sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Força aí, Greenpeace!


Na contramão da declaração da ONU de que os alertas de aquecimento global recrudesceram e que o assunto é sério “por culpa da humanidade”, o Kremlin força a barra contra os ativistas do Greenpeace. Eles foram presos e acusados de pirataria em plenas águas ainda geladas do ártico.

Não por muito tempo (as águas estão esquentando).

Por muito tempo (os russos querem uma pena absurda de 15 anos para os ativistas).

São 30 ativistas do Greenpeace, presos na cidade portuária de Murmansk, no norte de Rússia. Eles são de mais de dez nacionalidades, entre eles a brasileira Ana Paula Alminhana Maciel.

Eles foram presos em 17 de setembro na plataforma petrolífera Prirazlomnoye, no Ártico, explorada desde 2011 pelo conglomerado russo de energia Gazprom, onde explora reservas estimadas em 70 milhões de barris de petróleo.

O objetivo do grupo era impedir as perfurações, consideradas danosas ao frágil ecossistema local. Agentes da Guarda Costeira da Rússia responderam disparando para o ar, primeiramente com um canhão de bordo, em seguida com metralhadoras. Dois ativistas foram capturados quando tentavam escalar a plataforma a partir de uma lancha.

O que se viu em seguida parecia um filme de James Bond. Unidades especiais russas tomaram o quebra-gelo holandês Arctic Sunrise (foto), do Greenpeace, usando cabos para saltar de helicópteros sobre ele. O navio foi rebocado para Murmansk, na Península de Kola, e sua tripulação, presa e indiciada por “pirataria em quadrilha”.

O caso, a prisão, a acusação, tudo um absurdo. Afinal, pirataria é o que a humanidade faz com o planeta.

Ainda mais diante do novo relatório da ONU sobre as mudanças climáticas, que acusa as atividades humanas como causa dominante do aquecimento global desde 1950. Segundo o relatório, há um aquecimento “inequívoco” do clima. Os responsáveis pelo relatório compilaram provas físicas e pesquisas científicas para concluir que há 95% de culpa nos seres humanos pela mudança de temperatura.

Tudo isso contribui, entre outros, para o dramático derretimento das calotas polares e a elevação do nível global dos mares. Exatamente onde o Greenpeace está se manifestando com veemência e, como sempre, sofrendo duras represálias de quem, sem nenhum escrúpulo, continua impávido sua rota de destruição através do planeta. Força aí, Greenpeace!

Uma história sobre médicos cubanos no Brasil

Navegando no Pará: “Parece que estou sonhando”, diz Maribel, a médica cubana que vai enfrentar o pior IDH do Brasil

Escrito pelo repórter Dario de Negreiros, para o site viomundo
Maribéis chegam ao destino depois de uma longa viagem; Melgaço tem o pior IDH do Brasil
 por Dario de Negreiros*, especial para o Viomundo

Pergunta um melgacense às médicas cubanas recém-chegadas à cidade: “Dá pra notar que Melgaço tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil?”. Depois de um breve silêncio, uma delas afirma, como numa forma delicada de lhe responder sem mentir: “Eu nunca tinha visto uma casa de palafita, antes”.
Viemos todos na mesma embarcação – um grande navio de quatro andares que perfaz a rota Belém-Melgaço em cerca de 18 horas –, partindo da foz do rio Amazonas e descendo pelos encontros das águas marítima e fluvial que compõem o Arquipélago do Marajó.
“Quando vínhamos no barco para cá, eu falei: parece que estou sonhando, é como se fosse um filme!”, diz a médica Maribel Morera Saborit, 44. “Nunca imaginei que iria ver o que estava vendo: as casinhas de madeira à beira do rio, as crianças naqueles barquinhos pequenininhos…”.

