Navegando no Pará: “Parece que estou sonhando”, diz Maribel, a médica cubana que vai enfrentar o pior IDH do Brasil
Escrito pelo repórter Dario de Negreiros, para o site
viomundo
Maribéis chegam ao destino depois de uma longa viagem; Melgaço tem o pior IDH do Brasil
por Dario de Negreiros*, especial para o Viomundo
Pergunta um melgacense às médicas cubanas recém-chegadas à cidade:
“Dá pra notar que Melgaço tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) do Brasil?”. Depois de um breve silêncio, uma delas
afirma, como numa forma delicada de lhe responder sem mentir: “Eu nunca
tinha visto uma casa de palafita, antes”.
Viemos todos na mesma embarcação – um grande navio de quatro andares
que perfaz a rota Belém-Melgaço em cerca de 18 horas –, partindo da foz
do rio Amazonas e descendo pelos encontros das águas marítima e fluvial
que compõem o Arquipélago do Marajó.
“Quando vínhamos no barco para cá, eu falei: parece que estou
sonhando, é como se fosse um filme!”, diz a médica Maribel Morera
Saborit, 44. “Nunca imaginei que iria ver o que estava vendo: as
casinhas de madeira à beira do rio, as crianças naqueles barquinhos
pequenininhos…”.
De barco, crianças pedem esmola aos turistas
Quando nos aproximamos das estações hidroviárias, crianças em
pequenas canoas remam até nós para pedir dinheiro, comida, balas ou o
que quer que seja. Um deles, sem aparentar mais de 12 anos, olhando-me
levava dois dedos à boca, como quem pede um cigarro. “Eu sei que há
muita pobreza no mundo, mas não sabia que aqui havia gente vivendo
nessas condições”, continua Saborit.
Na chegada, as médicas são recebidas pelo prefeito Adiel Moura (PP) e
juntos caminhamos pela região central da cidade, que já se mostra
consideravelmente mais pauperizada do que o município vizinho de
Curralinho, minha parada anterior. E, lembremos: em 2010, Curralinho
registrou o menor PIB per capita do Brasil.
Aqui em Melgaço, as casas, quase todas de madeira, sem porta nem
janelas, têm muitas delas aspecto de abandonadas, muito embora bem se
veja o movimento de seus moradores.
O pouco asfalto parece mais atrapalhar do que contribuir com o
movimento constante das motos, tal seu estado; automóvel, dizem, há na
cidade apenas meia dúzia.
Das ruas de terra levanta uma forte poeira, o que contribui para que
sejam frequentes, nos períodos mais secos, os males relacionadas às vias
respiratórias.
Quase não há iluminação pública.
Muitas das palafitas têm à sua frente pontes de madeira que fazem as
vezes de calçada, entrecortadas por instalações precárias de energia
elétrica. Por elas, equilibrando-se como se nada houvesse, vemos passar
dezenas de crianças a caminho da escola.
À noite, é neste labirinto que tem de caminhar, na escuridão, quem
por ali vive. No ano passado, dizem-me diversos moradores desta rua, um
contato acidental com este emaranhado de fios de energia – alguns
avançam sobre a ponte, obrigando o pedestre ao contorcionismo – matou
uma criança eletrocutada.
“Eu tive a possibilidade de ver, na Venezuela, pobreza extrema”,
conta a outra Maribel, a Herrera Hernandez. “Lá há as chamadas
‘invasões’, onde as casas são feitas de qualquer coisa: tábuas, papelão.
E há os morros, que são como as favelas. Mas também nunca vi nada como
isso.”
Vivendo com menos de R$ 140 por mês, 73% dos cerca de 25 mil
habitantes de Melgaço podiam ser classificados como pobres em 2010,
enquanto 44%, com renda mensal de R$ 70, eram considerados extremamente
pobres.
Chicó, o curandeiro
“O remédio mais caro é a babosa com mel de abelha. Cura asma,
bronquite, tuberculose, paralisia e câncer”, diz-me seu Chicó, 70, o
curandeiro local. “Bom, depende do tipo de câncer”, pondera. “E tem que
descascar a babosa, porque a casca é ácida, faz mal.”
