segunda-feira, 30 de abril de 2012
Os mártires de Chicago
O primeiro de maio de 1886 não foi um dia qualquer em Chicago (EUA). A União Central Operária daquela cidade havia convocado seus filiados para uma assembléia e uma greve geral, para exigir que a jornada de trabalho fosse reduzida para oito horas. No dia 1° de maio, trabalhadores de distintas fábricas atenderam ao chamado e mais de 200.000 trabalhadores participaram em cerca de 5.000 greves.
Em 4 de maio foi convocada uma manifestação no Parque Haymarket (Parque do Mercado de Feno) de Chicago, em protesto contra os acontecimentos do dia 1º. Em plena assembléia estourou uma bomba diante dos policiais, produzindo feridos e mortos entre eles. Em represália, a repressão contra os manifestantes foi incontrolável. Nunca foi possível precisar quantos participantes da assembléia morreram, nem quantos ficaram feridos. Foi declarado estado de sítio e toque de recolher, prendendo centenas de trabalhadores e dirigentes sindicais, que foram acusados de serem culpados pelo massacre.
Processados, e posteriormente condenados, oito dirigentes anarquistas e socialistas, jornalistas do periódico alemão Arbeiter Zeitung, são conhecidos desde então como os “Mártires de Chicago”. Num julgamento sem nenhum fundamento, foram declarados “inimigos da ordem e da sociedade” e, apesar de não se ter provado nada contra eles, foram condenados à forca.
A pena condenou Albert Parsons, August Spies, Adolph Fischer, Georg Engel, que foram executados em 11 de novembro. Já Louis Linng suicidou-se em sua própria cela. Michael Swabb e Samuel Fielden tiveram a pena comutada para prisão perpétua, enquanto Oscar Neebe teve a sanção transformada em 15 anos de trabalhos forçados.
Em meados de 1889 reuniram-se em Paris os representantes da Segunda Internacional, que havia decidido reorganizar-se depois da auto-dissolução da Primeira Internacional em 1876, no Congresso de Filadélfia (EUA). Entre suas principais resoluções esteve a de converter o 1° de Maio em uma jornada de protesto universal em memória dos trabalhadores de Chicago que haviam sido massacrados pela polícia em 1886. O dia 1º de Maio foi declarado então “Dia mundial da luta operária”. Um ano depois, trabalhadores de todas as partes do mundo, organizaram pela primeira vez o Dia dos Trabalhadores.
Desde aquele momento, o 1° de Maio Dia dos Trabalhadores é celebrado na maioria dos países do mundo. Entretanto, nos Estados Unidos, lugar onde aconteceram os sangrentos fatos, o “Labor Day” (Dia dos que trabalham) é comemorado todos os anos na primeira segunda-feira de setembro.
Com efeito, foi o dirigente Peter Mc Guire, fundador e presidente da então União de Carpinteiros, numa assembléia da Central Labor Union em 1882 que propôs a primeira segunda-feira de setembro, dia entre o Dia da Independência – 4 de julho – e o Dia de Ação de Graças, que é na quarta quinta-feira de novembro, preenchendo assim a brecha entre dois feriados.
No dia 5 de setembro de 1882, tiveram lugar os primeiros festejs. Segundo a reprodução de uma gravação publicada em “Historia Condensada do Sindicalismo Norteamericano”, resumo do folheto do mesmo título do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, os trabalhadores portavam cartazes que entre outros slogans diziam: “Pela abolição do trabalho dos presidiários”; “8 horas constituem um dia de trabalho”; “O trabalho é o criador de toda riqueza”; “Todos os homens nascem iguais”.
Cabe assinalar que no Canadá também se comemora o Labor Day como Dia do Trabalho na mesma data que nos Estados Unidos, ou seja, na primeira segunda-feira de setembro de cada ano.
Palavras que edificam um novo mundo
“Temos um mundo a construir”. Portanto, “ousem ouvir as vozes hereges, ousem criar grupos de estudo, ousem navegar nos livros velhos escondidos nas prateleiras”. É com esse conselho, que a jornalista Elaine Tavares, professora da UFSC em Florianópolis, incentiva os estudantes de Comunicação e colegas de profissão a compreenderem “que há mais coisas no jornalismo do que aquilo que é repetido nas salas de aula”.
Com uma longa experiência em diversos veículos de comunicação, Elaine enfatiza que os jornalistas devem caminhar em busca da boa utopia e isso significa ultrapassar as barreiras de manipulação à direita e à esquerda, e praticar jornalismo “como uma forma de conhecimento”. Autora do livro recém lançado, “Em busca da Utopia – os caminhos da reportagem no Brasil, dos anos 50 aos anos 90” (Florianópolis: Ed. Instituto de Estudos Latinoamericano-Americanos, 2012), ela ressalta que a prática jornalística pode levar o “leitor/espectador a pensar, a se desalojar do mundo tal qual ele é – injusto, opressor, excludente”. Nesse sentido, assegura: “O jornalismo pode ser transformador, pode embalar a utopia”.
Para que os jornalistas não deixem morrer as suas utopias e as levem adiante na prática do dia a dia, os cursos de jornalismo “precisam ensinar a pensar”, pois o “o jornalista que pensa tem mais chance de caminhar na direção da utopia”, assinala à IHU On-Line.
Na entrevista que Elaine concedeu por e-mail ao jornal Brasil de Fato, ela reflete sobre a prática jornalística e o desafio das universidades de formarem profissionais críticos. “Um aluno do jornalismo deveria ter uma sólida formação humanística, política e econômica, deveria entender os grandes problemas estruturais de seu país e de seu continente”, diz.
Para isso, assegura, “primeiro há que mudar a universidade, subverter esse ensino que domestica. Há que se produzir um pensamento autóctone sobre o jornalismo, conhecer nossos pensadores do passado, avançar com eles, superá-los. Há que conhecer a história do nosso povo, há que estudar filosofia, reaprender a pensar. Depois disso, há que voltar a narrar a vida com um texto que descreve, que narra, que contextualiza”.
