segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Uma pausa para novos ares
Este foi um ano muito enriquecedor. Não só pude expressar livremente a minha opinião, como aprendi muitas coisas com cada post que deixei neste espaço. O mais gratificante, entretanto, foi ver o número de leitores e leitoras crescer, poder interagir com as pessoas que leem os posts deste blog e aprender desta relação maravilhosa. Foram mais de 320 posts ao longo de 2011 e muita coisa bonita aconteceu por causa dessa troca.
Agradeço a cada um e a cada uma de vocês por este escambo de ideias, reflexões, protestos, indignações e defesas apaixonadas de tudo aquilo que acreditamos e defendemos neste espaço. Vamos dar alguns dias de tempo, até porque é bom ficar um pouco longe do teclado, da internet, desse mundo da rotina comunicacional em que tanto gosto de me envolver. Vai fazer bem e renovar ares, forças, lutas. Em poucos dias estarei aqui de novo. Enquanto esperam e reviram os arquivos que deixei, desejo-lhe um ano de 2012 repleto de boas experiências. Paz e bem a todos/as!
Clovis H. Lindner
domingo, 25 de dezembro de 2011
The day after
É incontornável. O dia 25 de dezembro chega com um estranho gosto de dia seguinte. Passou a correria, terminaram os preparativos, esgotaram-se os bons desejos e se foram todos os abraços. Todos os presentes foram dados. Uma montanha de lixo acumula-se em todos os cantos da casa e em meu coração. Restos da ceia entopem a geladeira e as minhas coronárias. Pets, longnacks e latinhas amassadas transferiram o torpor de seus interiores para o meu cérebro.
Desejos não realizados também jazem nos abscônditos recantos de minha alma e nada mais parece preencher os espaços em aberto. Um torpor me invade. Uma estranha sensação de que o mais importante, como das outras vezes, ficou por ser dito, sentido, experimentado, vivenciado, repassado...
Eu tenho tudo e não necessito de coisa alguma. Entretanto, sinto-me como numa corrida maluca. Uma busca, que começou não sei quando nem porque, mas que jamais termina. Ela envolve-me com sua avassaladora onda e me arrasta consigo, implacável. A busca que jamais termina não me dá descanso. Falta o essencial, o verdadeiro, o que preenche e renova. Falta tudo, portanto, apesar de não me faltar nada.
Eu sei todas as respostas. Estudei meticulosamente cada uma delas. Estão na mente, na vida, no DNA, na tradição que guardo como um tesouro. Estão no arquivo do certo e do errado. Mas a inquietude não me larga. Arrasta-se presa aos meus pés, como a corrente de um prisioneiro perpétuo.
O que faço com tudo que experimentei de novo na noite passada, centado sob a árvore de Natal, já com suas pontas caídas e denunciando a morte que se instala em seu tronco decepado por mera tradição? O que faço com a minha cepa, que teima em não brotar?
Deito meu olhar sobre o presépio, ignorado em seu canto. Está dramaticamente soterrado por uma montanha de presentes de todos para todos. Os gestos dos abraços cheios da expectativa do consumo fácil o relegaram a um lugar no reino do esquecimento. É um Märchen a mais.
Ó menino que vens, mais uma vez, para encontrar nossas hospedarias lotadas de desejos e nossos hospedeiros demasiado ocupados com os hóspedes da noite santa. Mais uma vez não tivemos lugar para receber-te em nossas vidas, em nossos corações vazios, mas tão repletos de desesos fúteis, inúteis, descartáveis.
Mas dali em que te encontras, na palha da manjedoura, não desiste de mim. Não nos refugues, ó amado menino, ó Jesus que salva.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Martin Niemöller
Hoje faz 71 anos que a revista americana “Time”, no dia 23 de Dezembro de 1940, colocou na capa o pastor luterano Martin Niemöller (1892-1984), um dos fundadores da Igreja Confessante, que se opôs ao nazismo, ao lado de outros pastores luteranos, como Dietrich Bonhoeffer.
Niemöller foi preso pela primeira vez em 1935. Portavoz da resistência protestante, ele foi libertado passados uns meses, mas voltou para a prisão até ao final da guerra. A sua ficha na Gestapo o classificava como “inimigo pessoal do Führer”.
No período pós-guerra, foi presidente da Igreja Territorial de Hessen e Nassau e um dos importantes interlocutores do processo de paz e da reconstrução da consciência alemã. É dele o seguinte texto (por vezes atribuído a Bertolt Brecht):
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando prenderam os social-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não houve mais ninguém que pudesse protestar”.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
História digital da Natividade
Esse vídeo é uma peça genial, que mostra como correriam as notícias inéditas do nascimento de Jesus Cristo na era das redes sociais. É uma forma diferente e criativa de contar a história do Natal. Esta peça foi montada para um culto no Facebook, uma nova forma de celebração que está em voga entre jovens Cristãos europeus. Eles realizam culto sem irem à igreja, sob a coordenação de lideranças do trabalho entre jovens. O que fica da idéia deste trabalho é a certeza de que a história do Natal nunca envelhece. Por mais que sejamos atropelados pela modernidade, ela se adapta, sempre.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Um pouco do próprio veneno
O primeiro ano do governo de Dilma Rousseff está chegando ao fim e foi um período difícil, com a oposição tendo como único plano de ação desmoralizar o governo. Denúncias e mais denúncias, com pouquíssimas provas do que se levantou até agora, tudo com o claríssimo objetivo de empurrar o governo para o cadafalso.
Agora experimentam um pouco do próprio veneno. O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., com o título "A Privataria Tucana", coloca o dedo no centro da ferida aberta dos oito anos de privatizações do governo FHC. O livro teve a primeira edição de 15 mil exemplares esgotada no dia do seu lanbçamento. Até agora já vendeu mais de 70 mil exemplares.
Assim que entrou em circulação, a internet das redes sociais entupiram de comentários e caixas-postais eletrônicas lotaram. O que incomodou muita gente, e com razão, foi a posição silente dos denominados veículos tradicionais de mídia a respeito do livro, do seu conteúdo e dos documentos anexados.
Em todos os "casos" de ministros até agora demitidos, alguns deles claramente vítimas de um superbombardeio por parte dessa mesma mídia, com verbos sempre no futuro do pretérito (teria, seria, haveria etc.), não saíam de seus telejornais e jornais impressos enquanto continuassem nos seus cargos. Quando caíam, as metralhadoras escolhiam aleatoriamente um novo alvo. Isso tem sido assim por 11 longos meses. Com relação ao livro, apenas notas, de preferência com pronunciamentos do detestável Álvaro Dias que, sem ler o livro, falou em “matérias requentadas”.
Serra, que muitos consideram o próprio paladino do bem, chamou o livro de "lixo". O seu maior medo era que ele fosse lançado durante a campanha presidencial. Foi poupado até agora. A verdade é que o livro está recheado de documentos altamente comprometedores, comprovando um esquema de propinas, desvios e lavagem de dinheiro em paraísos fiscais envolvendo as privatizações praticadas no tempo em que ele era ministro e FHC era o presidente.
Particularmente a coitadinha da filha de José Serra, Verônica, que até chorou diante das câmeras do JN, porque teria sido vítima dos inescrupulosos petistas envolvendo familiar de candidato na sua sórdida campanha de difamação... Pois é... Está envolvida até o pescoço.
O veneno que agora bebem é o mesmo que estão ministrando em doses cavalares. Mas não é pelo bem do Brasil, não. E tem muita gente que se ilude com isso. O que está por trás é a disputa por voltar ao coxo e continuar a privataria, a rapinagem e muitas outras manobras das quais são grandes especialistas e tradicionais usuários.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Educação sem violência
O congresso aprovou ontem a lei que torna ilegais castigos físicos para a educação das crianças. A nova lei foi encaminhada pela Presidência da República no dia 14 de junho do ano passado para discussão no Congresso. Uma mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou ao Congresso o Projeto de Lei (PL) que agora foi aprovado.
A idéia original teve por trás a “Rede Não Bata, Eduque”, com o objetivo de suprir lacunas existentes no Estatuto da Criança e do Adolescente e criar mecanismos que garantam a integridade física e psicológica das pessoas com menos de 18 anos.
De acordo com a nova lei, a definição de “castigo” passa a ser incluída no artigo 18 do Estatuto como “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente”. Aqueles que infringirem a lei podem receber penalidades como advertência, encaminhamento a programas de proteção à família e orientação psicológica.
A “Lei da Palmada” busca a reversão de um quadro apontado por profissionais de saúde e educadores que convivem com crianças vitimadas e por pesquisa da Secretaria de Direitos Humanos: 70% dos meninos de rua saíram de casa por causa da violência. A intenção não é entrar na vida das famílias, mas propor uma política de conscientização do problema e também para a elaboração de políticas públicas que possam atender adequadamente as vítimas da violência.
A nova lei segue agora para o Senado.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Origem do termo “América Latina”
Memorial da América Latina, em São Paulo, com a mão criada por Oscar Niemeyer
O professor Carlos Walter Porto Gonçalves é especialista em América Latina, defensor das lutas indígenas e camponesas e ex-assessor de Chico Mendes, o líder sindical e ambientalista assassinado em 1988. No texto abaixo, ele nos dá uma aula de história sobre a origem do conceito “América Latina”. Sua palavras foram retiradas de uma entrevista ao jornal “Brasil de Fato”:
O termo “América Latina” foi usado pela primeira vez por um poeta colombiano, José María Caicedo, num poema chamado “As duas Américas”, em 1854. Ele usou essa expressão com clara posição de tensão em relação à América anglo-saxônica. Ele estava muito impactado pelo que havia acontecido, numa data que todos nós deveríamos ter sempre em mente: 1845- 1848, que é o período da guerra dos EUA contra o México. Quando os EUA fizeram a independência eram apenas as 13 colônias situadas a leste. Todas as terras do Texas até a Califórnia – com todos aqueles nomes em espanhol – foram tomadas do México.