De barco, crianças pedem esmola aos turistas

Quando nos aproximamos das estações hidroviárias, crianças em pequenas canoas remam até nós para pedir dinheiro, comida, balas ou o que quer que seja. Um deles, sem aparentar mais de 12 anos, olhando-me levava dois dedos à boca, como quem pede um cigarro. “Eu sei que há muita pobreza no mundo, mas não sabia que aqui havia gente vivendo nessas condições”, continua Saborit.
Na chegada, as médicas são recebidas pelo prefeito Adiel Moura (PP) e juntos caminhamos pela região central da cidade, que já se mostra consideravelmente mais pauperizada do que o município vizinho de Curralinho, minha parada anterior. E, lembremos: em 2010, Curralinho registrou o menor PIB per capita do Brasil.
Aqui em Melgaço, as casas, quase todas de madeira, sem porta nem janelas, têm muitas delas aspecto de abandonadas, muito embora bem se veja o movimento de seus moradores.
O pouco asfalto parece mais atrapalhar do que contribuir com o movimento constante das motos, tal seu estado; automóvel, dizem, há na cidade apenas meia dúzia.
Das ruas de terra levanta uma forte poeira, o que contribui para que sejam frequentes, nos períodos mais secos, os males relacionadas às vias respiratórias.
Quase não há iluminação pública.



Muitas das palafitas têm à sua frente pontes de madeira que fazem as vezes de calçada, entrecortadas por instalações precárias de energia elétrica. Por elas, equilibrando-se como se nada houvesse, vemos passar dezenas de crianças a caminho da escola.
À noite, é neste labirinto que tem de caminhar, na escuridão, quem por ali vive. No ano passado, dizem-me diversos moradores desta rua, um contato acidental com este emaranhado de fios de energia – alguns avançam sobre a ponte, obrigando o pedestre ao contorcionismo – matou uma criança eletrocutada.
“Eu tive a possibilidade de ver, na Venezuela, pobreza extrema”, conta a outra Maribel, a Herrera Hernandez. “Lá há as chamadas ‘invasões’, onde as casas são feitas de qualquer coisa: tábuas, papelão. E há os morros, que são como as favelas. Mas também nunca vi nada como isso.”
Vivendo com menos de R$ 140 por mês, 73% dos cerca de 25 mil habitantes de Melgaço podiam ser classificados como pobres em 2010, enquanto 44%, com renda mensal de R$ 70, eram considerados extremamente pobres.


Chicó, o curandeiro

“O remédio mais caro é a babosa com mel de abelha. Cura asma, bronquite, tuberculose, paralisia e câncer”, diz-me seu Chicó, 70, o curandeiro local. “Bom, depende do tipo de câncer”, pondera. “E tem que descascar a babosa, porque a casca é ácida, faz mal.”
Chicó é filho de Teodora – esta, dizem, uma das mais importantes curandeiras que ali existiram. Com ela, aprendeu a receita dos remédios caseiros que até hoje prepara em suas famosas “garrafadas”.
“Minha mãe foi farmacêutica caseira e, quando perdeu a visão, quem fazia os remédios era eu.” Parteira desde os 12 anos, Teodora, diz Chicó, tinha um dom: com sua oração, as mulheres pariam sem sentir dor.
Pergunto a Maria Lina Moraes, esposa de Chicó, se o dito é verdadeiro. “É verdade. Mas eu sou mãe de 16 filhos, então, quando eu achava que estava com o filho no bucho, já estava com o filho no braço.”
Maria Lina conta que seu irmão, o pedreiro Judeu Moraes, foi levado à curandeira Teodora quando despencou de um açaizeiro, caindo em cima do próprio braço. “Ela colocou uma compressa no braço dele, orou e, quando tirou, saiu um monte de pus e sangue. E ele sarou.”
Chicó ainda se lembra da receita: “Pega a minhoca, torra bem torradinha, mistura com farinha, coloca um pano e enrola no braço quebrado. Sara em quatro ou cinco dias.”