Elaine Tavares é jornalista do Instituto de Estudos Latino-Americanos – IELA, da Universidade Federal de Santa Catarina e escreve no blog Palavras Insurgentes. Confira a entrevista de Elaine na íntegra aqui. Vale a pena devorar este texto.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
O STF e as cotas
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aprovar ontem, por unanimidade, o ingresso por cotas raciais de estudantes em universidades brasileiras levanta duas perguntas. A primeira baseia-se no fato de que a esmagadora maioria dos brasileiros, em enquetes de jornais Brasil afora, é contra o sistema de cotas: O STF está na contramão da democracia? A segunda pergunta é mais direta: A decisão do STF está certa ou errada?
A primeira pergunta levanta outra, inevitável. Quem é essa “esmagadora maioria”? Em minha opinião, há coisas que não podem ser resolvidas simplesmente pelo voto da “maioria”. Afinal, essa “maioria” dos que participam das enquetes dos periódicos não é, nem de longe, a maioria do povo brasileiro. Está ali um recorte, uma “nata” de iguais, que pensam todos do mesmo jeito e não podem ser classificados como maioria da sociedade.
“Erros das gerações anteriores podem e devem ser corrigidos pelas gerações futuras”, discursou Ayres Brito, com sabedoria. E um dos erros históricos no Brasil é a evidente discriminação de pessoas por conta de sua origem étnica, com ampla desvantagem para os descendentes de escravos africanos.
É uma lei de validade temporária, para corrigir esse erro histórico e dar igualdade de condições a todos os brasileiros, que nascem em condições desiguais, foi outro convincente argumento dos supremos magistrados.
Em resumo, a decisão do STF está promovendo democracia no futuro, e nesse sentido é uma decisão democrática. Ou seja, um dia teremos um Brasil em que todos podem participar de modo igual do processo de construção do país. E isso é democracia.
Para chegarmos a isso, é necessário incluir quem está de fora do processo. A educação é o melhor instrumento para isso. Por isso, garantir acesso a este bem para todos os brasileiros é promover democracia. Hoje, quem é pobre (negros na maioria) não pode competir em igualdade de condições com quem é rico e estuda em colégio particular. Por isso, e somente por isso, o sistema de cotas foi implantado. Não é por causa da cor da pele, não.
A segunda pergunta tem somente uma resposta: O STF está certo. Ele é o guardião máximo da constituição. Ele não inventa moda, nem leis. Ele verifica se determinada situação está dentro da lei que existe.
Por isso, uma enquete do tipo “a decisão do STF é constitucional ou não”, é uma piada. Como é que uma horda de gente com um mouse na mão, clicando em quadradinhos vazios, vai saber melhor se algo vai contra ou a favor da constituição? Aposto que a esmagadora maioria de quem clicou no quadradinho do não, sequer leu a introdução da nossa Constituição. Mas, segundo muitos, eles entendem muito mais disso do que os magistrados da suprema corte de justiça da nossa nação, não é mesmo?
Emagreça com Coca-Cola
Tem certas coisas que devem estar muito acima da nossa capacidade simples mortal de compreender. Uma das áreas que está completamente fora da compreensão das pessoas normais são algumas decisões de órgãos do governo. Algumas dessas decisões para nós inatingíveis, por exemplo, são tomadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Vejam esta, por exemplo.
Todo mundo já sabe que o Brasil está em flagrante regime de engorda. Agora tem criança gordinha até na novela das 9 da Globo. Elas estão em todos os lugares, nas mansões e nas favelas. Todos também já sabem que é necessário fazer alguma coisa. E até nós simples mortais sabemos que esta é uma tarefa que cabe a quem? Obviamente, à Anvisa!
O que faz a Anvisa? Em vez de criar uma campanha publicitária de nível, que conscientize a população sobre o risco evidente do consumo de certos alimentos, abriga e apoia a campanha “Emagrece, Brasil”, que é patrocinada por ninguém menos que a Coca-Cola.
Peraí! Parou, parou! A Coca-Cola? Senhores da Anvisa, refrigerante não é um dos principais motivos da sistemática engorda pela qual a população está passando? Como vocês apóiam uma contradição dessas? O pessoal da Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos (movimento que agrega entidades ligadas à saúde pública, aos direitos da criança e à defesa do consumidor) está de boca aberta com esse inesperado apoio da Anvisa a essa campanha da Coca-Cola.
A entidade diz, em nota divulgada ontem: “Ao abrir suas portas para esta exposição e incluir na programação da 1ª Semana de Vigilância Sanitária, no Congresso Nacional, campanha cujo patrocínio exclusivo é de uma das maiores empresas de refrigerantes do mundo, a Anvisa adota práticas condenadas na área da saúde”. Para a entidade, que deve entender um bocado de alimentos, o fato configura “um flagrante conflito de interesses e descaso com os movimentos da sociedade civil alinhados à ética e à equidade da ação regulatória estatal no campo da alimentação e nutrição”.
A frente se refere à exposição “Emagrece, Brasil”, que foi inaugurada segunda-feira (23), na sede da Anvisa, em Brasília, onde ficará até 25 de maio. Segundo o site da agência, a exposição faz parte de ações organizadas pelas revistas Saúde e Boa Forma, que “alertam sobre os perigos do excesso de peso”. A exposição, segundo o site oficial da Anvisa, integra a programação da 1ª Semana de Vigilância Sanitária no Congresso Nacional, em ações que teriam o apoio do Ministério da Saúde, Ministério da Educação e Ministério do Esporte.
“Os efeitos danosos do consumo de refrigerantes sobre a saúde humana e, em particular, sobre o risco de obesidade são incontestáveis”, diz a nota. “Igualmente conhecidas são as agressivas e abusivas estratégias de marketing utilizadas por empresas de refrigerantes, incluindo em particular aquela que, ironicamente, patrocina a campanha”, argumenta.
Ainda segundo a nota, “a gravidade da epidemia mundial de obesidade e de outras doenças crônicas relacionadas à alimentação tem mobilizado governos nacionais e sociedade civil de diversos países na busca por soluções. Uma delas, já reconhecida como necessária pela Organização Mundial de Saúde, é a necessidade urgente da aprovação de um código de ética que regule a atuação das empresas de alimentos e refrigerantes”.
