A professora Ingrid Lindner, da Escola Barão de Blumenau, minha amada esposa, iniciou no ano passado um trabalho cultural/social com a sua turma do quarto ano, voltado a desarmar preconceitos em relação a outros povos e culturas, especialmente em relação ao povo Xokleng que vive na Reserva Duque de Caxias. Graças a seu empenho, todas as turmas do quarto ano da Barão estão indo à Aldeia Bugio, em Dr. Pedrinho (SC), visitar a bela trilha que jovens indígenas organizaram na floresta, bem na nascente do Rio Benedito. É um lugar preservado que, entre outras espécies, tem centenas de exemplares do raríssimo xaxim-bugio - outrora dizimado para fazer potes para orquídeas, também impiedosamente arrancadas da nossa belíssima mata atlântica.
As visitas têm sido um banho de cultura e cidadania. A trilha montada pelos jovens indígenas se transformou numa fonte de renda para eles, e contribui para fixar os jovens na aldeia, além de ajudar no resgate da cultura do seu povo, que é mostrada num lindo momento de convivência entre os alunos da escola e xokleng de todas as idades. Tudo isso é um banho de imersão fenomenal em outra cultura, aproximando pessoas que se descobrem iguais. Ela mesma nos conta, num inspirado texto de Cordel que ela criou para contar a visita. Veja:
Cordel sobre a viagem a Aldeia Bugio, em Doutor Pedrinho.
O Quarto ano aprendeu
O índio na vivência conheceu
Viajou duas horas a fio
Para chegar à Aldeia Bugio
Onde, ainda que frio,
Nosso coração se aqueceu.
Na recepção, quanta alegria,
Já se foi o preconceito.
A amizade logo se instalaria:
São iguais, tem o nosso jeito!
Até os cães eram dóceis, quem diria,
E trilheiros preparados pra folia.
Planejada com segurança,
A trilha avança na mata atlântica.
Quantos segredos ela esconde
Mas os índios a conhecem
E a todos esclarecem.
Na esperança de vitória
Vão contando sua história.
No caminho há muita surpresa,
água cristalina, que beleza!
Com velha sabedoria foi ensinado
A beber com copos de caeté enrolado.
E vi os dois grupos em sintonia
As diferenças sumiram por magia.
Mais adiante, numa cabana de sapé
Cheia de adultos e crianças índias, pode crer.
Ali comemos carne e capu
Tudo assado em gomos de bambu
Junto com chá de folha de sassafrás
Numa roda que emanava muita paz.
Era hora de ouvir o velho índio contar
na língua Xokleng todo o seu penar.
Tribo de vida sofrida, com bugreiros a gritar:
Olhem os bugres, vamos matar!
Não sou bugre, sou brasileiro,
E nesta terra fui o primeiro.
Os brancos, o governo pagava,
Pelo número de orelhas que juntavam
Enfiadas Num imenso colar
Para a caçada comprovar.
Nem o velho grande escapou
e seu corpo no rio se atirou.
Em silêncio ouvimos sofrimento naquela voz.
E em seguida a tradução da história atroz.
Que tristeza, quanta maldade,
Gente que não entendia a diversidade.
O velho Xokleng, que agonia,
Ao nos historiar ainda sofria.
Um grande círculo se formou
A curiosidade sempre aflorou
Um canto com eles entoei
A letra era Xokleng, estranhei
Mas a melodia eu conhecia
Em seguida também cantaria.
A hora voava, o tempo corria,
Cadê os colares, o arco e flecha, que não se via?
Começou o escambo e adornamos o coração;
Agora sim, éramos todos da mesma nação.
Brasileiros sem preconceitos, amando a natureza
E do povo Xokleng vimos toda sua beleza.
O preconceito se foi e o respeito nasceu
A diversidade de cultura em mim cresceu
A cidadania em nós se instalou
E ao ver um índio ninguém mais estranhou.
Uma grande lição aprendi
Que nenhum ser humano se deve excluir.
Autora: Ingrid Lindner
O Quarto ano aprendeu
O índio na vivência conheceu
Viajou duas horas a fio
Para chegar à Aldeia Bugio
Onde, ainda que frio,
Nosso coração se aqueceu.
Na recepção, quanta alegria,
Já se foi o preconceito.
A amizade logo se instalaria:
São iguais, tem o nosso jeito!
Até os cães eram dóceis, quem diria,
E trilheiros preparados pra folia.
Planejada com segurança,
A trilha avança na mata atlântica.
Quantos segredos ela esconde
Mas os índios a conhecem
E a todos esclarecem.
Na esperança de vitória
Vão contando sua história.
No caminho há muita surpresa,
água cristalina, que beleza!
Com velha sabedoria foi ensinado
A beber com copos de caeté enrolado.
E vi os dois grupos em sintonia
As diferenças sumiram por magia.
Mais adiante, numa cabana de sapé
Cheia de adultos e crianças índias, pode crer.
Ali comemos carne e capu
Tudo assado em gomos de bambu
Junto com chá de folha de sassafrás
Numa roda que emanava muita paz.
Era hora de ouvir o velho índio contar
na língua Xokleng todo o seu penar.
Tribo de vida sofrida, com bugreiros a gritar:
Olhem os bugres, vamos matar!
Não sou bugre, sou brasileiro,
E nesta terra fui o primeiro.
Os brancos, o governo pagava,
Pelo número de orelhas que juntavam
Enfiadas Num imenso colar
Para a caçada comprovar.
Nem o velho grande escapou
e seu corpo no rio se atirou.
Em silêncio ouvimos sofrimento naquela voz.
E em seguida a tradução da história atroz.
Que tristeza, quanta maldade,
Gente que não entendia a diversidade.
O velho Xokleng, que agonia,
Ao nos historiar ainda sofria.
Um grande círculo se formou
A curiosidade sempre aflorou
Um canto com eles entoei
A letra era Xokleng, estranhei
Mas a melodia eu conhecia
Em seguida também cantaria.
A hora voava, o tempo corria,
Cadê os colares, o arco e flecha, que não se via?
Começou o escambo e adornamos o coração;
Agora sim, éramos todos da mesma nação.
Brasileiros sem preconceitos, amando a natureza
E do povo Xokleng vimos toda sua beleza.
O preconceito se foi e o respeito nasceu
A diversidade de cultura em mim cresceu
A cidadania em nós se instalou
E ao ver um índio ninguém mais estranhou.
Uma grande lição aprendi
Que nenhum ser humano se deve excluir.
Autora: Ingrid Lindner