quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Dia D adiado
o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) conseguiu, sozinho, adiar a aprovação da proposta, ao impedir a votação do requerimento de urgência para a apreciação do Código Florestal em plenário, previsto para o dia de hoje (leia atentamente o texto abaixo). A votação poderá ser adiada para a próxima quinta-feira ou somente na semana que vem. Isso dá mais tempo para que a sociedade se articule e tente evitar que este "retrocesso na legislação ambiental brasileira" (Randolfe) seja aprovado. Também dá mais tempo à Direção da IECLB para, se quiser, possa produzir um texto de apoio aos movimentos sociais que defendem nossas florestas e de repúdio ao código.
O Dia D do Código Florestal
Ato em Defesa das Florestas - Foto: Antonio Cruz/ABr
O Ato em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu ontem em frente ao Palácio do Planalto em Brasília, é a tentativa derradeira de colocar algum juízo ambiental na cabeça dos nossos governantes. O novo Código Florestal, que é uma colcha de retalhos que procurou agradar a todos os interesses e já não defende mais os nossos biomas, deverá ir à votação no plenário do Senado Federal nesta quarta-feira (30).
O objetivo principal do ato foi de alertar a presidenta Dilma e tentar levá-la ao veto presidencial. O movimento que promoveu o ato tem um milhão e 500 mil assinaturas contra as alterações feitas no texto da PL 30/2010 e que a transformaram num Frankenstein, num arremedo de código, que abre caminho para continuar derrubando as nossas florestas em nome do progresso. Essas assinaturas foram colhidas nos últimos quatro meses.
O Ato em Defesa das Florestas reuniu movimentos sociais, estudantes, artistas, formadores de opinião, defensores em geral da causa ambiental, além de representantes das organizações: CNBB, Greenpeace, IDS, ISA, FBOMS, Fórum de Ex-ministros do Meio Ambiente, FETRAF, Nucleos Universitários, SOS Mata Atlântica, Via Campesina e WWF.
É uma lista de gente que realmente fez e faz muito em defesa do meio ambiente, mas que é tratada pela sociedade como “ecochatos”, “terroristas ambientais”, e coisa pior. Com o poder econômico nas mãos, bem como os principais postos dos legislativos federal (Câmara e Senado) e estaduais, os ruralistas não fazem outra coisa do que desqualificar o trabalho dessa gente. Nós é que vamos sofrer as conseqüências da nossa indiferença como sociedade. Quem vai nos cobrar é a natureza.
Portanto, este último dia de novembro é decisivo. É dia de protesto, de engajamento em defesa das nossas florestas. Para a IECLB isso significa que hoje é o Dia D para dar um testemunho contundente de que a discussão do tema “Paz na Criação de Deus” não foi só conversa de comadres. No mínimo, uma carta pastoral deveria vir de Porto Alegre, que dê apoio a quem deu a cara a tapa contra esta barbaridade que é o novo Código Florestal Brasileiro.
O Ato em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu ontem em frente ao Palácio do Planalto em Brasília, é a tentativa derradeira de colocar algum juízo ambiental na cabeça dos nossos governantes. O novo Código Florestal, que é uma colcha de retalhos que procurou agradar a todos os interesses e já não defende mais os nossos biomas, deverá ir à votação no plenário do Senado Federal nesta quarta-feira (30).
O objetivo principal do ato foi de alertar a presidenta Dilma e tentar levá-la ao veto presidencial. O movimento que promoveu o ato tem um milhão e 500 mil assinaturas contra as alterações feitas no texto da PL 30/2010 e que a transformaram num Frankenstein, num arremedo de código, que abre caminho para continuar derrubando as nossas florestas em nome do progresso. Essas assinaturas foram colhidas nos últimos quatro meses.
O Ato em Defesa das Florestas reuniu movimentos sociais, estudantes, artistas, formadores de opinião, defensores em geral da causa ambiental, além de representantes das organizações: CNBB, Greenpeace, IDS, ISA, FBOMS, Fórum de Ex-ministros do Meio Ambiente, FETRAF, Nucleos Universitários, SOS Mata Atlântica, Via Campesina e WWF.
É uma lista de gente que realmente fez e faz muito em defesa do meio ambiente, mas que é tratada pela sociedade como “ecochatos”, “terroristas ambientais”, e coisa pior. Com o poder econômico nas mãos, bem como os principais postos dos legislativos federal (Câmara e Senado) e estaduais, os ruralistas não fazem outra coisa do que desqualificar o trabalho dessa gente. Nós é que vamos sofrer as conseqüências da nossa indiferença como sociedade. Quem vai nos cobrar é a natureza.
Portanto, este último dia de novembro é decisivo. É dia de protesto, de engajamento em defesa das nossas florestas. Para a IECLB isso significa que hoje é o Dia D para dar um testemunho contundente de que a discussão do tema “Paz na Criação de Deus” não foi só conversa de comadres. No mínimo, uma carta pastoral deveria vir de Porto Alegre, que dê apoio a quem deu a cara a tapa contra esta barbaridade que é o novo Código Florestal Brasileiro.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Papai Noel está morto
Noel acaba de ser encontrado sem vida, com um fio de Nylon em volta do pescoço, pendurado num galho de pinheiro. A polícia está investigando o caso, mas as evidências apontam para suicídio.
O símbolo máximo do Natal já vinha dando sinais de estresse e depressão há anos. Ele não se conformava com o papel que lhe haviam reservado, apesar de ter insistido sem descanso em apontar para os anjos, a manjedoura, José e Maria, o menino na palha e os pastores no campo. Ele não queria ser o principal motivo. Sempre havia sido um coadjuvante. Por que insistiam em colocá-lo no centro de tudo?
Todo aquele consumismo também o incomodava profundamente. O calor infernal, apesar do ar condicionado do shopping ligado no máximo, aquela roupa vermelha insana de inverno em pleno verão, aquela barba importuna e mal-colada...
Ele não suportava mais aquelas enormes filas diante de si, em que pequenos ditadores –que ele tinha que tratar como criancinhas – disputavam espaço a tapa para puxar a sua barba e testar se era de verdade. Antigamente, os pais traziam seus filhos para que Noel lhes desse uma lição de vida e uma bela mensagem família. Estude mais! Obedeça seus pais! Não seja egoísta! Faça uma oração antes de dormir! ... Agora só queriam posar com ele na foto e fazer milhões de exigências hedonistas.
Noel também confidenciara que andava com insônia. Ele passava as noites fazendo mil planos de resgatar o verdadeiro espírito de Natal. Na hora de colocá-los em prática, porém, estava tão cansado e sonolento que a apatia e a indecisão o dominavam.
Tudo terminara ali, na ponta daquele galho de pinheiro... Antes, porém, o “bom velhinho” deixara uma última mensagem. Assoprou a vela, apagando a luz do Natal. Ela já não tinha mais o mesmo brilho de outrora e ninguém iria sentir a sua falta, ainda mais em meio a tanta parafernália luminosa comandada por computador. Se o Papai Noel jaz na ponta de um fio de Nylon por não conseguir resgatar o verdadeiro espírito natalino, aquela luz não tinha nenhuma razão de ser, afinal...
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Advento é um tempo de espera
Passamos metade da nossa vida esperando. Crianças esperam crescer, ir para a escola, virar grande que nem o pai... Adolescentes esperam que o tempo passe bem rápido, para que os adultos deixem de ter o comando sobre suas vidas, que querem desesperadamente tomar nas próprias mãos. Quando adultos, esperamos pela pessoa que iremos amar por toda a vida, por um emprego melhor, por melhores condições de vida, pela compra do primeiro carro, pela quitação da casa própria, pela troca do carro por um modelo novo...
Quem viaja, espera na rodoviária, no aeroporto ou no cais do porto. Quem está apaixonado, espera pela pessoa amada, o tempo que for necessário, com toda a paciência. O paciente na sala-de-espera, que já tem este nome justamente porque é o lugar em que se espera, mesmo se contorcendo de dor, pela chegada do atendimento médico. A criança espera na fila do brinquedo do parque até que chegue a sua vez. A aluna espera pela prova corrigida com uma ansiedade incomparável, para saber a nota que conseguiu.