Chicó é filho de Teodora – esta, dizem, uma das mais importantes
curandeiras que ali existiram. Com ela, aprendeu a receita dos remédios
caseiros que até hoje prepara em suas famosas “garrafadas”.
“Minha mãe foi farmacêutica caseira e, quando perdeu a visão, quem
fazia os remédios era eu.” Parteira desde os 12 anos, Teodora, diz
Chicó, tinha um dom: com sua oração, as mulheres pariam sem sentir dor.
Pergunto a Maria Lina Moraes, esposa de Chicó, se o dito é
verdadeiro. “É verdade. Mas eu sou mãe de 16 filhos, então, quando eu
achava que estava com o filho no bucho, já estava com o filho no braço.”
Maria Lina conta que seu irmão, o pedreiro Judeu Moraes, foi levado à
curandeira Teodora quando despencou de um açaizeiro, caindo em cima do
próprio braço. “Ela colocou uma compressa no braço dele, orou e, quando
tirou, saiu um monte de pus e sangue. E ele sarou.”
Chicó ainda se lembra da receita: “Pega a minhoca, torra bem
torradinha, mistura com farinha, coloca um pano e enrola no braço
quebrado. Sara em quatro ou cinco dias.”
O hospital de Melgaço
Judeu Moraes representa bem a mudança de hábitos pela qual passaram
os moradores da cidade nas últimas décadas. Pois foi no hospital, e não
na casa de algum curandeiro, que o conheci.
Por coincidência, ele trazia em seus braços, justamente, um garoto
que havia caído de um açaizeiro. “Eu não tomo esses remédios caseiros”,
afirma o cunhado de Chicó.
“Essas coisas de curandeiro eram mais comuns antigamente”, explica
Ricardo Fialho, coordenador-geral do movimento Marajó Forte. “Hoje em
dia, quando alguém adoece, o povo leva logo para o hospital”.
Não há, atualmente, nenhum médico fixo na cidade. Dois dos três
profissionais que aqui trabalham permanecem 15 dias e o outro, 10.
Durante 25 dias, todos os meses, a cidade tem apenas um médico, que
tenta se revezar em todos os serviços.
“Quando a gente fica sozinho, aqui, é uma loucura”, diz Anselmo Faria Alvarez, 63, em Melgaço desde janeiro.
Nestas ocasiões, Anselmo se divide entre as emergências do hospital,
os atendimentos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e, ainda, as
consultas aos pacientes do Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
A população, é claro, se queixa. “Falta médico. Você tem que chegar
1h da manhã pra ser atendido às 7h”, diz Lúcio Ferreira da Silva, 60,
trabalhador rural.
Por falta de médicos, Ruth viaja com as crianças; aqui, o estoque de água para uso doméstico
“A criançada, eu nem levo mais aqui em Melgaço. Levo em médico
particular, lá em Portel [cidade vizinha]”, conta a vendedora de açaí
Ruth Leia Caldas, 37.
Diferente do que vimos em Curralinho, por aqui os funcionários dos
postos de saúde e do hospital não reclamam da falta de materiais
básicos, como luvas descartáveis, algodão e medicamentos essenciais.
Neste contexto, a chegada das duas cubanas deve provocar um impacto
imediato: a partir de agora, os três médicos contratados pela cidade
poderão se dedicar exclusivamente ao hospital, o que lhes permitirá
reduzir as filas do ambulatório e passar a realizar cirurgias.
“Inicialmente, vamos passar a fazer pequenas cirurgias: cesarianas,
hérnias, cirurgias na parte baixa do abdômen”, afirma Anselmo. “Além
disso, a presença de médicos fixos na cidade é muito importante.”
Hoje, quem precisa deste tipo de cirurgia deve tomar a “ambulancha”
para a cidade de Breves, numa viagem de pouco menos de uma hora. Isso se
não for encaminhado para local ainda mais distante.
Se a cirurgia de Ilário Rocha da Silva, 58, pudesse esperar, provavelmente sua hérnia inguinal teria sido operada em Melgaço.
