segunda-feira, 27 de julho de 2015

Obama mostra que a África existe

A respeitosa visita do presidente americano Barack Obama ao Quênia, terra de seus familiares, tem um significado que mal conseguimos avaliar aqui, do outro lado do Atlântico. Foi necessário que um descendente de quenianos, negro e herdeiro histórico da escravidão se tornasse presidente da mais poderosa nação do planeta para que se fizesse o gesto de perceber que a África existe. Obama mostrou que a África existe. E isso não é pouco, creiam!
A propósito de sua visita, recorto um trecho de um livro terrível, mas que apresenta a dramática conta da passagem do cristianismo pela humanidade. É um trechinho apenas, mas que mostra porque a África é o que é, ainda hoje, graças sobretudo a incursões em busca de escravos, realizadas com a Cruz de Cristo impressa nas bandeiras e esculpida no metal dos cabos das espadas:
“As contínuas incursões dos escravistas por quase trezentos anos destruíram a economia de vastas áreas da África, privando populações inteiras de sua melhor mão-de-obra, o que fez milhões de pessoas morrerem de fome, epidemias e exaustão. Era possível percorrer centenas de quilômetros em meio às ruínas do que um dia foram civilizações brilhantes e culturalmente evoluídas e não encontrar um único sobrevivente, apenas ossos que brilhavam sob o sol.”
(O Livro Negro do Cristianismo)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Início da era atômica completa 70 anos

Há 70 anos, no dia 16 de julho de 1945, às 5h29min45s, no campo de testes de foguetes White Sands em Jornada del Muerto, vale do Novo México, iniciava a era atômica. Exatamente neste momento explodia a primeira bomba atômica, que tinha o nome de “The Gadget” (foto). Poucas semanas depois, uma bomba semelhante explodia sobre Nagasaki. Sua explosão abriu uma cratera de três metros de profundidade e 730 metros de diâmetro. O epicentro da explosão transformou a areia num vidro verde radioativo. A explosão levantou um cogumelo atômico de doze quilômetros e a onda de choque podia ser sentida a 160 quilômetros de distância, cuja explosão pôde ser ouvida a 320 quilômetros de distância. Ainda hoje, 70 anos depois, a radioatividade no campo onde foi feito o teste é dez vezes acima do normal. O diretor do projeto, Dr. J. Robert Oppenheimer, usou uma frase de um antigo escrito hindu, para descrever o que viu: “Eu me tornei a própria morte, o destruidor dos mundos”. Pela primeira vez na história, a humanidade se tornava capaz de sua própria eliminação da face da Terra.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Sobre Igrejas que se calam

"Uma igreja que se pela de medo, evitando a qualquer custo aparecer à luz do dia como quem toma partido e que jamais se arisca a ser partidária, observe muito bem se não está irremediavelmente se comprometendo... com o diabo, todavia, que não conhece companheira melhor do que uma igreja que, em troca de preservar sua boa-fama e suas vestes limpinhas, permanece eternamente calada, eternamente meditativa, eternamente neutra; uma igreja que, por estar demais preocupada com a transcendência do Reino de Deus – na verdade, nem tão fácil de ser ameaçada –, transforma-se num cão que não late.

Karl Barth

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Quem separa o joio do trigo?