De certa forma, o Caicedo dá continuidade ao que Simón Bolívar tinha percebido nos anos de 1820 em função da posição norte-americana em relação ao Haiti, o primeiro país do mundo a abolir a escravidão. O que faz os Estados Unidos? Junto com a França, faz pressão para que o Haiti pague por cada escravo que tinha se tornado livre, o que faz com que o país fique sufocado em dívidas.
E Simón Bolívar, que recebeu armas dos revolucionários haitianos para fazer os processos de libertação da América Latina, percebe que a doutrina de Monroe, “América para os americanos”, era para os americanos do norte, para os estadunidenses. Percebeu isso em 1823 e denunciou imediatamente, convocando uma integração entre os países, entre iguais, não uma integração subordinada. Ele usava a expressão “Pátria Grande”, a América integrada; ele dizia que tínhamos uma “pátria chica” – Brasil, Venezuela etc. – mas também a Pátria Grande.
A expressão “América Latina” tem um significado muito forte, porque abriga o caráter anti-imperialista, antagoniza com a América anglo-saxônica. Mas ao lado do seu caráter emancipatório, Caicedo não estava livre de um certo eurocentrismo. A expressão ‘latina’ ignora todo o patrimônio civilizatório que aqui existe e que não é de origem latina, como os quéchuas, os aimarás, os tupiguarinis, os maias.
O professor Carlos Walter Porto Gonçalves é especialista em América Latina, defensor das lutas indígenas e camponesas e ex-assessor de Chico Mendes, o líder sindical e ambientalista assassinado em 1988. No texto abaixo, ele nos dá uma aula de história sobre a origem do conceito “América Latina”. Sua palavras foram retiradas de uma entrevista ao jornal “Brasil de Fato”:
O termo “América Latina” foi usado pela primeira vez por um poeta colombiano, José María Caicedo, num poema chamado “As duas Américas”, em 1854. Ele usou essa expressão com clara posição de tensão em relação à América anglo-saxônica. Ele estava muito impactado pelo que havia acontecido, numa data que todos nós deveríamos ter sempre em mente: 1845- 1848, que é o período da guerra dos EUA contra o México. Quando os EUA fizeram a independência eram apenas as 13 colônias situadas a leste. Todas as terras do Texas até a Califórnia – com todos aqueles nomes em espanhol – foram tomadas do México.
De certa forma, o Caicedo dá continuidade ao que Simón Bolívar tinha percebido nos anos de 1820 em função da posição norte-americana em relação ao Haiti, o primeiro país do mundo a abolir a escravidão. O que faz os Estados Unidos? Junto com a França, faz pressão para que o Haiti pague por cada escravo que tinha se tornado livre, o que faz com que o país fique sufocado em dívidas.
E Simón Bolívar, que recebeu armas dos revolucionários haitianos para fazer os processos de libertação da América Latina, percebe que a doutrina de Monroe, “América para os americanos”, era para os americanos do norte, para os estadunidenses. Percebeu isso em 1823 e denunciou imediatamente, convocando uma integração entre os países, entre iguais, não uma integração subordinada. Ele usava a expressão “Pátria Grande”, a América integrada; ele dizia que tínhamos uma “pátria chica” – Brasil, Venezuela etc. – mas também a Pátria Grande.
A expressão “América Latina” tem um significado muito forte, porque abriga o caráter anti-imperialista, antagoniza com a América anglo-saxônica. Mas ao lado do seu caráter emancipatório, Caicedo não estava livre de um certo eurocentrismo. A expressão ‘latina’ ignora todo o patrimônio civilizatório que aqui existe e que não é de origem latina, como os quéchuas, os aimarás, os tupiguarinis, os maias.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Os elementos do Advento
The Four Elements, arte de Cris Vector
O tempo de advento é o tempo de preparação para celebrar e afirmar que Deus, em seu amor, decidiu tornar-se alguém de nós, e preencher a vida, nossa vida, de esperança e de sentido. Ele nos presenteou a vida, e nos colocou para viver neste mundo onde os elementos fundamentais são a terra, o ar, a água e o fogo. Estes elementos nos ajudam a recordar que somos obra de suas mãos. O autor da vida é o Deus Criador. Portanto, é necessário reconhecer que somos frutos de seu grande amor.
Uma idéia interessante é usar a coroa de advento e as suas quatro velas como forma de apontar para estes elementos fundamentais da natureza como forma de recordar que Deus nos dá a vida, a vida abundante, a vida que não se perde.
A primeira vela é a terra. Fomos formados do pó da terra. Deus é nosso oleiro e nos moldou a cada um/a, com a sua característica, os seus dons, o seu modo particular de reagir aos eventos da vida. Cada um/a de nós é único/a, distinto/a, especial; formado/a do pó da terra, nosso elemento básico, primordial. Eles nos presenteou com a vida.
A segunda vela é o ar. Deus é Palavra. E ela se revela através do ar que passa entre as cordas vocais. Tudo foi criado por meio dela. O barro tornou-se ser humano pelo sopro em suas narinas. Ar é vida. Respiramos. Logo, existimos. O ar é liberdade de expressão, é elemento essencial para a vida. Ele é espírito, que corre livre, leve e solto. Não há amarras para o ar em movimento. Ele é o próprio movimento. Ele é o próprio Deus, em todos os lugares, cercando tudo e todos. Dependemos dele integralmente. Do ar. De Deus.
A terceira vela é a água. A água imediatamente nos remete ao batismo. Cada um/a de nós é chamado pelo seu nome. A salvação é universal. Mas ela é essencialmente individual, dirigida diretamente a cada ser humano, com nome e endereço, enviado para a nossa caixa postal. Estamos todos unidos pelo fluido que tudo interliga. Como a água, assim é o amor de Deus. É a água batismal que nos torna herdeiros da salvação. É o solvente universal, que a tudo purifica, lavando a nossa condição de párias do Reino de Deus. A água é inclusão, também diante de Deus. A fé faz brotar rios de água viva em cada ser humano.
A quarta vela é o fogo. É o Espírito Santo que veio sobre Maria e a ungiu para ser o meio que revela, conduz, entrega, apresenta aquele que salva. Deus é ardor, é calor, é elemento que purifica e transforma. Como o fogo, ele está presente em nosso meio, aquecendo, renovando, iluminando o caminho para os nossos passos. É tão essencial quanto o sol para a vida no nosso planeta. A escuridão deforma, resseca, esfria, provoca depressão e medo. A luz que vem de Deus, no menino revelado pelo Espírito, renova, acalenta e faz brotar.
Se por estes quatro elementos Deus decidiu voluntariamente tornar-se presença para a humanidade, nos deixemos impulsionar pelos elementos essenciais da vida para portar vida digna, plena, abrangente, inclusiva, renovadora.
O tempo de advento é o tempo de preparação para celebrar e afirmar que Deus, em seu amor, decidiu tornar-se alguém de nós, e preencher a vida, nossa vida, de esperança e de sentido. Ele nos presenteou a vida, e nos colocou para viver neste mundo onde os elementos fundamentais são a terra, o ar, a água e o fogo. Estes elementos nos ajudam a recordar que somos obra de suas mãos. O autor da vida é o Deus Criador. Portanto, é necessário reconhecer que somos frutos de seu grande amor.
Uma idéia interessante é usar a coroa de advento e as suas quatro velas como forma de apontar para estes elementos fundamentais da natureza como forma de recordar que Deus nos dá a vida, a vida abundante, a vida que não se perde.
A primeira vela é a terra. Fomos formados do pó da terra. Deus é nosso oleiro e nos moldou a cada um/a, com a sua característica, os seus dons, o seu modo particular de reagir aos eventos da vida. Cada um/a de nós é único/a, distinto/a, especial; formado/a do pó da terra, nosso elemento básico, primordial. Eles nos presenteou com a vida.
A segunda vela é o ar. Deus é Palavra. E ela se revela através do ar que passa entre as cordas vocais. Tudo foi criado por meio dela. O barro tornou-se ser humano pelo sopro em suas narinas. Ar é vida. Respiramos. Logo, existimos. O ar é liberdade de expressão, é elemento essencial para a vida. Ele é espírito, que corre livre, leve e solto. Não há amarras para o ar em movimento. Ele é o próprio movimento. Ele é o próprio Deus, em todos os lugares, cercando tudo e todos. Dependemos dele integralmente. Do ar. De Deus.
A terceira vela é a água. A água imediatamente nos remete ao batismo. Cada um/a de nós é chamado pelo seu nome. A salvação é universal. Mas ela é essencialmente individual, dirigida diretamente a cada ser humano, com nome e endereço, enviado para a nossa caixa postal. Estamos todos unidos pelo fluido que tudo interliga. Como a água, assim é o amor de Deus. É a água batismal que nos torna herdeiros da salvação. É o solvente universal, que a tudo purifica, lavando a nossa condição de párias do Reino de Deus. A água é inclusão, também diante de Deus. A fé faz brotar rios de água viva em cada ser humano.
