família real estudam em escolas públicas, são muito bem educados e se orgulham disso. Por aqui, não tem jeito. Há um ralo por onde escapa qualquer sonho ou projeto de alterar o quadro no sentido de melhorar a educação dos brasileiros e das brasileiras: a corrupção.

O segundo abismo é o ensino privado. No Fundamental e no Médio, escolas comunitárias têm se destacado na formação das elites, plastificando dramaticamente a formação dos líderes da nação. Mas é cada vez maior o número de diretores de escolas privadas cujo maior atributo conceitual é o da visão empresarial. E nesse espaço cabe somente o conceito do lucro.

O destaque neste conceito de escola-empresa conquistou um espaço gigantesco na formação superior no Brasil. Há mais universidades privadas do que igrejas no país, e olha que o Brasil é um dos paraísos dos evangélicos bem-sucedidos, que inclusive exporta o conceito de igreja lucrativa para outros países e continentes.

Um bom exemplo da lucratividade do ensino no Brasil chegou ao seu apogeu nesta terça-feira, com a divulgação da venda da Uniasselvi. A maior universidade privada do Vale do Itajaí surgiu no final dos anos 90, com a aposentadoria de um professor da FURB. O professor Tafner queria deixar o seu legado na formação superior no Vale e criou sua própria faculdade. Quinze anos depois, o seu sonho vira uma fortuna particular incalculável.

O hoje grupo Uniasselvi foi vendido para a Kroton Educacional pela bagatela de meio bilhão de reais. Tudo porque a universidade-empresa é o maior conglomerado de ensino a distância do Brasil, com 80 mil alunos, dos quais 60 mil no ensino a distância. O resto é sobra. Há 12 mil alunos na graduação e 10 mil na pós-graduação em seis unidades em Indaial, Blumenau, Timbó, Brusque, Guaramirim e Rio do Sul.

Sem dúvida, um belo negócio. Nem o ouro rendeu tanto em 15 anos. Qualquer empresário sonha com uma empresa assim. E se você quer ser um empresário de sucesso, se você não tem talento para ser Edir Macedo, seja um Tafner. O sucesso é garantido.

Enquanto isso, o ensino no Brasil, público ou privado, vai de mal a pior.

O brasil é sétimo em feminicídios


Com uma taxa de 4,4 homicídios para cada 100 mil mulheres o Brasil ocupa a sétima posição dentre 84 países analisados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no período compreendido entre 2006 a 2010. Em primeiro lugar aparece El Salvador, com 10,3 homicídios para cada grupo de 100 mil mulheres, seguido por Trinidade y Tobago e Guatemala, com 7,9, Rússia, 7,1, Colômbia, 6,2, e Belize, com 4,6.

Em 30 anos, de 1980 a 2010, foram assassinadas 91,9 mil mulheres no Brasil mostra o documento Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, de São Paulo. Os femicídios acontecem geralmente na esfera doméstica, quase a metade dos crimes é perpetrada pelo parceiro ou ex-parceiro da mulher.

Outro relatório, sobre o Peso Mundial da Violência Armada, revela, no capítulo “Quando a vítima é uma mulher”, que os altos níveis de feminicídio vão acompanhados, frequentemente, de elevados níveis de tolerância da violência contra as mulheres e, em alguns casos, resultam dessa intolerância.

Um dado relevante do Mapa da Violência brasileiro mostra que os pais são os principais responsáveis pelos crimes em vítimas até os 14 anos de idade. Até os 4 anos de idade das vítimas, as mães são as maiores autoras dos assassinatos e a partir dos dez anos destaca-se a figura paterna.

O pai é substituído pelo marido ou namorado, ou os respectivos ex, em mulheres que são vitimadas a partir dos 20 anos até os 59 anos de idade. Nos crimes de vítimas com idade acima dos 60 anos são os filhos que assumem preponderantemente esse papel.

A arma de fogo é o principal instrumento de morte tanto nos homicídios, em 75,5% dos casos, como nos feminicídios, em 53,9% dos casos. A seguir vêm os objetos cortantes ou penetrantes usados nos crimes, em 26% dos casos contra mulheres e em 15,5% nos assassinatos de homens.

No Brasil, o Espírito Santo é o Estado que apresenta o maior número de homicídios de mulheres, com 9,4 casos para cada grupo de 100 mil, e o piauiense, com 2,6, é o menos violento em relação às mulheres.

Dentre as capitais brasileiras, Porto Velho, em Rondônia, desponta em primeiro lugar na lista das mais violentas, com 12,4 homicídios por 100 mil, e Brasília a menos violenta, com 1,7 por 100 mil.

Paragominas, no Pará, é, dentre os municípios que têm mais de 26 mil mulheres entre os seus habitantes, o que apresenta a maior taxa de femicídio do país, com 24,7 casos, seguido de Piraquara, no Paraná, Porto Seguro, na Bahia, e Arapiraca, em Alagoas, todos com taxa acima dos 20 assassinatos por 100 mil.

Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O velhinho do megafone


Estamos às portas da Rio+20, uma conferência com pose de mudar o mundo, melhorando a relação entre a humanidade e o planeta em que vive.

Mas o momento não é adequado. Eu diria até que é extremamente impróprio para que qualquer coisa decisiva aconteça no encontro sobre sustentabilidade, no mês que vem.

Aliás, o que é sustentabilidade? Está aí um conceito elástico como borracha. Ele se adapta a praticamente tudo. Qualquer ideologia cabe no pacote. O simples fato de falar de uma “economia sustentável” já demonstra o tamanho do balaio de gatos que é o conceito. Os governos dizem fazer tudo por mais sustentabilidade. O Brasil quer posar de defensor da Amazônia enquanto incrementa as prospecções do Pré-Sal. Empresas como a Monsanto, a Coca Cola, a Petrobrás, a Vale do Rio Doce ou a Souza Cruz afirmam categoricamente sua ação sustentável. Além de muita hipocrisia, tal avaliação representa um imenso perigo para o futuro da Rio+20.

Por quê? A crise internacional dá imensa vantagem às empresas. O mundo precisa de empregos, de uma economia que volte a girar e saia do atoleiro em que se meteu. Vão fazer isso cuidando do meio ambiente? Não me parece ser este o ponto central no mundo, para onde quer que se mire.

A meta principal é a volta do crescimento a qualquer custo. Todos olham para a China, a Índia e até o Brasil, porque são economias em expansão, mais seguras para aplicar o capital, portanto. Ninguém mira para a Grécia, a Itália ou a Espanha, que estão parados e com a luz de ré acesa.

Fazer uma cúpula sobre sustentabilidade, num cenário desfavorável desses, me lembra aquele velhinho da Praça Doutor Blumenau, que, com um megafone na mão, vocifera mensagens evangélicas que ninguém quer ouvir. A Rio+20 será mais um evento para inglês ver, porque não terá poder decisório algum com relação ao futuro da humanidade ou do próprio planeta.

Mas isso significa que devemos desistir, nos calar, recolher o discurso e ir para casa?