Mas, talvez a gente comum não tenha mesmo capacidade para juntar A + B em muitas coisas, porque esse tipo de coisa se repete, repete e repete... Lembro de uma campanha em favor do meio ambiente em todos os jornais da RBS que era patrocinada por ninguém menos que a Souza Cruz. Acho que eu não tenho mesmo discernimento para assimilar essa “liberdade”, ampla e irrestrita, de engolir esse tipo de relação incestuosa e promíscua. Talvez essa tal de Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos também tenha problemas para entender isso...
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Küng escolhe um sucessor luterano
O teólogo católico Hans Küng criou e conduziu a Fundação Ethos Global ao longo de muitos anos. Prestes a completar 85 anos, em março de 2013, o feroz crítico do papa se ocupa na busca de um sucessor para conduzir a sua fundação. Seu candidato é o ex-presidente alemão Horst Köhler.
Küng é um teólogo que nunca poupou a entrevada hierarquia católica de suas críticas e um defensor de maior abertura ecumênica de Roma para com as demais denominações cristãs. Horst Köhler é economista, um luterano ligado à Igreja Evangélica da Alemanha, que também foi presidente do Fundo Monetário Internacional. Os dois se conheceram na universidade Tübingen.
A fundação de Küng agora foi assumida pela universidade de Tübingen, dando-lhe uma casa científica para propagar seu pensamento. O anúncio aconteceu na noite da inauguração da nova casa da Fundação, durante um ciclo de palestras seguidas de um diálogo com Küng.
Horst Köhler apóia a fundação de Küng desde sua fundação, em 1995. Como presidente do FMI ele acentuava a necessidade de um ethos global na busca por uma economia global. Desde 1997 ele é o curador da Fundação, com ênfase na importância da solidariedade mundial com a África.
Presidente da Alemanha de 2004 a 2010, Köhler foi reeleito em 2009, mas renunciou no ano seguinte por conta de seus comentários em relação ao papel das forças armadas alemãs na Afeganistão, que criticou sem meias palavras após uma visita ao país. Foi um dos presidentes mais populares do pós-guerra.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Direito de morar com dignidade
Sonia e seu filho deficiente
A Corte Suprema de Justiça da Argentina condenou a prefeitura de Buenos Aires, no dia 24 de abril, a prover residência e apoio a uma mulher e seu filho com deficiência, com o argumento de que cabe ao estado dar proteção mínima a pobres e moradores de rua.
A garantia desses direitos em casos de “extrema vulnerabilidade” é “insuficiente” e desconhece “os direitos econômicos, sociais e culturais” básicos, disse a promotora Graciela Christe em sua sentença. A corte condenou a administração do prefeito Mauricio Macri a conceder à reclamante e seu filho deficiente, que viviam na rua, um alojamento “em condições adequadas à patologia apresentada pela criança”, bem como uma solução permanente diante da “situação excepcional e necessidade reivindicadas”, por meio de algum programa de casa própria do governo. Enquanto a solução não chega, a prefeitura também foi condenada a pagar o hotel em que os dois vivem precariamente.
A corte escolheu o caso mais dramático entre os 250 que recebeu. Trata-se da imigrante boliviana Sonia Quisbeth Castro e seu filho de seis anos, que tem deficiência motora, visual, auditiva e social, causadas por uma “encefalopatia crônica”. A mulher trabalhava numa confecção, mas depois do nascimento do seu filho tornou-se moradora de rua, vivendo em abrigos e hotéis até deixar de receber a ajuda social determinada pelo decreto 690/06, que tem prazo limite de dez meses de assistência e não era suficiente para cobrir os custos de alimentação e moradia. A defensoria do Poder Judicial da Cidade de Buenos Aires levou o seu caso aos tribunais.
Durante o processo, a prefeitura de Buenos Aires negou-se sistematicamente a dar moradia digna à reclamante e seu filho doente e perdeu a causa com os votos de todos os membros do tribunal, sendo condenada por unanimidade.
O tribunal também condenou a prefeitura a assegurar à criança toda a atenção e cuidado necessários que seu estado de deficiência requer. Além disso, deve garantir renda mínima à mãe para que possa exercer uma atividade que não coloque em risco a integridade de seu filho ou o desenvolvimento dele. Segundo o tribunal, o estado da criança foi agravado pelas condições em que viveu até aqui, pelas quais o Estado é co-responsável.
O caso de Sonia e de seu filho abre jurisprudência para outros casos que representam vulnerabilidade extrema para crianças em condições semelhantes, a princípio 48 casos parecidos, que também foram apresentados ao tribunal argentino.
A Corte Suprema de Justiça da Argentina condenou a prefeitura de Buenos Aires, no dia 24 de abril, a prover residência e apoio a uma mulher e seu filho com deficiência, com o argumento de que cabe ao estado dar proteção mínima a pobres e moradores de rua.
A garantia desses direitos em casos de “extrema vulnerabilidade” é “insuficiente” e desconhece “os direitos econômicos, sociais e culturais” básicos, disse a promotora Graciela Christe em sua sentença. A corte condenou a administração do prefeito Mauricio Macri a conceder à reclamante e seu filho deficiente, que viviam na rua, um alojamento “em condições adequadas à patologia apresentada pela criança”, bem como uma solução permanente diante da “situação excepcional e necessidade reivindicadas”, por meio de algum programa de casa própria do governo. Enquanto a solução não chega, a prefeitura também foi condenada a pagar o hotel em que os dois vivem precariamente.
A corte escolheu o caso mais dramático entre os 250 que recebeu. Trata-se da imigrante boliviana Sonia Quisbeth Castro e seu filho de seis anos, que tem deficiência motora, visual, auditiva e social, causadas por uma “encefalopatia crônica”. A mulher trabalhava numa confecção, mas depois do nascimento do seu filho tornou-se moradora de rua, vivendo em abrigos e hotéis até deixar de receber a ajuda social determinada pelo decreto 690/06, que tem prazo limite de dez meses de assistência e não era suficiente para cobrir os custos de alimentação e moradia. A defensoria do Poder Judicial da Cidade de Buenos Aires levou o seu caso aos tribunais.
Durante o processo, a prefeitura de Buenos Aires negou-se sistematicamente a dar moradia digna à reclamante e seu filho doente e perdeu a causa com os votos de todos os membros do tribunal, sendo condenada por unanimidade.