A quarta vela é o fogo. É o Espírito Santo que veio sobre Maria e a ungiu para ser o meio que revela, conduz, entrega, apresenta aquele que salva. Deus é ardor, é calor, é elemento que purifica e transforma. Como o fogo, ele está presente em nosso meio, aquecendo, renovando, iluminando o caminho para os nossos passos. É tão essencial quanto o sol para a vida no nosso planeta. A escuridão deforma, resseca, esfria, provoca depressão e medo. A luz que vem de Deus, no menino revelado pelo Espírito, renova, acalenta e faz brotar.
Se por estes quatro elementos Deus decidiu voluntariamente tornar-se presença para a humanidade, nos deixemos impulsionar pelos elementos essenciais da vida para portar vida digna, plena, abrangente, inclusiva, renovadora.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Natal é só consumo?
O arcebispo católico de Bamberg, Alemanha, Dom Ludwig Schick, dirigiu petição à cadeia de lojas de eletrodomésticos “Media Markt” para retirar do ar sua polêmica campanha publicitária, “O Natal é decidido embaixo da árvore”. O slogan é considerado inaceitável para cristãos e outros segmentos da sociedade. O decisivo do Natal não se resume à árvore ou aos presentes, “mas o nascimento de Cristo”, explica o arcebispo. “Por meio desta campanha publicitária, a mensagem do Natal é levada ao absurdo”, diz Schick.
O arcebispo elogiou expressamente a campanha que rola no Facebook, com o título “O Natal é decidido na manjedoura”, que se opõe ao natal comercial e já conta com mais de 15 mil apoiadores. Segundo a rede de lojas, entretanto, a sua campanha não se refere a símbolos religiosos e não tem a intenção de reduzir a festa cristã a um acontecimento que se adapta ao gosto de cada um.
Segundo o prelado católico de Munique, Wolfgang Bischof, entretanto, a campanha reduz a festa a um evento meramente comercial e ligado ao consumo. Mas também há vozes dentro da igreja que conseguem entender e aceitar a campanha, por reproduzir o que é realidade: as pessoas compram presentes e realizam a troca sob a árvore na noite de Natal. Também é lá, debaixo da árvore, que se encontra a manjedoura com a família sagrada e seu recém-nascido filho e salvador da humanidade. Segundo essa visão, não há mais como, hoje em dia, separar essas duas realidades.
Um coral luterano na Coreia
Um presente para você. Este vídeo mostra o esmero de um coral coreano executando o hino de Lutero, “Castelo Forte”.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Os Muppets são de esquerda
Aí, Caco, o que tem a dizer sobre isso? Os Muppets estão sendo acusados de fazer campanha subliminar contra o capitalismo. Logo os Muppets. Eu adorava os Muppets, nos bons tempos da TV. Agora, adoro mais ainda. A gigante de mídia News Corporation, do magnata norte-americano Rupert Murdoch, especialmente o braço forte da News, a ultraconservadora Fox, levantou a acusação.
O alvo é o filme dos Muppets que está também nos nossos cinemas do Vale do Itajaí por estes dias. A acusação foi ao ar no programa “Follow the Money” (Siga o Dinheiro), aliás, um excelente nome para quem defende o Capitalismo com unhas e dentes.
O centro da polêmica é o personagem Tex Richman, o vilão do filme. Os apresentadores da Fox não entenderam porque o vilão deve ser um magnata do ramo do petróleo. No filme, Richman quer tomar o cinema dos Muppets sem indenização porque no terreno há um poço de petróleo. Isso, segundo a Fox Business, é lavagem cerebral nas crianças.
A acusação, na verdade, é antiga, e atinge Hollywood em cheio. Outros filmes são acusados de atacar a indústria petrolífera, como “Carros 2”, “Syriana” e “Sangue Negro”. Na lista negra também entraram o Capitão Planeta (super-herói que luta pelo meio ambiente), o Big Green Help, do canal Nickelodeon, que ensina princípios ambientais, o filme “O Dia Depois de Amanhã”, que mostra um futuro apocalíptico da Terra após um desastre ambiental. Também o filme Matrix entrou na lista maldita, por afirmar que a humanidade é um vírus sobre a pobre mãe Terra.
No programa da Fox inclusive foi levantada a suspeita se os Muppets não estariam fazendo apologia ao movimento “Occupy Wall Street”. O sucesso do movimento seria um resultado dessa lavagem cerebral de Hollywood, razão de haver um bando de gente nesse movimento por todo o país, por estarem sendo doutrinados por anos a fio com esse tipo de ideia.
É isso aí! Os Muppets são do bem, viu, Caco?
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Durban quer o veto de Dilma
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
O Senado brasileiro aprovou nesta terça-feira (06/12) uma nova versão do código florestal, que segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados. O projeto de lei provocou fortes críticas na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul.
“O projeto anistia desmatadores, reduz a proteção e ampliará no futuro o desmatamento. E cria uma expectativa de que vale a pena pressionar o governo para mudar a legislação”, criticou Marina Silva em Durban. Ela se uniu ao coro de vozes críticas que se manifestaram contra o projeto de lei.
Os ambientalistas afirmam que, caso o projeto do Código Florestal entre em vigor, o Brasil não teria como cumprir suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa. “O novo código florestal vai viabilizar uma área de desmatamento em torno de 22 milhões de hectares. Com certeza isso terá um impacto muito grande nos compromissos assumidos pelo Brasil em 2009 em Copenhague”, afirmou Thais Megid, do Greenpeace Brasil.
Marina Silva deu um exemplo concreto de como a área desmatada pode aumentar. “A legislação que serviu de base ao plano de combate ao desmatamento estabelecia que as margens de rios deveriam ser preservadas de 30 a 500 metros, para os rios menores e maiores. No projeto em discussão, isso cai para 15 e 100 metros.”
O texto agora aprovado pelo Senado mantém muitos erros da primeira versão. A principal consequência dele é que ele viabiliza e incentiva o desmatamento de novas áreas. Os ambientalistas temem um desmatamento brutal nos próximos anos.
Por isso, lançaram um apelo internacional à presidenta Dilma Rousseff. Eles pedem um veto dela para que o novo Código Florestal – que ainda tem que passar pela Câmara dos Deputados – não entre em vigor. Pois, como lembram os ambientalistas, Dilma prometeu, durante a campanha eleitoral no ano passado, que vetaria qualquer legislação que implicasse em aumento do desmatamento ou anistia a desmatadores. Também assegurou que não recuaria do compromisso assumido pelo seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80%.
A propósito, o Brasil é o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa. O principal motivo é o desmatamento e as queimadas que ocorrem no nosso serrado todos os anos. A aprovação do texto do Código Florestal do jeito que está atropela os compromissos do governo federal com a questão climática e coloca em questão a credibilidade do país para sediar, no ano que vem, a Rio+20.
A capacidade do Brasil de liderar uma ação global contra o desmatamento e as mudanças climáticas está sob sérias dúvidas. Se Dilma não agir para influenciar as decisões do Congresso no sentido de manter a proteção à nossa biodiversidade, seu governo terá sucumbido aos interesses do agronegócio, comprometendo a posição internacional do país.
Fonte das informações: DW-World e Greenpeace Brasil
O Senado brasileiro aprovou nesta terça-feira (06/12) uma nova versão do código florestal, que segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados. O projeto de lei provocou fortes críticas na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul.
“O projeto anistia desmatadores, reduz a proteção e ampliará no futuro o desmatamento. E cria uma expectativa de que vale a pena pressionar o governo para mudar a legislação”, criticou Marina Silva em Durban. Ela se uniu ao coro de vozes críticas que se manifestaram contra o projeto de lei.
Os ambientalistas afirmam que, caso o projeto do Código Florestal entre em vigor, o Brasil não teria como cumprir suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa. “O novo código florestal vai viabilizar uma área de desmatamento em torno de 22 milhões de hectares. Com certeza isso terá um impacto muito grande nos compromissos assumidos pelo Brasil em 2009 em Copenhague”, afirmou Thais Megid, do Greenpeace Brasil.
Marina Silva deu um exemplo concreto de como a área desmatada pode aumentar. “A legislação que serviu de base ao plano de combate ao desmatamento estabelecia que as margens de rios deveriam ser preservadas de 30 a 500 metros, para os rios menores e maiores. No projeto em discussão, isso cai para 15 e 100 metros.”
O texto agora aprovado pelo Senado mantém muitos erros da primeira versão. A principal consequência dele é que ele viabiliza e incentiva o desmatamento de novas áreas. Os ambientalistas temem um desmatamento brutal nos próximos anos.
Por isso, lançaram um apelo internacional à presidenta Dilma Rousseff. Eles pedem um veto dela para que o novo Código Florestal – que ainda tem que passar pela Câmara dos Deputados – não entre em vigor. Pois, como lembram os ambientalistas, Dilma prometeu, durante a campanha eleitoral no ano passado, que vetaria qualquer legislação que implicasse em aumento do desmatamento ou anistia a desmatadores. Também assegurou que não recuaria do compromisso assumido pelo seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80%.
A propósito, o Brasil é o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa. O principal motivo é o desmatamento e as queimadas que ocorrem no nosso serrado todos os anos. A aprovação do texto do Código Florestal do jeito que está atropela os compromissos do governo federal com a questão climática e coloca em questão a credibilidade do país para sediar, no ano que vem, a Rio+20.