Definitivamente, não! Mesmo considerando que aquele velhinho fica passando por idiota naquela praça, em Blumenau, há que se admirar a sua insistência. Mesmo sozinho, ele e aquele megafone, o velhinho está convencido que tem uma missão a desempenhar. E a levará até o fim, mesmo sem platéia alguma. E eu pretendo desempenhar o mesmo papel, mesmo num mundo de cegos e surdos. Sei que tenho muitos companheiros e companheiras de loucura. Mesmo com o pé no nosso pescoço, não vamos nos render.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Hospital grego quis impedir mãe de levar bebê até que cesariana fosse paga

Os impactos sociais da crise na Grécia se aceleram a cada dia. Nesta semana, de acordo com o site português Esquerda.net, uma maternidade de Atenas quis impedir que uma paciente levasse seu recém-nascido para casa por falta de pagamento de uma cirurgia cesariana. Impossibilitada de pagar o valor de 1,2 mil euros, a mãe foi auxiliada por uma médica do hospital que, indignada com a situação, a liberou para levar a criança. No entanto, o total ainda precisará ser pago, mas em parcelas. Conforme detalhou o site, todos os membros da família estão atualmente desempregados, com exceção da avó do bebê, que faz faxinas, e não sabem como irão arcar com os custos mensais.

A crise interminável na Grécia pode até justificar coisas assim. Mas aqui no Brasil estão acontecendo coisas bem parecidas por conta do sanguinário sistema de cobertura privada da saúde. Não podemos nem criticar... mesmo não estando numa crise econômica severa como a grega.

Dia da África


Quem se move pelo calendário de datas especiais a serem comemoradas, poderia ter a impressão de que hoje é um desses dias que passa em branco. Lembranças idiotas, como o “Dia da Toalha”, ou meio sem noção, como o “Dia do Nerd” estão na lista para hoje. Coisas que deixam passar despercebido que, para o Continente Africano, o dia 25 de maio é o “Dia da África”.

Mas, como este é o continente esquecido, lembrar das toalhas ou dos nerds parece dar algum sentido a um dia que, além de tudo, por aqui é de muita chuva. Afinal, o continente da pobreza, da fome, da AIDS, do deserto e dos conflitos intermináveis, marca-se na memória de muitos de nós apenas como o continente negro e dos animais selvagens.

Exceções talvez sejam para alguns as lembranças evocadas pelo filme animado “Madagascar” ou, para os que ainda têm um pouco de lembrança da última copa do mundo, lembram vagamente de temas como Nelson Mandela e apartheid. De resto, a África é uma ilustre desconhecida para a maioria de nós.

A realidade é que hoje é celebrado o Dia da África, o que em todo o continente é o mesmo que olhar com muita esperança para perspectivas de desenvolvimento, que finalmente se anunciam plausíveis em alguns países, como Angola e Moçambique. É uma perspectiva bonita em meio ao acúmulo de problemas em todo o continente, com destaque para uma desigual distribuição das riquezas e a persistência de doenças que afetam populações inteiras, como a AIDS, a desnutrição e a malária.

O motivo para a comemoração continental africana, neste dia 25 de maio, é a criação da Organização para a Unidade Africana no ano de 1963, um passo decisivo para a criação em 1992 da atual União Africana. Trata-se de uma entidade integrada por 53 países, empenhada na busca da unidade continental e da paz, e que se esforça pelo crescimento das economias da região, pela integração e pelo acesso das populações a serviços essenciais.

Todo o seu empenho, entretanto, não é suficiente sem substancial ajuda externa. Há severas deficiências em áreas como saúde, educação, emprego, água tratada, além de problemas com infra-estrutura e, sobretudo, crescentes desigualdades sociais.

Uma preocupação específica refere-se a milhares de mulheres e crianças na empobrecida África subsaariana, atingidos pela AIDS e que morrem a cada ano como vítimas da desnutrição, da malária e da tuberculose. O admirável crescimento econômico que é possível registrar em todo o continente também aumenta a marginalização de crescentes camadas da sociedade.

Na outra ponta, há 200 milhões de pessoas no continente padecendo severas condições de fome e subnutrição, o que é uma vergonha para toda a humanidade, tão rica, tão obesa e tão pronta a desperdiçar alimentos.

Somente por isso, cabe uma reflexão profunda neste Dia da África. Nossos irmãos africanos passam fome. Isso muda o meu comportamento na hora das minhas compras no supermercado? Isso altera minha postura diante da porta aberta da geladeira?

É um dia também para falar sobre paz, tão limitada em conflitos africanos como os que ocorrem em países como Madagascar, Guiné Bissau e Mali, onde ocorreram golpes de estado, ou em guerras fratricidas como a que dizima os dois Sudões.

Está certo que a África deve encontrar suas próprias soluções para os seus problemas. Mas ajudas importantes, como as que vêm da brasileira EMBRAPA ou da fábrica de remédios contra o HIV em Moçambique erguida pelo governo brasileiro são importantíssimas. E deveriam despertar o nosso orgulho solidário e o nosso total apoio.

O que não pode é continuar dormindo em berço esplêndido, enquanto o continente de onde vem metade da herança genética dos brasileiros e brasileiras segue com tantos problemas.

Jornalistas repudiam reportagem da Band

Na última quarta-feira (23/5), a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) também comentou, em nota oficial, a entrevista veiculada pelo programa "Brasil Urgente" da Band-BA e repudiou a produção e exibição da matéria (comentei e exibi o vídeo aqui). A entidade considerou que a atração desrespeitou os direitos humanos e que isso não pode ser justificado como liberdade de imprensa.

"Programas policialescos, irresponsáveis e sensacionalistas não podem ser tolerados pela sociedade por se travestirem de produções jornalísticas", afirmou a Federação na nota oficial. "Na verdade, estes programas ferem os princípios e a ética do Jornalismo e configuram abuso das liberdades de expressão e de imprensa, por violarem os direitos constitucionais da cidadania", acrescentou.

A nota ressalta que Mirella Cunha, que protagonizou a matéria veiculada pelo "Brasil Urgente", não é jornalista profissional e que suas atitudes "que em nada seguem a técnica e a ética jornalísticas, deixam evidente a intenção de constranger e humilhar o jovem detido."

Defendendo a aplicação de medidas disciplinares, quando necessário, aos profissionais de jornalismo, a FENAJ "alerta a sociedade brasileira para a necessidade de responsabilização das empresas da mídia, que definem os formatos de seus programas e os impõem aos profissionais e ao público."

Ao finalizar a nota, a Federação pede para que o governo da Bahia apure os fatos e as responsabilidades do caso.

Fonte: Portal Imprensa

Corrupção: crime contra a sociedade


Segundo a Transparência Internacional, o Brasil comparece como um dos países mais corruptos do mundo. Sobre 91 analisados, ocupa o 69º lugar. Aqui ela é histórica, foi naturalizada, vale dizer, considerada como um dado natural; é atacada só posteriormente quando já ocorreu e tiver atingido muitos milhões de reais e goza de ampla impunidade.