O tribunal também condenou a prefeitura a assegurar à criança toda a atenção e cuidado necessários que seu estado de deficiência requer. Além disso, deve garantir renda mínima à mãe para que possa exercer uma atividade que não coloque em risco a integridade de seu filho ou o desenvolvimento dele. Segundo o tribunal, o estado da criança foi agravado pelas condições em que viveu até aqui, pelas quais o Estado é co-responsável.
O caso de Sonia e de seu filho abre jurisprudência para outros casos que representam vulnerabilidade extrema para crianças em condições semelhantes, a princípio 48 casos parecidos, que também foram apresentados ao tribunal argentino.
Um comentário necessário
O governo do estado alemão da Baviera irá publicar em 2015 uma edição comentada do livro de Adolf Hitler, Mein Kampf. Em três anos, a obra que fundamenta o maior horror da história da humanidade terá seus direitos autorais tornados de domínio público. A decisão é uma tentativa de desmistificar o livro, bem como de reduzir o aproveitamento comercial da obra oferecendo uma edição com comentários de especialistas.
“O objetivo é desmistificar o Mein Kampf e elucidar os alunos sobre o caráter da obra, porque a abolição dos direitos autorais pode levar a uma propagação mais ampla dela junto aos jovens”, declarou o secretário das Finanças da Baviera, Markus Soeder, ao site DW-World. O estado da Baviera é o detentor dos direitos autorais do livro do ditador nazista, porque foi a última morada do ditador, e impede qualquer publicação da obra. Esse poder, entretanto, termina com o domínio público sobre o livro de Hitler em 2015.
“Queremos tornar claro o grande disparate que é o Mein Kampf, mas um disparate com consequências funestas”, acrescentou Soeder, aludindo ao genocídio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
A primeira edição de Mein Kampf surgiu em 1925. Até o fim da ditadurta de Hitler, em 1945, foram vendidos 9,8 milhões de exemplares. A partir de 1933, ano em que Hitler chegou ao poder, o livro era entregue a cada casal no dia do casamento civil e era considerado leitura obrigatória no Reich.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Vaticano de olho nas freiras
A Congregação para a Doutrina da Fé, sob a coordenação do cardeal estadunidense William Levada, designou o arcebispo de Seattle, dom Peter Sartain, para supervisionar a Conferência de Mulheres Religiosas (Leadership Conference of Women Religious) porque entende que a entidade assumiu posturas liberais frente a temas como a homossexualidade e a eutanásia.
A interferência tem por propósito disciplinar a maior agrupação de freiras existente nos Estados Unidos.
Comunicado difundido na semana passada pela Rádio Vaticano informou que a Santa Sé reconhece o grande trabalho das religiosas, presentes em numerosas escolas e instituições norte-americanas, como hospitais e lares de assistência a pessoas com necessidades especiais, mas reprova a falta de empenho na defesa do "direito à vida desde sua concepção até a morte natural, um tema fundamental no debate público, como o aborto e a eutanásia".
A diretora da Conferência, que aglutina mais de 80% das 57 mil freiras que existem no país, disse que está incomodada com a decisão da Santa Sé, quando a organização que dirige reúne-se regularmente com autoridades do Vaticano e observa os estatutos aprovados pela Igreja Católica.
Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Inconfidência mineira em ruínas
Como amanhã, 21 de abril, é o dia da Inconfidência Mineira, segue mais uma historinha para mostrar o quanto valorizamos pouco a nossa própria história. Também, num país em que escolas viram ruínas, como esperar que prédios históricos mereçam melhor atenção.
Quem passa por esta ruína, entre Conselheiro Lafaiete e São Braz do Suaçuí, no centro de Minas Gerais, usando a rodovia MG-383, imagina estar diante de mais uma história de fazendeiro falido.
Esta, entretanto, era a sede da fazenda de Inácio José de Alvarenga Peixoto, poeta e advogado mineiro que, junto com um grupo de amigos, usava a casa para planejar como se livrar do domínio da coroa portuguesa, no século 18. Entre eles estava o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que morreu pelo grupo como exemplo, tendo seu corpo esquartejado e pendurado em postes ao longo da Estrada Real.
Nos Autos da Devassa – os inquéritos contra os traidores – a casa era citada como “Covão”, por conta de uma cova formada pela topografia em torno dela. Na verdade, o seu nome era Fazenda Paraopeba.
Depois de chegar neste estado lastimável, a propriedade foi decretada de utilidade pública e desapropriada pela prefeitura de Conselheiro Lafaiete. A sede da fazenda da Inconfidência Mineira será restaurada por conta de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a mineradora Ferrous Resources do Brasil e o Ministério Público Estadual mineiro. A mineradora deve compensar o Estado pelo impacto ambiental causado pela mina Viga, de extração de minério de ferro.
A sede da fazenda deve virar um centro cultural e ponto de referência na Estrada Real. As obras exigem rapidez. A parte mais antiga da casa, construída entre o fim do século 17 e início do século 18, está fechada e ameaça desabar a qualquer momento. O telhado já não cobre nada e, apesar de não ser possível abrir as portas, pelos buracos nas paredes é possível ver não só a estrutura de pau a pique, mas as vigas do teto caídas, atravessando parte da sala, e grandes tábuas do piso se transformando em entulho.
Promoção da paz
“Não podemos ter paz se estamos apenas preocupados em promover a paz. A guerra não é um acidente. É o resultado lógico de um determinado modo de vida. Se quisermos lutar contra a guerra, temos que lutar contra este modo de vida.”
“Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho.”
Abraham Johannes Muste, ativista americano
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Limonada da solidariedade
Desde adolescente sou leitor de HQ, as famosas histórias em quadrinhos. Uma cena recorrente em histórias traduzidas ou nacionais é a de crianças ganhando um troquinho com uma barraca de venda de limonada.
Huguinho, Zezinho e Luizinho faziam isso volta e meia, em suas histórias. A Luluzinha, o Cebolinha e muitos outros foram “empreendedores” ousados e montaram uma caixinha com um velho guarda-sol de praia do lado e uma jarra de limonada geladinha, com um respeitável anúncio do produto à venda. Genial! E sempre ganhavam um troco legal para comprar um presente para o Pato Donald, ou outro objetivo, quase sempre para ajudar ou presentear alguém. Genial, de novo.