A capacidade do Brasil de liderar uma ação global contra o desmatamento e as mudanças climáticas está sob sérias dúvidas. Se Dilma não agir para influenciar as decisões do Congresso no sentido de manter a proteção à nossa biodiversidade, seu governo terá sucumbido aos interesses do agronegócio, comprometendo a posição internacional do país.
Fonte das informações: DW-World e Greenpeace Brasil
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Um chiste
Eis uma postura sóbria diante das coisas da vida. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, riu do anúncio da Benetton em que, numa montagem, ele aparece "beijando" seu rival ideológico Barack Obama, presidente dos EUA, e disse que se trata de uma "boa piada". Se você não acredita, veja você mesmo, no vídeo postado aqui. Sem dúvida, Roma tem alguma coisa a aprender com Chávez...
Juventude sem rumo
No ano que vem vamos trabalhar a importante temática da juventude como tema do ano da IECLB. A seguir, acrescento mais algumas informações para serem colocadas no baú de dados sobre o tema. As duas postagens que já coloquei neste espaço em poucos dias dão conta de que a situação é preocupante. Há muito que fazer, portanto. Se quisermos, será um bom debate. Mais, será impulso para modificar o quadro e colocar em prática ações que ajudem os nossos jovens. Segue texto publicado pela ALC no dia de ontem.
Na América Latina, 17% dos jovens não estudam nem trabalham, índice que se eleva para 27% na América Central. Os dados são do Latinobarômetro, que ouviu 20,2 mil latinos e caribenhos, em 18 países.
Enquanto no Uruguai e na Bolívia o percentual de jovens sem trabalho e estudo é de 12%, em Honduras chega a 33% e a 34% na República Dominicana. No Brasil, são 18% nessas condições, segundo a ONG chilena.
Mais mulheres (54%) do que homens (46%) não trabalham nem estudam. Também são jovens das classes menos favorecidas que estão sem trabalho e estudo – 61%. Já na classe média alta o índice fica em 6% e 31% na classe média.
O Brasil tem 48 milhões de jovens entre 15 e 29 anos de idade.
Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
A fonte de água
Todo mundo tem saudade de uma fonte, ainda que nunca tenha visto uma. É que na alma ficam guardadas as coisas que a gente amou e se foram. Elas se foram, mas não morreram. O amor não deixa que elas morram. Ficam lá na alma da gente, esquecidas, adormecidas... Mas, de repente, a gente se lembra! E quando a gente se lembra, vem a saudade...
Onde estão as fontes? Você talvez nunca viu uma, mas eu garanto que, em algum lugar da sua alma, e na alma de todo mundo, há uma fonte de água cristalina. E a gente gostaria de beber da sua água, com as mãos em concha... O Pequeno Príncipe vivia num asteróide. Caiu, por acidente, aqui na terra e foi andando, encontrando-se com homens, conhecendo costumes, com olhos de criança. Tudo lhe parecia espantoso!
Pois ele se encontrou com um homem que lhe tentou vender pílulas de matar a sede. “Para que servem as pílulas de matar a sede?”, perguntou o principezinho. O vendedor se espantou. Como era possível alguém tão ignorante, que não percebesse os benefícios da técnica e da ciência? E tratou de explicar: “Os cientistas e pesquisadores verificaram que, durante um mês, as pessoas perdem 30 minutos, só indo aos filtros, geladeiras e bebedouros para beber água. Gastam esse tempo porque têm sede. Se não tiverem sede, elas não gastarão mais esse tempo. A pílula de matar a sede, como diz o nome, mata a sede. Não sentindo sede, não precisam beber água. Não indo beber água, economizam, por mês, 30 minutos”.
O Pequeno Príncipe ficou espantado. “E o que é que eu faço com esses 30 minutos?” - perguntou. “Com esses 30 minutos você faz o que você quiser”, respondeu o vendedor. “30 minutos para fazer com eles o que eu quiser! Que coisa maravilhosa! E o que eu quero fazer com esses 30 minutos? Ah! Já sei! Se eu tivesse 30 minutos para fazer com eles aquilo que eu quero, eu iria tranqüilamente, andando até uma fonte, para beber água...”
É mais uma pequena lição que podemos aprender. Nós também passamos muito tempo da nossa vida procurando a “pílula para matar a nossa sede”. Nos afogamos com tantas coisas fúteis, inúteis, passageiras, sem sentido... Gastamos tempo e fortunas tentando aplacar a nossa sede interminável, sede que vem lá de dentro da alma... mas não conseguimos aplacar a nossa sede da alma, porque a fonte que está la dentro é só mais uma lembrança. A fonte da nossa alma secou, virou lodaçal ou areal...
Por isso temos tanta saudade da fonte que deveria estar dentro de nós.
Mas há uma fonte, que todos nós sabemos que existe. Sobre esta fonte, Jesus disse certa vez: “Quem beber desta água, jamais terá sede”. É a fonte da água da vida, daquela água que mata a nossa sede de verdade, mata a saudade da fonte... mata a sede da alma. Jesus, a fonte da vida, quer aplacar a nossa sede de vida, de sentido de vida, de amor, de paz, de tranqüilidade, de sossego... Assim como estes momentos de final-de-tarde de domingo, quando chegamos aqui, cheios de sede... Jesus aplaca esta nossa sede.
Coloquemos as nossas mãos em concha e bebamos até que o nosso estômago faça chlok chlok, de tanta água. E peguemos uma folha de inhame... lembram? ... Coisa linda, a água dentro de uma folha de inhame! Ela fica prateada, reluzente. Quem viu uma vez, jamais esquece... fica gravado na alma, para sempre, a imagem da água rolando dentro da folha de inhame! Peguemos uma folha de inhame e levemos dessa preciosa água, chamada Jesus, para as nossas casas, para que ela transforme nossas vidas, nossas famílias, nossos lares, tudo... É isso que é esse tempo de Advento. É isso que é Natal. A fonte da água prateada e bela, rica e que mata para sempre a nossa sede de vida.
(Baseado em reflexão de Rubem Alves)
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Hostilizada por causa do cabelo
A estagiária Ester Elisa da Silva Cesário acusa seus patrões de perseguição e racismo. Conforme Boletim de Ocorrência registrado no dia 24 de novembro, na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, ela teria sido forçada a alisar o cabelo para manter a “boa aparência”. A diretora do Colégio Internacional Anhembi Morumbi ainda teria prometido comprar camisas mais cumpridas para que a funcionária escondesse os quadris.
Ester conta que foi contratada no dia 1º de novembro de 2011, para atuar no setor de marketing e monitorar visitas de pais interessados em matricular seus filhos no colégio, localizado no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo. A estagiária afirma ter sido convocada para uma conversa na sala da diretora, identificada como professora Dea de Oliveira. Nos dias anteriores, sempre alguém mandava recado para que prendesse o cabelo e evitasse circular pelos corredores.
“Ela disse: ‘como você pode representar o colégio com esse cabelo crespo? O padrão daqui é cabelo liso’. Então, ela começou a falar que o cabelo dela era ruim, igual o meu, que era armado, igual o meu, e ela teve que alisar para manter o padrão da escola.”
Além das advertências, Ester afirma ter sofrido ameaças depois de revelar o conteúdo da conversa aos demais funcionários do colégio. Eles teriam demonstrado solidariedade ao perceber que a estagiaria estava em prantos no banheiro.
“Depois disso, eu me vesti para ir embora e, quando estava saindo, ela me parou na porta e disse: ‘cuidado com o que você fala por aí porque eu tenho vinte anos aqui no colégio e você está começando agora. A vida é muito difícil, você ainda vai ouvir muitas coisas ruins e vai ter que aguentar’.”
Colégio se defende
Após contato da reportagem, um funcionário indicado pela Direção do Anhembi Morumbi informou que a instituição não recebeu nenhuma notificação sobre o registro do Boletim de Ocorrência. Ele negou a existência de preconceito e se limitou a dizer que “o colégio zela pela sua imagem e, ao pregar a ‘boa aparência’, se refere ao uso de uniformes e cabelo preso”.
A advogada trabalhista Carmen Dora de Freitas Ferreira, que ministra cursos no Geledés – Instituto da Mulher Negra – assegura que a expressão “boa aparência” é usada frequentemente para disfarçar preconceitos.
“Não está escrito isso, mas quando eles dizem ‘boa aparência’, automaticamente estão excluindo negros, afrodescendentes e indígenas. O padrão é mulher loira, alta, magra, olhos claros. É isso que querem dizer com ‘boa aparência’. E excluir do mercado de trabalho por esse requisito é muito doloroso, afronta a Lei, afronta a Constituição e afronta os direitos humanos.”
Métodos conhecidos
De acordo com o depoimento da estagiária, as ofensas se deram em um local reservado. A advogada explica que essa prática é comum no ambiente de trabalho, além de ser sempre premeditada.
“O assediador sempre espera o momento em que a vítima está sozinha para não deixar testemunhas, mas as marcas são profundas. O preconceito é tão danoso, que ele nega direitos fundamentais, exclui, coloca estigmas, e a pessoa se sente humilhada, violentada. Quando o assediador percebe a extensão do dano, ele tenta minimizar, dizendo ‘não foi bem assim, você me interpretou errado, eu não sou discriminador, na minha família, a minha avó era negra’.”