Esperamos muitas coisas, mas a sensação de ter que sentar pacientemente e esperar nunca ficou tão clara quanto nas últimas enchentes. Tivemos que sentar, calmamente, em casa, e esperar a chuva diminuir, a água baixar, o tempo dar uma chance de começar a limpar. Para milhares de famílias, a espera da vida começa do zero: poder juntar o suficiente para reconstruir a casa própria, poder comprar novamente um carro ou recuperar o que sobrou. Para outros, muitos outros, agora só resta esperar que a dor passe, que o luto termine, que a saudade não mate...
Passamos a metade da vida esperando... Esta é a experiência de todos nós. E quanto mais velhos ficamos, mais isso fica evidente, palpável, presente em nossa vida. E quanto mais nos damos conta de que esperar é o que nos resta em boa parte dos nossos dias, mais claro fica que o pensamento de que “tempo é dinheiro” é pura balela; é um desrespeito ao nosso direito de esperar. E a pessoa prudente aprende a esperar sem ficar inquieta. Quem consegue superar sua própria impaciência, aprende uma nova maneira de relacionar-se com o tempo.
Também o Ano da Igreja convida a esperar em alguns momentos. Agora estamos em meio ao tempo de Advento, que começa oficialmente nesta semana, mesmo que no Shopping, na decoração natalina das ruas e em muitas residências o cheiro de Natal já tenha chegado há algum tempo. Quando acendemos a primeira vela da coroa de Advento, entramos num tempo especial de esperar. É um tempo gostoso de espera, de permitir-se um sorriso de canto de boca, um lampejo de alma que nos alegre. É a alegria pré-natalina que começa a nos preencher.
O tempo de Advento, que é o tempo da espera cristã por excelência, é o tempo em que aguardamos, pacientemente, pela salvação que vem de Deus. Não é como um conto de fadas, não é como uma história de papai Noel, não é como um sonho bonito... Não! É a realidade da salvação verdadeira, plena, repleta e total em Cristo. O menino que nos vem no Natal é o começo. Mas não se pode entendê-lo sem seu fim, na cruz e na ressurreição. O Natal sem a Páscoa é apenas uma fantasia... Bonita, mas vazia.
O tempo de Advento é o tempo da alegria antecipada e da espera: fazer os doces de Natal, comprar os presentes, acender as velas, expressar nossa fé e nossa esperança por paz, alegria e bons sentimentos. É tempo, especialmente, de treinarmos a capacidade de esperar com paciência por novos tempos. Que não nos conformemos com a destruição e a morte, mas nos alegremos, sinceramente, com a construção do seu reino de paz e vida.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Reuniões que não melhoram o clima
A Convenção Marco das Nações Unidas sobre Câmbio Climático, cujas reuniões oficiais acontecerão de 28 de novembro a 9 de dezembro em Durban, na África do Sul, reacende uma preocupação central acerca do futuro do Protocolo de Kyoto. Os países mais ricos já disseram que é impossível chegar a um acordo sobre o mesmo.
Um claro sinal de que em Durban também não vai haver acordo sobre um novo compromisso vinculante para a redução de emissões de gases de efeito estufa foi dado no Fórum das Grandes Economias, que reúne 17 dos maiores emissores do mundo e outros países chave, e que terminou no dia 18 de novembro em Virginia, Estados Unidos. Ali os países mais ricos reconheceram que não será possível alcançar um novo acordo climático global antes do 2016. E caso se consiga nesta data, não poderia entrar em vigor antes de 2020.
Os EUA e os países ricos insistem em "reduções voluntárias”, o que quer dizer não assumir compromissos, especialmente de ser os maiores responsáveis pelo câmbio climático. Gregory Barker, ministro da Energia da Grã Bretanha, disse isso com todas as letras: “a realidade é que não vamos ser capazes de chegar a um acordo internacional vinculante em Durban”.
Na semana passada, a ministra de Meio Ambiente da Índia, Jayanthi Natarajan, afirmou que seu país insiste num segundo período do Protocolo de Kyoto, sem nenhum tipo de compromisso juridicamente vinculante para os países emergentes. Disse que a Índia e outros países em desenvolvimento tinham trabalhado muito duro em Copenhague e Cancun, mas que o mundo desenvolvido havia feito muito pouco em troca. Recordou às nações ricas sua “responsabilidade histórica” para reduzir as emissões de carbono.
Índia foi responsável por 6,2% das emissões globais no ano passado, Estados Unidos por 16,4% e China por 24,6%.
Reunidos em Adis Abeba, os países da África anunciaram que trabalharão para salvar a essência do protocolo de Kyoto, pedindo que os países desenvolvidos reduzam suas emissões em 40% até o ano que vem e ajudem o continente africano a combater os efeitos do câmbio climático.
O grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) elaboraram uma posição comum em Pequim na semana passada, convocando os países desenvolvidos a comprometer-se a reduzir suas emissões no marco legalmente vinculante do Protocolo de Kyoto.
Na verdade, os planos mais ambiciosos de redução sequer arranhariam a capa do que realmente deve ser feito para mudar significativamente o inevitável rumo do comprometimento climático do planeta. Todas as partes envolvidas nas negociações estão muito mais preocupadas com as suas economias, em empurrar a culpa para os outros e em mudar o menos possível, evitando maior comprometimento financeiro de economias já debilitadas pela atual crise econômica enfrentada em todo o planeta.
Para dar ao menos um sinal de que se quer mudar algo, os países desenvolvidos deveriam comprometer-se a alcançar um marco de compromissos vinculantes com marcos concretos de redução de emissões de gases de efeito estufa como seguimento ao Protocolo de Kyoto que vence no ano que vem. Isso requer uma redução de emissões de pelo menos 45% abaixo dos níveis de 1990 para o ano de 2020 e de pelo menos em 95% para 2050. Também deve haver eliminação gradual do desenvolvimento de combustíveis fósseis.
Não se deve somente buscar a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera, mas deve-se buscar de maneira integral e equilibrada um conjunto de medidas financeiras, tecnológicas, de adaptação, de desenvolvimento de capacidades, de padrões de produção, consumo e outras essenciais como o reconhecimento dos direitos da Mãe Terra, para restabelecer a harmonia com a natureza.
Ou seja, vai ficar tudo como está e o tomate podre vai ficar mesmo para as futuras gerações.
(Com informações de Adital)
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O gênio irrequieto do rock
Em 24 de novembro de 1991 morria de forma trágica, quase desaparecendo no fundo de uma cama, o mais polêmico, carismático e atentado cantor de rock de todos os tempos. Nascido em Zanzibar, numa família persa, no dia 5 de setembro de 1946, com o nome de Farroch Bulsara, pouca gente sabe dessa origem. Mas o planeta inteiro ainda hoje sabe associar essa figura ao nome artístico que adotou: Freddie Mercury. Junto com o baterista Roger Taylor e o guitarrista e hoje astrofísico Brian May, ele fundou o Queen, ao qual se integraria um ano mais tarde o baixista John Deacon.
O sucesso do grupo foi meteórico e, por 20 anos, dominou o cenário roqueiro mundial com sua genialidade. Freddie e seu Queen são os criadores da ópera rock, na qual os instrumentos eletrônicos recriavam arranjos antes somente vistos nas grandes óperas, com a genialidade absoluta dos arranjos e a voz única e até hoje jamais substituída ou sequer imitada do vocalista e arranjador principal do Queen: o próprio Freddie Mercury. A voz que alcançava três oitavas e meia era a sua maior ferramenta; para a revista Rolling Stone, ele foi um dos 20 melhores cantores de todos os tempos.
Para muito além do cenário rock, Mercury gravou diversos clássicos com grandes divas da ópera mundial e poderia ter sido um dos grandes nomes da música clássica do século 20. Cantou com ninguém menos que Montserrat Caballe, famosa cantora de óperas que cantou com ele sua composição “Barcelona”.
Voz inimitável e ousadia no palco, Freddie Mercury era um grande bailarino e o melhor dos performers de todos os tempos da música que encantou e encanta multidões. Ainda hoje, após 20 anos de sua morte, ele está entre os maiores faturamentos do rock mundial, vendendo mais do que muitos roqueiros vivos. Entre os anos de 1974 e 1986 o Queen realizou 9 turnês mundiais, lotando estádios com facilidade mundo afora, dando 700 concertos em 16 anos. “We Are The Cahmpions” está entre as canções mais cantadas por grandes públicos na era do rock, fazendo sempre tremer os alicerces dos estádios em que o Queen se apresentava.