Mais genial ainda, entretanto, é a notícia que vi hoje no G1. Pois não é que essa história típica de HQs saltou dos gibis para a vida real? Mais impressionante é que o enredo, o altruísmo e o sucesso dos vendedores de limonada dos gibis também se tornou real.
O menino americano Drew Cox, de 6 anos, usou uma barraca de limonada para ajudar a arrecadar dinheiro para o tratamento de seu pai, Randy, que sofre de um raro tipo de câncer. O empreendedorismo de Drew aconteceu em Gladewater-Texas.
A sua barraquinha, que começou como micro-empresa, foi ficando famosa e muita gente começou a ajudá-lo. No sábado passado filas de carros se formaram junto à barraca para comprar limonada para ajudar Randy. No final do dia, o jovem empresário da limonada havia juntado mais de 10 mil dólares. Fantástico! Que lição deste menino, que o fez por puro amor ao pai.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Deus afundaria um navio?
No dia 15 de abril, há 100 anos, o Titanic batia num iceberg e afundava. É o épico dos épicos dos desastres marítimos de todos os tempos. Um século depois, ainda daria para construir diversos outros Titanics, só com o dinheiro que esta história continua rendendo. Acho até que o próprio James Cameron poderia construir um só com o dinheiro que ganhou com o filme com Di Caprio.
Ao lado de todos os filmes, matérias em jornais e revistas, reportagens na internet e documentários do Discovery e do NatGeo, da BBC de Londres, do Times, de Veja, Istoé e Estadão, de milhões e milhões de palavras já ditas e escritas, com ou sem razão, especulativas ou em busca sincera pela verdade, há um fato que eu ainda não vi ninguém relembrar.
Desde que este navio afundou, se fala de uma terrível maldição. Esta maldição foi tão usada e abusada em pregações, evangelizações e o mais variado kitsch pentecostal ao longo desses 100 anos, que bate outro recorde. A maldição evocada é veio por conta da afirmação do fabricante do navio, que teria dito que o Titanic é tão seguro que nem mesmo Deus o afundaria. “Por isso, ele afundou na sua viagem inaugural! Deus afundou o Titanic por conta dessa blasfêmia! De deus não se zomba!”, pregaram milhares de convictos missionários.
Isso foi dito milhões de vezes ao longo deste século, com a certeza de quem está dando um veredicto do próprio Criador. Até eu já ouvi isso, desde os meus tempos de guri, dito por algum evangelista dentro de alguma igreja luterana, por onde andei...
Sinceramente, Deus não seria tão mesquinho. Se isso fosse assim, declarar-se ateu seria uma temeridade absoluta. E o número de ateus declarados e vivos encheria muitos Titanics. Muitos deles vivem muito bem, e até são grandes personalidades da atualidade ou da história.
Se tem uma coisa que Deus não é, definitivamente, é alguém que aperta o dedão sobre uma formiga só porque ela está levando o seu bolo. Não foi Deus que afundou o Titanic. Foi o excesso de confiança da tecnologia de ponta da época que afundou o navio. Uma sucessão escandalosa de erros levou a pique a mais impressionante embarcação jamais construída até então.
Aliás, acho que Deus nem mesmo expulsou o ser humano do paraíso. Também foi o excesso de confiança que levou Adão e Eva a cometer uma inacreditável sucessão de erros que detonaram o Éden. Do mesmo jeito que ainda hoje estamos fazendo...
Como eu poderia falar???
Mais uma charge espetacular de Daniel Paz & Rudy, o chargista da Pagina 12. Para quem não se lembra ou nem conhece, Jorge Rafael Videla foi um dos generais argentinos que assumiram a presidência durante o sangrento regime militar no país vizinho.
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, que está em prisão domiciliar em Londres, anuncia um programa de TV. Nesta terça-feira deve ser exibido o primeiro programa da série gravada pela TV russa Rússia Today. O programa, no qual Assange se auto-apresenta como palatino da verdade, pretende lançar um olhar para a sociedade do futuro a partir da realidade que vivemos hoje. Durante o talkshow, Assange entrevista personalidades internacionais sobre temas da atualidade. Os programas estão sendo gravados na própria casa de Assange, em Londres, de onde ele não pode sair por conta da prisão domiciliar que cumpre no Reino Unido. Os programas deverão também ser disponibilizados na internet.
domingo, 15 de abril de 2012
Breivik diante dos juízes
Inicia nesta segunda-feira o maior júri da história do Pós-guerra. A Noruega inteira está em polvorosa, porque segundo os juízes, coisas terríveis serão ditas no tribunal. O protagonista dessa história de preconceito, intolerância, xenofobia e ódio religioso é Anders Breivik, autor da mais inacreditável chacina de jovens. Por mais de duas horas, no ano passado, como um desvairado, Breivik saiu por Oslo com um objetivo macabro em mente: acabar com um congresso de jovens do partido trabalhista norueguês, que estava ocorrendo numa ilha.
Agora ele vai ter que enfrentar os juízes e a fúria do planeta indignado. Nem de louco ele pode ser enquadrado, como queria a defesa. Segundo os médicos, Breivik é normal, com total domínio de suas faculdades mentais. Mesmo assim, como um louco, ele continuará afirmando ao mundo que faria tudo de novo, e que deveria ser tratado como um herói, por livrar a Noruega de uma juventude perigosa, que acredita em coisas como direitos humanos, liberdade, igualdade e outras aberrações, segundo ele.
O julgamento de Breivik, apesar de ser um espetáculo de horror, será uma oportunidade ímpar para dizer com clareza o que deve ser lançado fora em nome de um outro mundo possível. A integridade moral e a saúde democrática do mundo moderno estará naquele tribunal, dentro de poucas horas.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Empresas cúmplices
Direção das igrejas Metodista Unida e Presbiteriana, dos Estados Unidos, vão encaminhar moção às respectivas assembleias gerais a proposta de isolamento das empresas que lucram com a ocupação israelense na Palestina. São lembradas, entre outras, empresas como a Caterpillar, a Motorola e a Hewlett-Packard.
