quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
A Antártica e Brasília
O incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, no final de fevereiro, foi um duro golpe para os projetos científicos realizados pelo Brasil no continente. O principal problema é a descontinuidade das pesquisas que lá eram feitas. Muitas eram baseadas em séries históricas, ou seja, avaliadas ao longo do tempo. Com essa interrupção, parte do trabalho, ou mesmo trabalhos inteiros podem ser perdidos.
Backup é uma palavra bem comum entre os especialistas que lidam com dados. É um procedimento de segurança, que segue algumas regras, entre elas a de sempre ter uma cópia de tudo o que se faz e de nunca guardar tal cópia no mesmo lugar dos originais. Perguntinha que não quer calar: Os tarimbados cientistas e pesquisadores brasileiros na Antártica nunca fizeram backup de suas pesquisas?
Havia backup de uma parte dos materiais coletados nos últimos anos pelos pesquisadores, enquanto outras pesquisas estão sendo realizadas a bordo de navios na região e, portanto, não foram afetadas pela tragédia. Se havia backup, surge outra perguntinha que insiste em se fazer notada: A quem interessa uma informação tão catastrófica quanto a de que “pelo menos 40 pesquisas foram perdidas com o incêndio na estação”?
O principal problema não está na Antártica ou na eventual perda de dados de pesquisas. Além da lamentável perda de duas vidas de militares que tentaram apagar as chamas, há que se lamentar o foco principal do problema da Comandante Ferraz, que está em Brasília. Na última década os nossos políticos da Assembleia se esmeraram em cortar do orçamento na Antártica para ter mais grana para investir em projetinhos politiqueiros em suas bases eleitorais. Foram milhões cortados todos os anos.
O sucateamento da estação, o lamentável estado dos equipamentos de segurança e até a falta de equipamentos modernos de backup decente são fruto direto da política vesga dos nossos deputados, tão gulosos para granjear sobras no orçamento tupiniquim.
Enquanto isso, o Brasil perde mais uma chance de sair bem na fita. Todos estão de olho no que o Brasil está fazendo e nós, mais uma vez, fazemos um papelão desses. É mais uma "não-conformidade" que se registra nas memórias e nem precisa de backup...
A miséria infantil no mundo
Rio de lixo: Criança na periferia de Luanda (Angola).
As metrópoles no mundo inteiro apresentam infinitos problemas urbanos. Um dos mais dramáticos, entretanto, é o vivido pelas crianças. Um bilhão delas vivem nas periferias dos maiores aglomerados urbanos do planeta. Isso corresponde à metade de todas as crianças da Terra. Uma em cada três dessas crianças vive numa favela, sem poder usufruir das oportunidades que oferece a vida numa grande cidade.
Duas crianças numa favela na Cidade do Cabo (África do Sul).
O relatório do UNICEF sobre “A Situação das Crianças no Mundo em 2012”, ocupa-se com a vida das crianças nessas metrópoles, o que para muitas delas é o mesmo que uma vida na miséria. Elas nascem e crescem nas periferias. As fotos do UNICEF falam por si mesmas.
Ganhar o sustento: Crianças ganham a vida como malabaristas em Salvador.
É uma realidade dramática e crescente. Se há meio século somente 30 por cento das crianças viviam nessas periferias, o relatório do UNICEF revela que, pela primeira vez na história, há mais crianças crescendo nas cidades do que no campo. A migração do campo para as cidades faz com que estas cresçam, sem acompanhar tal crescimento com a infra-estrutura equivalente. Isso aumenta o abismo entre ricos e pobres. Quem menos se beneficia das promessas de vida melhor na cidade são justamente as crianças. Faltam escolas, água limpa, instalações sanitárias adequadas, eletricidade e comida. Sobram violência, exploração, doenças e subnutrição.
Sucata para sobreviver: Menina recolhe um pedaço de metal em Kirkuk (Iraque).
Muitas delas nem existem oficialmente, porque em alguns países cada segunda criança nascida em favela nem sequer é registrada. O resultado é ausência total de proteção. Tais crianças crescem num ambiente de criminalidade, expulsão, abusos, estupros e venda pura e simples. Muitas dessas crianças dependem somente de si mesmas para sobreviver, nas ruas, ao relento, em completo abandono ou em regime de escravidão infantil.
Carrinho de catador: Criança recolhe recicláveis em Hyderabad (Índia).
As metrópoles tornam-se espaço de miséria para cada vez mais crianças em todo o mundo. O resultado direto é que a mortandade infantil nas favelas é, segundo o UNICEF, muito maior do que em ambiente rural. Nessas favelas mais da metade das crianças (54 por cento) apresentam um quadro severo de desnutrição e retardo mental.
Favela na Colômbia: As cidades crescem e a infra-estrutura não acompanha.
Com informações da revista Der Spiegel
Imagens Divulgação UNICEF
As metrópoles no mundo inteiro apresentam infinitos problemas urbanos. Um dos mais dramáticos, entretanto, é o vivido pelas crianças. Um bilhão delas vivem nas periferias dos maiores aglomerados urbanos do planeta. Isso corresponde à metade de todas as crianças da Terra. Uma em cada três dessas crianças vive numa favela, sem poder usufruir das oportunidades que oferece a vida numa grande cidade.
Duas crianças numa favela na Cidade do Cabo (África do Sul).
O relatório do UNICEF sobre “A Situação das Crianças no Mundo em 2012”, ocupa-se com a vida das crianças nessas metrópoles, o que para muitas delas é o mesmo que uma vida na miséria. Elas nascem e crescem nas periferias. As fotos do UNICEF falam por si mesmas.
Ganhar o sustento: Crianças ganham a vida como malabaristas em Salvador.
É uma realidade dramática e crescente. Se há meio século somente 30 por cento das crianças viviam nessas periferias, o relatório do UNICEF revela que, pela primeira vez na história, há mais crianças crescendo nas cidades do que no campo. A migração do campo para as cidades faz com que estas cresçam, sem acompanhar tal crescimento com a infra-estrutura equivalente. Isso aumenta o abismo entre ricos e pobres. Quem menos se beneficia das promessas de vida melhor na cidade são justamente as crianças. Faltam escolas, água limpa, instalações sanitárias adequadas, eletricidade e comida. Sobram violência, exploração, doenças e subnutrição.
Sucata para sobreviver: Menina recolhe um pedaço de metal em Kirkuk (Iraque).
Muitas delas nem existem oficialmente, porque em alguns países cada segunda criança nascida em favela nem sequer é registrada. O resultado é ausência total de proteção. Tais crianças crescem num ambiente de criminalidade, expulsão, abusos, estupros e venda pura e simples. Muitas dessas crianças dependem somente de si mesmas para sobreviver, nas ruas, ao relento, em completo abandono ou em regime de escravidão infantil.
Carrinho de catador: Criança recolhe recicláveis em Hyderabad (Índia).
As metrópoles tornam-se espaço de miséria para cada vez mais crianças em todo o mundo. O resultado direto é que a mortandade infantil nas favelas é, segundo o UNICEF, muito maior do que em ambiente rural. Nessas favelas mais da metade das crianças (54 por cento) apresentam um quadro severo de desnutrição e retardo mental.
Favela na Colômbia: As cidades crescem e a infra-estrutura não acompanha.
Com informações da revista Der Spiegel
Imagens Divulgação UNICEF
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
"As Malvinas são argentinas"
Roger Waters está na América do Sul para uma série de shows para os saudosos fãs do Pink Floyd. Ele também passará pelo Brasil com suas apresentações. Durante uma entrevista coletiva no Chile, há poucos dias de uma série de nove concertos que fará em Buenos Aires, no estádio do River Plate, o cantor inglês e ex líder da banda Pink Floyd, reivindicou a soberania argentina das ilhas do Atlântico sul e afirmou que a guerra de 1982 serviu apenas para “salvar a carreira política” de Margaret Thatcher “mas matou muitos britânicos e argentinos”.
Trabalho infantil é prática comum no futebol profissional brasileiro
A morte do adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, durante teste de futebol no Vasco, em 9 de fevereiro, fez o Ministério Público do Trabalho (MPT) desistir de negociar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e decidir processar o clube. A ação na Justiça terá como base uma série de irregularidades trabalhistas nas categorias de base, incluindo exploração de trabalho infantil, segundo informou à Repórter Brasil a procuradora Danielle Cramer, da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (PRT-1).
Estamos negociando [o TAC] há mais de um ano. O clube toda vez se compromete a assinar, mas não assina. Sempre propõe novas cláusulas. Cansamos de esperar boa vontade e vamos partir para a Justiça”, argumenta Danielle. Wendel faleceu de morte súbita enquanto participava de uma seleção para entrar nas categorias de base da equipe.