O hospital de Melgaço

Judeu Moraes representa bem a mudança de hábitos pela qual passaram os moradores da cidade nas últimas décadas. Pois foi no hospital, e não na casa de algum curandeiro, que o conheci.
Por coincidência, ele trazia em seus braços, justamente, um garoto que havia caído de um açaizeiro. “Eu não tomo esses remédios caseiros”, afirma o cunhado de Chicó.
“Essas coisas de curandeiro eram mais comuns antigamente”, explica Ricardo Fialho, coordenador-geral do movimento Marajó Forte. “Hoje em dia, quando alguém adoece, o povo leva logo para o hospital”.
Não há, atualmente, nenhum médico fixo na cidade. Dois dos três profissionais que aqui trabalham permanecem 15 dias e o outro, 10. Durante 25 dias, todos os meses, a cidade tem apenas um médico, que tenta se revezar em todos os serviços.
“Quando a gente fica sozinho, aqui, é uma loucura”, diz Anselmo Faria Alvarez, 63, em Melgaço desde janeiro.
Nestas ocasiões, Anselmo se divide entre as emergências do hospital, os atendimentos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e, ainda, as consultas aos pacientes do Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
A população, é claro, se queixa. “Falta médico. Você tem que chegar 1h da manhã pra ser atendido às 7h”, diz Lúcio Ferreira da Silva, 60, trabalhador rural.


Por falta de médicos, Ruth viaja com as crianças; aqui, o estoque de água para uso doméstico

“A criançada, eu nem levo mais aqui em Melgaço. Levo em médico particular, lá em Portel [cidade vizinha]”, conta a vendedora de açaí Ruth Leia Caldas, 37.
Diferente do que vimos em Curralinho, por aqui os funcionários dos postos de saúde e do hospital não reclamam da falta de materiais básicos, como luvas descartáveis, algodão e medicamentos essenciais.
Neste contexto, a chegada das duas cubanas deve provocar um impacto imediato: a partir de agora, os três médicos contratados pela cidade poderão se dedicar exclusivamente ao hospital, o que lhes permitirá reduzir as filas do ambulatório e passar a realizar cirurgias.
“Inicialmente, vamos passar a fazer pequenas cirurgias: cesarianas, hérnias, cirurgias na parte baixa do abdômen”, afirma Anselmo. “Além disso, a presença de médicos fixos na cidade é muito importante.”
Hoje, quem precisa deste tipo de cirurgia deve tomar a “ambulancha” para a cidade de Breves, numa viagem de pouco menos de uma hora. Isso se não for encaminhado para local ainda mais distante.
Se a cirurgia de Ilário Rocha da Silva, 58, pudesse esperar, provavelmente sua hérnia inguinal teria sido operada em Melgaço.
O mesmo talvez se passasse com Sebastião Santos Medeiros, 69, nascido e criado na zona rural de Melgaço, mas que para fazer uma cirurgia de próstata teve de viajar até Macapá. “A viagem foi muito cansativa porque, ainda por cima, colocaram uma sonda em mim”, relata.


Dr. Anselmo: Dois empregos como médico itinerante

O médico Anselmo não faz segredo sobre o motivo que o trouxe para cá: em Belém, trabalhando contratado pelo governo do Estado, recebia mensalmente cerca de R$ 3 mil por 40 horas semanais.
Trabalhando 15 dias em Melgaço e outros 15 em Gurupá, também na região do Arquipélago do Marajó, multiplica esse salário por dez.
Sendo tais os valores de mercado para esta mão-de-obra na região, ficam os municípios pobres impossibilitados de ampliar o número de médicos com seus próprios orçamentos.
Em julho deste ano, os repasses federais e estaduais recebidos por Melgaço somaram, segundo a secretaria de saúde, R$ 250 mil, valor ao qual se pode acrescentar os cerca de R$ 100 mil de contrapartida do município.
Somados todos os encargos, o custo total de contratação de um médico chega perto dos R$ 36 mil. Ou seja: mesmo que, hipoteticamente, a cidade pudesse gastar toda a verba disponível para saúde apenas com a contratação de médicos, não conseguiria bancar nem dez profissionais.
Para alcançar a ainda baixa média brasileira, de 1,8 médico por mil habitantes, Melgaço teria de contar com 45. Já para se equiparar às médias de países como Itália, Alemanha, Portugal e Espanha, que possuem entre 3,5 e 4 médicos por habitante, seriam necessários entre 88 e 100.