O mesmo talvez se passasse com Sebastião Santos Medeiros, 69, nascido
e criado na zona rural de Melgaço, mas que para fazer uma cirurgia de
próstata teve de viajar até Macapá. “A viagem foi muito cansativa
porque, ainda por cima, colocaram uma sonda em mim”, relata.
Dr. Anselmo: Dois empregos como médico itinerante
O médico Anselmo não faz segredo sobre o motivo que o trouxe para cá:
em Belém, trabalhando contratado pelo governo do Estado, recebia
mensalmente cerca de R$ 3 mil por 40 horas semanais.
Trabalhando 15 dias em Melgaço e outros 15 em Gurupá, também na
região do Arquipélago do Marajó, multiplica esse salário por dez.
Sendo tais os valores de mercado para esta mão-de-obra na região,
ficam os municípios pobres impossibilitados de ampliar o número de
médicos com seus próprios orçamentos.
Em julho deste ano, os repasses federais e estaduais recebidos por
Melgaço somaram, segundo a secretaria de saúde, R$ 250 mil, valor ao
qual se pode acrescentar os cerca de R$ 100 mil de contrapartida do
município.
Somados todos os encargos, o custo total de contratação de um médico
chega perto dos R$ 36 mil. Ou seja: mesmo que, hipoteticamente, a cidade
pudesse gastar toda a verba disponível para saúde apenas com a
contratação de médicos, não conseguiria bancar nem dez profissionais.
Para alcançar a ainda baixa média brasileira, de 1,8 médico por mil
habitantes, Melgaço teria de contar com 45. Já para se equiparar às
médias de países como Itália, Alemanha, Portugal e Espanha, que possuem
entre 3,5 e 4 médicos por habitante, seriam necessários entre 88 e 100.
Rebatizadas, Mari e Bel ocupam vagas de médicos brasileiros que não quiseram vir
Além das duas cubanas recém-chegadas, Melgaço ainda pretende receber mais três profissionais nas próximas fases do Mais Médicos.
A intenção é ter quatro médicos trabalhando em equipes de saúde da
família e um exclusivamente no Caps. “Vai desafogar bastante o
hospital”, comemora com antecipação Ivonete Silva, atual diretora da
casa.
Segundo a secretária de saúde de Melgaço, Ângela Iketani, a cidade já
havia tentado conseguir médicos pelo Provab (Programa de Valorização do
Profissional da Atenção Básica), que oferece aos que se disponibilizam
para trabalhar fora dos grandes centros urbanos bolsas de R$ 10 mil
mensais e 10% de bonificação em exames de residência.
“Nós nos habilitamos, mas não recebemos nenhum profissional: nem enfermeiro, nem odontólogo, nem médicos”, diz.
Depois, na primeira fase do Mais Médicos, aberta apenas aos
brasileiros, mais uma vez não houve ninguém que se habilitasse a vir
para cá.
As médicas cubanas e o prefeito
Maribel Herrera Hernandez e Maribel Morera Saborit estão na cidade
desde a manhã de sábado e já tiveram, no dia da chegada, a homonímia
desfeita. “Você é a Mari”, batiza a secretária de assistência social,
Socorro Reis, olhando para Saborit. “E você”, diz, apontando Hernandez,
“é a Bel. Tem mais cara de Bel”.
Mari e Bel estão instaladas no centro da cidade, onde ocupam um
pequeno apartamento com copa-cozinha, um banheiro e dois quartos com
ar-condicionado – item essencial na região.
O espaço faz parte de um corredor de apartamentos térreos: logo ao
lado moram as secretárias de saúde e assistência social e, em quartos
menores, hospedam-se viajantes eventuais.
Paparicadas todo o tempo por prefeito, secretários e funcionários,
elas ainda não parecem completamente à vontade – como é de se esperar de
quem chega a um lugar completamente desconhecido.
Vejo-as mais soltas, pela primeira vez, durante um churrasco de
domingo. O motivo, creio, é menos a cerveja do que o assunto: a
revolução cubana.