A jornalista Elizabeth Bolton, da Jewis Voice for Peace Rabbinical Council (Voz Judaica para a Paz do Conselho de Rabinos) relatou que as duas denominações e seus seguidores que defendem o fim dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e na parte leste de Jerusalém estão sendo atacadas violentamente por causa dessa posição.
Rabinos emitiram carta de apoio a metodistas e reformados. “Cremos que investir em empresas que estão se beneficiando com a injusta ocupação reduz as possibilidades de atingir a paz e é contrária aos valores judeus”, argumentaram.
A carta dos rabinos reporta-se aos tempos de cativeiro do povo judeu, “uma experiência que não queremos nem para nós nem para os outros. Acreditamos na liberdade para todos. E estamos juntos de todos os que têm essa mesma crença”, proclamam.
A Caterpillar, apontam igrejas, lucra com a venda de tratores utilizados na destruição de moradias e plantações de palestinos. A Motorola Solutiona produz sistemas de vigilância instalados em assentamentos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Já a HP provê apoio e manutenção dos sistemas de identificação biométrica IDE, instalados nos postos de controle israelenses, na Cisjordânia, que privam a livre locomoção dos palestinos em seu próprio território.
(ALC)
quarta-feira, 11 de abril de 2012
A Flor do Deserto
Um dos posts mais visitados deste blog é aquele que fala da mutilação genital feminina (reveja aqui). O primeiro post revelou aos meus leitores e leitoras a história da modelo somali Waris Dirie, vítima da prática milenar de sua tribo nômade no deserto da Somália. Já famosa, ela chegou a fazer pronunciamento na assembléia da ONU contra a prática. A sua história rendeu o terceiro post mais visitado deste blog, com 3.000 visualizações até o momento. Mesmo tendo sido postado em 8 de fevereiro de 2010, ele continua sendo lido periodicamente e está lá no alto da lista dos meus posts mais visitados.
O tema foi tratado em outra oportunidade aqui e despertou um interesse significativo. Talvez pelo inusitado ou pelo curioso, mas eu creio que é porque realmente é algo chocante. Muitos reagiram estarrecidos diante de uma prática de barbárie e preconceito contra a mulher, que, entretanto, continua sendo praticada não somente na África, mas, como denunciei aqui, até na Alemanha, entre descendentes de culturas que praticam a mutilação genital nas suas mulheres há séculos e continuam com a prática, mesmo vivendo na Europa.
Em protesto contra essa agressão ao corpo da mulher, que é realizada por motivos pseudo-culturais e pseudo-religiosos (pois nem mesmo é determinada pelo Alcorão), recomendo que fiquem atentos, por esses dias, nas exibições do canal Telecine, que está mostrando o filme “A Flor do Deserto”, que relata a dramática experiência de vida da modelo Waris Dirie. O filme é baseado no livro homônimo, escrito pela própria protagonista, relatando a sua experiência horripilante e de superação. Se você perder a exibição na TV por assinatura, passe na locadora e pegue o filme. Vale a pena rever esta história arrepiante e 100% verdadeira.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Uma decisão histérica
O grau de exagero com que o moderno estado de Israel encara seus opositores ficou mais uma vez expresso no caso da poesia do Nobel de Literatura alemão Günter Grass. O escritor acusou Israel de querer aniquilar o Irã belicamente e o seu país, a Alemanha, de ser conivente com tal devaneio. Por conta do texto, o escritor foi declarado Persona Non Grata por Israel, o que é o mesmo que dizer que ele não é mais bem-vindo no país. A declaração foi transmitida pelo ministro do interior de Israel, Eli Jischai, que classificou o poema de Grass como uma tentativa de alimentar o ódio contra o povo e o estado de Israel. A declaração foi considerada exagerada e “um tanto histérica”. Segundo um ex-diplomata israelense em Berlim, a proibição é populista, uma vez que Grass nunca foi anti-semita.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
O DNA estampado na cara
Foto: Kevin Winter/Facundo Arrizabalaga/Ethan Miller/AFP
O DNA é mesmo um registro magnífico. É impressionante como esta foto me faz retornar à minha adolescência. Mas não são “ELES”, os inconfundíveis Beatles. É a nova geração. Pela ordem, trata-se de James McCartney, Sean Lennon e Dhani Harrison, filhos dos integrantes dos Beatles Paul, John e George, respectivamente.
E não é que, além de acender uma luz brilhante na minha memória, eles estão falando em montar uma banda? Você já pensou? Talvez eles sejam espertos o bastante para não criar uma banda que imite os seus pais. Mas que a ideia mexe com a geração das antigas, ah isso mexe!
O DNA é mesmo um registro magnífico. É impressionante como esta foto me faz retornar à minha adolescência. Mas não são “ELES”, os inconfundíveis Beatles. É a nova geração. Pela ordem, trata-se de James McCartney, Sean Lennon e Dhani Harrison, filhos dos integrantes dos Beatles Paul, John e George, respectivamente.
E não é que, além de acender uma luz brilhante na minha memória, eles estão falando em montar uma banda? Você já pensou? Talvez eles sejam espertos o bastante para não criar uma banda que imite os seus pais. Mas que a ideia mexe com a geração das antigas, ah isso mexe!
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Ovo da Páscoa real
Mais cristãos poderiam ter uma ideia semelhante. A fábrica de chocolates Meaningful Chocolate Company, de Manchester, na Inglaterra, resolveu realizar uma ação diferente nesta Páscoa. Com o argumento de que a Páscoa lembra mais um festival da primavera do que um feriado cristão que lembra a ressurreição de Cristo, a empresa decidiu produzir um ovo de chocolate de 125g contendo a história da ressurreição estampada na sua embalagem. Parte do preço cobrado por cada ovo vendido será transformada em doação.
A empresa também notifica seus consumidores de que aderiu ao tratado de compra de matérias primas de origem justa, que identifica as empresas que se servem somente de insumos produzidos e comercializados segundo princípios justos para os produtores de cacau, café, chá e outros insumos no terceiro mundo.