A tragédia chamou atenção de autoridades para problemas nas categorias de base não só do Vasco, mas em todo o país. Com base no episódio, representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Fórum Nacional pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) e de Conselhos Estaduais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente se mobilizam para intensificar a cobrança por mudanças. O grupo conta com o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que teme que a exploração de adolescentes no futebol aumente com a realização da Copa do Mundo ao Brasil, e da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Governo Federal. A OIT defende a reformulação nas categorias de base de todos os clubes brasileiros.
A diretoria do clube ressalta que a morte de Wendel ocorreu em um teste e que, mesmo que as providências exigidas fossem tomadas, dificilmente a tragédia poderia ter sido evitada. “Ele estava participando de um teste leve, não de competição. Era um menino que desde os 9 anos jogava futebol de competição na cidade dele [São João Nepomuceno (MG)]. Tinha sido campeão em todos os anos e foi titular da seleção local. Ele estava aparentemente apto para a prática de esporte. Foi uma grande fatalidade. Se esse menino tivesse falecido em qualquer outro lugar, ninguém estaria falando nada”, sustenta Aníbal Rouxinol, vice-presidente jurídico do clube.
Entre os problemas apontados pelo MPT está a ausência de registro dos adolescentes de 14 anos a 16 anos que compõem as equipes de base na categoria de aprendiz, o que, de acordo com as autoridades ouvidas pela reportagem, configura trabalho infantil.
Retirado do jornal Brasil de Fato. O texto é de Daniel Santini (Leia a íntegra da reportagem aqui).
Não se cale, apesar de tudo...
O pastor Renato, que não se calou e pagou para ver.
“Abraham Kuyeper, pastor reformado, muda a face da Holanda; Martin Niemoeller resiste ao nazismo; o mesmo regime martiriza, Dietrich Bonhoeffer. Martin Luther King Jr. tem um sonho, que uma bala assassina quer transformar em pesadelo, mas que termina por socializar esse sonho em milhões de corações. Desmond Tutu faz tremer os alicerces do apartheid. Arriscados são os caminhos dos ungidos do Senhor, desinstalados e desinstaladores, que ousam além da rotina paroquial. Oscar Romero nos lembra que os que “perdem a cabeça” de João Batista ainda o fazem literalmente, enquanto que leigos conservadores ou clérigos amofinados apenas (e “bondosamente”) o fazem ao nível do simbólico.”
Essas palavras foram escritas pelo bispo Robinson Cavalcanti (brutalmente assassinado pelo próprio filho adotivo no domingo passado, conforme você pode conferir no meu post de ontem). O texto é parte do prefácio do livro do pastor Renato Luiz Becker, que relata a sua experiência como candidato a deputado estadual pelo PT do Rio Grande do Sul nos anos 1990. Não me lembro o nome do livro, que está esgotado, infelizmente. Leia o texto de Cavalcanti na íntegra aqui.
As palavras do bispo Cavalcanti representam muito do que nós, Renato e eu, pensamos e dizemos. Os nomes que ele cita são espelhos universais; cristãos que não transformaram o Evangelho em mero enfeite de seus púlpitos ou vestimenta litúrgica para mostrar-se ao povo como sumo sacerdote imaculado. Todos eles enfiaram seus narizes na mais espúria podridão humana e, em muitos casos, foram martirizados por conta da sua ousadia profética.
O Renato foi muito mais corajoso do que eu. Meteu a cara – e quebrou-a! – como candidato do PT a deputado estadual. Ele não apenas falou de política, dos problemas e da busca de soluções, do povo pobre e das injustiças. Não se limitou aos discursos vazios. O seu púlpito criou cara de caminho, com pedras e muita poeira. Púlpito com cheiro e textura de realidade.
Ele chafurdou na lama, sujou as mãos com a imundície espalhada na nossa sociedade e foi tratado como figurinha fácil pelos correligionários, que viram nele um bom degrau de escada para subir e se dar bem. Renato apanhou no lombo desnudo por acreditar no seu sonho e investir pesado nele. Hoje Renato é pastor de paróquia, na IECLB em Joinville. O seu lombo continua fortemente marcado pelas cicatrizes do que ousou sonhar e dizer.
Mesmo com menos coragem do que o Renato, também eu pago um preço exorbitante pelo que ouso dizer aqui e em outros escritos. Talvez ambos estejamos sentindo as mesmas sensações de Rubem Alves, que escreveu que a coragem só vem com a idade, porque a gente vai ficando velho, sentindo-se mais perto da metade final da vida e começando a achar que não vale a pena continuar calado. Mas abrir a boca tem um preço. Tem muita gente querendo repetir a cena da cabeça de JB na bandeja... Ou dar um fim na boca que não se cala, como fez o filho adotivo de Robinson Cavalcanti...
Não nos calemos, amigo, apesar de tudo...
“Abraham Kuyeper, pastor reformado, muda a face da Holanda; Martin Niemoeller resiste ao nazismo; o mesmo regime martiriza, Dietrich Bonhoeffer. Martin Luther King Jr. tem um sonho, que uma bala assassina quer transformar em pesadelo, mas que termina por socializar esse sonho em milhões de corações. Desmond Tutu faz tremer os alicerces do apartheid. Arriscados são os caminhos dos ungidos do Senhor, desinstalados e desinstaladores, que ousam além da rotina paroquial. Oscar Romero nos lembra que os que “perdem a cabeça” de João Batista ainda o fazem literalmente, enquanto que leigos conservadores ou clérigos amofinados apenas (e “bondosamente”) o fazem ao nível do simbólico.”
Essas palavras foram escritas pelo bispo Robinson Cavalcanti (brutalmente assassinado pelo próprio filho adotivo no domingo passado, conforme você pode conferir no meu post de ontem). O texto é parte do prefácio do livro do pastor Renato Luiz Becker, que relata a sua experiência como candidato a deputado estadual pelo PT do Rio Grande do Sul nos anos 1990. Não me lembro o nome do livro, que está esgotado, infelizmente. Leia o texto de Cavalcanti na íntegra aqui.
As palavras do bispo Cavalcanti representam muito do que nós, Renato e eu, pensamos e dizemos. Os nomes que ele cita são espelhos universais; cristãos que não transformaram o Evangelho em mero enfeite de seus púlpitos ou vestimenta litúrgica para mostrar-se ao povo como sumo sacerdote imaculado. Todos eles enfiaram seus narizes na mais espúria podridão humana e, em muitos casos, foram martirizados por conta da sua ousadia profética.
O Renato foi muito mais corajoso do que eu. Meteu a cara – e quebrou-a! – como candidato do PT a deputado estadual. Ele não apenas falou de política, dos problemas e da busca de soluções, do povo pobre e das injustiças. Não se limitou aos discursos vazios. O seu púlpito criou cara de caminho, com pedras e muita poeira. Púlpito com cheiro e textura de realidade.
Ele chafurdou na lama, sujou as mãos com a imundície espalhada na nossa sociedade e foi tratado como figurinha fácil pelos correligionários, que viram nele um bom degrau de escada para subir e se dar bem. Renato apanhou no lombo desnudo por acreditar no seu sonho e investir pesado nele. Hoje Renato é pastor de paróquia, na IECLB em Joinville. O seu lombo continua fortemente marcado pelas cicatrizes do que ousou sonhar e dizer.
Mesmo com menos coragem do que o Renato, também eu pago um preço exorbitante pelo que ouso dizer aqui e em outros escritos. Talvez ambos estejamos sentindo as mesmas sensações de Rubem Alves, que escreveu que a coragem só vem com a idade, porque a gente vai ficando velho, sentindo-se mais perto da metade final da vida e começando a achar que não vale a pena continuar calado. Mas abrir a boca tem um preço. Tem muita gente querendo repetir a cena da cabeça de JB na bandeja... Ou dar um fim na boca que não se cala, como fez o filho adotivo de Robinson Cavalcanti...
Não nos calemos, amigo, apesar de tudo...
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Filho adotivo mata bispo Cavalcanti
O Bispo Diocesano da Igreja Anglicana no Recife, dom Edward Robinson Cavalcanti (64 anos), e sua esposa, a professora aposentada Mirian Nunes Machado Cotias Cavalcanti (64 anos), foram brutalmente assassinados na noite de domingo (26 de fevereiro), em casa. O autor do crime bárbaro é o próprio filho adotivo do casal, Eduardo Olímpio Cotias Cavalcanti (29 anos).
Eduardo residia nos EUA desde os 16 anos e voltou ao Brasil há duas semanas, depois de ter sido preso várias vezes por porte de drogas e outros delitos, sofrendo processo de extradição. Segundo um amigo do bispo, o rapaz já perguntou no aeroporto onde poderia comprar uma arma.