Uma espécie de Wolfgang Amadeus Mozart do cenário do rock mundial, Mercury viveu de modo extravagante e intenso, causando a sua própria morte precoce provocada pela AIDS. Já se falava sobre a doença de Freddie há muito, mas ele fez o anúncio oficial de que estava com AIDS somente no dia 23 de novembro de 1991. No dia seguinte ele estava morto, vítima de pneumonia, aos 45 anos.
O lado moleque da humanidade
A mancha de óleo na Bacia de Campos, que vazou do Campo do Frade
O petróleo é mesmo uma merda! Essa história muito mal-contada e, sobretudo, mal-resolvida do vazamento no Campo do Frade, envolvendo a Xevron, é só mais um capítulo da sórdida novela porca do óleo negro que emporcalha o planeta há mais de um século. No último milésimo de segundo da história deste planeta de 4 bilhões e 500 milhões de anos, a maior praga que jamais passou pela Terra e que somos nós conseguiu deixar pegadas que se fixam no DNA do planeta.
Além da inacreditável sequência de mentiras e de descaso da imprensa em torno do desastre que afeta toda a vida no nosso mar territorial, ainda noticiaram com um alarde de quem diz “está tudo resolvido”: “O tamanho da mancha de óleo reduziu para dois quilômetros!”
Sabe, isso tudo me lembra os moleques. Aqueles que vão chegando na sua casa e entrando nos quartos, abrindo as portas dos armários, as gavetas, as caixas, tudo. Normalmente, movidos por sua insaciável e incontrolável curiosidade, nada respeitam e quase sempre deixam alguma marca de sua passagem oculta pelos ambientes que você já havia fechado preventivamente. O resultado inevitável é descobrir depois, quando o moleque já se foi, que num ambiente que você considerava à prova de moleques, ele quebrou um vaso, um eletrônico danificado ou até algo que sumiu.
Nesse sentido, a humanidade está agindo em relação à natureza como o pior dos moleques. E o que a move, definitivamente, não é a curiosidade. É a cobiça, a ganância, a ambição.
Olha, o Criador deve ter tido uma razão muito plausível para esconder o petróleo em lugares tão inatingíveis, profundos, ocultos. Ele fechou a porta, isolando algo da natureza que ele sabia ser perigoso, precioso e que deveria permanecer intocado. Mas a humanidade moleque (que aliás chegou por aqui muuuuito tempo depois do petróleo!) achou que podia botar a mão, fazer uso, descobrir para quê serve e, na maior caradura, pegar sem pedir permissão. Acabou derramando! Deixou manchas negras, espessas, indigestas, assassinas por todo o planeta. No caso do Campo do Frade, forçou até quebrar a fechadura que havia sido colocada.
Olhando desse ponto de vista, o Pré-sal não é uma bênção para o Brasil. O Pré-sal é uma grande maldição, isso sim. Porque os moleques ainda vão fazer muita lambança por trás das portas que deveriam ficar fechadas. Senão, elas não teriam sido colocadas em lugar tão escondido. O petróleo é uma merda. Mesmo!
O petróleo é mesmo uma merda! Essa história muito mal-contada e, sobretudo, mal-resolvida do vazamento no Campo do Frade, envolvendo a Xevron, é só mais um capítulo da sórdida novela porca do óleo negro que emporcalha o planeta há mais de um século. No último milésimo de segundo da história deste planeta de 4 bilhões e 500 milhões de anos, a maior praga que jamais passou pela Terra e que somos nós conseguiu deixar pegadas que se fixam no DNA do planeta.
Além da inacreditável sequência de mentiras e de descaso da imprensa em torno do desastre que afeta toda a vida no nosso mar territorial, ainda noticiaram com um alarde de quem diz “está tudo resolvido”: “O tamanho da mancha de óleo reduziu para dois quilômetros!”
Sabe, isso tudo me lembra os moleques. Aqueles que vão chegando na sua casa e entrando nos quartos, abrindo as portas dos armários, as gavetas, as caixas, tudo. Normalmente, movidos por sua insaciável e incontrolável curiosidade, nada respeitam e quase sempre deixam alguma marca de sua passagem oculta pelos ambientes que você já havia fechado preventivamente. O resultado inevitável é descobrir depois, quando o moleque já se foi, que num ambiente que você considerava à prova de moleques, ele quebrou um vaso, um eletrônico danificado ou até algo que sumiu.
Nesse sentido, a humanidade está agindo em relação à natureza como o pior dos moleques. E o que a move, definitivamente, não é a curiosidade. É a cobiça, a ganância, a ambição.
Olha, o Criador deve ter tido uma razão muito plausível para esconder o petróleo em lugares tão inatingíveis, profundos, ocultos. Ele fechou a porta, isolando algo da natureza que ele sabia ser perigoso, precioso e que deveria permanecer intocado. Mas a humanidade moleque (que aliás chegou por aqui muuuuito tempo depois do petróleo!) achou que podia botar a mão, fazer uso, descobrir para quê serve e, na maior caradura, pegar sem pedir permissão. Acabou derramando! Deixou manchas negras, espessas, indigestas, assassinas por todo o planeta. No caso do Campo do Frade, forçou até quebrar a fechadura que havia sido colocada.
Olhando desse ponto de vista, o Pré-sal não é uma bênção para o Brasil. O Pré-sal é uma grande maldição, isso sim. Porque os moleques ainda vão fazer muita lambança por trás das portas que deveriam ficar fechadas. Senão, elas não teriam sido colocadas em lugar tão escondido. O petróleo é uma merda. Mesmo!
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Imitamos até os problemas deles
No dia 9 de agosto de 1968, a revista americana “Life” saiu com esta foto na capa. Ela não representa uma orgulhosa companhia aérea americana apresentando toda a sua frota. Ao contrário, mostra um gigantesco congestionamento no aeroporto La Guardia, em Nova York.
A foto foi tirada numa das muitas “Sextas-feiras Negras” da aviação norte-americana na época, que enfrentava a situação caótica de inúmeros vôos atrasados, e foi descrita pela revista numa ampla reportagem de capa naquela edição. O caos reinava não só naquele aeroporto nova-iorquino, mas em todo o espaço aéreo dos EUA e era fruto direto do crescimento daquele país.
É engraçado como o mundo dá voltas. A popularização dos vôos e a ascensão social das classes C e D causaram exatamente o mesmo fenômeno nos EUA, há 45 anos, que está causando no Brasil de hoje. Eis que, num ritmo inédito de crescimento, o Brasil embarca num caos parecido em pleno século 21. Será mera coincidência ou simples conseqüência do crescimento desordenado de uma nação que quer figurar entre as maiores do mundo? Deixo a pergunta no ar, para que você mesmo faça seu julgamento.
Talvez, depois de passar pela crise dos aeroportos congestionados e dos vôos atrasados, imitemos também diversas outras crises norte-americanas e findemos no caos econômico, ambiental e social em que eles se encontram atualmente... Nossa capacidade de imitação não tem limites.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Morre Danielle Mitterrand
A viúva do ex-presidente francês François Mitterrand, morreu nesta madrugada aos 87 anos no hospital Georges-Pompidou, em Paris, onde estava internada desde a última sexta-feira em coma induzido. A mulher, uma das referências internacionais da esquerda e da luta pelos direitos humanos, durante a presidência de seu marido sempre foi uma primeira dama atípica, que não gostava do protocolo e mostrava publicamente seu apoio aos movimentos socialistas da Nicarágua, de Cuba, da Bolívia e do Curdistão.
Já como jovem, aos 17 anos, Danielle juntou-se à resistencia francesa contra a ocupação nazista e foi dessa forma que conheceu aquele que posteriormente seria seu marido, François, que se escondeu da Gestapo na casa de seus pais. O casal casou-se em 1944 e teve três filhos, um dos quais morreu ainda pequeno.
Sempre fiel a seus ideais de esquerda através da fundação France-Libertés, que criou em 1986, participou ativamente em diversos projetos ao redor do mundo. “Minha condição de esposa do presidente colocou-me numa conjuntura em que se escutam inumeráveis chamados de homens e mulheres oprimidos”, explicava. “O objetivo está claro: un mundo mais justo”, reafirmou ainda no último mês de outubro, quando sua fundação France Libertés completou 25 anos.