Ester ainda afirma que teria sido pressionada a deixar o trabalho, ao relatar o ocorrido a uma conselheira do Colégio. Como decidiu permanecer, passou a ser vigiada constantemente por colegas.
“Eu estou lá e consegui passar numa entrevista porque sou qualificada para o cargo, mas ela não viu isso. Ela quis me afrontar e conseguiu abalar as minhas estruturas emocionais a ponto de eu me sentir um lixo e ficar dois dias trancada dentro de casa sem comer e sem beber. Você pensa em suicídio, se vê feia, se sente um monstro.”
Sequelas e legislação
Ester revela que as situações vividas no trabalho mexeram com sua auto-estima e também provocaram grande impacto nos estudos e no convívio social.
“Desde que isso aconteceu, eu não consigo mais soltar o cabelo. Quando estou na presença dela eu me sinto inferior, fico com vergonha, constrangida, de cabeça baixa. É a única reação que eu tenho pela afronta e falta de respeito em relação a mim e à minha cor.”
O Boletim de Ocorrência foi registrado como prática de “preconceito de raça ou de cor”. A Lei Estadual nº 14.187/10 prevê punição a “todo ato discriminatório por motivo de raça ou cor praticado no Estado por qualquer pessoa, jurídica ou física”. Se comprovado o crime, os infratores estarão sujeitos a multas e à cassação da licença estadual para funcionamento.
(Retirei do jornal Brasil de Fato)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
O meu Menino Jesus
Poema de Fernando Pessoa
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna criança, o Deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
é esta minha quotidiana vida de poeta,
e é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
e que o meu mínimo olhar enche-me de sensação,
e o mais pequeno som, seja do que for, parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
dá-me uma mão a mim e a outra a tudo que existe,
e assim vamos os três pelo caminho que houver,
saltando e cantando e rindo e gozando o nosso segredo comum
que é o de saber por toda a parte que não há mistério no mundo
e que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons.
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
na companhia de tudo, que nunca pensamos um no outro,
mas vivemos juntos a dois, com um acordo íntimo,
como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas no degrau da porta de casa,
graves como convém a um poeta,
e como se cada pedra fosse todo um universo
e fosse por isso um grande perigo para ela deixá-la cair no chão.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Ele dorme dentro da minha alma
e às vezes acorda de noite e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar, põe uns em cima dos outros
e bate palmas sozinho, sorrindo para o meu sono.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão, que se perceba,
não há de ser ela mais verdadeira
que tudo quanto os filósofos pensam
e tudo quanto as religiões ensinam?”
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Kátia Abreu revela tudo
A nota abaixo, de Ilimar Franco, foi publicada no jornal O Globo de hoje. Os ruralistas estão usando as necessidades dos pequenos agricultores para aprovar tudo que quiserem em relação ao novo Código Florestal. Veja o texto você mesmo e, depois, assine a petição do Greenpeace para que a presidenta Dilma vete o Código, aqui.
"Os deputados ruralistas Paulo Piau (PMDB-MG), cotado para relatar o Código Florestal na Câmara, e Abelardo Lupion (DEM-PR) conversavam, quando chegou a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura. Entusiasmada, disse: 'Conseguimos tudo o que a gente queria. Dilmão concordou com tudo.' E, empolgada, acrescentou: 'Um dos nossos (ruralistas) tem que ser o relator lá (na segunda votação na Câmara). O Aldo Rebelo (relator na primeira votação na Câmara) é socialista. O Jorge Viana (relator no Senado) é um verdinho. O Luiz Henrique (relator na CCJ do Senado) não é mais nosso. A relatoria agora é nosso direito'. Fecha o pano."
O jovem na berlinda
A igreja luterana (IECLB) fez uma excelente escolha temática para 2012. Coloca na mesa um assunto urgente no Brasil, a juventude. A formulação ficou muito ampla – Comunidade Jovem, Igreja Viva –, mas a esperança é de que as questões prementes que envolvem as gerações mais jovens da igreja e da sociedade sejam realmente consideradas. Para muito além do âmbito eclesial, o assunto vem à tona neste final de ano em especial por causa de um relatório dramático sobre a juventude brasileira. O relatório foi produzido pela Unicef, e foi divulgado no último dia de novembro.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o adolescente brasileiro está mais pobre e permanece exposto a casos de violência em nível preocupante. Dos 21 milhões de adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos, 38% – cerca de 7,9 milhões – vivem em situação de pobreza, em famílias com renda inferior a meio salário mínimo per capita por mês (R$ 272,5). Outros 3,7 milhões de adolescentes (17,6% da população adolescente) vivem na extrema pobreza, em famílias com até 1/4 do salário mínimo per capita/mês (R$ 136,25).
O relatório também aponta que, de 2004 a 2009, o número de adolescentes na extrema pobreza passou de 16,3% para 17,6%, em descompasso com a crescente redução da pobreza no país. O Unicef utilizou dados oficiais do governo brasileiro para a obtenção das informações.
Também há muitas mortes violentas na faixa dos 12 aos 17 anos. Com base em dados do Ministério da Saúde, o Unicef observa que 19,1 meninos e meninas em cada grupo de 100 mil pessoas morreram vítimas de homicídio em 2009, o que equivale a 11 assassinatos de adolescentes por dia no país. A cada 100 mil adolescentes, 43,2 deles morrem por homicídio.
As condições de vida do adolescente se agravam quando são destacadas por cor da pele. Segundo o relatório, um adolescente negro tem 3,7 vezes mais risco de ser assassinado em comparação com adolescentes brancos. A mesma lógica se aplica entre adolescentes indígenas em casos de analfabetismo: as chances são três vezes maiores do que a dos adolescentes em geral.
As distorções por gênero também merecem atenção, de acordo com o Unicef. Existem 10 casos de meninas infectadas por HIV para cada 8 de meninos. São os meninos, contudo, que apresentam a maior taxa de analfabetismo: 68,4% não sabem ler e escrever.
Conforme o relatório, a situação de pobreza é maior na Amazônia, que concentra 38% dos adolescentes pobres no país. Já o semi-árido lidera nos índices de distorção idade-série, com 35,9%. Entre os grandes centros urbanos, o destaque é São Paulo, com média de 10,7 homicídios de adolescentes entre 10 e 19 anos para cada grupo de 100 mil adolescentes.
Um quadro preocupante, esse revelado pelo relatório da Unicef. O descaso do Brasil com a sua população mais jovem é evidente. Demonstra o quanto está de fato empenhado em estabelecer um bom futuro para as gerações que vêm aí, em busca de espaço no mercado de trabalho, de condições de vida dignas e de conquista de direitos. Os dados desse relatório devem ser levados em conta nos debates em torno do tema da IECLB para 2012, sob pena de, se isso não ocorrer, estarmos falando de uma pseudo-realidade.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Dia D adiado
o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) conseguiu, sozinho, adiar a aprovação da proposta, ao impedir a votação do requerimento de urgência para a apreciação do Código Florestal em plenário, previsto para o dia de hoje (leia atentamente o texto abaixo). A votação poderá ser adiada para a próxima quinta-feira ou somente na semana que vem. Isso dá mais tempo para que a sociedade se articule e tente evitar que este "retrocesso na legislação ambiental brasileira" (Randolfe) seja aprovado. Também dá mais tempo à Direção da IECLB para, se quiser, possa produzir um texto de apoio aos movimentos sociais que defendem nossas florestas e de repúdio ao código.
O Dia D do Código Florestal
Ato em Defesa das Florestas - Foto: Antonio Cruz/ABr
O Ato em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu ontem em frente ao Palácio do Planalto em Brasília, é a tentativa derradeira de colocar algum juízo ambiental na cabeça dos nossos governantes. O novo Código Florestal, que é uma colcha de retalhos que procurou agradar a todos os interesses e já não defende mais os nossos biomas, deverá ir à votação no plenário do Senado Federal nesta quarta-feira (30).
O objetivo principal do ato foi de alertar a presidenta Dilma e tentar levá-la ao veto presidencial. O movimento que promoveu o ato tem um milhão e 500 mil assinaturas contra as alterações feitas no texto da PL 30/2010 e que a transformaram num Frankenstein, num arremedo de código, que abre caminho para continuar derrubando as nossas florestas em nome do progresso. Essas assinaturas foram colhidas nos últimos quatro meses.
O Ato em Defesa das Florestas reuniu movimentos sociais, estudantes, artistas, formadores de opinião, defensores em geral da causa ambiental, além de representantes das organizações: CNBB, Greenpeace, IDS, ISA, FBOMS, Fórum de Ex-ministros do Meio Ambiente, FETRAF, Nucleos Universitários, SOS Mata Atlântica, Via Campesina e WWF.
É uma lista de gente que realmente fez e faz muito em defesa do meio ambiente, mas que é tratada pela sociedade como “ecochatos”, “terroristas ambientais”, e coisa pior. Com o poder econômico nas mãos, bem como os principais postos dos legislativos federal (Câmara e Senado) e estaduais, os ruralistas não fazem outra coisa do que desqualificar o trabalho dessa gente. Nós é que vamos sofrer as conseqüências da nossa indiferença como sociedade. Quem vai nos cobrar é a natureza.
Portanto, este último dia de novembro é decisivo. É dia de protesto, de engajamento em defesa das nossas florestas. Para a IECLB isso significa que hoje é o Dia D para dar um testemunho contundente de que a discussão do tema “Paz na Criação de Deus” não foi só conversa de comadres. No mínimo, uma carta pastoral deveria vir de Porto Alegre, que dê apoio a quem deu a cara a tapa contra esta barbaridade que é o novo Código Florestal Brasileiro.