Socorro rebatizou as cubanas
Maribel, a Mari, é mais falante, extrovertida, expansiva. Mas, quando
se trata deste assunto, mesmo Maribel, a Bel, não se contém: “Dario,
vou falar em espanhol, traduza para eles, por favor. Não há ditadura, em
Cuba. Se Fidel permaneceu tanto tempo no poder, foi porque quisemos,
porque votamos nele”, assegura.
“Antes da revolução, era muito pior”, concorda Mari. “Hoje todas as
pessoas têm saúde gratuita e de qualidade, todos têm acesso a ensino de
qualidade.”
Concedo-me um aparte, saindo por um momento do papel de tradutor e mediador da discussão, no momento em que se debate religião.
Se as conquistas sociais são inquestionáveis e trazem ganhos de
liberdade coletiva, digo direcionando-me aos críticos, tampouco se pode
negar a existência de restrições de liberdade individual, pondero com
elas.
“Realmente, havia restrições de liberdade religiosa”, concedem. “Mas
isso foi, principalmente, no início [da revolução]. Hoje, já melhorou
bastante”, respondem-me juntas, intercalando-se.
Enfim, para além de qualquer dúvida, resta a gana com que ambas
defendem e exaltam seu país. Nisto incluso, evidente, o sistema de saúde
cubano.
Em Cuba, contam, um especialista em medicina da família – ou, como lá
se diz, em medicina general integral– costuma viver no mesmo lugar em
que clinica. “No térreo, faz-se as consultas, no andar de cima vive o
médico e, acima, a enfermeira”, diz Mari.
“Esse consultório, por sua vez, está ligado a uma policlínica, que
tem laboratório, pronto-atendimento, raio-X, vacinação, oftalmologia,
endoscopia, ultrassom etc. Isso compõe a atenção primária: uma
policlínica e vários consultórios médicos.”
“As pessoas têm tudo isso perto delas. E um médico que trabalha no consultório faz plantão na policlínica”, diz Bel.
Isso significaria, então, que em Cuba um médico da família realiza procedimentos que, no Brasil, são reservados a especialistas?
“Sim. Lá, nós tratamos as patologias próprias de especialidades, como
oftalmologia, cardiologia, ginecologia. Falamos com um especialista só
quando temos alguma dúvida”, confirma Bel. E Mari acrescenta: “Aqui,
muitas vezes vamos nos sentir de mãos atadas”.
Em Melgaço, estará no trabalho preventivo o foco de suas atuações.
“Aqui, o maior esforço será o de promoção de saúde: mudar hábitos, mudar
ideias”, diz Bel.
“Nós temos de construir formas de atuação sobre estes problemas para
obter resultados. Sabemos, por exemplo, que aqui as pessoas são muito
religiosas. Então, eu já disse: nós vamos falar com os pastores”, afirma
Mari. “Nós temos de encontrar essas brechas, descobrir por onde podemos
nos colocar.”
Conversando com duas mães que, voluntariamente, deixaram suas casas
parar morar em uma cidade tão pobre e tão distante, é inevitável que
questionemos a dimensão da recompensa financeira que será obtida a
partir deste trabalho. Por um lado, a recompensa é relevante, dizem-me;
mas, por outro, elas garantem que o salário que recebem em Cuba lhes é
plenamente satisfatório.
“O salário básico de um médico, em Cuba, é de 573 pesos cubanos
(aproximadamente R$ 53). Depois, se você tem mestrado, categoria docente
etc., vai subindo”, explica.
“Quando o convertemos em dólares (US$ 24), talvez seja muito pouco –
ou pensem vocês que é muito pouco. Mas, para nós, supre todas as nossas
necessidades, especialmente se considerarmos como são os preços em
Cuba.”
Para tratar a água, Melgaço depende do governo federal
Melgaço já teve aprovados pelo Ministério da Saúde outros dois
pleitos relevantes: a construção de mais três UBSs, no valor de R$ 408
mil cada, e a concessão da verba para construção de uma Unidade Básica
Fluvial, com custo de R$ 1,6 milhão.
É a respeito das estratégias de captação de novos recursos, capazes
de manter funcionando os equipamentos de saúde vindouros, que converso
com o prefeito Adiel Moura.