Como parte de sua luta em favor dos deserdados, tomou decidido partido em La Paz ao lado do presidente boliviano Evo Morales, confrontado em 2007 durante o debate por uma nova Constituição por líderes separatistas daquele país. “Vamos esperar que Evo Morales tenha a mesma sorte de Salvador Allende para chorar depois sobre a tumba da democracia boliviana?”, questionou a ex-primeira dama em um documento público.
Danielle Mitterrand viajou em numerosas ocasiões a Cuba para impulsionar projetos de cooperação, dando ênfase sobretudo a temas ambientais e em especial ao direito a acesso à água enquanto patrimônio da humanidade. Também não vacilou em manifestar em numerosas ocasiões seu apoio a Havana e a Fidel Castro, até o ponto de provocar forte polêmica, quando abraçou o dirigente cubano na entrada do palácio presidencial francês durante a visita dele à França em 1995.
Iniciativas como estas às vezes colocavam em posição difícil a diplomacia francesa e provocavam reações críticas de governos extrangeiros para os quais não estava clara a diferença entre a “primeira dama” e a militante. Em 1989, provocou mal-estar em Pequim ao receber, na sede da fundação em Paris, o Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos.
Danielle Mitterrand nasceu em 29 de outubro de 1924 em Verdun, no leste da França, como filha de um diretor de escola – destituído pelo governo colaboracionista dos nazistas de Vichy, por não ter denunciado seus alunos judeus – e de uma professora, ambos militantes socialistas. Aos 17 anos se alistou como enfermeira na guerrilha contra os nazistas que ocupavam a França durante a Segunda Guerra Mundial e foi uma das mais jovens condecoradas por sua ação dentro da Resistência.
Autora de vários livros, entre os quais o best-seller “En toutes libertés” (Em total liberdade, 1996) e “Le livre de ma mémoire” (Livro da memória, 2007). Nos últimos anos e apesar de sua saúde precária não economizava seu tempo para militar: “Isto me mantém desperta. A partir de certa idade se pode adormecer e eu não tenho nenhum desejo de morrer pouco a pouco”.
(Fonte: Pagina/12)
Moby Dick existiu de verdade
No dia 20 de novembro de 1820, a cerca de 3.700 quilômetros da costa do Chile, um cachalote anormalmente grande destruiu o navio baleeiro Essex (de Massachusetts, EUA). O jovem Thomas Nickerson, de apenas 14 anos, estava a bordo do “Essex” e escreveu um relato sobre o ataque, incluindo este desenho, contando também sobre os três meses de sobrevivência em alto mar que se seguiram à destruição do navio.
Este é o episódio real que inspirou o romance “Moby Dick”, publicado em 1851 por Herman Melville. A obra de Melville tornou-se um dos maiores clássicos da literatura mundial; uma verdadeira obra prima. “Moby Dick” é uma extraordinária metáfora da condição humana. Na longa viagem do navio “Pequod”, a tripulação está interessada em enriquecer rapidamente, enquanto o capitão Ahab está obcecado em capturar o “monstro”. No centro de tudo está o absurdo das ambições humanas.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Reação intempestiva do Vaticano
Eis a reação que já era esperada pelos marqueteiros da Benetton. Com a atitude intempestiva de Roma, fica mais uma mancha desnecessária na já combalida fama de uma instituição que teima em não atualizar a mensagem viva do Evangelho, tornando-o refém de uma tradição que visa preservar poder (que já não existe extra-muros do Vaticano). Pena. Podiam ter levado esta história para o lado positivo, granjeando maior respeito e admiração. Imagino que uma boa reação teria sido agradecer pela sugestão do "ósculo santo", que até a Bíblia defende como um bom caminho para a conciliação e a paz. Preferiram ver uma agressão que não existe em imagens extremamente sugestivas. Todos os outros "atingidos" pela campanha preferiram silenciar. Talvez porque perceberam que a ideia dos marqueteiros da Benetton não é ruim... Veja o texto do jornalista Antônio Carlos Ribeiro sobre isso, abaixo.
"A decisão imediata da Santa Sé de processar a Benetton por causa da foto do papa beijando o imã de Al-Azhar desperta a atenção. As fotos da campanha UNHATE da Benetton destaca a luta contra o ódio e a intolerância. Os maiores líderes mundiais foram incluídos e não anunciaram atitudes judiciais contra a empresa.
A decisão do Vaticano de empreender ações legais contra a fotomontagem em que o papa Bento XVI beija o imã sunita Ahmed el Tayeb, anunciada pela Secretaria de Estado da Santa Sé, ampliará as condições para divulgação da campanha. A reação pode ter sido prevista pelos marqueteiros e integrada como potencializadora da peça publicitária. A primeira e, até o momento, a única reação foi baseada na ofensa e ganhou amplitude por ser uma campanha contra o ódio.
A campanha que inclui fotomontagens de beijos entre líderes de expressão mundial como Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, Obama e Hu Jintau, presidente da China, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, e Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, tem a clara intenção de mostrar líderes de países e instituições religiosas em conflito de interesse, justificando a peça publicitária.
A intenção de retirar de circulação a campanha publicitária, já na véspera, mostra como a estratégia previu as explicações do grupo empresarial italiano. Criada a publicidade, imediatamente vista como ofensiva, anunciada a retirada da peça, feita a divulgação pelos meios de comunicação, especialmente em veículos televisivos e eletrônicos, cuja marca é o imediatismo e o alcance, foram dados quase todos os passos.
O último, contando com reação proporcional ao grupamento humano que julga alcançar e em nome de valores morais das quais se julga representante, foi a reação previsível e sua integração ao conjunto da campanha. A previsibilidade está associada a outras, como a condenação de filmes, livros, campanhas e obras de artes de natureza diversa, cuja reação potencializou a divulgação a despertar o interesse no contraditório, nas reações e mesmo nas reações.
No caso em tela, outro ingrediente que pode ter escapado à percepção publicitária e de mercado dos assessores da Santa Sé, o tema da campanha será destacado pela contradição de uma instituição religiosa por tomar atitude intempestiva, a que se acrescentam as denúncias de pedofilia, as repercussões em relação ao clero, judiciais e patrimoniais, que geraram desgastes e publicidade negativa nos últimos anos.
Houve até mesmo o cuidado de lembrar "que o sentido desta campanha era exclusivamente combater a cultura do ódio sob todas as formas", informou um porta-voz do grupo conhecido e premiado pela criatividade publicitária da campanha "United Colors of Benetton". A campanha foi apresentada ontem por Alessandro Benetton, vice-presidente do Benetton Group, em Paris.
Com as campanhas publicitárias do grupo Benetton, comandadas pelo fotógrafo Oliviero Toscani, em que estão duas personalidades religiosas ao lado de políticas, será necessário aguardar a reação do grande público. A peça foi elaborada num conjunto em que estão em jogo relações afetivas, políticas, sociais e religiosas de expressão mundial. Se houver eco expressivo de apoio à decisão pela ofensa, a campanha já terá alcançado grande percentual dos objetivos previstos. Se não, restará um discurso moralista que, mesmo divulgado, não conterá os efeitos da divulgação.
Os efeitos para o mundo ocidental devem ter sido avaliados, seguidos pela decisão da manutenção. No caso do mundo árabe, que envolve apenas o imã, por razões inversas, terá o mesmo efeito, por causa da imagem dos valores que costumam atribuir ao ocidente, especialmente com os desgastes gerados pelas guerras de massacres sem objetivos maiores que influência, domínio e lucro.
E um aprendizado longo, a duras penas e sem efeitos: a proporção da reação à ofensa dará os limites da importância atribuída. Do ataque às torres gêmeas, às publicações de wikileaks e às fotos de beijos entre lideranças políticas e religiosas. E às reações, com seus impactos."
(Texto do jornalista Antonio Carlos Ribeiro para a Agência Latino-Americana e Caribenha de Copmunicação-ALC)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Acessibilidade garantida
Para a IECLB, igreja pioneira na luta pela inclusão e que tem dado um belo exemplo, o dia 17 de novembro deve ser registrado como histórico. A presidenta Dilma Rousseff assinou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência-PD, chamado de “Viver sem Limite”. Com o objetivo de promover inclusão social das PD, o governo pretende investir 7,6 bilhões em prevenção, profissio¬nali¬za¬ção e autonomia para essa gente, vítima histórica de exclusão e preconceito.
Romário, criticado quando era jogador e agora como deputado federal, tem surpreendido na luta pela causa das PD. Ele tem uma filha com Síndrome de Down, com o lindo nome de Ivy, e participou da cerimônia de lançamento do Plano inédito do Governo Federal, para cuja implantação ele também contribuiu.