No último domingo, Eduardo passou o dia bebendo na praia e, ao voltar para a casa dos pais à noite, discutiu com o pai e o atacou com uma faca. A professora Miriam tentou defender o marido e também foi golpeada. O bispo Robinson morreu no quarto e sua esposa foi levada ao hospital, mas já chegou sem vida. Eduardo tentou o suicídio com medicamentos e facadas no próprio peito. Mal sucedido no intento, ele está internado no Hospital da Restauração.
O bispo Edward Cavalcanti era cientista político e foi reitor da Universidade Rural Federal de Pernambuco, além de ter sido coordenador regional da primeira campanha de Lula à presidência da República, além de ter sido candidato a deputado federal.
Cada vez mais conflitos
O número de guerras e conflitos violentos registrados no ano passado é o mais alto desde a segunda guerra mundial. De um total de 388 crises resultaram 38 conflitos de extrema violência, dos quais 20 devem ser enquadrados como guerras. Os dados são do Basrômetro de Conflitos, do Instituto de Heidelberg para Pesquisa Internacional de Conflitos. O instituto alemão também alertou para o risco de novas guerras, sobretudo na África. O ano de 2010 contabilizava somente 28 conflitos, com seis guerras entre eles.
Segundo o instituto, no Paquistão o exército realizou duas grandes ofensivas contra o Talibã, numa guerra que matou 4.200 pessoas em 2011. Na guerra do Afeganistão a morte de civis na primeira metade de 2011 cresceu 28 por cento em comparação ao mesmo período do ano anterior. No Iraque os ataques de militantes sunitas vitimaram 4.000 pessoas.
No Iêmen, na Líbia e na Síria surgiram novos conflitos, segundo o relatório. Onze novas guerras entraram na lista no período, entre outras na Nigéria, Costa do Marfim, Sudão e Sudão do Sul. Quatro conflitos listados em 2010 transformaram-se em guerras, entre eles o conflito entre o governo turco e o partido trabalhista curdo PKK.
Com oito guerras em andamento, o Oriente Médio e a África Subsaariana são as regiões mais atingidas pelos conflitos. Nada deixa transparecer que a luta por um mundo mais pacífico tenha trazido algum resultado positivo nos últimos tempos, disse um porta-voz do instituto alemão.
Como se explica o ano bissexto
O ano de 2012 é outro daqueles anos „bissextos“, que tem 29 dias. Segundo a regra, cada ano divisível por 4 é ano bissexto. Exceção à regra são os algarismos dos anos com centenas redondas, a não ser que sejam divisíveis por 400. Segundo esse princípio, o ano de 1900 não foi considerado ano bissexto. Já o ano 2000 entrou na lista deles, e o mesmo irá acontecer com o ano de 2400. Os anos de 2100, 2200 e 2300, apesar de estarem na vez de terem 29 dias em fevereiro, não o terão. Isso é necessário para compensar um restinho de dia que falta, apesar de um dia a mais a cada quatro anos.
A explicação para essa construção do calendário dos anos bissextos é dada pela astronomia: A Terra percorre 940 milhões de quilômetros todos os anos, durante sua órbita ao redor do Sol. Ela faz esse percurso a uma velocidade de 107.000 quilômetros horários e utiliza 365,24 dias para essa viagem. Um ano normal tem 365 dias. Os restantes 0,24 de dia vão sendo somados até formarem um quase novo dia inteiro, o que se completa a cada quarto anos. Por isso, cada quarto ano é ano bissexto, com 366 dias completos. Isso se dá em 2012, que tem um fevereiro com 29 dias. As exceções nas mudanças de século permitem compensar o fato de quatro 0,24 de dia não somarem um dia completo.
O calendário internacional hoje adotado no mundo na economia e nas ciências está em vigor desde a reforma do calendário adotada pelo papa Gregório XIII (1502-1585). A reforma foi adotada depois que sábios e astrônomos incrementaram o calendário Juliano em 1582, instituído pelo imperador Júlio Cesar em 46 a. C.
O imperador Júlio Cesar trouxe as ideias para o seu calendário do Egito, onde era usado um calendário baseado no Sol, com doze meses e diversos anos bissextos.
Mas, como é que justamente fevereiro foi o mês escolhido para receber o dia de número 366? Um dezembro com 32 dias até que seria bem interessante também, não? Pois foi justamente por isso que Júlio César escolheu o mês de fevereiro, uma vez que era o último mês do calendário romano, cujo ano novo começava no dia 1 de março. Testemunhas disso até os nossos dias são os nomes dos meses setembro a dezembro que, contados a partir de março, eram o sétimo, o oitavo, o nono e o décimo mês, respectivamente. Enquanto esses nomes permaneceram, o início do ano foi antecipado em dois meses.
Vale dizer também que a vaidade dos imperadores romanos influenciou o calendário que hoje conhecemos. Eles roubaram um dia de fevereiro para emprestar ao mês de agosto. Motivo? O mês de julho, na sequência lógica de 31 e 30 dias nos meses, tinha 31 dias. Seu nome reverenciava o imperador Júlio César. Seu sucessor, César Augusto, escolheu o mês seguinte em sua homenagem. Mas como não queria ter um mês com somente 30 dias em sua homenagem, reduziu um dia no mês de fevereiro e o adicionou ao mês de agosto.
O planeta Terra, entretanto, não está nem aí para essas nuances do nosso calendário. Ela continua girando em torno do próprio eixo e ao redor do Sol, sempre em direção à esquerda a partir da estrela Polar, no sentido anti-horário. No início de janeiro ela atinge o seu ponto mais próximo do Sol, com uma distância de 147,1 milhões de quilômetros, e no início de julho o seu ponto mais distante do Astro Rei, com 152,1 milhões de quilômetros. No seu ponto mais próximo do Sol ela atinge sua velocidade máxima (30,3 km/seg.) e no seu ponto mais distante ela torna-se um quilômetro por segundo mais lenta (29,3 km/seg.).
(Com informações do Evangelischer Pressedienst)
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Ressaca social
O carnaval passou e, com ele, os dias mais agitados que encerram os meses de letargia na Terra Brasilis. A festa, como sempre, deixa atrás de si um rastro de ressaca e gosto de cabo de guarda-chuva na boca de muita gente. E isso vale tanto para quem desfilou na avenida, passou as madrugadas numa arquibancada, no meio da rua pulando atrás de um trio elétrico, integrando o cortejo dos foliões que seguem os bonecos de Olinda, ou até quem ficou em casa, na frente da TV, assistindo a tudo no conforto do lar. Tudo valeu, em nome da alegria. Mas nem tudo foi, digamos, louvável, aceitável ou mesmo condizente com um jeito civilizado de levar a vida.
Virou notícia ontem a história lamentável da interrupção violenta da apuração da pontuação do desfile das escolas de samba de São Paulo. Tudo ali não acabou em samba, mas em grossa pancadaria. Como aconteceu diante das câmeras, virou notícia. Mas certamente não foi um ato isolado, nesse imenso país do carnaval, do carteiraço, do “sabe com quem está falando?”, do pacífico mas nem tanto.
Então o cara simplesmente surta só porque não concorda com os resultados que vão aparecendo no placar da apuração? E então começa uma quebradeira geral, para demonstrar sua contrariedade? Lembra o cara que surtou com a falta de segurança e, sentindo-se perseguido, saiu pelas ruas dando tiros em todo mundo, confiscando carros alheios para dar suporte a sua fuga desvairada e batendo aqui e ali em veículos, pessoas, postes e muros. Lembra o filho que, cansado do controle da mãe, a matou “para ter um pouco de paz”. Lembra o cara que mata um desconhecido porque quebraram um espelho do carro dele. Lembra o cara que começa um tumulto no estádio porque o juiz pretensamente prejudicou o seu time. Lembra tantas situações de explosão emocional, em que as pessoas perdem a cabeça por motivo fútil e vão logo resolvendo as coisas no grito, na porrada, na bala.
A nossa sociedade está psicologicamente doente. E o seu estado de psicose é grave. É uma doença que não atinge somente onde estão os jornalistas, as câmeras ou os celulares, cada vez mais parecidos com equipamentos sofisticados de filmagem. Ela está em todos os cantos. A contrariedade gera violência. Agride-se verbalmente a professora do filho porque ela chamou a atenção do moleque no pátio da escola. O aluno enche o mestre de pancada porque não estudou e tirou uma nota baixa, ou o processa por danos morais por cobrar um trabalho escolar que deveria ter feito e não fez. Ataca-se virtualmente alguém que nem se conhece por emitir uma opinião contrária em seu blog, que o outro considera “ideologia”.