O Ato em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu ontem em frente ao Palácio do Planalto em Brasília, é a tentativa derradeira de colocar algum juízo ambiental na cabeça dos nossos governantes. O novo Código Florestal, que é uma colcha de retalhos que procurou agradar a todos os interesses e já não defende mais os nossos biomas, deverá ir à votação no plenário do Senado Federal nesta quarta-feira (30).
O objetivo principal do ato foi de alertar a presidenta Dilma e tentar levá-la ao veto presidencial. O movimento que promoveu o ato tem um milhão e 500 mil assinaturas contra as alterações feitas no texto da PL 30/2010 e que a transformaram num Frankenstein, num arremedo de código, que abre caminho para continuar derrubando as nossas florestas em nome do progresso. Essas assinaturas foram colhidas nos últimos quatro meses.
O Ato em Defesa das Florestas reuniu movimentos sociais, estudantes, artistas, formadores de opinião, defensores em geral da causa ambiental, além de representantes das organizações: CNBB, Greenpeace, IDS, ISA, FBOMS, Fórum de Ex-ministros do Meio Ambiente, FETRAF, Nucleos Universitários, SOS Mata Atlântica, Via Campesina e WWF.
É uma lista de gente que realmente fez e faz muito em defesa do meio ambiente, mas que é tratada pela sociedade como “ecochatos”, “terroristas ambientais”, e coisa pior. Com o poder econômico nas mãos, bem como os principais postos dos legislativos federal (Câmara e Senado) e estaduais, os ruralistas não fazem outra coisa do que desqualificar o trabalho dessa gente. Nós é que vamos sofrer as conseqüências da nossa indiferença como sociedade. Quem vai nos cobrar é a natureza.
Portanto, este último dia de novembro é decisivo. É dia de protesto, de engajamento em defesa das nossas florestas. Para a IECLB isso significa que hoje é o Dia D para dar um testemunho contundente de que a discussão do tema “Paz na Criação de Deus” não foi só conversa de comadres. No mínimo, uma carta pastoral deveria vir de Porto Alegre, que dê apoio a quem deu a cara a tapa contra esta barbaridade que é o novo Código Florestal Brasileiro.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Papai Noel está morto
Noel acaba de ser encontrado sem vida, com um fio de Nylon em volta do pescoço, pendurado num galho de pinheiro. A polícia está investigando o caso, mas as evidências apontam para suicídio.
O símbolo máximo do Natal já vinha dando sinais de estresse e depressão há anos. Ele não se conformava com o papel que lhe haviam reservado, apesar de ter insistido sem descanso em apontar para os anjos, a manjedoura, José e Maria, o menino na palha e os pastores no campo. Ele não queria ser o principal motivo. Sempre havia sido um coadjuvante. Por que insistiam em colocá-lo no centro de tudo?
Todo aquele consumismo também o incomodava profundamente. O calor infernal, apesar do ar condicionado do shopping ligado no máximo, aquela roupa vermelha insana de inverno em pleno verão, aquela barba importuna e mal-colada...
Ele não suportava mais aquelas enormes filas diante de si, em que pequenos ditadores –que ele tinha que tratar como criancinhas – disputavam espaço a tapa para puxar a sua barba e testar se era de verdade. Antigamente, os pais traziam seus filhos para que Noel lhes desse uma lição de vida e uma bela mensagem família. Estude mais! Obedeça seus pais! Não seja egoísta! Faça uma oração antes de dormir! ... Agora só queriam posar com ele na foto e fazer milhões de exigências hedonistas.
Noel também confidenciara que andava com insônia. Ele passava as noites fazendo mil planos de resgatar o verdadeiro espírito de Natal. Na hora de colocá-los em prática, porém, estava tão cansado e sonolento que a apatia e a indecisão o dominavam.
Tudo terminara ali, na ponta daquele galho de pinheiro... Antes, porém, o “bom velhinho” deixara uma última mensagem. Assoprou a vela, apagando a luz do Natal. Ela já não tinha mais o mesmo brilho de outrora e ninguém iria sentir a sua falta, ainda mais em meio a tanta parafernália luminosa comandada por computador. Se o Papai Noel jaz na ponta de um fio de Nylon por não conseguir resgatar o verdadeiro espírito natalino, aquela luz não tinha nenhuma razão de ser, afinal...
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Advento é um tempo de espera
Passamos metade da nossa vida esperando. Crianças esperam crescer, ir para a escola, virar grande que nem o pai... Adolescentes esperam que o tempo passe bem rápido, para que os adultos deixem de ter o comando sobre suas vidas, que querem desesperadamente tomar nas próprias mãos. Quando adultos, esperamos pela pessoa que iremos amar por toda a vida, por um emprego melhor, por melhores condições de vida, pela compra do primeiro carro, pela quitação da casa própria, pela troca do carro por um modelo novo...
Quem viaja, espera na rodoviária, no aeroporto ou no cais do porto. Quem está apaixonado, espera pela pessoa amada, o tempo que for necessário, com toda a paciência. O paciente na sala-de-espera, que já tem este nome justamente porque é o lugar em que se espera, mesmo se contorcendo de dor, pela chegada do atendimento médico. A criança espera na fila do brinquedo do parque até que chegue a sua vez. A aluna espera pela prova corrigida com uma ansiedade incomparável, para saber a nota que conseguiu.
Esperamos muitas coisas, mas a sensação de ter que sentar pacientemente e esperar nunca ficou tão clara quanto nas últimas enchentes. Tivemos que sentar, calmamente, em casa, e esperar a chuva diminuir, a água baixar, o tempo dar uma chance de começar a limpar. Para milhares de famílias, a espera da vida começa do zero: poder juntar o suficiente para reconstruir a casa própria, poder comprar novamente um carro ou recuperar o que sobrou. Para outros, muitos outros, agora só resta esperar que a dor passe, que o luto termine, que a saudade não mate...
Passamos a metade da vida esperando... Esta é a experiência de todos nós. E quanto mais velhos ficamos, mais isso fica evidente, palpável, presente em nossa vida. E quanto mais nos damos conta de que esperar é o que nos resta em boa parte dos nossos dias, mais claro fica que o pensamento de que “tempo é dinheiro” é pura balela; é um desrespeito ao nosso direito de esperar. E a pessoa prudente aprende a esperar sem ficar inquieta. Quem consegue superar sua própria impaciência, aprende uma nova maneira de relacionar-se com o tempo.
Também o Ano da Igreja convida a esperar em alguns momentos. Agora estamos em meio ao tempo de Advento, que começa oficialmente nesta semana, mesmo que no Shopping, na decoração natalina das ruas e em muitas residências o cheiro de Natal já tenha chegado há algum tempo. Quando acendemos a primeira vela da coroa de Advento, entramos num tempo especial de esperar. É um tempo gostoso de espera, de permitir-se um sorriso de canto de boca, um lampejo de alma que nos alegre. É a alegria pré-natalina que começa a nos preencher.
O tempo de Advento, que é o tempo da espera cristã por excelência, é o tempo em que aguardamos, pacientemente, pela salvação que vem de Deus. Não é como um conto de fadas, não é como uma história de papai Noel, não é como um sonho bonito... Não! É a realidade da salvação verdadeira, plena, repleta e total em Cristo. O menino que nos vem no Natal é o começo. Mas não se pode entendê-lo sem seu fim, na cruz e na ressurreição. O Natal sem a Páscoa é apenas uma fantasia... Bonita, mas vazia.
O tempo de Advento é o tempo da alegria antecipada e da espera: fazer os doces de Natal, comprar os presentes, acender as velas, expressar nossa fé e nossa esperança por paz, alegria e bons sentimentos. É tempo, especialmente, de treinarmos a capacidade de esperar com paciência por novos tempos. Que não nos conformemos com a destruição e a morte, mas nos alegremos, sinceramente, com a construção do seu reino de paz e vida.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Reuniões que não melhoram o clima
A Convenção Marco das Nações Unidas sobre Câmbio Climático, cujas reuniões oficiais acontecerão de 28 de novembro a 9 de dezembro em Durban, na África do Sul, reacende uma preocupação central acerca do futuro do Protocolo de Kyoto. Os países mais ricos já disseram que é impossível chegar a um acordo sobre o mesmo.
Um claro sinal de que em Durban também não vai haver acordo sobre um novo compromisso vinculante para a redução de emissões de gases de efeito estufa foi dado no Fórum das Grandes Economias, que reúne 17 dos maiores emissores do mundo e outros países chave, e que terminou no dia 18 de novembro em Virginia, Estados Unidos. Ali os países mais ricos reconheceram que não será possível alcançar um novo acordo climático global antes do 2016. E caso se consiga nesta data, não poderia entrar em vigor antes de 2020.
Os EUA e os países ricos insistem em "reduções voluntárias”, o que quer dizer não assumir compromissos, especialmente de ser os maiores responsáveis pelo câmbio climático. Gregory Barker, ministro da Energia da Grã Bretanha, disse isso com todas as letras: “a realidade é que não vamos ser capazes de chegar a um acordo internacional vinculante em Durban”.
