Defendi o programa Mais Médicos desde a sua proposta, e continuo defendendo. Tal defesa não tem conotação ideológica de minha parte, mesmo que afirmem o contrário. Considero o programa um avanço social legítimo, exatamente na direção de melhorar um dos aspectos mais colocados na balança nas críticas ao governo, a saúde pública. Ele vai na exata direção de projetos heroicos como o de Albert Schweitzer na África.
Aliás, neste quesito continuo um defensor do SUS, tão achincalhado ultimamente. Nós temos saúde pública e ela é de qualidade, mesmo que em alguns grandes centros se acumulem os casos de desmandos, descasos e desrespeito nos hospitais. O Sistema Único de Saúde brasileiro é um oásis em meio ao caos da saúde nos outros países do continente, nos EUA inclusive. O sistema é bom, o programa é excelente e os recursos são abundantes. O que falta é vontade, a política de parte dos governantes e a profissional de parte dos responsáveis por gerir o sistema e pelo atendimento direto ao cidadão.
Tem atendimento e procedimentos médicos de qualidade - se necessário até no exterior -, tem garantia constitucional de atendimento a todos os brasileiros, tem remédio e terapias até de alto nível, tudo grátis. Reclamamos de barriga cheia e preferimos pagar planos privados de saúde a peso de ouro para receber atendimento medíocre e só conquistado com um advogado do lado, em muitos casos. Pagamos para ter menos do que o SUS pode oferecer de graça.
Mas, voltando ao Mais Médicos. Este é o ovo de Colombo da saúde pública. Médicos em todos os rincões do Brasil, fazendo saúde preventiva e reduzindo os gastos do SUS a níveis ainda nem sequer imaginados é excelente, olhando só a partir do aspecto da boa administração dos recursos da nação. Quem menos gostou disso, por sinal, é a classe médica. O Mais Médicos é menos doença, e isso não é bom para o cofrinho deles.
Deve ser dito ainda que, aceitem isso ou não, o sistema de medicina cubano é perfeito. Previne patologias e coloca os médicos na casa das famílias. É mole ou quer mais? Por isso, apesar das carências econômicas e de toda ordem, qualquer pessoa que leva a questão da saúde pública a sério e dispensa ranços ideológicos mofos, não tem dúvida em afirmar que a saúde pública de Cuba é a melhor do mundo.
São esses médicos, este princípio e esta filosofia que o Brasil está importando de Cuba. Santa bobagem afirmar que o PT quer importar o comunismo cubano para o Brasil, quando até o governo de Cuba está se esforçando para arejar o seu sistema. Ou seja, nem eles querem mais o que dizem que estamos importando deles. Nós estamos importando médicos e medicina de qualidade, com um conceito inovador da prevenção e do atendimento familiar, algo que o Brasil nunca teve.
O problema - agora chego a ele, finalmente - foi este desastrado acordo do governo de aceitar repassar 90% do salário dos médicos cubanos ao governo da ilha. Agora querem reverter, pedir mais dinheiro para os médicos. Era óbvio que não conseguiriam sobreviver com R$ 800 por mês. Nem o assalariado consegue... Era óbvio que isto ia dar problema. Agora que começaram as deserções, o sapato apertou e querem trocar o dito pelo não dito.
Esta decisão estúpida (de confiscar salário e repassar a Cuba) vai botar a perder o melhor projeto de saúde pública já implantado no Brasil. Deviam ter dito desde o início: "Não concordamos! Nós vamos pagar a eles dez mil reais, como será para todos os médicos vindos também de outros países. Se vocês quiserem uma parte deste dinheiro para o governo cubano, cobrem diretamente dos médicos!". Se meteram numa baita enrascada diplomática. Agora, não adianta pedir para aumentar o repasse.