Foi-se o cuidado, foi-se o respeito, enterrou-se o bom senso. Estamos à beira de um ataque de nervos social. E isso, por mais bonito que seja o samba, o desfile, a fantasia, estraga a festa, entorna o caldo, mancha o piso. Estamos precisando de doses cavalares de bom senso, de respeito, de aceitação do outro e de limites da própria pseudo-liberdade que nos escraviza. Em matéria de liberdade, toda moderação é recomendada, porque o excesso causa uma ressaca danada, que faz doer o corpo todo. E o corpo que dói nessa ressaca é o corpo social.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Tempos menos bicudos
O legendário depósito mega-vigiado de ouro de Fort Knox foi construído em 1936 e ampliado durante a segunda guerra mundial. Inspiração de muitos filmes e alvo de bandidos da mais alta especialização, esse megadepósito dourado já fez a cabeça dos habitantes do mundo.
A foto desse ouro todo foi tirada no dia 23 de setembro de 1974, durante uma inspeção de congressistas e jornalistas americanos.
Segundo dados oficiais, Fort Knox tem 4.580 toneladas de ouro em depósito (dados de agosto de 1911). Os EUA são o país com as maiores reservas em ouro do planeta, seguidos da Alemanha.
Marca registrada de um tempo espetacular nos EUA, seu significado traz um brilho opaco nesses tempos bicudos de crise financeira que não termina. Nem a maior reserva de ouro do planeta salva a economia americana do colapso.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
O espeto está virando
Notícia publicada no Diário Catarinense do dia 7 de fevereiro dá conta de que um milhão e duzentos mil catarinenses estão na miséria e à beira de passarem a tornar-se sem-teto, vivendo na rua. Esse é o número exato de pessoas a viver em situação de pobreza em nosso estado e, segundo o Diário, "a longo prazo, integrar a lista de moradores de rua do estado".
A reportagem denuncia que já há 150 delas vivendo nas ruas de Florianópolis, dos quais 89% são homens e 67% com algum tipo de vício. O texto não indica qual, mas não há duvidas que a lista se resume basicamente a bebidas alcoólicas e drogas, como o crack.
Os próprios moradores de rua foram à Câmara de Vereadores da capital catarinense reivindicar seus direitos, estabelecidos na lei que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua, aprovada em 2009. Eles querem acesso a saúde, abrigo para passar a noite e mais segurança. Temem jovens insanos da classe média se divertindo nas madrugadas com a desgraça alheia, coisa que não tem faltado entre os brasileiros mais insensíveis. Pura estupidez. Em Floripa, até chegaram a pedir para não serem agredidos e humilhados pelos agentes da Guarda Municipal e da Poícia Militar, que são pagos para garantir a segurança (só não se diz a segurança de quem!).
Você estranha que, ao anunciar o risco de 1,2 milhão de catarinenses viverem na iminência de pararem na rua, sejam apontados somente meros 150 "vagabundos" (é isso que muitos pensam deles) perambulando pelas ruas de Floripa? Onde está essa multidão de prováveis futuros andarilhos e destelhados?
"Eles estão no Oeste", garantiu-me um amigo. Sabe onde? No campo, num estado cuja marca é a agricultura familiar de auto-sustento, mas que nada faz para assegurar a permanência do homem no campo. Chapecó, por exemplo, é um bom lugar para ver ex-colonos agora sem coisa alguma migrando para as suas favelas como um imenso carreiro de formigas. É em situações como esta que a bomba-relógio do sem-tetismo está sendo armada em SC.
Mas ainda tem muito catarinense que, ao falar de miséria, enche a boca para mencionar o Nordeste. As coisas mudaram. O Nordeste tem a maior taxa de crescimento do Brasil (chega a cravar 10% ao ano!) e está desenvolvendo a olhos vistos. Infra-estrutura, indústrias e empregos tantos que a onda migratória inverteu-se na última década. Agora são os paulistas e paranaenses que procuram emprego no Nordeste... Ao mesmo tempo, os migrantes nordestinos, cheios de esperança, realizam o antigo sonho de voltar para a amada terrinha.
Enquanto isso, aqui no orgulhoso Sul, as cidades estão estagnando. Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo e até a orgulhosa Blumenau. Por que você acha que a Altona já deixou claro que vai para o litoral? Falta infra-estrutura de logística para uma fundição do porte da Altona em Blumenau. Se você não acredita, tente se informar o quanto é difícil tirar uma peça gigantesca para uma hidroelétrica do pátio da Altona para transportar para o Norte. Nem estrada tem, pois a peça atravessa as duas pistas...
Se nada for feito, o espeto vai inverter no Brasil. Até o clima já está virando e a seca insiste em desertificar o pampa gaúcho e os prados do Oeste catarinense... É só deixar rolar, que a tragédia já está anunciada.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Enamorada, noiva, casada e demitida
Carmen quer ser pastora luterana, mas é casada com o muçulmano Monir...
A candidata ao pastorado Carmen Häcker, demitida da igreja luterana de Württemberg, na Alemanha, por conta de seu casamento com um muçulmano, foi acolhida em Berlim, onde poderá concluir seu vicariato. Ela concluirá seu período prático na área de Ensino Religioso Escolar, numa escola de Zehlendorf. A partir de março ela irá assumir funções pastorais na Comunidade de Paulo, no mesmo bairro berlinense.
Carmen Häcker casou-se com o muçulmano Monir Khan, de Bangladesh, em agosto do ano passado. Em vista disso, a direção da igreja de Württemberg a suspendeu de suas atividades ministeriais e a demitiu em 31 de dezembro.
A demissão causou comoção na Alemanha e foi recebida como um atentado à liberdade religiosa e atitude xenófoba. Carmen e seu relacionamento “proibido” viraram notícia na imprensa. Manchetes como “Enamorada, noiva, casada e demitida” pipocaram nas capas de jornais e revistas. Todos se indignaram que ela foi impedida de morar na casa pastoral por conta do seu amor proibido. “A moça de 28 anos precisa tomar uma decisão difícil: ou ela vai morar na casa pastoral com um marido cristão ou a porta lhe será fechada”, dizia um dos muitos artigos sobre o caso.
Um mês após o traumático cumprimento do regimento interno de acesso ao pastorado em sua igreja de origem, novas portas foram abertas para o recém-casado par da diversidade religiosa. Carmen foi assumida pela igreja de Berlim para a conclusão do seu período prático porque há outras regras para a formação pastoral na capital alemã. Em Württemberg o período prático leva o candidato ao pastorado diretamente para o ministério pastoral, o que somente é possível se o cônjuge for originário de uma igreja membro da associação cristã de igrejas.
Já em Berlim teólogos casados com pessoas de origem confessional não ligada ao cristianismo podem tornar-se pastores, a partir da análise individual de cada caso pelo consistório. Isso é possível quando o casal une seu matrimônio segundo os ritos da igreja, os eventuais filhos sejam batizados na igreja e o cônjuge não-cristão declare estar de acordo com a atividade ministerial de seu parceiro de matrimônio.
Carmen não entende que a igreja pode rejeitar o seu vínculo matrimonial com Monir, que segundo ela é baseado no amor e, portanto, plenamente aceito por Deus. “Se Deus é amor, e isso eu aprendi no seminário, como a igreja pode rejeitar a nossa união?”, ela questiona.
De todo modo, é uma história de carne e osso que nos ajuda a refletir o quanto nossos preconceitos podem penetrar sob a pele do dia a dia e causar estragos gigantescos. O regimento interno da igreja de Württemberg certamente não previu consequências tão dramáticas para serem administradas. E, na verdade, as leis que criamos quase nunca levam todos os riscos em conta que estão embutidos em sua formulação.
A candidata ao pastorado Carmen Häcker, demitida da igreja luterana de Württemberg, na Alemanha, por conta de seu casamento com um muçulmano, foi acolhida em Berlim, onde poderá concluir seu vicariato. Ela concluirá seu período prático na área de Ensino Religioso Escolar, numa escola de Zehlendorf. A partir de março ela irá assumir funções pastorais na Comunidade de Paulo, no mesmo bairro berlinense.
Carmen Häcker casou-se com o muçulmano Monir Khan, de Bangladesh, em agosto do ano passado. Em vista disso, a direção da igreja de Württemberg a suspendeu de suas atividades ministeriais e a demitiu em 31 de dezembro.
A demissão causou comoção na Alemanha e foi recebida como um atentado à liberdade religiosa e atitude xenófoba. Carmen e seu relacionamento “proibido” viraram notícia na imprensa. Manchetes como “Enamorada, noiva, casada e demitida” pipocaram nas capas de jornais e revistas. Todos se indignaram que ela foi impedida de morar na casa pastoral por conta do seu amor proibido. “A moça de 28 anos precisa tomar uma decisão difícil: ou ela vai morar na casa pastoral com um marido cristão ou a porta lhe será fechada”, dizia um dos muitos artigos sobre o caso.