“Nós temos uma horta da prefeitura, que está à disposição de algumas
famílias, e temos outros agricultores fazendo abacaxi, maracujá”, conta.
“Também tem um pessoal que tá criando peixe. É a prefeitura que entra
com toda a infraestrutura, dá os insumos etc.”
Aldrin e os tambaquis: fartura
Para quem visita a horta, as plantações e os tanques de peixe, fica
claro se tratar de um trabalho incipiente. Com seus 30 mil tambaquis
espalhados por sete tanques, os ganhos do piscicultor da cidade, Aldrin
de Souza, oscila, segundo ele, entre R$ 10 mil e R$ 20 mil anuais.
Melgaço tem uma renda per capita de R$135, o que corresponde a apenas
17% da média nacional, de R$ 793,87. Ainda que, individualmente, a
renda de Aldrin esteja muito acima da média de seus conterrâneos, ela é
evidentemente incapaz de aumentar significativamente a arrecadação do
município.
A gestão atual da prefeitura, apesar de já estar em seu segundo
mandato, quando questionada sobre alguns dos maiores problemas da cidade
tem pouco mais a mostrar do que meros projetos.
Não há, em Melgaço, qualquer tipo de tratamento da água utilizada.
Sobre isso, diz o prefeito Adiel, há um projeto, com verba federal,
cujas obras têm o início previsto para novembro.
Banheiros com fossas sépticas são, por ali, raridade. Nos seus quase
cinco anos de gestão, a prefeitura construiu pouco mais de trinta, numa
média de apenas seis banheiros por ano. Detalhe: sequer as fossas foram
feitas.
“É muito pouco”, confessa Adiel, que diz pretender chegar à marca de
66 banheiros construídos, com as fossas devidamente instaladas.
Sobre o asfaltamento das ruas de terra, atualmente uma das maiores
responsáveis pela poeira causadora de problemas respiratórios, o
prefeito afirma que o governo paraense “está sinalizando” com a
construção de 3 km de vias asfaltadas. “Mas isso demora a acontecer, né?
E é pouco, é pouco.”
Enquanto tais projetos não se concretizam, o programa social mais
relevante para Melgaço, sem sombra de dúvidas, é o Bolsa Família.
Segundo a secretária de assistência-social, Socorro Reis, mais de 21
mil dos 25 mil habitantes da cidade já recebem o benefício. “Com o Bolsa
Família, o dinheiro começou a circular no município”, diz. “O impacto? O
impacto… Deus te livre! É visível. Os comércios cresceram, foi abrindo
de tudo: loja de roupa, loja de tudo o que você possa imaginar.”
Apesar da morosidade da administração municipal, nos últimos três anos aconteceram alguns avanços relevantes.
Em 2010 – quando foram colhidos os dados que deram a Melgaço a última
colocação no ranking de IDHM brasileiro –, a mortalidade infantil era
de 22,4 a cada mil crianças nascidas, 34% maior do que no resto do país.
Em 2011, foi reduzida para 18,63 e, em 2012, para 15,52 – 7% a menos do
que a média nacional.
Assim como em Curralinho, onde não encontramos qualquer empresa
instalada, a prefeitura de Melgaço é também a única empregadora da
cidade.
“A gente briga há muito tempo para aumentar o valor dos repasses do
governo federal”, diz Ângela, a secretária de saúde. “Mas não adianta
vivermos só de repasses. O município tem de ter uma estratégia de
arrecadação própria.”
Além das cubanas Mari e Bel, Melgaço terá quatro unidades de saúde a
mais – incluindo a unidade fluvial – e tem, ainda, a perspectiva de
receber outros três médicos.
Se hoje é só com muito esforço que a prefeitura consegue suprir a
demanda existente por materiais essenciais e medicamentos, a ampliação
da rede exigirá, obrigatoriamente, o aumento da receita. Sob o risco de
ver desperdiçados os investimentos e o baixíssimo índice de
desenvolvimento humano, perpetuado.
Mari brinca com um futuro paciente. Foco no trabalho preventivo faz sentido: água consumida em Melgaço não tem tratamento