Os dados são estarrecedores: segundo a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) anualmente ela representa 84.5 bilhões de reais. Se esse montante fosse aplicado na saúde subiriam em 89% o número de leitos nos hospitais; se na educação, poder-se-iam abrir 16 milhões de novas vagas nas escolas; se na construção civil, poder-se-iam construir 1,5 milhões de casas.

Só estes dados denunciam a gravidade do crime contra a sociedade que a corrupção representa. Se vivessem na China muitos corruptos acabariam na forca por crime contra a economia popular. Todos os dias, mais e mais fatos são denunciados como agora com o contraventor Carlinhos Cachoeira que para garantir seus negócios infiltrou-se corrompendo gente do mundo político, policial e até governamental. Mas não adianta rir nem chorar. Importa compreender este perverso processo criminoso.

Comecemos com a palavra corrupção. Ela tem origem na teologia. Antes de se falar em pecado original, expressão que não consta na Bíblia, mas foi criada por Santo Agostinho no ano 416 numa troca de cartas com São Jerônimo, a tradição cristã dizia que o ser humano vive numa situação de corrupção.

Santo Agostinho explica a etimologia: corrupção é ter um coração (cor) rompido (ruptus) e pervertido. Cita o Gênesis: “a tendência do coração é desviante desde a mais tenra idade” (8.21). O filósofo Kant fazia a mesma constatação ao dizer: “somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”. Em outras palavras: há uma força em nós que nos incita ao desvio que é a corrupção. Ela não é fatal. Pode ser controlada e superada, senão segue sua tendência.

Como se explica a corrupção no Brasil? Identifico três razões básicas entre outras: a histórica, a política e a cultural.

A histórica: somos herdeiros de uma perversa herança colonial e escravocrata que marcou nossos hábitos. A colonização e a escravatura são instituições objetivamente violentas e injustas. Então as pessoas para sobreviverem e guardarem a mínima liberdade eram levadas a corromper. Quer dizer: subornar, conseguir favores mediante trocas, peculato (favorecimento ilícito com dinheiro público) ou nepotismo. Essa prática deu origem ao jeitinho brasileiro, uma forma de navegação dentro de uma sociedade desigual e injusta e à lei de Gerson que é tirar vantagem pessoal de tudo.

A política: a base da corrupção política reside no patrimonialismo, na indigente democracia e no capitalismo sem regras. No patrimonialismo não se distingue a esfera pública da privada. As elites trataram a coisa pública como se fosse sua e organizaram o Estado com estruturas e leis que servissem a seus interesses sem pensar no bem comum. Há um neopatrimonialismo na atual política que dá vantagens (concessões, meios de comunicação) a apaniguados políticos.

Devemos dizer que o capitalismo aqui e no mundo é, em sua lógica, corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impõe a dominação do capital sobre o trabalho, criando riqueza com a exploração do trabalhador e com a devastação da natureza. Gera desigualdades sociais que, eticamente, são injustiças, o que origina permanentes conflitos de classe. Por isso, o capitalismo é por natureza antidemocrático, pois a democracia supõe uma igualdade básica dos cidadãos e direitos garantidos, aqui violados pela cultura capitalista.

Se tomarmos tais valores como critérios, devemos dizer que nossa democracia é anêmica, beirando a farsa. Querendo ser representativa, na verdade, representa os interesses das elites dominantes e não os gerais da nação. Isso significa que não temos um Estado de direito consolidado e muito menos um Estado de bem-estar social. Esta situação configura uma corrupção já estruturada e faz com que ações corruptas campeiem livre e impunemente.

Cultura: A cultura dita regras socialmente reconhecidas. Roberto Pompeu de Toledo escreveu em 1994 na Revista Veja: “Hoje sabemos que a corrupção faz parte de nosso sistema de poder tanto quanto o arroz e o feijão de nossas refeições”. Os corruptos são vistos como espertos e não como criminosos que de fato são. Via de regra, podemos dizer: quanto mais desigual e injusto é um Estado, e ainda por cima centralizado e burocratizado como o nosso, mais se cria um caldo cultural que permite e tolera a corrupção.

Especialmente nos portadores de poder se manifesta a tendência à corrupção. Bem dizia o católico Lord Acton (1843-1902): “o poder tem a tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. E acrescentava: “meu dogma é a geral maldade dos homens portadores de autoridade; são os que mais se corrompem”.

Por que isso? Hobbes, no seu Leviatã (1651), nos acena para uma resposta plausível: “assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder que cessa apenas com a morte; a razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder”.

Lamentavelmente foi o que ocorreu com o PT. Levantou a bandeira da ética e das transformações sociais. Mas ao invés de se apoiar no poder da sociedade civil e dos movimentos e criar uma nova hegemonia, preferiu o caminho curto das alianças e dos acordos com o corrupto poder dominante. Garantiu a governabilidade a preço de mercantilizar as relações políticas e abandonar a bandeira da ética. Um sonho de gerações foi frustrado. Oxalá possa ainda ser resgatado.

Como combater a corrupção? Pela transparência total, pelo aumento dos auditores confiáveis que atacam antecipadamente a corrupção. Como nos informa o World Economic Forum, a Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes; o Brasil apenas, 12.800 quando precisaríamos pelo menos de 160.000. E lutar para uma democracia menos desigual e injusta que a persistir assim será sempre corrupta e corruptora.

Texto de Leonardo Boff

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O aparelho da preguiça


Um secador de cabelos? Qual nada! Este aí é o Zenith Flash-Matic, o primeiro controle remoto de televisão da história. Ele foi criado em 1955 pelo americano Eugene Polley, funcionário do departamento de engenharia da Zenith. Polley morreu aos 96 anos, no último domingo, em Chicago.

O ruído típico que o aparelho fazia quando acionado, emitindo um raio laser para trocar de canal na TV, deu origem ao verbo “zapear”.


O hábito implantou-se de tal maneira entre os telespectadores de todo o planeta, que contribuiu significativamente para incrementar o sedentarismo, causador de obesidade e de diversas doenças ligadas a ela. Desse modelo arcaico aí, só ficou uma coisa, o verbo “zapear” e o preguiçoso hábito da humanidade moderna de fazer tudo com o mínimo de esforço.

O circo e o pobre palhaço

A mega-encenação em torno da transferência do bandido (que a mídia chama de “empresário”) Carlinhos Cachoeira ontem foi patética e dispendiosa. Custou uma fortuna todo aquele aparato policial para trazer o homem da penitenciária de Brasília até o Congresso para ser interrogado pela CPI.

O que impressiona realmente, entretanto, é ver mais uma vez o quanto um bando de seres absolutamente incapazes consegue milhares de votos para sentar-se em cadeiras de deputados. Eu sabia que ele não iria abrir a boca. Você também? Imagino que sim! Francamente, acho que até o meu neto de sete anos saberia disso, se lhe dissessem que “ele não precisa dizer nada, se não quiser”.

E Carlinhos fez isso com uma solenidade de deboche que chega a ser um tapa na cara da nação. “Não vou dizer nada nesta CPI!”

O que fica difícil de entender de verdade é todo o circo que foi montado ontem. Francamente. Acho que queriam dar a Cachoeira o privilégio de um passeio com direito a batedores e proteção policial digna de um presidente. Senão, que outro objetivo teria tudo aquilo?