Rebatizadas, Mari e Bel ocupam vagas de médicos brasileiros que não quiseram vir

Além das duas cubanas recém-chegadas, Melgaço ainda pretende receber mais três profissionais nas próximas fases do Mais Médicos.
A intenção é ter quatro médicos trabalhando em equipes de saúde da família e um exclusivamente no Caps. “Vai desafogar bastante o hospital”, comemora com antecipação Ivonete Silva, atual diretora da casa.
Segundo a secretária de saúde de Melgaço, Ângela Iketani, a cidade já havia tentado conseguir médicos pelo Provab (Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica), que oferece aos que se disponibilizam para trabalhar fora dos grandes centros urbanos bolsas de R$ 10 mil mensais e 10% de bonificação em exames de residência.
“Nós nos habilitamos, mas não recebemos nenhum profissional: nem enfermeiro, nem odontólogo, nem médicos”, diz.
Depois, na primeira fase do Mais Médicos, aberta apenas aos brasileiros, mais uma vez não houve ninguém que se habilitasse a vir para cá.

As médicas cubanas e o prefeito

Maribel Herrera Hernandez e Maribel Morera Saborit estão na cidade desde a manhã de sábado e já tiveram, no dia da chegada, a homonímia desfeita. “Você é a Mari”, batiza a secretária de assistência social, Socorro Reis, olhando para Saborit. “E você”, diz, apontando Hernandez, “é a Bel. Tem mais cara de Bel”.
Mari e Bel estão instaladas no centro da cidade, onde ocupam um pequeno apartamento com copa-cozinha, um banheiro e dois quartos com ar-condicionado – item essencial na região.
O espaço faz parte de um corredor de apartamentos térreos: logo ao lado moram as secretárias de saúde e assistência social e, em quartos menores, hospedam-se viajantes eventuais.
Paparicadas todo o tempo por prefeito, secretários e funcionários, elas ainda não parecem completamente à vontade – como é de se esperar de quem chega a um lugar completamente desconhecido.
Vejo-as mais soltas, pela primeira vez, durante um churrasco de domingo. O motivo, creio, é menos a cerveja do que o assunto: a revolução cubana.


Socorro rebatizou as cubanas

Maribel, a Mari, é mais falante, extrovertida, expansiva. Mas, quando se trata deste assunto, mesmo Maribel, a Bel, não se contém: “Dario, vou falar em espanhol, traduza para eles, por favor. Não há ditadura, em Cuba. Se Fidel permaneceu tanto tempo no poder, foi porque quisemos, porque votamos nele”, assegura.
“Antes da revolução, era muito pior”, concorda Mari. “Hoje todas as pessoas têm saúde gratuita e de qualidade, todos têm acesso a ensino de qualidade.”
Concedo-me um aparte, saindo por um momento do papel de tradutor e mediador da discussão, no momento em que se debate religião.
Se as conquistas sociais são inquestionáveis e trazem ganhos de liberdade coletiva, digo direcionando-me aos críticos, tampouco se pode negar a existência de restrições de liberdade individual, pondero com elas.
“Realmente, havia restrições de liberdade religiosa”, concedem. “Mas isso foi, principalmente, no início [da revolução]. Hoje, já melhorou bastante”, respondem-me juntas, intercalando-se.
Enfim, para além de qualquer dúvida, resta a gana com que ambas defendem e exaltam seu país. Nisto incluso, evidente, o sistema de saúde cubano.
Em Cuba, contam, um especialista em medicina da família – ou, como lá se diz, em medicina general integral– costuma viver no mesmo lugar em que clinica. “No térreo, faz-se as consultas, no andar de cima vive o médico e, acima, a enfermeira”, diz Mari.
“Esse consultório, por sua vez, está ligado a uma policlínica, que tem laboratório, pronto-atendimento, raio-X, vacinação, oftalmologia, endoscopia, ultrassom etc. Isso compõe a atenção primária: uma policlínica e vários consultórios médicos.”
“As pessoas têm tudo isso perto delas. E um médico que trabalha no consultório faz plantão na policlínica”, diz Bel.
Isso significaria, então, que em Cuba um médico da família realiza procedimentos que, no Brasil, são reservados a especialistas?
“Sim. Lá, nós tratamos as patologias próprias de especialidades, como oftalmologia, cardiologia, ginecologia. Falamos com um especialista só quando temos alguma dúvida”, confirma Bel. E Mari acrescenta: “Aqui, muitas vezes vamos nos sentir de mãos atadas”.
Em Melgaço, estará no trabalho preventivo o foco de suas atuações. “Aqui, o maior esforço será o de promoção de saúde: mudar hábitos, mudar ideias”, diz Bel.
“Nós temos de construir formas de atuação sobre estes problemas para obter resultados. Sabemos, por exemplo, que aqui as pessoas são muito religiosas. Então, eu já disse: nós vamos falar com os pastores”, afirma Mari. “Nós temos de encontrar essas brechas, descobrir por onde podemos nos colocar.”
Conversando com duas mães que, voluntariamente, deixaram suas casas parar morar em uma cidade tão pobre e tão distante, é inevitável que questionemos a dimensão da recompensa financeira que será obtida a partir deste trabalho. Por um lado, a recompensa é relevante, dizem-me; mas, por outro, elas garantem que o salário que recebem em Cuba lhes é plenamente satisfatório.
“O salário básico de um médico, em Cuba, é de 573 pesos cubanos (aproximadamente R$ 53). Depois, se você tem mestrado, categoria docente etc., vai subindo”, explica.
“Quando o convertemos em dólares (US$ 24), talvez seja muito pouco – ou pensem vocês que é muito pouco. Mas, para nós, supre todas as nossas necessidades, especialmente se considerarmos como são os preços em Cuba.”