Segundo o porta-voz da empresa, a ideia do ovo da Páscoa Real foi de um dos fundadores da empresa, que pratica comércio ético há mais de uma década.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
O que precisa ser dito
O mais famoso escritor alemão vivo e Nobel de literatura Günter Grass é o principal motivo de uma nova guerra diplomática entre Israel e a Alemanha.
Numa poesia lírica construída em forma de prosa, o escritor de 84 anos diz palavras duras contra Israel, que quer iniciar uma guerra contra o Irã por conta do programa atômico iraniano. Há suspeitas não comprovadas de que o país islâmico estaria secretamente usando o seu programa nuclear para construir bombas atômicas.
O título do poema, “O que precisa ser dito”, acusa Israel de querer desestabilizar a paz mundial, ao querer bombardear as instalações nucleares iranianas. Acusa também a Alemanha de vender submarinos nucleares a Israel, que podem ser usados contra o Irã, tornando a Alemanha cúmplice de um erro inaceitável. Grass diz ainda que sua decisão de falar o que pensa será fatalmente interpretado como anti-semitismo, porque esta sempre foi a forma de encarar qualquer declaração de um cidadão alemão que critique Israel.
Para além da rançosa belicosidade entre judeus e alemães, motivada ainda pela experiência do Holocausto, Grass realmente diz o que deve ser dito, mesmo pagando o pato por isso. Não há certeza alguma de que o Irã esteja produzindo uma arma nuclear. Interessa aos EUA que Israel comece a guerra, para que os americanos tenham um motivo para entrar no conflito que muito desejam.
Também é absolutamente certo que a Alemanha anda se metendo cada vez mais em conflitos militares, alterando sua tradicional rota neutra do pós-guerra (embora obrigada pelos aliados). Vendem submarinos a Israel, metem-se em conflitos ao lado da OTAN e promovem uma escalada bélica da qual diziam querer ter absoluta distância ainda na última década. Parece que agora tudo mudou. E Grass conhece como ninguém onde essa mentalidade pode levar o seu povo.
Uma nova era geológica
A história do planeta Terra – que segundo os cientistas tem 4,5 bilhões de anos – é dividida em eras geológicas. Segundo tal classificação temporal, é possível estabelecer as diferentes épocas da formação geológica. Atualmente vivemos o Holoceno, que marca os últimos 12 mil anos após o fim da última Idade do Gelo, ou era Glacial, com a relativa estabilização dos níveis dos oceanos e marcada pela última grande extinção em massa de espécies que somente conhecemos a partir dos seus fósseis, como o mamute, o tigre de dente de sabre, a nossa preguiça gigante da Amazônia e muitas outras.
Um grupo de cientistas australianos e britânicos, participantes da conferência “Planet under Pressure”, em Londres, está pressionando a comunidade científica para que se anuncie a chegada de uma nova era geológica, que denominam de Antropoceno, ou “era do Homem”.
Os indicadores dessa nova era são as mudanças climáticas dramáticas que estão ocorreno no planeta por conta da ação do homem, e que são, segundo os postulantes, irreversíveis. A iniciativa também coincide com o momento em que a humanidade se prepara para fazer um balanço de duas décadas de busca de soluções para os problemas ambientais.
Para o ecologista Erle Ellis, da Universidade de Maryland, atualmente a maioria dos ecossistemas da Terra está marcada de modo indelevel pela presença humana. As alterações climáticas, a redução da população de peixes, o desmatamento de áreas cada vez mais extensas a extinção de milhares de espécies e o crescimento populacional da humanidade são indicadores incontestes da nova era geológica.
Marcar isso com clareza num calendário das idades do Planeta poderia provocar uma reviravolta na forma como a humanidade planeja a sua presença na Terra e faria aumentar as atenções para o cuidado com a sustentabilidade ambiental do planeta.
Segundo os especialistas, a humanidade atingiu um ponto em que deveria se perguntar como pretende continuar o seu futuro de relação com o planeta em que habita. Os geólogos do futuro encontrarão no último século do presente as marcas geológicas evidentes de que iniciou uma nova era geológica. Estarão marcados nos registros sedimentares da Terra a elevação drástica dos depósitos de carbono, os vestígios das metrópoles e da exploração predatória dos recursos naturais, além dos fósseis de uma era dominada pela relação do homem com animais domesticados, por exemplo.
Reconhecer a chegada do “Antropoceno” ajudaria a registrar a natureza e a extensão das mudanças em todo o planeta, causadas pela presença predatória da espécie humana sobre o planeta. Os cientistas esperam alcançar uma mudança psicológica importante no comportamento humano, gerando uma “guinada civilizatória importante”.
A nova era, presumem os cientistas, não será tão estável quanto a última, que deu origem à agricultura e à civilização humana. O antropoceno será uma era de um “mundo em descontrole”, em função de a espécie humana ter desencadeado processos mais poderosos do que a capacidade que desenvolveu para controlá-los, afirma Anthony Giddens, cientista inglês.
A conferência “Planet under Pressure” (Planeta sob Pressão), reuniu 2.800 cientistas no final de março, com o objetivo de pressionar a Rio+20 a dar passos mais ousados na busca de soluções climáticas e dar prioridade aos atuais problemas ambientais planetários.
Para Erle Ellis, a humanidade tem somente uma escolha. Administra um bom Antropoceno ou enfrenta uma série de crises que pode não ter como controlar. As recentes catrástrofes climáticas enfrentadas pelo Brasil, com deslizamentos e enchentes que batem recordes, anuncia que o momento de dar a virada já foi ultrapassado.
(Com informações de DW-world)
terça-feira, 3 de abril de 2012
Essa luta também é sua
O mundo da Internet nos brinda cada vez com maior frequência com aqueles famosos e-mails que começam com o aviso “repassando…” e terminam com o pedido “envie isso para o maior número possível de pessoas”. Todos eles invariavelmente apresentam a fórmula de redenção do mundo.
Um desses e-mails vem com o pedido “devolvam-me o mundo que me roubaram!”, listando todos os valores que teriam desaparecido desde o tempo da nossa avó.
A impressão que tenho é que o que tiraram dessas pessoas os filhos a quem deviam ter ensinado tais valores que costumavam valer em outros tempos. Imagino que, se os valores da sociedade se perderam é porque o autor desse desesperado pedido não teve oportunidade ou, simplesmente, se esqueceu de passá-los adiante.
