A construção da Estrada de Ferro Santa Catarina trouxe os primeiros "forasteiros" a Blumenau. Vieram para cavar o leito da EFSC, deitar os dormentes e prender os trilhos sobre eles. A construção da bela ponte de ferro, no centro da cidade, também fez surgir a primeira favela de Blumenau. Na cabeceira da ponte em obras, surgiu um agrupamento de casebres em terra invadida, pejorativamente denominado de “Farroupilha”. Com a estrada e a ponte prontas, foram ficando e faziam os piores serviços na “cidade jardim”. Aos domingos, eram uma animada torcida do Palmeiras, clube de futebol dos moradores da "Palmenstrasse", a rua das palmeiras plantadas pelo Dr. Blumenau.
Mas aquela mancha desordenada de barracos de pau a pique e ruas feitas com pás e picaretas em barrancos íngremes incomodava. O dono do terreno já havia entrado na justiça diversas vezes para tentar sua remoção. O centenário da orgulhosa cidade se aproximava, e a Farroupilha não podia permanecer ali para os festejos. Assim em 1949, um ano antes do centenário, a prefeitura empenhou-se em relocar aquela exibição farrapa em pleno centro.
O primeiro “zoneamento” do município jogava para longe dos olhos um problema habitacional que surgia no rastro da pujança do município. A lei foi assinada pelo memorável prefeito Frederico Guilherme Busch Jr., em seu segundo de três mandatos (1947-1951). A Farroupilha foi transportada de mala e cuia para o Beco Araranguá e o que é hoje a Rua Pedro Krauss Sênior.
A orgulhosa Blumenau podia comemorar seu centenário com a cabeceira da ponte livre da Farroupilha e receber com distinção os descendentes do Dr. Blumenau. Vieram receber as merecidas honrarias pela bela cidade que seu pai e avô havia fundado à beira de um rio exuberante. Desde então, a loira Blumenau aprendeu a amar os meios-fios das calçadas do centro caiados de branco.
Enquanto comemoravam 100 anos de conquistas, mal suspeitavam os blumenauenses que a relocação da Farroupilha acabasse por criar o maior problema do futuro da cidade, a regularização fundiária: a ocupação desordenada em áreas de risco e invasão de reservas ambientais. Quem conhece o Beco Araranguá sabe do que eu estou falando. O “longe dos olhos”, que colocou para fora da vista das belas tardes do Tabajara Tênis Clube uma mancha indesejável, expôs de maneira dolorosa o que significa varrer a sugeria para debaixo do tapete.
Estou entre os que divulgam essa história para que a Farroupilha não seja também varrida para debaixo do tapete da história e desapareça da memória coletiva de Blumenau.