Para tratar a água, Melgaço depende do governo federal

Melgaço já teve aprovados pelo Ministério da Saúde outros dois pleitos relevantes: a construção de mais três UBSs, no valor de R$ 408 mil cada, e a concessão da verba para construção de uma Unidade Básica Fluvial, com custo de R$ 1,6 milhão.
É a respeito das estratégias de captação de novos recursos, capazes de manter funcionando os equipamentos de saúde vindouros, que converso com o prefeito Adiel Moura.
“Nós temos uma horta da prefeitura, que está à disposição de algumas famílias, e temos outros agricultores fazendo abacaxi, maracujá”, conta. “Também tem um pessoal que tá criando peixe. É a prefeitura que entra com toda a infraestrutura, dá os insumos etc.”


Aldrin e os tambaquis: fartura

Para quem visita a horta, as plantações e os tanques de peixe, fica claro se tratar de um trabalho incipiente. Com seus 30 mil tambaquis espalhados por sete tanques, os ganhos do piscicultor da cidade, Aldrin de Souza, oscila, segundo ele, entre R$ 10 mil e R$ 20 mil anuais.
Melgaço tem uma renda per capita de R$135, o que corresponde a apenas 17% da média nacional, de R$ 793,87. Ainda que, individualmente, a renda de Aldrin esteja muito acima da média de seus conterrâneos, ela é evidentemente incapaz de aumentar significativamente a arrecadação do município.
A gestão atual da prefeitura, apesar de já estar em seu segundo mandato, quando questionada sobre alguns dos maiores problemas da cidade tem pouco mais a mostrar do que meros projetos.
Não há, em Melgaço, qualquer tipo de tratamento da água utilizada. Sobre isso, diz o prefeito Adiel, há um projeto, com verba federal, cujas obras têm o início previsto para novembro.
Banheiros com fossas sépticas são, por ali, raridade. Nos seus quase cinco anos de gestão, a prefeitura construiu pouco mais de trinta, numa média de apenas seis banheiros por ano. Detalhe: sequer as fossas foram feitas.
“É muito pouco”, confessa Adiel, que diz pretender chegar à marca de 66 banheiros construídos, com as fossas devidamente instaladas.
Sobre o asfaltamento das ruas de terra, atualmente uma das maiores responsáveis pela poeira causadora de problemas respiratórios, o prefeito afirma que o governo paraense “está sinalizando” com a construção de 3 km de vias asfaltadas. “Mas isso demora a acontecer, né? E é pouco, é pouco.”
Enquanto tais projetos não se concretizam, o programa social mais relevante para Melgaço, sem sombra de dúvidas, é o Bolsa Família.
Segundo a secretária de assistência-social, Socorro Reis, mais de 21 mil dos 25 mil habitantes da cidade já recebem o benefício. “Com o Bolsa Família, o dinheiro começou a circular no município”, diz. “O impacto? O impacto… Deus te livre! É visível. Os comércios cresceram, foi abrindo de tudo: loja de roupa, loja de tudo o que você possa imaginar.”
Apesar da morosidade da administração municipal, nos últimos três anos aconteceram alguns avanços relevantes.
Em 2010 – quando foram colhidos os dados que deram a Melgaço a última colocação no ranking de IDHM brasileiro –, a mortalidade infantil era de 22,4 a cada mil crianças nascidas, 34% maior do que no resto do país. Em 2011, foi reduzida para 18,63 e, em 2012, para 15,52 – 7% a menos do que a média nacional.
Assim como em Curralinho, onde não encontramos qualquer empresa instalada, a prefeitura de Melgaço é também a única empregadora da cidade.
“A gente briga há muito tempo para aumentar o valor dos repasses do governo federal”, diz Ângela, a secretária de saúde. “Mas não adianta vivermos só de repasses. O município tem de ter uma estratégia de arrecadação própria.”
Além das cubanas Mari e Bel, Melgaço terá quatro unidades de saúde a mais – incluindo a unidade fluvial – e tem, ainda, a perspectiva de receber outros três médicos.
Se hoje é só com muito esforço que a prefeitura consegue suprir a demanda existente por materiais essenciais e medicamentos, a ampliação da rede exigirá, obrigatoriamente, o aumento da receita. Sob o risco de ver desperdiçados os investimentos e o baixíssimo índice de desenvolvimento humano, perpetuado.