Um mês após o traumático cumprimento do regimento interno de acesso ao pastorado em sua igreja de origem, novas portas foram abertas para o recém-casado par da diversidade religiosa. Carmen foi assumida pela igreja de Berlim para a conclusão do seu período prático porque há outras regras para a formação pastoral na capital alemã. Em Württemberg o período prático leva o candidato ao pastorado diretamente para o ministério pastoral, o que somente é possível se o cônjuge for originário de uma igreja membro da associação cristã de igrejas.
Já em Berlim teólogos casados com pessoas de origem confessional não ligada ao cristianismo podem tornar-se pastores, a partir da análise individual de cada caso pelo consistório. Isso é possível quando o casal une seu matrimônio segundo os ritos da igreja, os eventuais filhos sejam batizados na igreja e o cônjuge não-cristão declare estar de acordo com a atividade ministerial de seu parceiro de matrimônio.
Carmen não entende que a igreja pode rejeitar o seu vínculo matrimonial com Monir, que segundo ela é baseado no amor e, portanto, plenamente aceito por Deus. “Se Deus é amor, e isso eu aprendi no seminário, como a igreja pode rejeitar a nossa união?”, ela questiona.
De todo modo, é uma história de carne e osso que nos ajuda a refletir o quanto nossos preconceitos podem penetrar sob a pele do dia a dia e causar estragos gigantescos. O regimento interno da igreja de Württemberg certamente não previu consequências tão dramáticas para serem administradas. E, na verdade, as leis que criamos quase nunca levam todos os riscos em conta que estão embutidos em sua formulação.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Adeus, Whitney
Whitney Houston, um nome para não ser esquecido. A mais extraordinária intérprete musical de todos os tempos, tinha uma voz e um domínio do canto como jamais vi em ninguém. Suas interpretações me causam arrepios só com o que está gravado na minha memória, mesmo sem ouvir o belíssimo timbre de sua voz.
Ao mesmo tempo em que foi agraciada com dom tão fenomenal, Whitney foi vítima dele. Por conta do veludo que eram suas cordas vocais, ela tornou-se mais uma vítima precoce da fama. Morreu aos 48 anos, desgraçada pela fama, pelas drogas, pela vida.
A estrela dos anos 80 e 90, a detentora de seis Grammys, a cantora que mais vendeu no mundo da música nessas duas décadas, morreu só. Sua esplendorosa voz era ainda somente uma vaga lembrança do que foi. Ela era, mesmo, uma super-diva. E era linda. Mas tudo se foi, vencido pelo espantoso sucesso, que a derrotou e a levou ao dramático fracasso da sua própria vida.
Como singela homenagem (que mais posso fazer?), deixo com você a Diva cantando sua mais brilhante, genial, celestial interpretação de toda a sua carreira: “I Will Always Love You”. So, Whitney, I will also Love you, always... always!
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Muito além do Costa Concórdia
O naufrágio do transatlântico de luxo Costa Concórdia tornou-se uma das principais notícias de tragédias dos últimos anos. Mas, além de azedar o cruzeiro luxuoso de quatro mil e poucas pessoas pelo Mediterrâneo e causar a desgraça profissional e pessoal do capitão italiano, não chegou a vinte o número de pessoas mortas. A notícia do naufrágio foi acompanhada como novela e as reportagens sobre o Costa Concórdia bateram recordes de acesso na internet.
A verdadeira tragédia que vem acontecendo no Mar Mediterrâneo, entretanto, teve poucos olhos voltados em sua direção e despertou interesse quase nulo da imprensa e de seus leitores, sempre tão ávidos por tragédias.
Segundo as Nações Unidas, no ano passado mais de 1.500 pessoas desapareceram ou se afogaram no mesmo mar do Costa Concórdia em pequenos barcos de refugiados africanos, que buscavam refúgio na Europa. É o maior número de mortos desde que começou a contagem, em 2006, segundo o Serviço de Auxílio a Refugiados da ONU.
Segundo a mesma fonte, pelo menos 60 mil refugiados conseguiram seu intento de desembarcar no litoral do sul da Europa, a maioria na Itália, na Grécia e em Malta. Muitos deles vieram da Líbia, da Tunísia e da Somália, fugindo de conflitos.
Essa gente não realiza essa travessia em transatlânticos, ou mesmo em barcos seguros. Muitos migrantes e refugiados atravessam em embarcações que sequer estão em condições de fazer a travessia a que se aventuram. Outros pagam quantias absurdas a rebocadores para que os levem ao outro lado. Durante essas travessias, muitos foram submetidos a violência e até lançados ao mar. Além disso, há rigorosas patrulhas por toda a região, tentando impedir que os “marujos” improvisados concluam a sua viagem.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
ONU homenageia heróis da floresta
O casal de ativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, assassinado no Pará em maio de 2011, receberá um título especial póstumo das Nações Unidas nesta quinta-feira (9), em Nova York. No mesmo evento, o diretor do Greenpeace para a Amazônia, o brasileiro Paulo Adario, receberá o prêmio "Herói da Floresta" na América Latina e Caribe.
É a primeira vez que a ONU confere o prêmio, em reconhecimento à contribuição para a preservação da floresta. Ele será entregue na cerimônia de encerramento do Ano Internacional das Florestas, comemorado em 2011.
A ONU nomeou “heróis da floresta” na África, Europa, Ásia e América do Norte, depois de receber 90 indicações, de 41 países. Os escolhidos foram Paul Nzegha Mzeka, de Camerões, Shigeatsu Hatakeyama, do Japão, Anatoly Lebedev, da Rússia, e Rhiannon Tomtishen e Madison Vorva, dos Estados Unidos. Segundo a ONU, o Ano Internacional das Florestas oferece a oportunidade de celebrar os esforços de “inúmeros indivíduos ao redor do mundo que dedicam suas vidas para ajudar florestas de formas silenciosas e heróicas”. (Fonte: G1)
Bloqueio a Cuba completa 50 anos
Quando amanheceu o dia 7 de fevereiro de 1962, uma ordem executiva do presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, assinada quatro dias antes, mudava drasticamente a vida dos cubanos. Como retaliação às nacionalizações de empresas norte-americanas e às crescentes relações com a União Soviética, a Casa Branca praticamente baniu vínculos comerciais com a ilha caribenha, além de proibir linhas de crédito e vários outros tipos de intercâmbio. Tinha início um dos mais duradouros e drásticos bloqueios econômicos da história moderna.
“Ao longo desses 50 anos, as diversas medidas do bloqueio custaram mais de um trilhão de dólares ao nosso país”, afirma ao Opera Mundi o vice-ministro de Investimento Externo e Comércio Exterior, Orlando Guillén. “Os EUA não apenas romperam unilateralmente com o comércio, mas congelaram ativos do Estado cubano e estabeleceram punições a empresas de outros países que queiram ter relações normais conosco.”
Para se ter ideia do estrago, a conta é simples de ser feita. O PIB (Produto Interno Bruto) de Cuba alcançou, em 2009, a cifra de 110 bilhões de dólares. O bloqueio promovido pela Casa Branca ceifou, no mínimo, dez dos últimos 50 anos de tudo o que o país foi capaz de produzir em mercadorias e serviços. Não é pouca coisa.
Leia a reportagem completa no Opera Mundi, aqui.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Aulas de tortura vieram dos Nazistas
Conforme eu afirmei ontem, estou divulgando um documentário revelador sobre como e onde os torturadores das ditaduras militares dos anos 1960 e 1970 na América Latina foram buscar know-how. Eles não tiveram nem calafrios, ao servir-se das sórdidas técnicas de tortura e extermínio em massa desenvolvidas em Auschwitz, Buchenwald, Treblinka e outros campos de concentração nazistas.
De que maneira fizeram isso? Com a crescente guerra ideológica entre Ocidente e Oriente, que depois virou a execrável Guerra Fria, os americanos e seus aliados vencedores da Segunda Guerra Mundial, não tiveram escrúpulos em “perdoar” alguns dos principais criminosos ligados a Hitler para usá-los em sua guerra anti-comunista. Facilitaram fugas, organizaram esconderijos para eles e os apoiaram tacitamente para se instalarem na América do Sul e repassar seus conhecimentos aos grupos de combate aos movimentos de esquerda.
O Inimigo do Meu Inimigo (My Enemys Enemy) revela uma escabrosa história paralela do mundo no pós-guerra. Nessa versão da história, a CIA faz uso de ninguém menos que Klaus Barbie, o torturador nazista conhecido como o açougueiro de Lyon, que é transformado em espião americano e ferramenta de regimes repressivos de direita na América Latina. Tudo a serviço de um sórdido jogo de interesses para garantir a hegemonia americana no mundo.
O documentário (duração de 84 minutos) foi produzido em 2007, na França e Inglaterra, sob a direção de Kevin Macdonald e dos mesmos produtores de Farenheit 9/11 e Tiros em Columbine.