Eliminar barreiras e permitir o acesso a bens e serviços disponíveis a toda a população são os principais objetivos. Com metas a serem cumpridas até 2014, as ações serão executadas em conjunto por 15 órgãos do Governo Federal, sob a coordenação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O programa irá oferecer até 150 mil vagas para qualificação profissional e suas ações estão distribuídas em quatro eixos: educação, saúde, inclusão social e acessibilidade.
Na educação, o plano quer a adaptação de 42 mil escolas públicas e instituições federais de ensino, a compra de 2,6 mil ônibus acessíveis para o transporte de 60 mil alunos, a contratação de 648 professores de Libras e a implantação de mais salas com recursos multifuncionais. Na saúde haverá mais testes do pezinho, acesso à órtese e prótese e recursos do SUS para adaptação e manutenção de cadeiras de rodas. Também haverá centros de referência para apoiar as PD em situação de risco, mais treinadores para cães-guias e acessibilidade nas casas construídas pelos programas do Governo.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Na hora do jogo, pode dizer qualquer coisa sem consequências?
Suárez foi acusado formalmente de ofender Evra com declarações racistas.
Foto: AgNews/AP
Não é de hoje que o futebol inglês tem sido palco de manifestações racistas. Os petardos vêm da torcida dos times, mas também afloram em campo, em meio ao calor e à excitação dos jogos. O zagueiro John Terry e o atacante Luis Suarez são dois jogadores envolvidos em acusações formais desse tipo de comportamento.
Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, entretanto, esse tipo de acusação é conversa. Ele não acredita que os atletas acusados tenham de fato ofendido seus adversários dessa maneira. Por conta de suas declarações, os jogadores negros fizeram duras críticas ao cartola-mor do futebol mundial. Ele disse que resolveria esses casos com um simples aperto de mão entre os atletas.
Ontem (16 de novembro) o atacante uruguaio Suárez foi acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol por ter dirigido xingamentos de conteúdo racista ao lateral esquerdo do Manchester United, Patrice Evra. O capitão da seleção da Inglaterra e do Chelsea, John Terry, foi denunciado pelo zagueiro Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers, pelo mesmo delito.
Para Blatter os xingamentos e as ofensas entre os atletas durante uma partida são normais e todos esses casos, que tomaram grandes proporções na Europa, não passam de mal entendidos. “Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo e ao final dele nós nos apertamos as mãos”, declarou Joseph Blatter em entrevista à CNN.
A declaração de Blatter faz retornar à minha cabeça uma frase que Paulo Maluf disse numa palestra na PUC, em 1989: “Se tem desejo sexual, estupra mas não mata”. Ele próprio a classificou mais tarde como a frase mais infeliz da sua vida. Entretanto, revela que a nossa cabeça nos trai quando, no fundo no fundo, acreditamos em alguma coisa e defendemos outra.
Também a frase do dirigente máximo do futebol mundial dá a entender que, para ele, o calor da competição justifica qualquer coisa e até declarações absolutamente despropositadas podem ser ditas nessas horas. Depois a gente as classifica como “a frase mais infeliz da minha vida” e se passa uma borracha por cima, como se não tivesse sido dita.
Mas o resultado da frase permanece, porque fomenta uma cultura que está na cabeça de muita gente e que precisa, sim, ser combatida não só com afagos e tapinhas nas costas, do tipo “nós compreendemos”. Não dá para compreender, nem aceitar, nem relevar. E se a FIFA não aceita intermediar essa disparidade absurda, quem o fará no futebol? Os atletas negros que engulam em seco e se virem com o que ouvem em campo, porque isso faz parte do futebol? Sinceramente, não dá. A revolta dos atingidos, que não pouparam Blatter de duras críticas, é mais que justificada.
Foto: AgNews/AP
Não é de hoje que o futebol inglês tem sido palco de manifestações racistas. Os petardos vêm da torcida dos times, mas também afloram em campo, em meio ao calor e à excitação dos jogos. O zagueiro John Terry e o atacante Luis Suarez são dois jogadores envolvidos em acusações formais desse tipo de comportamento.
Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, entretanto, esse tipo de acusação é conversa. Ele não acredita que os atletas acusados tenham de fato ofendido seus adversários dessa maneira. Por conta de suas declarações, os jogadores negros fizeram duras críticas ao cartola-mor do futebol mundial. Ele disse que resolveria esses casos com um simples aperto de mão entre os atletas.
Ontem (16 de novembro) o atacante uruguaio Suárez foi acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol por ter dirigido xingamentos de conteúdo racista ao lateral esquerdo do Manchester United, Patrice Evra. O capitão da seleção da Inglaterra e do Chelsea, John Terry, foi denunciado pelo zagueiro Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers, pelo mesmo delito.
Para Blatter os xingamentos e as ofensas entre os atletas durante uma partida são normais e todos esses casos, que tomaram grandes proporções na Europa, não passam de mal entendidos. “Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo e ao final dele nós nos apertamos as mãos”, declarou Joseph Blatter em entrevista à CNN.
A declaração de Blatter faz retornar à minha cabeça uma frase que Paulo Maluf disse numa palestra na PUC, em 1989: “Se tem desejo sexual, estupra mas não mata”. Ele próprio a classificou mais tarde como a frase mais infeliz da sua vida. Entretanto, revela que a nossa cabeça nos trai quando, no fundo no fundo, acreditamos em alguma coisa e defendemos outra.
Também a frase do dirigente máximo do futebol mundial dá a entender que, para ele, o calor da competição justifica qualquer coisa e até declarações absolutamente despropositadas podem ser ditas nessas horas. Depois a gente as classifica como “a frase mais infeliz da minha vida” e se passa uma borracha por cima, como se não tivesse sido dita.
Mas o resultado da frase permanece, porque fomenta uma cultura que está na cabeça de muita gente e que precisa, sim, ser combatida não só com afagos e tapinhas nas costas, do tipo “nós compreendemos”. Não dá para compreender, nem aceitar, nem relevar. E se a FIFA não aceita intermediar essa disparidade absurda, quem o fará no futebol? Os atletas negros que engulam em seco e se virem com o que ouvem em campo, porque isso faz parte do futebol? Sinceramente, não dá. A revolta dos atingidos, que não pouparam Blatter de duras críticas, é mais que justificada.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Beijos contra o ódio
A nova campanha “United Colors of Benetton” com o mote “UNHATE” (não ódio), foi apresentada oficialmente no início da tarde desta quarta-feira por Alessandro Benetton, vice-presidente do Benetton Group, em Paris.
A campanha mostra personalidades da política internacional, que tradicionalmente estão em papéis antagônicos, se beijando na boca. A foto do Papa beijando na boca um imã no Cairo causou revolta entre os fieis das duas maiores religiões do planeta. Em vista da hostilidade dos fieis, a campanha foi retirada do ar em seguida.
“Lembramos que o sentido desta campanha é exclusivamente combater a cultura do ódio sob todas as formas”, comentou em comunicado um porta-voz da Benetton sobre as fotomontagens. Elas mostram beijos calorosos, além da contestada foto com os dois líderes religiosos, entre Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, Mahmud Abbas e Benjamin Netanyahu, Barack Obama e o presidente chinês Hu Jintao, o mesmo Obama e Hugo Chávez, e os presidentes das duas Coréias.
No bolso não!
É engraçado este mundo em que vivemos, que é movido pelo capital. Pode-se mexer em todos os valores, menos naquele que faz mover a economia. Pode-se por a mão em tudo, menos no bolso.
Veja a era Berlusconi, por exemplo. Silvio mexeu em tudo, derrubou todos os preceitos de honradez e respeito. A sua governança foi uma sucessão de escândalos que poucas vezes se assistiu na Itália. Até de fascista ele brincou, e nada lhe aconteceu. Abuso de menores, safadezas de toda ordem e uma cara de pau que por aqui só se viu estampada no Maluf em termos de transformar a coisa pública numa trincheira particular... Nada mexeu nele. O crime que todos cobraram dele, inclusive seus pares de partido, foi a incapacidade de resolver a crise de grana da Itália. Se Silvio tivesse resolvido isso, continuaria firme e forte no seu amado posto de primeiro ministro.