Agora, vejam abaixo o que se faz quando o “suspeito” não tem grana, é negro, não tem amigos, nem família que o defenda. Vejam e pasmem...



Isso é ridículo. Alguém tem que tomar providência contra a Band e contra essa menina boçal, loira falsa metida a jornalista, que se considera repórter... Isso é um atentado contra os direitos básicos da pessoa humana. É bullying midiático repulsivo. Transformaram o menino num palhaço por conta da sua ignorância de origem social. Esse é o tipo de imprensa que se faz em nossa TV sensacionalista. Revoltante.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Excelente redação com uma tuitada


O campus universitário é lugar de PM, para inibir os estudantes a mando da reitoria? Uma das 29 redações apontadas pela Fuvest como as melhores do último vestibular acha que não. Mas o autor (não revelado) não fala isso diretamente. Ele usa uma velha técnica, que é tão genial quanto o texto dele. A redação escondia uma mensagem subliminar, que passou imperceptível aos olhos dos avaliadores. O candidato/a grifou letras ao longo da redação que, lidas na sequência em que foram destacadas, compõem a frase “fora Rodas fora PM”.

Embora continue considerando a redação de bom nível, a Fuvest retirou o texto do ar na tarde desta segunda-feira, 21. Fez isso “para não incentivar que outras pessoas façam o mesmo tipo de brincadeira nas provas futuras”. Ousadia cidadã, mostrando que o direito de expressar sua opinião não tem freios, desde que se saiba como fazer. Dez!

I started the joke...



Isso aqui já está virando obituário. Quanto mais a gente avança em idade, mais prováveis são as chances de que nossos amigos, ídolos e referências partam. Ontem foi a vez de Robin Gibb. Câncer de cólon foi a luta dele. Agora, dos bons e velhos BeeGees, restam somente as gravações espetaculares e um sobrevivente.

"I started the joke" é uma avaliação bem acertada mesmo... A vida é uma grande brincadeira. A gente entra nela sem querer, sem perceber, sem ambições. E sai dela de fininho, como a gente costuma sair de uma piada de mau gosto, feita por alguém. É, a vida é uma pegadinha... mas quase sempre a gente descobre muito tarde, que "the joke was on me..." Pois é... A gente está envolvido na pegadinha da vida e, muito tarde, descobrimos o quanto andamos irritados à toa com o que nos acontece, até que nos digam: "brincadeirinhaaaa..." E aí a pegadinha acaba...

Sei que também chegará a minha vez. Um dia vou chegar diante do fato consumado, de que a pegadinha era comigo... Espero que o resultado final seja positivo e que fique ao menos uma boa lembrança dessa passagem para os que ficam...

Vai em paz, Robin. A sua marca ficou entre nós e a sua voz também está registrada em nossas mentes, como troféu de um tempo muito especial, lindo e que nada tinha de "joke". Era só diversão. Saudades...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Donna do meu coração...



Estou triste. Acabo de abrir o jornal, de papel(!), e descubro que Donna Summer morreu ontem, na Califórnia. Mesmo na era da informação digital, quando não se tem tempo de ficar conectado o tempo todo, as notícias chegam a conta-gotas até a gente.

Mas o meu assunto não é a mídia ou a falta de tempo para estar conectado. O meu assunto e Donna Summer, a grande diva da disco music dos anos 70!

Ainda sinto o coração pulsar no mesmo ritmo da ousada canção, aí do vídeo, acima. Era uma coisa muito especial e a gente abria ao máximo o volume do pequeno rádio transistorizado (!) conectado a uma caixa amplificadora, só para sentir o som pulsante de “I feel Love”. Comprida e, quando terminava, a gente queria mais. Ouvindo essa batida, não é difícil fazer a conexão entre Donna, sua música genialmente ritmada, e Michael Jackson, não é mesmo? Michael endeusava Donna Summer e a considerava sua segunda mãe.

Mais uma vítima da doença do século, Donna foi ceifada pelo câncer aos 63 anos de idade. Nada sabíamos de sua luta terrível. A diva morreu só, mas vive no coração de muito marmanjo de quase 60 anos. Também no meu...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Noruega separa igreja e estado

Bispo luterano Eivind Berggrav da Igreja Luterana da Noruega, em 1940.

A união entre igreja e estado chegou ao fim no dia 17 de maio na Noruega. A partir dessa data, a Noruega é oficialmente um estado laico. Uma emenda à Constituição foi aprovada no Parlamento de modo inesperado, durante uma sessão que iria apenas debater a proposta. De agora em diante, igreja deve ser financiada por seus próprios meios e o país se torna uma nação secular, sem religião.

Em um movimento que tomou todos de surpresa, o Parlamento norueguês aprovou a separação entre igreja e estado no curso de uma proposta de modificação da Constituição. Depois de promulgada a nova emenda constitucional, a nação vai se tornar secular, sem nenhuma religião oficial, e o governo não irá mais participar, como fazia até aqui, da nomeação da hierarquia da igreja.

A igreja da Noruega foi formada em 1536, depois da Reforma Luterana, e foi oficialmente chamada de Igreja Luterana Estatal. A realidade nos últimos anos é que, além de financiar seus gastos, o estado envolveu-se em assuntos institucionais.

A ideia de quebrar o vínculo tradicional entre igreja e estado surgiu na própria igreja norueguesa no início dos anos 1970, depois que a igreja encontrou crescente resistência em sua relação com a estrutura estatal, numa sociedade com cada vez menos sentimento religioso. Estudos recentes estimam que apenas dois por cento dos noruegueses frequentam serviços religiosos e que 72 por cento sequer acreditam num “Deus pessoal”.

Os noruegueses detêm o segundo maior PIB da Europa (depois de Luxemburgo) e o terceiro maior PIB do mundo, além de estarem em primeiro do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) por seis anos consecutivos, de 2001 a 2006 e recuperando a posição em 2009.

O secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Olav Fykse Tveit, é pastor da igreja luterana na Noruega.

A internet é contracultura


Nesta quinta-feira, 17 de maio, é o Dia Mundial da Internet. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em janeiro de 2006. A mesma data também marca os dias da Sociedade da Informação e das Telecomunicações.

Uma breve passada pela história da Internet dá conta de que a rede mundial de computadores surgiu durante a Guerra Fria para fins militares. Somente em 1990 a Internet começou a alcançar a população em geral, e desde então, tem mudado os hábitos da população mundial.

Mais interessante do que isso, entretanto, é a convicção de que a internet é um grandioso espaço para a liberdade total de expressão e que traduz de forma ímpar a filosofia da Contracultura criada pelos hippies dos anos 1960. Livres para praticar a paz e o amor, os hippies sonhavam com uma nova sociedade, sem cercas, sem regras e que permitisse a cada indivíduo a total livre escolha e exercício de seus sonhos e esperanças. Acima de tudo, pregava a convivência pacífica de todas as religiões e correntes de pensamento, sem os desgastantes conflitos de ideologias que marcaram os tempos da guerra Fria.