Cenário de exclusão religiosa
Essas imagens são testemunhas do preconceito religioso. A Itália tem hoje somente duas mesquitas para mais de um milhão de muçulmanos residentes no país. As fotos deixam claro como é difícil a prática coletiva da fé Islâmica na Itália. Há uma série de proibições sem cabimento e leis que discriminam a fé muçulmana. Um dos maiores países católicos (e, portanto, cristãos) da Europa não pratica a tolerância com a fé dos outros. Ao mesmo tempo, cobra duramente a perseguição aos cristãos católicos na Indonésia, país de maioria islâmica.
Essas fotos fazem parte do ensaio fotográfico The Hiden Islam (O Islã oculto) do fotógrafo Nicolo Degiorgis. Ele mostra como a falta de locais de culto apropriados, como mesquitas, privilegia a proliferação de lugares improvisados para os cultos da fé islâmica na Itália. Os muçulmanos refugiam-se em prédios abandonados ou alugam espaços como porões, armazéns e supermercados.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Herzog e a Comissão da Verdade
Silvaldo, com sua tristemente famosa foto de Vladimir Herzog
O ex-fotógrafo policial Silvaldo Leung Viera, levado por militares para fotografar o falso suicídio de Vladimir Herzog, está disposto a contar os detalhes deste e de outros episódios em que testemunhou torturas e assassinatos políticos, segundo a Folha de hoje.
Essa história de Herzog é somente uma de inúmeras outras, que mostra que a conversa fiada de que a “Comissão da Verdade precisa ouvir o outro lado, porque os militares combatiam terroristas e assaltantes de banco” é uma sórdida distorção da história terrível que se desenrolou nos porões da ditadura brasileira.
Esta é a famosa e triste foto de Silvaldo.
Segundo consta dos autos, Herzog apresentou-se espontaneamente ao DOI-CODI. Foi acusado de integrar diversos grupos subversivos, preso e torturado até a morte para arrancar dele alguma informação sobre esses ditos grupos. Depois que o mataram, simularam um patético suicídio, fotografado por Silvaldo. Nele, Herzog está numa posição impossível para cometer suicídio.
Uma história dessas pode ser simplesmente esquecida? De jeito nenhum! Como esta há muitas e muitas outras. Cada uma dessas histórias mostra o quanto é urgente que a presidenta Dilma instale a Comissão da Verdade.
E parem com essa história de que o regime militar fez tudo para evitar que o Brasil virasse um país comunista, uma Cuba. Que conversa descabida! Quanta mentira, quanto servilismo e subserviência à fantasiosa visão americana do mundo da guerra fria! Até quando vamos acreditar nesse conto da carochinha de que os americanos foram os bonzinhos e os soviéticos os maus dessa sórdida história? Tudo o que estava em jogo era superar o poderio do outro.
Ainda vou postar nesse blog um documentário que mostra como os americanos fizeram uso do conhecimento de criminosos de guerra, como Claus Barbie e outros, para ensinar justamente todos os métodos de tortura e eliminação de opositores que foram amplamente empregados em toda a América Latina. A escola de Barbie ensinou tudo também ao nosso DOI-CODI.
Então, está na hora de abrir essa caixa maldita. O próprio Silvaldo diz que “a história vai se perdendo, há muitos episódios que não são conhecidos, acho que uns 90% dos fatos ainda não se tornaram públicos”. Como escreve Brizola Neto em seu blog Tijolaço, "o povo brasileiro tem o direito de conhecer os fatos. Independente de serem responsabilizados judicialmente os seus autores, é preciso que esta escuridão desapareça da nossa vida política. Senão, o tempo é quem matará o direito à memória".
O ex-fotógrafo policial Silvaldo Leung Viera, levado por militares para fotografar o falso suicídio de Vladimir Herzog, está disposto a contar os detalhes deste e de outros episódios em que testemunhou torturas e assassinatos políticos, segundo a Folha de hoje.
Essa história de Herzog é somente uma de inúmeras outras, que mostra que a conversa fiada de que a “Comissão da Verdade precisa ouvir o outro lado, porque os militares combatiam terroristas e assaltantes de banco” é uma sórdida distorção da história terrível que se desenrolou nos porões da ditadura brasileira.
Esta é a famosa e triste foto de Silvaldo.
Segundo consta dos autos, Herzog apresentou-se espontaneamente ao DOI-CODI. Foi acusado de integrar diversos grupos subversivos, preso e torturado até a morte para arrancar dele alguma informação sobre esses ditos grupos. Depois que o mataram, simularam um patético suicídio, fotografado por Silvaldo. Nele, Herzog está numa posição impossível para cometer suicídio.
Uma história dessas pode ser simplesmente esquecida? De jeito nenhum! Como esta há muitas e muitas outras. Cada uma dessas histórias mostra o quanto é urgente que a presidenta Dilma instale a Comissão da Verdade.
E parem com essa história de que o regime militar fez tudo para evitar que o Brasil virasse um país comunista, uma Cuba. Que conversa descabida! Quanta mentira, quanto servilismo e subserviência à fantasiosa visão americana do mundo da guerra fria! Até quando vamos acreditar nesse conto da carochinha de que os americanos foram os bonzinhos e os soviéticos os maus dessa sórdida história? Tudo o que estava em jogo era superar o poderio do outro.
Ainda vou postar nesse blog um documentário que mostra como os americanos fizeram uso do conhecimento de criminosos de guerra, como Claus Barbie e outros, para ensinar justamente todos os métodos de tortura e eliminação de opositores que foram amplamente empregados em toda a América Latina. A escola de Barbie ensinou tudo também ao nosso DOI-CODI.
Então, está na hora de abrir essa caixa maldita. O próprio Silvaldo diz que “a história vai se perdendo, há muitos episódios que não são conhecidos, acho que uns 90% dos fatos ainda não se tornaram públicos”. Como escreve Brizola Neto em seu blog Tijolaço, "o povo brasileiro tem o direito de conhecer os fatos. Independente de serem responsabilizados judicialmente os seus autores, é preciso que esta escuridão desapareça da nossa vida política. Senão, o tempo é quem matará o direito à memória".
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Peças egípcias reaparecem após 70 anos
Berlim expõe peças egípcias que ficaram sumidas por quase 70 anos.´Trata-se de um conjunto de 44 peças que estavam dentro de duas caixas em Leipzig desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Museu Bode, na ilha dos museus em Berlim, abriu a exposição de objetos egípcios produzidos entre os séculos 4 e 7. As peças estavam perdidas desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945, em duas caixas no museu da Universidade de Leipzig.
Vida de porco vira música
O britânico Matthew Herbert é um músico que trabalha com sons criados na natureza e pela vida e os aproveita eletronicamente. Ele já trabalhou para Björk e Róisín Murphy, além de ter lançado mais de uma dezena de discos das mais variadas vertentes da música eletrônica. Ele é também um dos pioneiros na utilização de sons reais e comuns em seu processo de composição, além de projetos com forte conotação política. Seu disco The Mechanics of Destruction foi feito a partir da destruição de embalagens do McDonald's e de camisetas da Gap, em protesto contra a globalização.
"Está acontecendo uma grande transformação na música. Nos últimos quatro mil anos fomos impressionistas e tentamos imitar sons com instrumentos. Hoje podemos também ser documentaristas, transformar sons reais em música. Tento amplificar as coisas que vejo, criar uma hiper-realidade, ir além do que realmente podemos escutar", declarou o músico à DW Brasil.
Agora Herbert apresenta nos palcos alemães seu último trabalho, One Pig, que é o documentário sonoro da vida de um porco, do nascimento até o seu consumo. O novo trabalho de Herbert gerou polêmica e foi alvo da ira da organização de direito dos animais Peta, que condenou o disco antes do seu lançamento.
Ao tematizar a trajetória da vida de um porco do nascimento ao banquete, Herbert abre a discussão de assuntos como moral, direitos dos animais e política. A obra mostra que devemos ver a música mais do que simples decoração e enfeite. Ela pode também ser um meio para debater assuntos tão polêmicos quanto este.
No disco, a trajetória do suíno é apresentada em diversas camadas eletrônicas. As primeiras faixas são mais calmas e retratam os primeiros meses de vida do porco. Quando o porco já está maior, é transferido para um ambiente metálico e a atmosfera criada pela música é mais sombria e agressiva, com resquícios de techno se misturando aos gritos do animal. Após a morte, quando está sendo fatiado, o som é cirúrgico, repetitivo e perturbador. Já o banquete é representado por um estranho e sombrio dubstep. O disco termina com uma canção de ninar, uma homenagem gravada na fazenda onde o porco viveu.
"Eu não tinha nenhum controle ou expectativa. Meu trabalho era documentar e com isso contar uma história e amplificar esse ruído. A verdade por trás desse disco é que tratamos os animais de uma maneira horrível", explica Herbert.
