E agora essa? Todos dizem: “O Arruda já é velho conhecido!”. Mas é mais um caso – dos muitos – pipocando em todos os lugares. A população civil já não suporta mais. A cidadania está na UTI, porque os responsáveis para que a sociedade civil caminhe uma boa marcha não têm feito outra coisa do que olhar para os seus próprios bolsos.
Os nossos líderes são o resultado escancarado de uma forma de vida que está centrada unicamente no acúmulo de bens materiais, no prestígio comprado com grandes cifras e no respeito aos que têm muito, não importando como chegaram ao que acumularam, porque é um vale-tudo descarado e maldito. Nada mais é respeitado. Não há mais limite algum. Até descaradas orações de agradecimento pelo dinheiro recebido da propina agora é permitido. É uma zombaria tão maldita que nem mesmo o diabo pode com ela.
O gozado é que esse tipo de ousadia descarada acontece sempre onde o desnível entre ricos e pobres é mais gritante, mais injusto e mais desumano. A corrupção se torna gigante bem ali, onde menos tem. As boas famílias, ilibadas, dignas de todo o respeito de todos, que moram em casas milionárias e ostentam descaradamente, devem sua fortuna à exploração das classes oprimidas, formadas de gente que trabalha como animais de carga, iniciando o dia bem antes de o sol nascer e parando muitas horas depois que ele se põe, caindo na cama como pedras desgastadas e aniquiladas pela inglória luta de colocar pão na mesa, de juntar o mínimo para chamar aquela porcaria que vivem de vida. São os infelizes integrantes de uma massa indefesa diante do privilégio e do poder do capital.
Eu não tenho mais nenhuma dúvida. A corrupção é um monstro comedor de gente, uma fedentina que se espalha por todos os meandros da sociedade, na economia, na política, na justiça, nos sindicatos, nos grandes e pequenos partidos, nas bilhões de gavetas das milhões de salas das administrações públicas de todo mundo.
A corrupção é a única meta dos que vão ao pote da política com o único objetivo de enriquecer a qualquer custo, enriquecer muito, sem nunca dizer a palavra “chega”. Ela é a única causa das obras que nunca saem, do ensino público que forma esquálidos intelectuais, e a única culpada pelas milhões de vítimas dos péssimos serviços do Estado em todo o mundo. A corrupção é o único instrumento capaz de transformar cidadãos em mendigos, homens e mulheres honestos em párias, trabalhadores em escravos.
A corrupção é uma praga apocalíptica. É algo tão sério que torna a sociedade insensível, incapaz de reagir, de dizer “basta”. A sociedade assiste a tudo isso estática, como que paralisada, desbotada, atrofiada pela avalanche de notícias sobre corruptos, corrupção, desvios e abusos. A corrupção não devora somente as nossas economias, mas se alimenta das nossas próprias almas. A corrupção é muito séria, porque coloca em perigo a própria democracia. A casa está por cair a qualquer momento, vítima da descrença generalizada de que alguma coisa possa mudar. Ou a democracia acaba com a corrupção, ou a corrupção vai minando lentamente a própria democracia. Sim, porque ela vai exterminando todas as ideologias, arrasando todos os princípios e aniquilando todas as utopias.
E o Brasil presenciou num curto espaço de tempo a queda de seus grandes sonhos e utopias, sem saber substituí-las por outros que não o do traiçoeiro, desalmado e arrogante culto ao dinheiro. O Brasil sonha em ser uma grande potência mundial, sem medir qualquer conseqüência. O negócio é crescer, vencer sempre, ser o maioral. Nossa sociedade está construída unicamente sobre valores materiais.
Com isso, se vai a ética, o respeito pelo outro, a gentileza, o carregar junto, Deus e o próximo, a criação e as criaturas. Sai pelo ralo o respeito à vida, que é o único bem. O dinheiro jamais poderá ser um bem. O dinheiro é poder, mas não é um bem. O bem beneficia o máximo de pessoas, sem exclusão. O dinheiro é por natureza excludente. E corrompe. Isso está cada vez mais claro. Está à luz do dia na nossa sociedade brasileira, doente, corrupta até a medula, atrofiada.
Mesmo assim, não posso desistir de sonhar. Podem malhar, insinuar, desfazer ou falar sem conhecimento de causa. Podem colocar o meu “pastor” assim, entre aspas. Não importa. Eu vou continuar sonhando. E minha inspiração não é outra senão o próprio Cristo e sua revelação de novo eon.
A partir dessa visão, mesmo com a crescente barbarização da nossa sociedade corrupta, eu sonho que, antes da chegada da barbaridade final, os cidadãos livres das nações livres irão se levantar numa revolução pacífica universal, e tomarão os parques e as praças, fecharão rodovias e becos, se negarão a ter cartões de crédito e contas em bancos, e numa festiva greve geral cruzarão os braços até que todos os atores sociais concordem que precisamos de uma sociedade melhor, na qual o ser humano volte a ser a medida de todas as coisas. É um sonho utópico, mas às vezes os sonhos se realizam... (Com inspiração em Alfonso Ropero)