Mari brinca com um futuro paciente. Foco no trabalho preventivo faz sentido: água consumida em Melgaço não tem tratamento

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A régua que mede o rio e Albert Einstein



Blumenau, a cidade das polêmicas inúteis (Valther Ostermann), achou mais um motivo para discussão. Há duas réguas que medem o nível do rio Itajaí-Açu durante as enchentes, uma instalada na ponte de ferro (foto) e a outra, do Centro de Operações do Sistema de Alerta-CEOPS. Pois não é que as duas deram medidas diferentes do nível do rio? Foram centímetros, mas a polêmica está instalada.

Isso traz à minha memória uma frase que o físico Albert Einstein usava para explicar sua Lei da Relatividade Geral: "Um homem que tem um relógio, sabe que horas são. Se ele tem dois relógios, já não tem certeza!".

Como ter certeza sobre o nível do rio Itajaí-Açu, se Blumenau tem duas réguas? Durma-se com um barulho desses!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Restauração para fins nobres




O pessoal da Igreja de Luz, junto com o presidente da igreja Dr. Volker Jung (na porta do motorista), ao lado do Mercedes restaurado. Foto: Igreja Evangélica de Hessen e Nassau

Uma pequena joia da restauração automobilística, este Mercedes Benz Ponton 180 Db de 1960, está exposto na Feira Internacional do Automóvel em Frankfurt, na Alemanha. 

O carro foi completamente restaurado por um grupo de juventude evangélica da cidade alemã de Giessen, ligados à Igreja Evangélica de Hessen e Nassau. Os jovens trabalharam no carro por quatro anos, sob a coordenação do pastor de jovens Ulrich Berck, do Decanato de Giessen.

 Foi um trabalho duro, que exigiu persistência e dedicação extremas, e só foi possível com a ajuda de profissionais da restauração da região de Giessen. O Mercedes restaurado pelos jovens será leiloado durante a feira, com lance inicial de 10 mil euros. O dinheiro arrecadado com o leilão será doado pela IEHN à sua igreja parceira no norte da Índia.

O carro está exposto na feira em Frankfurt ao lado da igreja de luz, um templo de madeira e acrílico premiado por sua arquitetura e que pode ser montado em feiras como espaço de reflexão. Na feira, o templo  está sendo espaço para meditação e reflexão sobre o tema “Igreja e Mobilidade”. 

Eis o filme que conta a história da restauração do Mercedes pelo grupo de jovens, com relato do pastor Ulrich Berck:

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Notório saber jurídico?