Praticamente todos os dias na fazenda, o músico evitou envolver-se diretamente com o porco, como dar comida a ele ou dar-lhe um nome. Ele também não foi autorizado a participar do abate do animal, o que é proibido a não profissionais no Reino Unido. Entretanto, apesar de todos esses cuidados, o músico diz que se envolveu tanto com o animal que ficou triste ao receber a sua cabeça num saco plástico. No banquete, após o abate, ele comeu somente um pedacinho do porco e, apesar de não ser vegetariano, diz que não consegue mais comer carne de porco depois de ter feito esse disco.
Para apresentar o espetáculo nos palcos, Herbert construiu um instrumento que reproduz os sons do porco, uma espécie de harpa-sintetizador, cujas cordas são acopladas a um sistema de videogame, que foi reprogramado para emitir os ruídos do porco. O sistema foi desenvolvido pelo músico e artista digital Yann Seznec. Isso permite a sobreposição de sons, efeitos, teclados e bateria no próprio palco, sem usar bases pré-gravadas.
"Tocar os sons do porco é também uma maneira de mantê-lo vivo", argumenta Herbert, que ficou muito desapontado com a posição do Peta. Ele fez o disco para tratar de temas relacionados a vida e morte. “Nossa sociedade dá diferentes valores a vida dos seres humanos, de acordo com sua origem, classe, etnia e religião”, lamentou Herbert. (Com informações de DW-World)
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
O potencial autoritário da democracia
Na década de 50, o filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) uniu-se a um grupo de psicólogos sociais norte-americanos para desenvolver um estudo pioneiro sobre o potencial autoritário inerente a sociedades de democracia liberal, como os Estados Unidos.
O resultado foi, entre outras coisas, um conjunto de testes que permitiam produzir uma escala (conhecida como Escala F, de "fascismo") que visava medir as tendências autoritárias da personalidade individual.
Por mais que certas questões de método possam atualmente ser revistas, o projeto do qual Adorno fazia parte tinha o mérito de mostrar como vários traços do indivíduo liberal tinham profundo potencial autoritário.
O que explicava porque tais sociedades entravam periodicamente em ondas de histeria coletiva xenófoba, securitária e em perseguições contra minorias.
O que Adorno percebeu na sociedade norte-americana vale também para o Brasil. Na semana passada, esta Folha divulgou pesquisa mostrando como a grande maioria dos entrevistados apoia ações truculentas como a internação forçada para dependentes de drogas e intervenções policiais espetaculares como as que vimos na cracolândia.
Se houvesse pesquisa sobre o acolhimento de imigrantes haitianos e sobre a posição da população em relação à ditadura militar, certamente veríamos alguns resultados vergonhosos.
Tais pesquisas demonstram como a idealização da força é uma fantasia fundamental que parece guiar populações marcadas por uma cultura contínua do medo.
É preferível acreditar que há uma força capaz de "colocar tudo em ordem", mesmo que por meio da violência cega, do que admitir que a vida social não comporta paraísos de condomínio fechado.
Sobre qual atitude tomar diante de tais dados, talvez valha a pena lembrar de uma posição do antigo presidente francês François Mitterrand (1916-1996, na foto acima).
Quando foi eleito pela primeira vez, em 1981, Mitterrand prometera abolir a pena de morte na França. Todas as pesquisas de opinião demonstravam, no entanto, que a grande maioria dos franceses era contrária à abolição.
Mitterrand ignorou as pesquisas. Como se dissesse que, muitas vezes, o governo deve levar a sociedade a ir lá aonde ela não quer ir, lá aonde ela ainda não é capaz de ir. Hoje, a pena de morte é rejeitada pela maioria absoluta da população francesa.
Tal exemplo demonstra como o bom governo é aquele capaz de reconhecer a existência de um potencial autoritário nas sociedades de democracia liberal e a necessidade de não se deixar aprisionar por tal potencial.
Artigo de Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP, publicado na Folha de 31.01.2012.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Da da da...
Para recordar que, há 30 anos, já havia um Michel Teló, só que alemão.
“Da da da” foi lançada em fevereiro de 1982 pela banda alemã “Provinzband Trio”, ou simplesmente Trio. O baterista era Peter Behrens (que parece ter frequentado só a primeira aula de bateria), o guitarrista Gerd Krawinkel (até faz uns solinhos diferenciados) e o vocalista Stephan Remmler (que reforça os instrumentos com um vagabundo tecladinho eletrônico de brinquedo da Casio, o Casio VL-1 Pocket Synthesizer).
A brincadeira virou sucesso gigante em mais de 30 países, inclusive no Brasil, e tocava tanto que a gente não se livrava dela nem mudando de estação. Parecia que as rádios estavam todas transmitindo em rede. Foi o único grande sucesso da banda, que torrou tudo em festas e muito luxo. Eles cantaram o “Da da da” tantas vezes em casas lotadas que esqueceram de ensaiar e produzir novos hits. A banda Trio literalmente ficou bêbada de sucesso e foi dissolvida dois anos depois.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Os pobres são mais solidários
Dacher Keltner: Os pobres são mais solidários porque fazem mais experiências de ajuda mútua.
Um estudo do psicólogo americano Dacher Keltner, professor da Universidade da Califórnia, concluiu que pessoas de posses são menos solidárias do que as mais pobres. Antes de iniciar suas pesquisas ele partiu de material já existente, como uma pesquisa de entidades beneficentes americanas que revela que pessoas com renda anual de 25 mil dólares doam 4,2% de seus rendimentos, enquanto aquelas que ganham 100 mil dólares ao ano doam apenas 2,7% do que ganham. Pesquisadores de São Francisco analisaram as declarações de renda de americanos com menos de 35 anos e constataram que aqueles que ganham 200 mil dólares ao ano doaram 1,9% para obras de caridade, enquanto que os que declararam ganhar acima disso doaram somente meio por cento.
Ao iniciar seu trabalho, o psicólogo imaginava que os pobres provavelmente são mais religiosos ou provavelmente tenham uma visão política mais à esquerda. Mas ao final sua pesquisa demonstrou que os pobres simplesmente estão mais propensos a fazer a experiência da necessidade de ajuda mútua. “Sempre há alguém que lhe dá uma carona ou cuida do seu filho enquanto você trabalha”, exemplificam. É justamente esse tipo de experiência que habilita os pobres a perceber as necessidades alheias.
O estudo de Keltner revelou que as pessoas de seu teste que têm somente o ensino médio estavam mais preparadas a perceber as dificuldades dos outros do que aqueles que tinham mais estudo ou maior renda. Ao juntar duas pessoas do seu estudo para que se conhecessem, ele até pôde observar como as pessoas de mais rendimentos ficavam brincando com algum objeto, rabiscavam uma folha de papel ou brincavam com o seu celular durante a conversação.
“Que os ricos sejam capazes de dar algo em troca é psicologicamente improvável”, afirma Keltner. “O que riqueza, formação, prestígio e uma boa posição na vida dão a alguém é a liberdade de se concentrar somente em si mesmo”, finaliza.
(Extraído do artigo “Maria e José no gueto do dinheiro”, do jornalista Hennig Sussebach, Die Zeit. A tradução é minha. Leia o post abaixo sobre a polêmica em torno do artigo em Kronberg-Alemanha. O texto de Sussebach, em alemão, você pode ler na íntegra aqui)
Um estudo do psicólogo americano Dacher Keltner, professor da Universidade da Califórnia, concluiu que pessoas de posses são menos solidárias do que as mais pobres. Antes de iniciar suas pesquisas ele partiu de material já existente, como uma pesquisa de entidades beneficentes americanas que revela que pessoas com renda anual de 25 mil dólares doam 4,2% de seus rendimentos, enquanto aquelas que ganham 100 mil dólares ao ano doam apenas 2,7% do que ganham. Pesquisadores de São Francisco analisaram as declarações de renda de americanos com menos de 35 anos e constataram que aqueles que ganham 200 mil dólares ao ano doaram 1,9% para obras de caridade, enquanto que os que declararam ganhar acima disso doaram somente meio por cento.
Ao iniciar seu trabalho, o psicólogo imaginava que os pobres provavelmente são mais religiosos ou provavelmente tenham uma visão política mais à esquerda. Mas ao final sua pesquisa demonstrou que os pobres simplesmente estão mais propensos a fazer a experiência da necessidade de ajuda mútua. “Sempre há alguém que lhe dá uma carona ou cuida do seu filho enquanto você trabalha”, exemplificam. É justamente esse tipo de experiência que habilita os pobres a perceber as necessidades alheias.