Jesus contou muitas parábolas fantásticas. Entre elas, há a parábola do joio e do trigo (Mateus 13.24-30), que conta sobre um homem que semeou boa semente, mas um inimigo encheu o seu campo de sementes de pragas. Os trabalhadores queriam arrancar as pragas ainda pequenas, mas o homem disse que eles iriam prejudicar também o trigo. "Quando tudo estiver maduro, os ceifeiros vão separar as pragas do trigo, juntar as pragas e queimá-las, mas o trigo juntarão no meu celeiro", disse ele.
Ainda hoje tem gente apressadinha, separando o que consideram praga do que julgam ser o trigo. No mundo, cristãos hostilizam muçulmanos e fundamentalistas islâmicos incendeiam igrejas e matam seus "inimigos". Estão fazendo isso aqui no Brasil, todos os dias, quebrando santos, atacando terreiros de umbanda, hostilizando cristãos de outras confissões e condenando minorias ao inferno. Consideram que o trigo cresce somente no seu campo, enquanto as pragas estão no outro lado da cerca e precisa ser arrancada. Alguns, ainda mais radicais, preferem usar veneno contra as pragas, aplicando-o até preventivamente.
Esta fantástica parábola de Jesus tem boas lições. A primeira delas é que o trigo e as pragas podem e devem crescer lado a lado. A segunda é que a separação acontecerá somente na colheita. A terceira é que a colheita será feita por especialistas (os ceifeiros), escolhidos pelo dono do campo. A quarta é que a nossa classificação sobre o que seja praga e o que seja trigo pode estar muito equivocada enquanto as plantinhas estiverem crescendo e, quase sempre, arrancamos plantinhas de trigo junto com as pragas. A quinta nos ensina que não somos nós que decidimos o que é praga e o que é trigo; nem temos conhecimento para saber o que é o que. Muitos pezinhos que agora nos parecem praga, podem ser belos pés de trigo quando maduros. Então... que tal guardar a foice no paiol e confiar no discernimento do dono do campo?
E mais... Eu desconfio que há trigo também do outro lado da cerca. Isso mesmo! Bem ali, no campo do vizinho, que olhamos e desdenhamos: "Quanto capim!".
Um pouco mais sobre isso, você pode ouvir neste belo culto dominical em Karlsruhe-Alemanha, no dia 5 de julho de 2015.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Profecia e realidade

Tenho uma admiração especial pelos profetas do Antigo Testamento. Segundo os teólogos, receberam uma missão especial de Deus, de alertar o povo desobediente sobre as consequências disso. É uma interpretação legítima, mas torna Deus uma espécie de vingador do futuro.

O que realmente admiro nesses profetas é a sua arguta capacidade de olhar para o momento histórico, para a realidade sócio-cultural e religiosa do povo em determinado momento e, com base nessa análise, puxar os registros e apontar as consequências. Eles eram os passageiros da história que, sem medo, puxavam o freio de mão. Como disse muito bem Dietrich Bonhoeffer, se atiravam nos raios da roda para parar a carroça. Muitos perderam a própria vida por isso, foram perseguidos e considerados traidores.

Longe de mim querer ser como os profetas bíblicos. Sou um reles cidadão assustado com o que está acontecendo. Mesmo assim, ouso profetizar. Faz parte da minha atribuição de anúncio e de denúncia. Quem mandou dizer "sim" ao ministério...

Eis minha profecia. Vejo com grande preocupação o que estão fazendo com o nosso país. Não veremos o apagar das luzes do século 21 sem lamentar profundamente no que terá sido transformado a nossa pátria. Não estarei lá para ver. Mesmo assim, segue o meu alerta.

Querem trazer de volta a lei do Talião, do "olho por olho, dente por dente". O Brasil  está a largos passos se transformando no que Gandhi tão sabiamente alertou: "Olho por olho, e acabaremos todos cegos". Em 2050 teremos uma nação de cegos e banguelas.

Teremos uma educação que se esmerará em criar machos dominantes e fêmeas submissas e que, sobretudo, usará de todos os meios para combater tudo o que se considera transgressão e perversão em matéria de sexualidade.

Teremos uma nação que tratará a juventude como potencialmente criminosa e a colocará atrás das grades. E o fará, sobretudo, com base numa equivocada ideologia de segurança, que reluta em confessar que falhou na educação dos jovens.

Teremos leitura da Bíblia e cultos evangélicos nos parlamentos, como forma de mostrar o quanto estamos próximos do deus que criamos à nossa própria imagem e semelhança, justificando plenamente nosso instinto corrupto e hipócrita, e nos autodenominando "do bem".

Teremos uma nação em que ideologias serão consideradas proscritas e expressões religiosas enquadradas como anátema. O passado histórico do catolicismo como religião de Estado será apenas a lembrança de tempos amenos, em que a intolerância religiosa era tratada com batismo e chibatadas no pelourinho. No Brasil da intolerância do século 21, essas coisas serão assunto de polícia, da justiça comum... e da turba raivosa com autorização para o linchamento.

Muitas outras coisas se pode prever, numa sociedade movida por ódio e intolerância religiosa e política. Mas eu fecho com um alerta: Não culpem Deus depois. Ao contrário do que dizem sobre ele, Deus não é um vingador do futuro. Os culpados seremos nós mesmos. Cito novamente Bonhoeffer: De nada adianta caminhar na direção contrária dentro de um trem em alta velocidade, porque isso não mudará a sua direção. Lembre-se dos raios... É preciso parar o trem.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...