O Ministro Celso de Mello (foto) vai desempatar o jogo? Eu penso que a situação de empate em que o STF se meteu, nessa história cheia de furos jurídicos, já deixa muito claro que os grandes derrotados da AP 470 somos todos nós, os brasileiros e as brasileiras. 

Esse empate mostra que nossos juízes estão mais para árbitros de futebol do que para juristas. Um tribunal não é um jogo de futebol, em que, em caso de prorrogação empatada, se vai para os pênaltis. 

Cada um/a daqueles/as juízes/as sentados pomposamente naquele tribunal máximo da nossa nação, estão lá por um critério elevadíssimo na teoria, mas que não se confirma na prática: notório saber jurídico. Tenho como evidente que isso não seja assim na atual composição da corte suprema da nação... 

Essa dúvida escandalosa no STF deve ser "pró réu" (a favor do réu), o que é totalmente justo desde que existem tribunais. Esse princípio foi adotado até mesmo pelos tribunais da inquisição. 

Temo que estejamos assistindo ao escandaloso declínio do "notório saber jurídico" na nossa corte máxima, e isso pode nos atingir a todos, mais cedo ou mais tarde.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Inauguração do Centro Ambiental Jardim das Florestas




Centro Ambiental Jardim das Florestas, da APREMAVI, inaugurado em 14.09.2013

Depois daquela notícia aviltante, que estampou a capa do Jornal de Santa Catarina nos primeiros dias de agosto, mostrando Wigold Schaeffer lutando pela vida – a dos animais da floresta e a sua! – com um caçador que lhe apontava um rifle, nada podia ser mais compensador. A maravilhosa festa de inauguração do Centro Ambiental Jardim das Florestas, em Atalanta, no sábado 14 de setembro, foi emocionante. E eu pude testemunhar emocionado.Foi um privilégio ainda maior estar ali como IECLB e, especialmente, como representante do Programa Ambiental Galo Verde.

Wigold Schaeffer, Miriam Prochnow, Marina Silva e Edegold Schaeffer.

Os irmãos Edegold e Wigold Schaeffer, Miriam Prochnow e toda a militante equipe da APREMAVI realizaram um trabalho gigantesco e brilhante. Como diz o também ambientalista e amigo Nelcio Lindner, são pessoas iluminadas, pois Edegold é “ Ouro Nobre” (Edel Gold), e Wigold é “Como o ouro” (Wie Gold).

Acrescento eu que Miriam deve entrar nesta lista de nobreza, pois seu nome homenageia uma das mulheres mais importantes do antigo testamento. Ela foi a irmã mais velha de Moisés, a quem o patriarca deve a vida e a educação na própria corte de faraó. Foi Miriam que colocou Moisés ainda bebê no cesto de vime e, confiando em Javé, o soltou rio Nilo abaixo, até que fosse pescado pela filha de faraó, adotado por ela e criado dentro do palácio, preparando-o para ser o libertador do povo de Israel. Corajosa, persuasiva e bondosa, Miriam foi a líder das mulheres que tiveram um papel fundamental em manter a sobrevivência do povo de Israel no Egito. Segundo a tradição judaica, “foi por mérito das mulheres que nossos pais foram redimidos do Egito”. Foram elas que, com coragem, sabedoria e fé em Deus, ajudaram a manter alta a moral de seus maridos, mesmo nos momentos mais difíceis.

Miriam Prochnow, a profetisa da APREMAVI, não suportou o jugo ao qual a floresta vinha sendo submetida e lançou no rio do futuro o cesto da preservação, que cresceu e abriu o mar de indiferença e morte, para tornar a preservação ambiental  um programa de envergadura e reconhecimento.

A Associação de Preservação das Matas do Alto Vale do Itajaí surgiu como um trabalho de formiguinha. Num persistente carreiro em defesa das florestas, foi aglutinando resultados, e semeando uma ideia, que foi se transformando numa ação profética, ousada e gigante. Sim, foi nobre como o ouro e profética como o gesto de Miriam no Nilo, salvando a vida do libertador do povo de Israel. Agora vem o reconhecimento merecido, não só da comunidade do entorno, mas de nomes tão gigantes como o de Marina Silva, que esteve também na festa.