Um dos ícones da ideologia da contracultura hippie na internet é John Perry Barlow (foto), um dos letristas da banda Grateful Dead, surgida em São Francisco, no berço do movimento hippie norte-americano. Ele foi co-autor das letras da famosa banda hippie por 24 anos.

Barlow, hoje um fazendeiro de gado aposentado, juntou-se a Mitch Kapor e John Gilmore para criar, em 1990, a Electronic Frontier Foundation (EFF), Fundação Fronteira Eletrônica. Os fundadores se conheceram pela internet.

Trata-se de uma organização sem fins lucrativos sediada em San Francisco-Califórnia, cujo objetivo declarado é proteger os direitos de liberdade de expressão no contexto da era digital. Atua na defesa das liberdades civis bem como instruir a imprensa, os legisladores e o público sobre esses direitos e suas relações com as novas tecnologias. A organização se mantém à base de doações. Além do pessoal alocado na sede, conta com representantes em Toronto e Ontário, no Canadá, e na capital Washington.

Entre as principais ações da EFF se destacam assessoria e apoio financeiro para defender em tribunais pessoas processadas por causa da internet, assessora governos e tribunais em questões que envolvem as novas tecnologias, organiza ações políticas e manifestos em defesa das liberdades na internet, apoia novas tecnologias que ajudam a preservar as liberdades individuais, monitora e questiona projetos de lei que podem violar as liberdades individuais e o uso justo, além de atuar contra abusos de patentes.

A criação da EFF foi motivada pela inspeção e invasão da Steve Jackson Games pelo serviço secreto dos Estados Unidos, no início de 1990. Na mesma época ocorreram outras batidas policiais semelhantes por todo o território americano, por uma operação denominada Operação Sundevil. O caso da Steve Jackson Games, o primeiro da EFF que chamou a atenção, marcou o início de sua atuação na defesa das liberdades civis na era digital.

John Perry Barlow é a figura emblemática da EFF e de todo o movimento. Entre outras coisas ele criou a “Declaração de Independência do Ciberespaço”, que é citada em mais de 20 mil sites (conheça aqui), lida pela primeira vez em Davos/Suíça no ano de 1996, durante o famoso Fórum Econômico Mundial. Para ler a declaração, John sobe num caixote de madeira, como se estivesse usando o púlpito do Congresso Americano, e lê o texto formalmente, como uma declaração.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pego pelo chifre

O chifre de um rinoceronte vale 120 mil dólares no mercado negro. Foto:Gleyma Lima/Opera Mundi

No ano de 2020 poderá não mais haver rinocerontes na África do Sul. Uma espécie de turismo macabro e impiedoso está dando cabo deles. O turista paga cerca de 10 mil dólares a “agências” de turismo da morte, para divertir-se caçando esses animais pacatos e indefesos e, ainda por cima, levar um bom dinheiro para casa.

É que o chifre de cada animal abatido pode valer até 12 vezes mais do que o pacote turístico no mercado negro de chifres de rinoceronte. Por isso mesmo, cresce o número de turistas chineses entre os caçadores de chifres, porque este é um produto muito procurado no mercado asiático e em alta por lá.

Segundo a Associação de Proprietários de Rinocerontes, apenas nos dois primeiros meses de 2012, mais de mil rinocerontes podem ter sido mortos durante as caças promovidas por grupos e agências de turismo. O número corresponde ao triplo do que foi registrado em todo o ano de 2011 no país. São em sua maioria animais de reservas naturais particulares. O deleite dos impiedosos chama-se “caça esportiva” e um troféu cobiçado é tirar uma foto ao lado de um animal abatido. O custo do pacote varia de acordo com o animal que será caçado.

Entre as vítimas deste estranho “esporte” há também elefantes (cujo marfim é valorizado no mercado negro), búfalos e outros animais, que essas agências consideram “abundantes” na África e julgam estar prestando um serviço de “controle” populacional.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O desperdício é uma ignomínia


Faço questão de reproduzir aqui o texto de Moacir Pereira de sua coluna do Jornal de Santa Catarina de hoje. Com dados contundentes, ele expõe a ignomínia do desperdício de alimentos praticada entre nós. O Brasil está na lista dos dez mais neste quesito, chegando a desperdiçar um terço de tudo quanto produz, ou nada menos do que 10 milhões de toneladas! Sempre que vou a um restaurante self-service, observo como as pessoas exageram e, depois, deixam tanto no prato que daria para alimentar mais uma pessoa. É abominável! Irrita-me profundamente, e eu tenho que me conter para não ir em direção à pessoa para chamar a sua atenção publicamente. Tenho amigos que sabem o que é ter que comer cascas de batatas para matar a fome, nos tempos de criança durante a guerra na Alemanha. Essas pessoas ficam doentes quando veem comida sendo desperdiçada. E eu me solidarizo com elas. Em sua homenagem, segue o texto de Moacir Pereira, que deveria ser exposto em todos os restaurantes, empresas alimentícias, portos e de transportes, além de ser afixado na porta da nossa geladeira:

A fome no mundo

Quem visitar as instalações da Ceasa, em São José, com certeza ficará consternado com a quantidade de hortaliças e frutas que apodrecem no lixo. Um cenário que se repete em todas as centrais de abastecimento do país, como na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o maior mercado da América Latina, onde o volume das perdas atinge 1% de tudo o que é comercializado em um dia: mais de 100 toneladas de comida no lixo.

É por estas e outras que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil figura entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo. Ao longo da cadeia do desperdício, entre a lavoura e a mesa do consumidor, algo em torno de 35% da nossa produção agrícola vai para o lixo. São 10 milhões de toneladas, que poderiam alimentar todos os milhões de brasileiros que ainda sobrevivem abaixo da linha da pobreza. Os números chegam a ser ofensivos.

Tem mais. De acordo com o Instituto Akatu, uma organização não governamental (ONG) que se dedica a promover o consumo consciente, cada família brasileira, em média, desperdiça 20% dos alimentos que compra durante a semana. Na soma, o suficiente para alimentar outras 500 mil famílias. Vergonhoso, quase criminoso no contexto de um mundo que tem muita fome e pouca comida, como os números e as projeções da FAO o comprovam.

Cálculos feitos pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), em 2010 – e de lá para cá nada há de ter mudado neste panorama –, dão conta de que R$ 12 bilhões são jogados fora diariamente. Dinheiro suficiente para dar café da manhã, almoço e jantar a quase 40 milhões de pessoas.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) investigou as causas das perdas ainda na lavoura, constatando que elas começam já na fase da colheita e armazenamento local, por falta de qualificação e treinamento do pessoal empregado. “Nesta fase, os estragos podem ocorrer tanto do ponto de vista físico quanto de qualidade do produto.” Na pós-colheita, o estudo aponta para a infraestrutura deficiente na rede de armazenagem e no transporte (quase 70% das cargas ainda são deslocadas por transporte rodoviário).

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em outra pesquisa, fez a “divisão das culpas” e concluiu que do total do desperdício, 10% ocorrem durante a colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% são de responsabilidade dos supermercados e consumidores. Sim, os próprios consumidores que arcam com o prejuízo causado pela “inflação do desperdício” ajudam a causá-la.