Na semana passada, a ministra de Meio Ambiente da Índia, Jayanthi Natarajan, afirmou que seu país insiste num segundo período do Protocolo de Kyoto, sem nenhum tipo de compromisso juridicamente vinculante para os países emergentes. Disse que a Índia e outros países em desenvolvimento tinham trabalhado muito duro em Copenhague e Cancun, mas que o mundo desenvolvido havia feito muito pouco em troca. Recordou às nações ricas sua “responsabilidade histórica” para reduzir as emissões de carbono.
Índia foi responsável por 6,2% das emissões globais no ano passado, Estados Unidos por 16,4% e China por 24,6%.
Reunidos em Adis Abeba, os países da África anunciaram que trabalharão para salvar a essência do protocolo de Kyoto, pedindo que os países desenvolvidos reduzam suas emissões em 40% até o ano que vem e ajudem o continente africano a combater os efeitos do câmbio climático.
O grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) elaboraram uma posição comum em Pequim na semana passada, convocando os países desenvolvidos a comprometer-se a reduzir suas emissões no marco legalmente vinculante do Protocolo de Kyoto.
Na verdade, os planos mais ambiciosos de redução sequer arranhariam a capa do que realmente deve ser feito para mudar significativamente o inevitável rumo do comprometimento climático do planeta. Todas as partes envolvidas nas negociações estão muito mais preocupadas com as suas economias, em empurrar a culpa para os outros e em mudar o menos possível, evitando maior comprometimento financeiro de economias já debilitadas pela atual crise econômica enfrentada em todo o planeta.
Para dar ao menos um sinal de que se quer mudar algo, os países desenvolvidos deveriam comprometer-se a alcançar um marco de compromissos vinculantes com marcos concretos de redução de emissões de gases de efeito estufa como seguimento ao Protocolo de Kyoto que vence no ano que vem. Isso requer uma redução de emissões de pelo menos 45% abaixo dos níveis de 1990 para o ano de 2020 e de pelo menos em 95% para 2050. Também deve haver eliminação gradual do desenvolvimento de combustíveis fósseis.
Não se deve somente buscar a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera, mas deve-se buscar de maneira integral e equilibrada um conjunto de medidas financeiras, tecnológicas, de adaptação, de desenvolvimento de capacidades, de padrões de produção, consumo e outras essenciais como o reconhecimento dos direitos da Mãe Terra, para restabelecer a harmonia com a natureza.
Ou seja, vai ficar tudo como está e o tomate podre vai ficar mesmo para as futuras gerações.
(Com informações de Adital)
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
O gênio irrequieto do rock
Em 24 de novembro de 1991 morria de forma trágica, quase desaparecendo no fundo de uma cama, o mais polêmico, carismático e atentado cantor de rock de todos os tempos. Nascido em Zanzibar, numa família persa, no dia 5 de setembro de 1946, com o nome de Farroch Bulsara, pouca gente sabe dessa origem. Mas o planeta inteiro ainda hoje sabe associar essa figura ao nome artístico que adotou: Freddie Mercury. Junto com o baterista Roger Taylor e o guitarrista e hoje astrofísico Brian May, ele fundou o Queen, ao qual se integraria um ano mais tarde o baixista John Deacon.
O sucesso do grupo foi meteórico e, por 20 anos, dominou o cenário roqueiro mundial com sua genialidade. Freddie e seu Queen são os criadores da ópera rock, na qual os instrumentos eletrônicos recriavam arranjos antes somente vistos nas grandes óperas, com a genialidade absoluta dos arranjos e a voz única e até hoje jamais substituída ou sequer imitada do vocalista e arranjador principal do Queen: o próprio Freddie Mercury. A voz que alcançava três oitavas e meia era a sua maior ferramenta; para a revista Rolling Stone, ele foi um dos 20 melhores cantores de todos os tempos.
Para muito além do cenário rock, Mercury gravou diversos clássicos com grandes divas da ópera mundial e poderia ter sido um dos grandes nomes da música clássica do século 20. Cantou com ninguém menos que Montserrat Caballe, famosa cantora de óperas que cantou com ele sua composição “Barcelona”.
Voz inimitável e ousadia no palco, Freddie Mercury era um grande bailarino e o melhor dos performers de todos os tempos da música que encantou e encanta multidões. Ainda hoje, após 20 anos de sua morte, ele está entre os maiores faturamentos do rock mundial, vendendo mais do que muitos roqueiros vivos. Entre os anos de 1974 e 1986 o Queen realizou 9 turnês mundiais, lotando estádios com facilidade mundo afora, dando 700 concertos em 16 anos. “We Are The Cahmpions” está entre as canções mais cantadas por grandes públicos na era do rock, fazendo sempre tremer os alicerces dos estádios em que o Queen se apresentava.
Uma espécie de Wolfgang Amadeus Mozart do cenário do rock mundial, Mercury viveu de modo extravagante e intenso, causando a sua própria morte precoce provocada pela AIDS. Já se falava sobre a doença de Freddie há muito, mas ele fez o anúncio oficial de que estava com AIDS somente no dia 23 de novembro de 1991. No dia seguinte ele estava morto, vítima de pneumonia, aos 45 anos.
O lado moleque da humanidade
A mancha de óleo na Bacia de Campos, que vazou do Campo do Frade
O petróleo é mesmo uma merda! Essa história muito mal-contada e, sobretudo, mal-resolvida do vazamento no Campo do Frade, envolvendo a Xevron, é só mais um capítulo da sórdida novela porca do óleo negro que emporcalha o planeta há mais de um século. No último milésimo de segundo da história deste planeta de 4 bilhões e 500 milhões de anos, a maior praga que jamais passou pela Terra e que somos nós conseguiu deixar pegadas que se fixam no DNA do planeta.
Além da inacreditável sequência de mentiras e de descaso da imprensa em torno do desastre que afeta toda a vida no nosso mar territorial, ainda noticiaram com um alarde de quem diz “está tudo resolvido”: “O tamanho da mancha de óleo reduziu para dois quilômetros!”
Sabe, isso tudo me lembra os moleques. Aqueles que vão chegando na sua casa e entrando nos quartos, abrindo as portas dos armários, as gavetas, as caixas, tudo. Normalmente, movidos por sua insaciável e incontrolável curiosidade, nada respeitam e quase sempre deixam alguma marca de sua passagem oculta pelos ambientes que você já havia fechado preventivamente. O resultado inevitável é descobrir depois, quando o moleque já se foi, que num ambiente que você considerava à prova de moleques, ele quebrou um vaso, um eletrônico danificado ou até algo que sumiu.
Nesse sentido, a humanidade está agindo em relação à natureza como o pior dos moleques. E o que a move, definitivamente, não é a curiosidade. É a cobiça, a ganância, a ambição.
Olha, o Criador deve ter tido uma razão muito plausível para esconder o petróleo em lugares tão inatingíveis, profundos, ocultos. Ele fechou a porta, isolando algo da natureza que ele sabia ser perigoso, precioso e que deveria permanecer intocado. Mas a humanidade moleque (que aliás chegou por aqui muuuuito tempo depois do petróleo!) achou que podia botar a mão, fazer uso, descobrir para quê serve e, na maior caradura, pegar sem pedir permissão. Acabou derramando! Deixou manchas negras, espessas, indigestas, assassinas por todo o planeta. No caso do Campo do Frade, forçou até quebrar a fechadura que havia sido colocada.
Olhando desse ponto de vista, o Pré-sal não é uma bênção para o Brasil. O Pré-sal é uma grande maldição, isso sim. Porque os moleques ainda vão fazer muita lambança por trás das portas que deveriam ficar fechadas. Senão, elas não teriam sido colocadas em lugar tão escondido. O petróleo é uma merda. Mesmo!
O petróleo é mesmo uma merda! Essa história muito mal-contada e, sobretudo, mal-resolvida do vazamento no Campo do Frade, envolvendo a Xevron, é só mais um capítulo da sórdida novela porca do óleo negro que emporcalha o planeta há mais de um século. No último milésimo de segundo da história deste planeta de 4 bilhões e 500 milhões de anos, a maior praga que jamais passou pela Terra e que somos nós conseguiu deixar pegadas que se fixam no DNA do planeta.
Além da inacreditável sequência de mentiras e de descaso da imprensa em torno do desastre que afeta toda a vida no nosso mar territorial, ainda noticiaram com um alarde de quem diz “está tudo resolvido”: “O tamanho da mancha de óleo reduziu para dois quilômetros!”
Sabe, isso tudo me lembra os moleques. Aqueles que vão chegando na sua casa e entrando nos quartos, abrindo as portas dos armários, as gavetas, as caixas, tudo. Normalmente, movidos por sua insaciável e incontrolável curiosidade, nada respeitam e quase sempre deixam alguma marca de sua passagem oculta pelos ambientes que você já havia fechado preventivamente. O resultado inevitável é descobrir depois, quando o moleque já se foi, que num ambiente que você considerava à prova de moleques, ele quebrou um vaso, um eletrônico danificado ou até algo que sumiu.
Nesse sentido, a humanidade está agindo em relação à natureza como o pior dos moleques. E o que a move, definitivamente, não é a curiosidade. É a cobiça, a ganância, a ambição.
Olha, o Criador deve ter tido uma razão muito plausível para esconder o petróleo em lugares tão inatingíveis, profundos, ocultos. Ele fechou a porta, isolando algo da natureza que ele sabia ser perigoso, precioso e que deveria permanecer intocado. Mas a humanidade moleque (que aliás chegou por aqui muuuuito tempo depois do petróleo!) achou que podia botar a mão, fazer uso, descobrir para quê serve e, na maior caradura, pegar sem pedir permissão. Acabou derramando! Deixou manchas negras, espessas, indigestas, assassinas por todo o planeta. No caso do Campo do Frade, forçou até quebrar a fechadura que havia sido colocada.