Infelizmente, Berlusconi é apenas uma metáfora para o mundo inteiro. Tudo é permitido, desde que o bolso não seja afetado.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Pinheiro ameaçado
Uma questão ambiental séria, que nos atinge diretamente aqui, na região Sul do Brasil. A narração deste documentário foi feita por Gian Francisco Guarnieri, seu ultimo trabalho em vida. As imagens são do documentarista Haroldo Palo Junior. Concepção, criação e montagem de Eloi Zanetti.
domingo, 13 de novembro de 2011
Por uma nova mentalidade
O misto de festival de rock e acampamento de jovens que está ocorrendo de ontem a amanhã em Paulínia (SP) tem mais em mente do que só curtir música. Quer envolver os jovens no debate e na postura mais sustentável em relação ao planeta que habitamos. Muitos convidados especiais, além de cantar, estão se manifestando. Martina Silva e diversos outros ambientalistas, bem como gente famosa, como a atriz Daryl Hannah. O embalo da música é o combustível do Fórum Global de Sustentabilidade, que acontece dentro do Festival SWU.
Daryl Hannah, atriz famosa de Hollywood e ativista ambiental radical, que mora numa fazenda em que colhe seu próprio sustento e sem usar nenhum tipo de veneno, participou do SWU com excelentes pitacos para o debate do tema “Desenvolvendo novas possibilidades: iniciativas transformadoras”.
Outras presenças que falam a voz ambiental foram Manoel Cunha, do Conselho Nacional dos Seringueiros, Virgílio Viana, da Fundação Amazônia Sustentável, Cristian Del Campo, da fundação Um Teto para Meu País. Manoel Cunha protestou contra a discriminação contra as ONGs após os escândalos envolvendo os ministérios do Esporte e do Trabalho. “Eu presido uma ONG há seis anos e sou do time dos honestos e dos que sabem que as Ongs tem papel fundamental, não é porque uma ou outra deixou de fazer as coisas certas que devemos achar que todas são erradas”, disse o seringueiro.
E ele tem toda razão. Essa onda de suspeitas de corrupção está sendo aproveitada para tornar a expressão ONG sinônimo de safadeza, o que de modo algum é verdade. O Brasil é um país de voluntários; de exércitos deles. Muitos, dando o sangue em ONGs absolutamente sérias e comprometidas.
Daryl Hannah, é cofundadora da SBA (Aliança de Sustentabilidade do Biodiesel). Conhecida por ter atuado em filmes como Blade Runner (1982) e Kill Bill (2004), a atriz veio ao SWU e fez uma palestra de dez minutos sobre a importância de mudar as atitudes. Respondendo a pergunta de como mobilizar as pessoas para mudar o mundo, ela lembrou que o mundo, na verdade, é uma aldeia. "Quando vemos a foto do planeta, vemos que somos uma família e dependemos dele. As pessoas precisam entender que somos uma família e vamos nos destruir se não mudarmos", disse a atriz, que se despediu com um sonoro "obrigado", em português.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Borboletas de Zagorsk
(Grã-Bretanha, 1992, 60 min - Produção: Michael Dean)
Borboletas de Zagorsk é um documentário produzido pela BBC em 1992 que trata do trabalho desenvolvido em uma escola russa com crianças surdas e cegas inspirado nos estudos de Lev Vygotsky. A obra tem 60 minutos de duração e se passa na cidade de Zagorsk, a 80 km de Moscou. (Fonte: wikipédia)
Os estudos sobre a defectologia, presentes na teoria de Vygotski enfatizam que as pessoas com deficiência, através de mecanismos compensatórios, passam a utilizar seus sentidos normais para substituir seus sentidos perdidos.
Neste sentido, o documentário reforça a importância da mediação e a crença de que todas as pessoas, independente da idade e da condição física ou intelectual, são capazes de aprender. Concepção esta também retratada na teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural do educador Romeno Reuven Feuerstein. Com a conhecida frase: "Não me aceite como eu sou", Feuerstein desafia o educador a planejar e propor ações que possibilitem ao sujeito relacionar-se com seus pares, sem que esta relação seja permeada pelo atributo da incompetência por acreditar que não se pode prever, nunca limites para o desenvolvimento humano. Borboletas de Zagorsk é a evidência disso. (Blog Sobre Educação)
PARTE 1
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5
PARTE 6 (Final)
Borboletas de Zagorsk é um documentário produzido pela BBC em 1992 que trata do trabalho desenvolvido em uma escola russa com crianças surdas e cegas inspirado nos estudos de Lev Vygotsky. A obra tem 60 minutos de duração e se passa na cidade de Zagorsk, a 80 km de Moscou. (Fonte: wikipédia)
Os estudos sobre a defectologia, presentes na teoria de Vygotski enfatizam que as pessoas com deficiência, através de mecanismos compensatórios, passam a utilizar seus sentidos normais para substituir seus sentidos perdidos.
Neste sentido, o documentário reforça a importância da mediação e a crença de que todas as pessoas, independente da idade e da condição física ou intelectual, são capazes de aprender. Concepção esta também retratada na teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural do educador Romeno Reuven Feuerstein. Com a conhecida frase: "Não me aceite como eu sou", Feuerstein desafia o educador a planejar e propor ações que possibilitem ao sujeito relacionar-se com seus pares, sem que esta relação seja permeada pelo atributo da incompetência por acreditar que não se pode prever, nunca limites para o desenvolvimento humano. Borboletas de Zagorsk é a evidência disso. (Blog Sobre Educação)
PARTE 1
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5
PARTE 6 (Final)
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
A mais terrível das noites
A “Noite dos Cristais” (Kristallnacht), na passagem de 9 para 10 de novembro de 1938, deu início à terrível história do holocausto que exterminou seis milhões de judeus na Alemanha e em toda a Europa. Até o final da guerra, em 1945, representou uma das mais sádicas e inacreditáveis histórias de xenofobia e ódio racial que a realidade foi capaz de procuzir e nenhum escritor até então, por mais imaginativo que fosse, foi capaz de antecipar. Durante a Noite dos Cristais, multidões inteiras saíram às ruas para quebrar e incendiar tudo o que lembrasse a existência dos judeus: sinagogas, comércios, indústrias, bancos e casas particulares. Tudo foi destruído pelo fogo e os quebra-quebras, alimentados pelo combustível explosivo do ódio. Foi o maior pogrom de que se tem notícia, essa prática que já vem da idade média, em que se fazia arrastões para expulsar judeus ou outros indesejados.
Logo em seguida a esta terrível noite, estarrecidos e sem nenhuma proteção, sem qualquer protesto ou mesmo sem alguma denúncia, milhares de judeus começaram a ser torturados, deportados para campos de concentração e mortos. Seus bens eram sumariamente confiscados e cada pequena mala era rigorosamente revirada para completar a pilhagem a coisas tão pequenas como brincos e anéis. Todo dinheiro foi roubado deles e eram obrigados a deixar para trás as suas poupanças. Hordas de sádicos arianos se espremiam diante de mesas de leilões para disputar qualquer objeto de valor, que eram adquiridos com festa e alegria contagiante.
Até ali, a partir de 1933, a perseguição aos judeus na Alemanha limitava-se a boicotes contra o comércio deles ou a proibição de que eles frequentassem hospitais e estabelecimentos públicos. Em 1935, a perseguição recebeu o respaldo da lei, com a “Legislação Racisca de Nüremberg”, que proibia casamentos de judeus com não-judeus e alemães de trabalharem em estabelecimentos ou casas de judeus. Para eles era proibido até mesmo hastear a bandeira com a suástica!
O sanguinário evento da Noite dos Cristais fora incentivado pelos nazistas por causa do assassinato do diplomata alemão em Paris por um judeu de 17 anos de idade. Ele por si só, por sua brutalidade que não poupava sequer idosos e crianças, poderia vir a ser o topo de uma cadeia de ódio e perseguição que beira à loucura. Foi uma noite até hoje indescritível, por mais que já se tenha escrito sobre ela. O ódio de toda a população alemã era tão visceral que o comandante nazista Hermann Göring lamentou “as enormes perdas materiais” resultantes do quebra-quebra daquela noite. “Eu preferia que tivessem matado 200 judeus em vez de quebrar tanta coisa de valor”, disse ele.
Reproduzo aqui essas imagens e reconto essa história já mil vezes relatada. Para que ela não se repita. Embora já tenha acontecido de novo, diversas vezes, depois daquela noite que ainda hoje nos choca, em Ruanda, no Camboja, no Sudão e também nos corações de muitas pessoas...