Conhecidas as causas, fica a pergunta: quando serão aplicados remédios capazes de reduzir as perdas a um nível civilizado (perda zero não existe neste caso) e retirar o Brasil da lista dos países que mais desperdiçam comida num mundo faminto?

(Artigo de Moacir Pereira publicado no Jornal de Santa Catarina do dia 15/05/2012)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Abolição da escravatura e as igrejas


O Brasil completou, no domingo, 13 de maio, 124 anos da abolição da escravatura. Entretanto, essa abolição não apresentou nenhum projeto de inserção de negro na sociedade. O negro continua na margem da riqueza produzida pela sociedade brasileira, situação reforçada pelas nossas igrejas na cumplicidade e omissão perante a escravidão e anos de racismo no Brasil.

Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. No geral, os protestantes não tiveram um papel relevante na abolição da escravatura. Conhecer esse passado da Igreja protestante no Brasil pode nos ajudar a entender a relação da Igreja evangélica brasileira com o negro: sua cumplicidade na escravidão, sua omissão no passado e no presente diante do racismo, e seu silêncio no púlpito sobre a temática negra.

Vejamos cinco casos da questão racial no Brasil, de repercussão nacional, que as igrejas evangélicas foram e são omissas:

No centenário da abolição da escravatura

Em 1988, ano em que se comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil, as igrejas evangélicas perderam uma grande oportunidade rumo à remissão dos cem anos de omissão com relação ao povo negro. Os movimentos negros naquela ocasião buscavam uma oportunidade à reflexão, não era um momento festivo. A Igreja Católica lançava a Campanha da Fraternidade: "Ouvi o clamor deste povo", com a temática negra. Enquanto as igrejas evangélicas repetiram o que fez cem anos antes na "abolição da escravatura", mais uma vez omissa, ficando de fora, perdendo o seu testemunho cristão e o bonde da história.

Nas questões dos quilombolas

O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de resistência dos africanos ao escravismo colonial, e retorna à cena política durante a redemocratização do país. Trata-se, portanto, de uma questão importante na luta dos afrodescendentes. Nos últimos 20 anos, os descendentes de africanos organizados em associações quilombolas, em todo o território nacional, reivindicam o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas para moradia e sustento, bem como o livre exercício de suas práticas, crenças e valores considerados em sua especificidade.

Com exceção da Igreja Anglicana, que na carta “Igreja Anglicana em defesa dos Quilombolas”, de abril de 2009, assinada pelo seu bispo primaz e dirigida ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Ação de Inconstitucionalidade apresentada pelo DEM (ex-PFL), as demais igrejas continuaram totalmente omissas em relação à questão dos quilombolas.

Na questão da intolerância religiosa

Outro tema preocupante é a intolerância religiosa, sobretudo em relação a seguidores de religiões de matriz africana. Um dos casos de maior repercussão foi o que vitimou a yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda. Sua morte gerou indignação de lideranças de diversas religiões, processo na Justiça e, como forma de reconhecimento, a instituição do dia 21 de janeiro como Dia Municipal de Luta contra a Intolerância Religiosa – que depois ganhou também um reconhecimento nacional.

Sabemos que a intolerância religiosa pode resultar em perseguição religiosa e ambas têm sido comuns na história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou noutra. Os próprios evangélicos eram chamados de bodes, nova seita. Bíblias eram confiscadas e queimadas na praça das cidades. Muitos tiveram suas casas incendiadas criminosamente, seus bens extraviados, suas vidas vilipendiadas. Essas mesmas igrejas hoje, omissas e até mesmo intolerantes, não podem esquecer que as igrejas evangélicas já foram perseguidas pelo ímpeto da intolerância.

Na crença da maldição do povo negro e africano

Dizem que a maldição de Cam está sendo simplesmente cumprida na medida em que os negros vivem para servir a outras raças, particularmente aos brancos. George Samuel Antoine, cônsul do Haiti no Brasil, numa entrevista veiculada pelo SBT, apontou como possível causa do terremoto certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado. Na mesma direção o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson explicou as "desgraças" haitianas como sendo consequência de "pactos" ocorridos há 200 anos entre os haitianos e o demônio. Também o pastor e deputado federal, Marco Feliciano, disse no Twitter que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado". O parlamentar, que é pastor e empresário, afirmou: "Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome..."

Entretanto, a questão que fica é: de onde vem essa ideia de maldição dos negros? Essas ideias vieram dos missionários, sulistas racistas, que tinham a escravidão como instituída por Deus para justificá-la, baseando-se em argumentos teológicos de que o povo negro era da descendência de Cam, filho de Noé, amaldiçoado para serem escravos dos escravos. O mais triste de tudo isso é que nenhuma denominação protestante ou liderança evangélica se manifestou diante dessas declarações. Mais uma vez as igrejas foram omissas, reforçando uma doutrina diabólica aceita por muitos crentes dentro dos seus templos.

Na questão das cotas

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre cotas marca um momento histórico. A mais alta corte de Justiça do país admitiu não só que existem brasileiros tratados como cidadãos de segunda classe, mas que eles têm direito a um tratamento especial para vencer a desigualdade. As ações afirmativas ou sistema de cotas é certamente o assunto mais polêmico quando se trata do ingresso de negros no ensino superior no Brasil. O STF julgou a constitucionalidade das cotas aplicadas na Universidade de Brasília desde 2004: 20% das vagas para "negros e pardos". O partido Democrata (DEM) tinha acusado a medida de ser anticonstitucional.

Outra vez as igrejas evangélicas ficaram de fora de mais uma grande questão do povo negro, omissas e silenciosas. Agindo como na parábola do bom samaritano narrada por Jesus nos evangelhos: passando de largo diante das questões dos negros e das negras.

As organizações ecumênicas Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e Koinonia têm realizado diversas ações referentes às questões dos quilombolas e à intolerância religiosa, mas elas não falam pelas igrejas evangélicas. São vozes proféticas, solidárias e solitárias que são criticadas por essas igrejas por suas ações na questão racial.

Por Hernani Francisco da Silva, para ALC-Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Comissão da Verdade é escolhida

Foram publicados hoje no Diário Oficial da União os sete integrantes da Comissão da Verdade. Foram designados Cláudio Lemos Fonteles, ex-procurador-geral da República; Gilson Langaro Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ); José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça; o jurista José Paulo Cavalcante Filho; a psicanalista Maria Rita Kehl; o professor Paulo Sérgio de Moraes Sarmento Pinheiro, que participa de missões internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive a que denunciou recentemente violações de direitos humanos na Síria; e a advogada Rosa Maria Cardoso Cunha – que defendeu a presidenta Dilma durante a ditadura civil-militar.

A Comissão deve ser instalada na próxima quarta-feira (16), às 11h, em uma cerimônia com os ex-presidentes eleitos após a ditadura civil-militar. Os integrantes foram convidados pessoalmente por Dilma em uma audiência nesta quinta-feira no Palácio do Planalto. A escolha foi feita a partir de critérios como conduta ética e atuação em defesa dos direitos humanos.