Por isso, aproveito para inverter a questão: não fique reclamando que tiraram o mundo de você. Pergunte o que você fez com o mundo que lhe deram.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Essa ilha é minha!
O general Galtieri anunciando a guerra contra os ingleses.
No dia de hoje, há 30 anos, começava uma guerra por um arquipélago insignificante, no sul do Oceano Atlântico. No dia 2 de abril de 1982 iniciava o conflito armado entre a Argentina e a Grã-Bretanha em torno das Ilhas Malvinas, denominadas Falkland pelos seus donos, os britânicos. A guerra durou 74 dias, matando 266 militares britânicos e 650 militares argentinos.
As ilhas continuam sob bandeira britânica, e a guerra precipitou o fim da falida ditadura militar argentina, sob o comando do general Leopoldo Galtieri, e deu novo impulso à primeira ministra Margareth Tatscher.
Olhando no mapa, as Malvinas são obviamente argentinas. Para os britânicos, entretanto, elas ainda hoje representam um pouco o decadente Império Britânico, no qual o sol nunca se punha. Só que já faz séculos que isso não é mais assim. De todo aquele poderio ficou somente o orgulho. E é somente o orgulho britânico que mantém aquelas ilhas insignificantes como uma parte da Grã-Bretanha.
No dia de hoje, há 30 anos, começava uma guerra por um arquipélago insignificante, no sul do Oceano Atlântico. No dia 2 de abril de 1982 iniciava o conflito armado entre a Argentina e a Grã-Bretanha em torno das Ilhas Malvinas, denominadas Falkland pelos seus donos, os britânicos. A guerra durou 74 dias, matando 266 militares britânicos e 650 militares argentinos.
As ilhas continuam sob bandeira britânica, e a guerra precipitou o fim da falida ditadura militar argentina, sob o comando do general Leopoldo Galtieri, e deu novo impulso à primeira ministra Margareth Tatscher.
Olhando no mapa, as Malvinas são obviamente argentinas. Para os britânicos, entretanto, elas ainda hoje representam um pouco o decadente Império Britânico, no qual o sol nunca se punha. Só que já faz séculos que isso não é mais assim. De todo aquele poderio ficou somente o orgulho. E é somente o orgulho britânico que mantém aquelas ilhas insignificantes como uma parte da Grã-Bretanha.
Dia Mundial pelo autismo
Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial de conscientização pelo Autismo. Veja o vídeo acima e junte-se a nós.Setenta milhões de pessoas em todo o mundo agradecem.
A paixão em banners
Desde o dia 26 de março, um imenso banner de dois por oito metros foi afixado na fachada do templo luterano Catarina, da Igreja Luterana de Hessen e Nassau, em Frankfurt-Alemanha. O banner tem uma foto de uma mão em sinal de V da vitória, com um buraco ensaguentado no meio, apoiada pela palavra “Sacrifício?”.
Segundo o presidente da igreja luterana da região, rev. Volker Jung, o objetivo do banner é motivar um debate profundo sobre a sexta-feira da paixão. A partir desta terça-feira, o banner receberá a companhia de outros exemplares em prédios e postes da cidade e da região.
A reflexão dos luteranos é despertar para o sentido da sexta-feira de paixão. Ela é um dia de reflexão sobre a morte injusta de Jesus na cruz do Gólgota em favor da humanidade. É também um dia de esperança pelo fim de todas as formas de violência e de sacrifícios. Não por último, é um dia de luto pelos sacrifícios de toda espécie que continuam a ocorrer entre nós. Entre eles estão os sacrifícios causados por abuso de poder, pela imprudência no trânsito, pela violência doméstica, pela fome e toda sorte de privações e, ainda, por conta do preconceito.
Também é um dia para refletir sobre a estupidez dos sacrifícios de todas as guerras e conflitos em curso no mundo. Sobretudo, é um dia de intensa reflexão e recolhimento, no qual o sacrifício de Jesus pela humanidade nos faz erguer o clamor por vida digna e plena.
Entrada nada triunfal
Ontem lembramos o início de uma semana decisiva na vida de Jesus. Desde a sua entrada “triunfal” em Jerusalém até o domingo de Páscoa, uma série de acontecimentos vai construindo uma história paradoxal e reveladora. Ao longo desses oito dias vai sendo construído o álbum de fotografias da essência divina e humana. De certo modo, é uma história de sucesso às avessas. O anticlímax é o escopo desta semana, que a cristandade convencionou chamar de “via crucis”.
O primeiro dia da semana já começa com um acontecimento revelador. O que se conhece por entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é, na realidade, um irônico teatro do mais puro deboche.
Que entrada “triunfal” é essa, em que o rei vem montado num jegue? Qual é o triunfo de quem chega assim? Seu séquito real é formado por um bando de gente maltrapilha e eremita. Segue Jesus por toda parte, à espera de um milagre. Que recepção é essa em que um grupelho de gente simples e sem importância vai estendendo suas roupas pelo chão, simulando um tapete vermelho? Que civismo fanfarrão é esse em que ramos assumem o lugar de bandeirolas de um reino fictício e inverossímil? Que gritos e ovações são aquelas, com aspecto de coro de zombaria e chacota?
Um rei devia vir num puro sangue. Um séquito de gente importante, lanceiros e espadachins, ministros e serviçais, soldados e guerreiros o acompanhariam. O tapete vermelho seria do melhor tecido e feito pelas mãos dos melhores tecelões. O caminho seria marcado por grossas cordas douradas e guardas deviam impedir que o populacho se aproximasse demais. Brilho, clarins e confetes anunciariam a sua passagem. Sacadas e parapeitos repletos de súditos extasiados gritariam o seu nome sem parar.
É cenário do mais puro anticlímax. Essa recepção já é o prenúncio do que espera por Jesus naquela semana. Nunca digeri muito bem algumas celebrações de domingo de ramos que querem transformar num evento glamoroso a entrada de Jesus na cidade que o entrega à morte.
A chegada de Jesus e de seus discípulos à metrópole em festa é uma macabra metáfora para a semana que se anuncia. “Se você é rei, então se prepare para ser coroado”...
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