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Folclore para vencer a xenofobia
Uma experiência enriquecedora e surpreendente foi a nossa reunião de pauta da revista Novolhar, ontem em São Leopoldo. Estiveram conosco duas jovens empreendedoras de Nova Petrópolis, Carla Ferreira e Cândida Maldander, da Secretaria de Educação e Cultura dessa cidade da região serrana próxima de Gramado. A tarefa dessas duas batalhadoras é organizar o Festival Internacional do Folclore de Nova Pretópolis.
Quando se fala em folclore, tem-se em mente aquelas danças típicas, cirandas, lendas regionais e a cultura que marca o passado, relembrando os nossos antepassados. Geralmente, nos remete para tempos antigos, que se quer reviver. De fato, muitas vezes isso tem sido assim. Mas quando se quer fazer mais às vezes isso é difícil. Como diz a própria Cândida, do orçamento do município o que sobra vai para a cultura. A tarefa, para quem organiza um evento grandioso como esse de Nova Petrópolis, é como a luta de Dom Quixote contra os moinhos de vento.
Entretanto, mesmo com um orçamento reduzido e usando recursos humanos e estrutura das secretarias municipais existentes, essas duas guerreiras fizeram muito mais do que isso. Organizam um festival grandioso, com presenças de todo o Brasil e até do exterior, tudo sob um ambicioso lema: “São as diferenças que nos unem”. Não se trata de uma simples frase de efeito, mas de uma idéia que busca combater o estranhamento do outro, a recusa da cultura e do jeito de ser e de viver do outro. Em suma, folclore ajuda a combater a xenofobia.
O festival que elas encabeçam promove a cultura como algo em movimento, que é dinâmico e perpassa não só o passado, mas atinge o nosso dia a dia. Para além disso, desafia à reflexão. Por exemplo, com uma celebração ecumênica que celebra a vida, a paz e a diversidade. E isso é genial, não é mesmo?
Por enquanto, parabéns às duas guerreiras. Mais detalhes vocês terão na edição de janeiro e fevereiro da Novolhar. Estou animadíssimo com o que vem por aí! Por ora, dê uma espiadinha nesse trabalho maravilhoso, realizado em Nova Petrópolis (aqui).
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Reprovados na doutrina
Essa é para o final de semana. Um humorístico de um canal de TV italiano andou pelas ruas de Roma entrevistando padres de diferentes nacionalidades sobre os dez mandamentos. O resultado é um vídeo inacreditável sobre dezenas de sacerdotes que não foram capazes de recitar à queima-roupa os mandamentos pedidos pela repórter. Quanto mais tentavam lembrar, mais confusão faziam e pior ficava a sua imagem diante das câmeras. Pior do que não sabê-los foram as desculpas que apresentaram para explicar o seu desconhecimento. Há até pessoas na rua que tentam ajudar os padres a recordar. Veja com os seus próprios olhos aqui.
Cabra marcado para morrer
O deputado Marcelo Freixo está na Europa com a mulher. Não foi passear. Viajou a convite da Anistia Internacional. Ameaçado de morte nada menos do que sete vezes durante o mês de outubro, ele foi preservar a sua integridade física; a própria vida.
O motivo das ameaças é a sua luta por justiça contra as milícias que assassinam gente às pencas no Rio de Janeiro, integradas por policiais militares e outras pessoas interessadas em justiciamento. Instauraram o clima de terror no Rio e qualquer pessoa que se colocar no caminho será sumariamente eliminado, não sem muitas ameaças antes, para deixar bem claro quem é que manda. O pior é que isso não está acontecendo só no Rio.
Mas, pasmem, além de não fazer nada para proteger Freixo das ameaças de morte, deixando-o com o problema como se fosse uma questão pessoal, de foro íntimo, espalharam por aí que Freixo foi com a mulher para a Europa fazendo estardalhaço sobre as ameaças, tudo para tirar proveito eleitoral da viagem.
Ele foi a convite da Anistia Internacional, a mais respeitada entidade de defesa dos direitos humanos no mundo. Irá falar a diversos públicos sobre o terror das milícias cariocas e os métodos que usam para impor-se à sociedade, ao arrepio da lei. Estamos na torcida para que ele encontre ouvidos abertos por lá. Aqui ninguém lhe dá ouvidos. Poucos o levam a sério. Acham que ele está fazendo firula. Amanhã ele poderá integrar a mesma lista de juízes e policiais mortos por combaterem essa gente.
Se você tem interesse em conhecer o trabalho de Marcelo Freixo, dê uma olhada aqui.
Caçado com boa razão
Cresci como filho
de gente rica. Meus pais deram-me
uma gravata e me educaram
nos hábitos de ser servido.
Ensinaram-me também a arte de mandar.
Mas quando cresci e olhei em volta
não gostei da gente de minha classe,
nem de mandar nem de ser servido.
E deixei a minha classe,
indo viver com os deserdados.
Deste modo, criaram um traidor.
Ensinaram-lhe as suas artes,
e ele passou
para o lado dos inimigos.
Sim. Eu revelo segredos.
Estou no meio do povo e relato
como eles o enganam.
Prevejo o que virá,
pois estou a par de seus planos.
O latim dos padres venais
traduzo palavra por palavra
na linguagem comum.
Assim todos vêem os seus disparates. Pego
nas mãos a balança da justiça
e mostro os falsos pesos. Os espiões
me delatam, revelando que estou
ao lado das vítimas
quando se dispõem a atacá-las.
Eles me advertiram e me tomaram
o que tinha ganho com meu trabalho.
E como não melhorei,
começaram a caçar-me.
Mas em minha casa só encontraram escritos
que denunciavam seus atentados contra o povo.
Emitiram então contra mim um mandado de prisão,
acusando-me de idéias subversivas,
isto é, da subversão de ter idéias.
Aonde chego sou estigmatizado
pelos proprietários, mas os deserdados
sabem do mandado de prisão e me escondem.
Dizem:
A você eles estão caçando com boas razões.
Bertold Brecht (Retirei daqui)
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
História real dos turcos na Alemanha
Operários turcos na mina Neu Monopol, em Unna-Alemanha
Tem muita gente que, sem conhecer o fator que originou a realidade em que vive, comete injustiças e equívocos em seu julgamento sobre pessoas e situações. Um caso típico desses é a realidade crescente de discriminação e xenofobia na Europa de hoje, especificamente na Alemanha. Muitos pensam, por exemplo, que os turcos promoveram uma verdadeira invasão da Alemanha em busca das benesses do desenvolvimento e da riqueza daquele país. Por isso, hoje são condenados por reinvindicarem espaço, direitos e mais igualdade nas comunidades em que vivem, muitas vezes já sendo até netos dos imigrantes turcos de outrora e, portanto, cidadãos alemães plenos. São condenados por uma parcela significativa da sociedade alemã, que os julga como invasores.
Para quem não sabe a origem da comunidade turca na Alemanha, tudo começou no dia 30 de outubro de 1961, data a partir da qual foi assinado um “Acordo de Recrutamento” com o governo da Turquia, com o objetivo de trazer um grande número de homens turcos saudáveis e solteiros para trabalharem na Alemanha.
Eles deveriam vir para fazer o “serviço pesado”, aquele que os alemães se negavam a fazer, porque seu poder aquisitivo podia pagar o luxo de “terceirizar” todo tipo de serviço que eles não queriam mais fazer e não fariam de jeito nenhum por pouco dinheiro (trabalhar nas minas de carvão ou na indústria metal-mecânica, por exemplo). Pagavam a passagem, despesas de viagem e um salário que, para os padrões dos trabalhadores que vinham, era muito tentador.
E muitos vieram. Não somente turcos, pois eu tenho alguns amigos pessoais que saíram do sul do Brasil para se inscreverem em programa semelhante de recrutamento. Eram amplamente conhecidos como “Gastarbeiter”, ou “trabalhadores convidados”.
Um dia eles deviam voltar, com a passagem de volta financiada pelos seus patrões alemães. Em muitos casos, entretanto, isso não aconteceu porque era extremamente caro e complicado para esses patrões trocar os seus “Gastarbeiter” a cada dois anos e financiar seu treinamento. Por isso, a obrigatoriedade de voltar após dois anos foi suspensa pelo governo alemão já em 1964, dando maior estabilidade aos “Gastarbeiter”. Com o tempo, eles podiam até trazer as famílias. E alguns foram ficando, ficando e ficando, por conta disso. Hoje têm filhos e netos, legítimos cidadãos alemães com passaporte e tudo, que, em muitos casos, nem mesmo falam mais a língua de seus pais ou avós “Gastarbeiter”.