A Comissão da Verdade vai apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar (1964-1988). O grupo terá dois anos para ouvir depoimentos em todo o país, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer as violações de direitos. De acordo com o texto sancionado, a comissão tem o objetivo de esclarecer fatos e não terá caráter punitivo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pedido lindo...


Depois que a atriz global Camila Pitanga sussurrou um “veta, Dilma!” para a presidenta Dilma, é quase impossível que ela não se sensibilize. Eu fiquei emocionado, tocado mesmo. A bela musa global, enteada de Benedita da Silva (PT-RJ), fez o pedido numa quebra de protocolo durante a outorga do título de Doutor Honoris Causa a Lula por cinco universidades federais do Rio de Janeiro, no dia 4 de maio. Em resposta ao pedido de Camila, aliás bastante aplaudido, Dilma apenas sorriu. Camila está sendo tratada como a nova musa das florestas nas redes sociais.

Navios negreiros modernos


Se eu lhe perguntasse se os navios negreiros ainda existem, você obviamente diria que a minha pergunta é descabida. Em termos. Eles não cruzam mais os mares, nem estão abarrotados de africanos caçados nas florestas e savanas africanas para serem vendidos no mercado de escravos no Novo Mundo. Mas o tráfico de pessoas continua a pleno vapor, e em todo o mundo.

Segundo a Organização Internacional para Migração (OIM), mais da metade das vítimas do tráfico humano internacional vêm do Sudeste Asiático e do Leste do continente e envolve em torno de 12 milhões de vítimas a cada ano. Metade delas é de crianças. Os modernos comerciantes de gente lucram 75 bilhões de reais por ano. Uma das maiores dificuldades para combater esse crime internacional é a falta de informação sobre o assunto.

Do ponto de vista jurídico, o tráfico humano designa toda forma de propaganda, transporte e alojamento de pessoas, visando explorá-las. As vítimas servem de força de trabalho não ou mal remunerada, como prostitutas, soldados infantis, empregadas domésticas ou sendo submetidas a casamentos forçados ou à retirada de órgãos.

A maioria é aliciada em países pobres, com falsas promessas de um futuro melhor no exterior e se envolvem voluntariamente, chegando mesmo a pagar fortunas para sxeus futuros carrascos como compensasão pela viagem. Quando chegam ao seu destino, a conversa muda radicalmente e o que era um sonho transforma-se num pesadelo.

Além da pobreza, a discriminação de gênero é outra razão para o tráfico humano. Em muitas sociedades, as mulheres são menos valorizadas que os homens, obtendo uma formação escolar pior, além de salários mais baixos e desvantagens até mesmo estabelecidas por lei. As mulheres são também com frequência vítimas de abusos e violência. Elas deixam seus países de origem com a esperança de escapar de condições de vida miseráveis.

Aqui no Brasil o tráfico humano para exploração de mão de obra escrava é um problema recorrente e gravíssimo. As regiões mais pobres fornecem a força de trabalho que será explorada em fazendas no norte do país, muitas vezes sendo mantidas em condições de escravidão. Depois que estão no meio do nada, sem ter a quem recorrer com um pedido de ajuda, esses trabalhadores, além de terem uma jornada de trabalho extenuante, são abrigados em condições subumanas e, ainda por cima, pagam preços exorbitantes pela sua comida ao dono da fazenda, que os chantageia com a dívida na “venda”, que vai crescendo e jamais é menor do que o salário que recebem.

O combate ao tráfico humano consta, há anos, da agenda das Nações Unidas. Já em 1949, foi criada uma Convenção contra o Tráfico de Mulheres. Em 2000, o chamado Protocolo do Tráfico Humano ou Protocolo de Palermo foi aprovado, priorizando o combate ao tráfico humano internacionalmente organizado.

Os resultados dessas persecuções penais são, contudo, mínimos. O último relatório de tráfico humano da Secretaria de Estado norte-americana registrou no ano de 2010 um total de 6.017 processos em todo o mundo, com 3.619 condenações. Um número extremamente baixo, tendo em vista as mais de 12 milhões de vítimas do problema.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ateu indignado


Rir de vez em quando também faz bem quando o assunto é política. Mesmo porque, ultimamente os políticos só nos têm feito chorar. E muito... O motivo da alegria de tuiteiros do Brasil inteiro, ontem, foi o deputado Roberto Freire (PPS). Ele é mais uma vítima do site de humor G17, que se traveste de site de notícias, como o G1, mas somente inventa notícias falsas e obviamente descabidas, travestidas de notícia verdadeira.

Uma dessas notícias de mentirinha do G17 dava a informação de que a Presidenta Dilma havia pedido ao Banco Central para retirar das notas de 50 reais a frase “Deus seja louvado”, porque isso estava provocando protestos dos ateus e dos defensores do estado Laico. “Coloquem ‘Lula seja louvado’ no lugar”, teria ordenado Dilma, conforme você pode conferir na íntegra aqui.

O deputado postou o link da reportagem no twitter e disse que a decisão da presidente era uma “ignomínia”. A gafe de Freire se espalhou rapidamente pelo Twitter. Muitos usuários retuitaram o post e fizeram piadas com o erro dele. Por esse motivo, a hashtag #LulasejaLouvado virou o assunto mais comentado do Twitter no Brasil em menos de uma hora. Depois de perceber o erro, Roberto Freire se desculpou em seu perfil. “Já me desculpei pela veiculação de algo tão ignominioso – noticia alteração cédulas pelo BC – que só poderia ser falso. Infelizmente me equivoquei”, disse.

A coisa toda fica ainda mais engraçada quando se sabe que Freire é comunista da velha estirpe, dos tempos do PCdoB. Portanto, sua indignação com a profanação do nome de Deus, colocando o de Lula no lugar, não combina muito bem com o ateísmo histórico dos velhos comunistas, ainda mais ao classificar o ato de "ignomínia", ou grande desonra. Freire está certo: Toda honra e glória somente a Deus. Como poderia Dilma colocar Lula no lugar de Deus?

Cartão vencido dá música



Genial, essa! A MTV cria uma máquina que transforma cartões de crédito vencidos em palhetas novinhas para guitarra. Em vez de jogar no lixo, você coloca o cartão na máquina, baixa a alavanca, e ela recorta uma palheta para tocar guitarra ou violão.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Xenofobia dividindo poderes

Derrotada já no primeiro turno, Marine (comemorando o resultado nas urnas com o pai e mentor da extrema direita francesa, Jean Marie Le Pen) é a grande vitoriosa das eleições francesas de 2012.

As eleições francesas e gregas representam mais um passo firme numa direção temerosa no continente europeu. Não por causa da vitória da esquerda na França com François Hollande, que até representa um bom sinal à primeira vista. O que preocupa realmente são os desdobramentos que se desenrolaram nos bastidores das campanhas eleitorais e os resultados que emergiram das urnas.

No parlamento grego a xenofobia conquistou representação significativa e, com isso, um espaço na mesa de negociações do futuro da sociedade que inventou a democracia e pode pagar caro por isso em breve.