O estudo de Keltner revelou que as pessoas de seu teste que têm somente o ensino médio estavam mais preparadas a perceber as dificuldades dos outros do que aqueles que tinham mais estudo ou maior renda. Ao juntar duas pessoas do seu estudo para que se conhecessem, ele até pôde observar como as pessoas de mais rendimentos ficavam brincando com algum objeto, rabiscavam uma folha de papel ou brincavam com o seu celular durante a conversação.
“Que os ricos sejam capazes de dar algo em troca é psicologicamente improvável”, afirma Keltner. “O que riqueza, formação, prestígio e uma boa posição na vida dão a alguém é a liberdade de se concentrar somente em si mesmo”, finaliza.
(Extraído do artigo “Maria e José no gueto do dinheiro”, do jornalista Hennig Sussebach, Die Zeit. A tradução é minha. Leia o post abaixo sobre a polêmica em torno do artigo em Kronberg-Alemanha. O texto de Sussebach, em alemão, você pode ler na íntegra aqui)
Solidariedade de fachada
Debate acirrado no centro evangélico de Kronberg
Uma grande reportagem no semanário Die Zeit, de Hamburgo, causou alvoroço na cidade de Kronberg no Taunus, na Alemanha. O local está repleto de casarões. Gente rica mesmo, como banqueiros, executivos e industriais, e muitos milionários. Durante a terceira semana do Advento, o jornalista Hennig Sussebach disfarçou-se de sem-teto em companhia de uma atriz e ambos circularam pelas ruas da cidade durante alguns dias, colhendo impressões. O resultado do laboratório foi divulgado pontualmente no Natal, sob o título “Maria e José no gueto do dinheiro” (Leia a matéria em alemão, na íntegra, aqui. É um comovente relato do desprezo do luxo pelo lixo, uma matéria que desnuda o egoísmo e a falta de compaixão de modo cruel e definitivo). Entre outros citados, o próprio pastor luterano da cidade, Hans-Joachim Hackel, apareceu de modo pouco lisonjeiro na reportagem.
A repercussão da matéria levou o superior do Decanato de Kronberg, o decano Eberhard Kuhn, a convidar o autor da matéria para uma noite aberta de debate sobre o seu texto. Convite aceito, Sussebach esteve diante de um salão comunitário lotado na noite do último dia 30 de janeiro, em Kronberg.
O que deveria ser um debate respeitoso e um diálogo diferenciado, acabou por transformar-se numa dura troca de opiniões, que despertou muito interesse mas ficou longe de alcançar alguma unanimidade. A pergunta inicial sobre a péssima impressão que o texto divulgou sobre a cidade não recebeu resposta satisfatória. Muitos dos presentes lançaram pesadas acusações contra o jornalista, acusando-o de difamação e de prática de jornalismo duvidoso, com intenção maldosa. Segundo alguns, ele lançou mão de argumentos preconceituosos para vir à cidade e montar o seu espetáculo “escandaloso”.
Segundo o jornalista, entretanto, o seu artigo é absolutamente fiel ao que ele e a atriz Viola Heess experimentaram naqueles dias em Kronberg. Caracterizados de sem-teto, os dois tentaram conseguir abrigo e comida em muitas residências na cidade, ao longo de toda uma semana. Segundo o seu relato, eles foram sistematicamente rejeitados.
O pastor local Hans-Joachim Hackel – presente ao debate, no salão lotado – havia demonstrado solidariedade, mas negara pernoite ao casal. Hackel defendeu-se que, depois de diversas experiências negativas, havia se tornado pessoalmente mais cauteloso com os pedintes à porta da sua comunidade. Nem sempre a ajuda tem motivado essas pessoas a mudar de vida, disse.
O jornalista, por seu turno, confessou que nem ele saberia dizer se daria abrigo em sua casa a um sem-teto. Mas que isso não deveria ser algo irreal para uma “instituição que se orgulha de sua solidariedade”, tascou. Mas o seu objetivo com a reportagem não era desnudar o caráter da igreja ou de quem quer que seja.
“Eu queria debater o nosso trato com a pobreza de modo geral”, explicou. Um estado que arrecada menos impostos dos ricos também tem menos programas sociais para ajudar essa gente, comparou, o que os torna cada vez mais dependentes de programas privados de auxílio, “feudalizando a ajuda”. Em sua opinião, programas privados de ajuda promovem uma “distribuição seletiva e arbitrária de recursos”, o que é menos possível em programas sociais do governo. “Sozinho ninguém pode resolver o problema da pobreza”, comparou o jornalista.
Alguns dos presentes concordaram com essa visão, complementando que é particularmente difícil ser pobre em uma região de gente abastada, como é Kronberg. Entretanto, nem todos concordaram. Especialmente pessoas mais idosas se revoltaram com a reputação negativa que o artigo espalhara sobre a cidade, ao estar cheio de meias verdades. Mas o jornalista Sussebach, em sua frase final, desafiou a todos: “Vocês devem refletir sobre o seu modo de agir do mesmo modo que eu sobre o meu”.
Uma grande reportagem no semanário Die Zeit, de Hamburgo, causou alvoroço na cidade de Kronberg no Taunus, na Alemanha. O local está repleto de casarões. Gente rica mesmo, como banqueiros, executivos e industriais, e muitos milionários. Durante a terceira semana do Advento, o jornalista Hennig Sussebach disfarçou-se de sem-teto em companhia de uma atriz e ambos circularam pelas ruas da cidade durante alguns dias, colhendo impressões. O resultado do laboratório foi divulgado pontualmente no Natal, sob o título “Maria e José no gueto do dinheiro” (Leia a matéria em alemão, na íntegra, aqui. É um comovente relato do desprezo do luxo pelo lixo, uma matéria que desnuda o egoísmo e a falta de compaixão de modo cruel e definitivo). Entre outros citados, o próprio pastor luterano da cidade, Hans-Joachim Hackel, apareceu de modo pouco lisonjeiro na reportagem.
A repercussão da matéria levou o superior do Decanato de Kronberg, o decano Eberhard Kuhn, a convidar o autor da matéria para uma noite aberta de debate sobre o seu texto. Convite aceito, Sussebach esteve diante de um salão comunitário lotado na noite do último dia 30 de janeiro, em Kronberg.
O que deveria ser um debate respeitoso e um diálogo diferenciado, acabou por transformar-se numa dura troca de opiniões, que despertou muito interesse mas ficou longe de alcançar alguma unanimidade. A pergunta inicial sobre a péssima impressão que o texto divulgou sobre a cidade não recebeu resposta satisfatória. Muitos dos presentes lançaram pesadas acusações contra o jornalista, acusando-o de difamação e de prática de jornalismo duvidoso, com intenção maldosa. Segundo alguns, ele lançou mão de argumentos preconceituosos para vir à cidade e montar o seu espetáculo “escandaloso”.
Segundo o jornalista, entretanto, o seu artigo é absolutamente fiel ao que ele e a atriz Viola Heess experimentaram naqueles dias em Kronberg. Caracterizados de sem-teto, os dois tentaram conseguir abrigo e comida em muitas residências na cidade, ao longo de toda uma semana. Segundo o seu relato, eles foram sistematicamente rejeitados.
O pastor local Hans-Joachim Hackel – presente ao debate, no salão lotado – havia demonstrado solidariedade, mas negara pernoite ao casal. Hackel defendeu-se que, depois de diversas experiências negativas, havia se tornado pessoalmente mais cauteloso com os pedintes à porta da sua comunidade. Nem sempre a ajuda tem motivado essas pessoas a mudar de vida, disse.
O jornalista, por seu turno, confessou que nem ele saberia dizer se daria abrigo em sua casa a um sem-teto. Mas que isso não deveria ser algo irreal para uma “instituição que se orgulha de sua solidariedade”, tascou. Mas o seu objetivo com a reportagem não era desnudar o caráter da igreja ou de quem quer que seja.
“Eu queria debater o nosso trato com a pobreza de modo geral”, explicou. Um estado que arrecada menos impostos dos ricos também tem menos programas sociais para ajudar essa gente, comparou, o que os torna cada vez mais dependentes de programas privados de auxílio, “feudalizando a ajuda”. Em sua opinião, programas privados de ajuda promovem uma “distribuição seletiva e arbitrária de recursos”, o que é menos possível em programas sociais do governo. “Sozinho ninguém pode resolver o problema da pobreza”, comparou o jornalista.
Alguns dos presentes concordaram com essa visão, complementando que é particularmente difícil ser pobre em uma região de gente abastada, como é Kronberg. Entretanto, nem todos concordaram. Especialmente pessoas mais idosas se revoltaram com a reputação negativa que o artigo espalhara sobre a cidade, ao estar cheio de meias verdades. Mas o jornalista Sussebach, em sua frase final, desafiou a todos: “Vocês devem refletir sobre o seu modo de agir do mesmo modo que eu sobre o meu”.
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