Dos meus amigos brasileiros, somente um ainda está na Alemanha hoje, aposentado e com netos. Os demais voltaram ao Brasil após alguns anos na Alemanha.
Mas com a comunidade turca isso não aconteceu assim. Eles vieram em massa e, por conta dos custos de reintegração e troca, permaneceram a convite de seus patrões. Hoje, a comunidade turca é o maior grupo de imigrantes no país, com 2,5 milhões de cidadãos, dos quais 700 mil possuem passaporte alemão.
Eles, definitivamente, ajudaram a erguer a Alemanha durante o chamado “Milagre Econômico”, sendo recrutados diretamente em Istambul, por uma agência de empregos especialmente criada para isso. A Alemanha beneficiou-se dos braços desses trabalhadores e a Turquia levou vantagem com o fluxo de capital, através das montanhas de dinheiro que esses trabalhadores remetiam para seus familiares na terra de origem.
Hoje eles são tratados como o maior problema social da Alemanha, e até com certa arrogância por quem outrora usou e abusou de seus braços fortes e saudáveis. O problema é obviamente econômico, porque hoje ocupam postos de trabalho que fazem muita falta para os próprios alemães (e muitos descendentes dos “Gastarbeiter”, que subiram na escala social, também não querem mais fazer o serviço sujo que era feito por seus pais ou avós).
Para desconversar, implicam com a sua religião. Dizem temer uma Europa repleta de mesquitas, mas o que realmente os assusta é ter que repartir com eles o custo da crise que veio por conta do dinheiro gasto na boa vida das décadas passadas...
(Com informações da Deutsche Welle)
Tem muita gente que, sem conhecer o fator que originou a realidade em que vive, comete injustiças e equívocos em seu julgamento sobre pessoas e situações. Um caso típico desses é a realidade crescente de discriminação e xenofobia na Europa de hoje, especificamente na Alemanha. Muitos pensam, por exemplo, que os turcos promoveram uma verdadeira invasão da Alemanha em busca das benesses do desenvolvimento e da riqueza daquele país. Por isso, hoje são condenados por reinvindicarem espaço, direitos e mais igualdade nas comunidades em que vivem, muitas vezes já sendo até netos dos imigrantes turcos de outrora e, portanto, cidadãos alemães plenos. São condenados por uma parcela significativa da sociedade alemã, que os julga como invasores.
Para quem não sabe a origem da comunidade turca na Alemanha, tudo começou no dia 30 de outubro de 1961, data a partir da qual foi assinado um “Acordo de Recrutamento” com o governo da Turquia, com o objetivo de trazer um grande número de homens turcos saudáveis e solteiros para trabalharem na Alemanha.
Eles deveriam vir para fazer o “serviço pesado”, aquele que os alemães se negavam a fazer, porque seu poder aquisitivo podia pagar o luxo de “terceirizar” todo tipo de serviço que eles não queriam mais fazer e não fariam de jeito nenhum por pouco dinheiro (trabalhar nas minas de carvão ou na indústria metal-mecânica, por exemplo). Pagavam a passagem, despesas de viagem e um salário que, para os padrões dos trabalhadores que vinham, era muito tentador.
E muitos vieram. Não somente turcos, pois eu tenho alguns amigos pessoais que saíram do sul do Brasil para se inscreverem em programa semelhante de recrutamento. Eram amplamente conhecidos como “Gastarbeiter”, ou “trabalhadores convidados”.
Um dia eles deviam voltar, com a passagem de volta financiada pelos seus patrões alemães. Em muitos casos, entretanto, isso não aconteceu porque era extremamente caro e complicado para esses patrões trocar os seus “Gastarbeiter” a cada dois anos e financiar seu treinamento. Por isso, a obrigatoriedade de voltar após dois anos foi suspensa pelo governo alemão já em 1964, dando maior estabilidade aos “Gastarbeiter”. Com o tempo, eles podiam até trazer as famílias. E alguns foram ficando, ficando e ficando, por conta disso. Hoje têm filhos e netos, legítimos cidadãos alemães com passaporte e tudo, que, em muitos casos, nem mesmo falam mais a língua de seus pais ou avós “Gastarbeiter”.
Dos meus amigos brasileiros, somente um ainda está na Alemanha hoje, aposentado e com netos. Os demais voltaram ao Brasil após alguns anos na Alemanha.
Mas com a comunidade turca isso não aconteceu assim. Eles vieram em massa e, por conta dos custos de reintegração e troca, permaneceram a convite de seus patrões. Hoje, a comunidade turca é o maior grupo de imigrantes no país, com 2,5 milhões de cidadãos, dos quais 700 mil possuem passaporte alemão.
Eles, definitivamente, ajudaram a erguer a Alemanha durante o chamado “Milagre Econômico”, sendo recrutados diretamente em Istambul, por uma agência de empregos especialmente criada para isso. A Alemanha beneficiou-se dos braços desses trabalhadores e a Turquia levou vantagem com o fluxo de capital, através das montanhas de dinheiro que esses trabalhadores remetiam para seus familiares na terra de origem.
Hoje eles são tratados como o maior problema social da Alemanha, e até com certa arrogância por quem outrora usou e abusou de seus braços fortes e saudáveis. O problema é obviamente econômico, porque hoje ocupam postos de trabalho que fazem muita falta para os próprios alemães (e muitos descendentes dos “Gastarbeiter”, que subiram na escala social, também não querem mais fazer o serviço sujo que era feito por seus pais ou avós).
Para desconversar, implicam com a sua religião. Dizem temer uma Europa repleta de mesquitas, mas o que realmente os assusta é ter que repartir com eles o custo da crise que veio por conta do dinheiro gasto na boa vida das décadas passadas...
(Com informações da Deutsche Welle)
terça-feira, 1 de novembro de 2011
As mulheres alimentam o mundo
Segundo a Actionaid, o número de famintos no mundo deverá ultrapassar a marca de um bilhão de pessoas ao redor do final desse ano. As mulheres agricultoras são uma parte vital da solução dessa crise, como nunca antes. Elas são as principais responsáveis pela produção de alimentos por meio da agricultura familiar em pequenas propriedades ao redor do planeta.
A agricultura em escala reduzida produz a metade de todos os alimentos consumidos no mundo. A maior parte dos produtores é constituída de mulheres, que têm papel fundamental na alimentação de comunidades rurais e de nações inteiras. Ao mesmo tempo, entretanto, também são essas mesmas mulheres as mais prováveis candidatas a passar fome.
O principal motivo é que as políticas agrícolas muitas vezes negligenciam as suas necessidades e estão cegas aos obstáculos que elas enfrentam na produção dos alimentos. Se essas mulheres agricultoras tivessem maior acesso a treinamento, tecnologia, financiamentos e mercados para comercializar seus produtos, o número de pessoas com fome poderia ser reduzido em 15% em todo o mundo.
Com a população mundial atingindo a casa dos 7 bilhões de seres humanos, o papel dessas mulheres e mais importante do que nunca. Por isso, é fundamental continuar pressionando os governos a cumprir a promessa de reduzir pela metade a fome no mundo até 2015.
Crianças são as mais vulneráveis
A Organização das Nações Unidas estima que o mundo abrigue 100 milhões de crianças que vivem ou trabalham nas ruas. Esse contingente constitui um dos grupos mais vulneráveis a abusos de direitos. “Seu mundo é um mundo de desesperança, estigma, discriminação, indigência, pobreza e violência”, disse Navi Pillay.
Pillay é a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos. O tema será objeto de consulta, que começa hoje, em Genebra. Essas crianças devem ter seus direitos fundamentais respeitados e protegidos pelos Estados e pela população adulta. Pillay entende que os governos não podem penalizar crianças que desempenham atividades para sobreviver, como pedir esmolas e vaguear.
Para o operador de redes internacionais para a defesa dos direitos da criança na América Latina e co-fundador do Observatório Selvas, Cristiano Morsolin, a violência social, nas suas mais diversas manifestações como conflito armado, criminalidade, violência institucional e de gênero, “é um dos problemas mais graves que existe hoje na América Latina”.
AgênciaLatino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
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