Já na França, o país que deu origem à moderna democracia através da Revolução Francesa (Liberté – Egalité – Fraternité), a fraternidade foi lançada na crescente fogueira da xenofobia. A igualdade tem pretensões de exclusão para os “menos” iguais. E a liberdade ainda existe, mas está com os dias contados. Se não corre risco imediato de extinção, pode estar sendo internada na CTI com grave doença a representar risco de vida. E, o pior: a França é um espelho para toda a Europa, cujo futuro próximo está sendo escrito com tinta nanquim e tons acinzentados.

Dezoito por cento para Marine Le Pen e seu partido de ultra-direita, com seu programa de exclusão contra estrangeiros e muçulmanos, de retomada dos princípios das Cruzadas (a Europa para os europeus e os cristãos!), é uma representação que nem mesmo Hollande pode ignorar. A esquerda volta ao poder na França levando a xenofobia a tiracolo, porque não conseguirá governar sem este nefasto apoio.

Na verdade, a vitória apertada de Hollande (maioria simples de 51,62%!) apenas adia por pouco tempo o que já se desenha no horizonte francês. E tal vislumbre não se baseia apenas nos votos que a musa da extrema direita recebeu, ou seja, 18%. O problema, muitíssimo mais grave, está nos 36% dos franceses que se rendem aos encantos da cartilha extremista de Marine Le Pen e toda a horda que a segue. Para eles a solução de todos os problemas da França se resume em expulsar os estrangeiros e os islâmicos do país. Eles querem liberdade, igualdade e fraternidade para os franceses e somente para eles.

Anote aí: tudo isso é só mais um passo rumo ao fim da União européia e da Zona do Euro. Mas não só. É o princípio do fim da Europa livre, regida pelos princípios internacionais tão duramente conquistados depois da segunda guerra mundial e fixados na Carta das Nações Unidas. A segunda metade do século 21 será a era do desmonte de todas as conquistas que gravitam em torno dos direitos humanos. O tempo vai fechar na Europa e a tempestade vai respingar em todos nós.

sábado, 5 de maio de 2012

Um novo olhar sobre os relacionamentos

O tema de capa da próxima edição da revista Novolhar será sobre os relacionamentos e suas crises, especialmente voltado para o casamento e os relacionamentos estáveis. Falamos longamente sobre suas implicações durante a reunião de pauta da nossa revista, ontem pela manhã.

Muitas portas foram abertas pelos integrantes do conselho de redação da revista que, aliás, diga-se de passagem, não serve de parâmetro para o quadro estatístico que logo aparece nos primeiros relatos sobre o tema.

Todos e todas que participam das decisões da revista são oriundos de casamentos duradouros e estáveis, ou já passaram pela experência de um relacionamento assim e agora vivem em estado de viuvez. Este é o caso de uma das integrantes do nosso grupo. Entretanto, isso não significa que o grupo não conheça as crises dos relacionamentos ou tenha enfrentado, em seus próprios convívios familiares e conjugais, diversas delas.

"A cruz faz parte da vida humana e passar por momentos de paixão faz parte", disse a psicóloga Elisabete, que assessorou a nossa reflexão na manhã de ontem. "Mas não existe somente a cruz. Há o domingo de Páscoa, a ressurreição. E todos nós vivemos momentos importantes de ressurreição também na nossa vida e nos nossos relacionamentos", completou ela.

Elaboramos uma pauta de oito abordagens para a temática. Para escrever os artigos convidamos jornalistas e diversos especialistas, que nos ajudarão a detalhar o conteúdo da Novolhar número 46, de julho/agosto. Estamos cheios de expectativa.

Nossa intenção é auxiliar os casais em seus relacionamentos, não para tornar o matrimônio um peso ou uma regra inviolável, mas para auxiliar na dura tarefa de fugir do que hoje é a regra, ou seja, incluir também os relacionamentos na extensa lista de produtos que se consome. Quando tais produtos se tornam obsoletos ou perdemos o prazer neles, vamos ao mercado e compramos outro. Não pode e não precisa ser assim com os nossos relacionamentos. Eles podem ser duradouros e, nem por isso, precisam ser chatos, modorrentos ou cansativos.

O maior segredo para manter um relacionamento "aquecido", interressante e bonito nem sempre está somente na criatividade na cama, coisa que muitos acrecidam ser o principal. "O perdão é o elemento de ouro nas relações", nos ensinou Elisabete. Todos passamos do ponto, cometemos erros e temos que conviver com nossa imperfeição. Reconhecer isso e perceber que nosso companheiro de viagem passa por isso também é um caminho bem asfaltado para um relacionamento duradouro e prazeroso. Aguardemos a revista.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Liberdade de imprensa no Brasil


Hoje é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Esta liberdade é uma das pedras angulares da democracia em todo mundo.

Embora a isenção total na arte de noticiar os fatos seja sempre um alvo a perseguir com determinação total, as empresas jornalísticas correm o risco de tomar partido, assumir um dos lados ou tornar a notícia um discurso ideológico, vinculado ao poder político ou econômico. Em nome da isenção, defende-se bandeiras de interesses pessoais ou de grupos.

Ainda assim, o direito de se expressar deve ser preservado como um sacramento religioso. Fechar um jornal ou um meio de comunicação por ser parcial ou tendencioso é um ato de violência contra a democracia, em qualquer canto do planeta.

O que não pode faltar é uma legislação regulatória atual dessa liberdade. Obtida num consenso originado em amplo debate ela irá estabelecer limites, para coibir abusos. E o Brasil está precisando enfrentar o debate do novo marco regulatório da comunicação para ter liberdade total de imprensa. Ultrapassada, nossa lei de imprensa é dos tempos do epa, quando não havia TV a cabo, telefonia móvel ou internet.

Comemorado em editoriais e artigos nos principais jornais de todo Brasil no dia de hoje, poucos textos ousam tocar neste melindroso assunto do marco regulatório. Trata-se de uma lei temida, que pode acabar com privilégios falsamente conquistados pelos grandes conglomerados de comunicação do país em tempos de triste memória para a liberdade de imprensa que hoje tanto alardeiam e defendem, às vezes com falsas prerrogativas.

Por que têm tanto medo? O que atemoriza tanto a turma que o Paulo Henrique Amorim chama de PIG (Partido da Imprensa Golpista)? Em todos os casos, a celebração da “liberdade” de imprensa em alguns editoriais de hoje mais parece uma festa de “famíglias”, que celebram a libertinagem de que desfrutam há décadas.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

As madres de Buenos Aires


A organização Mães da Praça de Maio comemorou, no dia 30 de abril, os 35 anos de existência de um dos mais atuantes movimentos da América do Sul. No dia 30 de abril de 1977, pela primeira vez 14 mães, convocadas por Azucena Villaflor de Devincenti se reuniram na famosa praça diante da Casa Rosada, em Buenos Aires, para reclamar da ditadura militar argentina os seus filhos desaparecidos. O movimento tem duas vertentes: a linha fundadora das Mães da Praça de Maio e a Associação Mães da Praça de Maio.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...