Ao lado de Marina Silva, como admirador de sua trajetória desde os tempos de Chico Mendes

Marina não estava ali como senadora, como política. Ela estava em Atalanta como Ambientalista com “A” maiúsculo. Citou Chico Mendes e lembrou sua pioneira trajetória em defesa da floresta. E ninguém mais do que Marina sabe da luta de Chico. Ela é a própria continuidade desta luta, pois cresceu na sua sombra e, tal qual uma pequena semente na mata, tornou-se árvore frondosa, que produz muito fruto.

Em suma, foi um privilégio assistir a tudo isto. Foi um privilégio maior ainda abençoar esta emocionante trajetória da APREMAVI e estar ali como igreja, não apenas como IECLB, mas como entidade ecumênica, que acompanha com olhos de bênção, há décadas, todo este trabalho de formiguinha de todos os dourados e as proféticas ambientalistas.

 Momento da bênção, na inauguração do Centro Ambiental Jardim das Florestas.

Eis as palavras que proferi no momento da bênção à inauguração do Centro Ambiental Jardim das Florestas:
Não consigo imaginar texto melhor da Bíblia para registrar este momento, do que o primeiro versículo do Salmo 24: “Ao Senhor Deus pertencem o mundo e tudo o que nele existe; a terra e todos os seres vivos que nela vivem são dele.”

A principal característica dos movimentos e das pessoas que cuidam da natureza é esta fundamental percepção do autor do Salmo 24. A Natureza não é propriedade da espécie humana! A natureza é de todas as criaturas. E essa clareza também acompanha quem nem aceita a existência de um criador supremo. A natureza não é nossa propriedade! Para os que creem em Deus, ela pertence àquele que criou todas as coisas, não importa que nome damos a ele. A criação é do Criador, e não cabe a nenhuma criatura autoproclamar-se mais importante que as demais, acima ou superior às demais.

O Centro Ambiental Jardim das Florestas, que ora inauguramos, será um poderoso instrumento de conscientização, no sentido de alterar a visão predatória da nossa sociedade sobre os recursos naturais. Construído com o apoio de mais de 60 empresas e pessoas físicas de várias regiões do estado, este Centro já nasce sob o signo da preservação aqui tão largamente realizada pela APREMAVI. Todos os recursos investidos na obra foram captados em forma de permuta, que transformaram cada nota de cinco reais de apoio recebido (material ou dinheiro), em uma muda de árvore como contrapartida. Ou seja, este projeto foi viabilizado com o pensamento voltado para o meio ambiente já durante a sua execução, contribuindo para o plantio de milhares de árvores nativas.

Cada doação foi transformada numa pequena parceria em prol da preservação da natureza, num importante gesto concreto, de testemunho real, de que juntos podemos alterar a odiosa e falsa interpretação de que nós somos os proprietários da terra, dos recursos da terra, dos seres vivos da terra... Essas pequenas parcerias transformaram milhares de pessoas em mordomos, em despenseiros de Deus.

Todos e todas vocês aqui da APREMAVI são como o autor do Salmo 24. Vocês são testemunhas de que a natureza não é uma mina, mas uma dádiva divina a todas as criaturas vivas. E vocês são como sacerdotes, como profetas de Deus, que literalmente dão a vida para que esta maravilhosa obra criadora do nosso Deus seja preservada para as futuras gerações.

E cada um, cada uma de nós aqui presentes neste momento, no lugar em que está e onde atua, é chamado a se envolver nesta parceria pela preservação da criação.

O objetivo deste Centro Ambiental Jardim das Florestas será atender o programa de estágio da APREMAVI, mas também será utilizado para oferecer cursos na área ambiental em parceria com universidades, instituições de ensino e outras entidades. Este espaço também será disponibilizado para a comunidade e as empresas parceiras realizarem cursos e treinamentos para funcionários e colaboradores.

Em suma, o espaço que ora estamos inaugurando será um instrumento muito eficiente para a construção de uma grande rede de pessoas e entidades que envolvem a Criação de Deus num grande abraço, cujo principal recado é este, do Salmo 24: “Ao Senhor Deus pertencem o mundo e tudo o que nele existe; a terra e todos os seres vivos que nela vivem são dele.” Amém!

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...