Olhando desse ponto de vista, o Pré-sal não é uma bênção para o Brasil. O Pré-sal é uma grande maldição, isso sim. Porque os moleques ainda vão fazer muita lambança por trás das portas que deveriam ficar fechadas. Senão, elas não teriam sido colocadas em lugar tão escondido. O petróleo é uma merda. Mesmo!
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Imitamos até os problemas deles
No dia 9 de agosto de 1968, a revista americana “Life” saiu com esta foto na capa. Ela não representa uma orgulhosa companhia aérea americana apresentando toda a sua frota. Ao contrário, mostra um gigantesco congestionamento no aeroporto La Guardia, em Nova York.
A foto foi tirada numa das muitas “Sextas-feiras Negras” da aviação norte-americana na época, que enfrentava a situação caótica de inúmeros vôos atrasados, e foi descrita pela revista numa ampla reportagem de capa naquela edição. O caos reinava não só naquele aeroporto nova-iorquino, mas em todo o espaço aéreo dos EUA e era fruto direto do crescimento daquele país.
É engraçado como o mundo dá voltas. A popularização dos vôos e a ascensão social das classes C e D causaram exatamente o mesmo fenômeno nos EUA, há 45 anos, que está causando no Brasil de hoje. Eis que, num ritmo inédito de crescimento, o Brasil embarca num caos parecido em pleno século 21. Será mera coincidência ou simples conseqüência do crescimento desordenado de uma nação que quer figurar entre as maiores do mundo? Deixo a pergunta no ar, para que você mesmo faça seu julgamento.
Talvez, depois de passar pela crise dos aeroportos congestionados e dos vôos atrasados, imitemos também diversas outras crises norte-americanas e findemos no caos econômico, ambiental e social em que eles se encontram atualmente... Nossa capacidade de imitação não tem limites.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Morre Danielle Mitterrand
A viúva do ex-presidente francês François Mitterrand, morreu nesta madrugada aos 87 anos no hospital Georges-Pompidou, em Paris, onde estava internada desde a última sexta-feira em coma induzido. A mulher, uma das referências internacionais da esquerda e da luta pelos direitos humanos, durante a presidência de seu marido sempre foi uma primeira dama atípica, que não gostava do protocolo e mostrava publicamente seu apoio aos movimentos socialistas da Nicarágua, de Cuba, da Bolívia e do Curdistão.
Já como jovem, aos 17 anos, Danielle juntou-se à resistencia francesa contra a ocupação nazista e foi dessa forma que conheceu aquele que posteriormente seria seu marido, François, que se escondeu da Gestapo na casa de seus pais. O casal casou-se em 1944 e teve três filhos, um dos quais morreu ainda pequeno.
Sempre fiel a seus ideais de esquerda através da fundação France-Libertés, que criou em 1986, participou ativamente em diversos projetos ao redor do mundo. “Minha condição de esposa do presidente colocou-me numa conjuntura em que se escutam inumeráveis chamados de homens e mulheres oprimidos”, explicava. “O objetivo está claro: un mundo mais justo”, reafirmou ainda no último mês de outubro, quando sua fundação France Libertés completou 25 anos.
Como parte de sua luta em favor dos deserdados, tomou decidido partido em La Paz ao lado do presidente boliviano Evo Morales, confrontado em 2007 durante o debate por uma nova Constituição por líderes separatistas daquele país. “Vamos esperar que Evo Morales tenha a mesma sorte de Salvador Allende para chorar depois sobre a tumba da democracia boliviana?”, questionou a ex-primeira dama em um documento público.
Danielle Mitterrand viajou em numerosas ocasiões a Cuba para impulsionar projetos de cooperação, dando ênfase sobretudo a temas ambientais e em especial ao direito a acesso à água enquanto patrimônio da humanidade. Também não vacilou em manifestar em numerosas ocasiões seu apoio a Havana e a Fidel Castro, até o ponto de provocar forte polêmica, quando abraçou o dirigente cubano na entrada do palácio presidencial francês durante a visita dele à França em 1995.
Iniciativas como estas às vezes colocavam em posição difícil a diplomacia francesa e provocavam reações críticas de governos extrangeiros para os quais não estava clara a diferença entre a “primeira dama” e a militante. Em 1989, provocou mal-estar em Pequim ao receber, na sede da fundação em Paris, o Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos.
Danielle Mitterrand nasceu em 29 de outubro de 1924 em Verdun, no leste da França, como filha de um diretor de escola – destituído pelo governo colaboracionista dos nazistas de Vichy, por não ter denunciado seus alunos judeus – e de uma professora, ambos militantes socialistas. Aos 17 anos se alistou como enfermeira na guerrilha contra os nazistas que ocupavam a França durante a Segunda Guerra Mundial e foi uma das mais jovens condecoradas por sua ação dentro da Resistência.
Autora de vários livros, entre os quais o best-seller “En toutes libertés” (Em total liberdade, 1996) e “Le livre de ma mémoire” (Livro da memória, 2007). Nos últimos anos e apesar de sua saúde precária não economizava seu tempo para militar: “Isto me mantém desperta. A partir de certa idade se pode adormecer e eu não tenho nenhum desejo de morrer pouco a pouco”.
(Fonte: Pagina/12)
Moby Dick existiu de verdade
No dia 20 de novembro de 1820, a cerca de 3.700 quilômetros da costa do Chile, um cachalote anormalmente grande destruiu o navio baleeiro Essex (de Massachusetts, EUA). O jovem Thomas Nickerson, de apenas 14 anos, estava a bordo do “Essex” e escreveu um relato sobre o ataque, incluindo este desenho, contando também sobre os três meses de sobrevivência em alto mar que se seguiram à destruição do navio.
Este é o episódio real que inspirou o romance “Moby Dick”, publicado em 1851 por Herman Melville. A obra de Melville tornou-se um dos maiores clássicos da literatura mundial; uma verdadeira obra prima. “Moby Dick” é uma extraordinária metáfora da condição humana. Na longa viagem do navio “Pequod”, a tripulação está interessada em enriquecer rapidamente, enquanto o capitão Ahab está obcecado em capturar o “monstro”. No centro de tudo está o absurdo das ambições humanas.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Reação intempestiva do Vaticano
Eis a reação que já era esperada pelos marqueteiros da Benetton. Com a atitude intempestiva de Roma, fica mais uma mancha desnecessária na já combalida fama de uma instituição que teima em não atualizar a mensagem viva do Evangelho, tornando-o refém de uma tradição que visa preservar poder (que já não existe extra-muros do Vaticano). Pena. Podiam ter levado esta história para o lado positivo, granjeando maior respeito e admiração. Imagino que uma boa reação teria sido agradecer pela sugestão do "ósculo santo", que até a Bíblia defende como um bom caminho para a conciliação e a paz. Preferiram ver uma agressão que não existe em imagens extremamente sugestivas. Todos os outros "atingidos" pela campanha preferiram silenciar. Talvez porque perceberam que a ideia dos marqueteiros da Benetton não é ruim... Veja o texto do jornalista Antônio Carlos Ribeiro sobre isso, abaixo.
"A decisão imediata da Santa Sé de processar a Benetton por causa da foto do papa beijando o imã de Al-Azhar desperta a atenção. As fotos da campanha UNHATE da Benetton destaca a luta contra o ódio e a intolerância. Os maiores líderes mundiais foram incluídos e não anunciaram atitudes judiciais contra a empresa.
A decisão do Vaticano de empreender ações legais contra a fotomontagem em que o papa Bento XVI beija o imã sunita Ahmed el Tayeb, anunciada pela Secretaria de Estado da Santa Sé, ampliará as condições para divulgação da campanha. A reação pode ter sido prevista pelos marqueteiros e integrada como potencializadora da peça publicitária. A primeira e, até o momento, a única reação foi baseada na ofensa e ganhou amplitude por ser uma campanha contra o ódio.
A campanha que inclui fotomontagens de beijos entre líderes de expressão mundial como Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, Obama e Hu Jintau, presidente da China, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, e Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, tem a clara intenção de mostrar líderes de países e instituições religiosas em conflito de interesse, justificando a peça publicitária.
A intenção de retirar de circulação a campanha publicitária, já na véspera, mostra como a estratégia previu as explicações do grupo empresarial italiano. Criada a publicidade, imediatamente vista como ofensiva, anunciada a retirada da peça, feita a divulgação pelos meios de comunicação, especialmente em veículos televisivos e eletrônicos, cuja marca é o imediatismo e o alcance, foram dados quase todos os passos.
O último, contando com reação proporcional ao grupamento humano que julga alcançar e em nome de valores morais das quais se julga representante, foi a reação previsível e sua integração ao conjunto da campanha. A previsibilidade está associada a outras, como a condenação de filmes, livros, campanhas e obras de artes de natureza diversa, cuja reação potencializou a divulgação a despertar o interesse no contraditório, nas reações e mesmo nas reações.
No caso em tela, outro ingrediente que pode ter escapado à percepção publicitária e de mercado dos assessores da Santa Sé, o tema da campanha será destacado pela contradição de uma instituição religiosa por tomar atitude intempestiva, a que se acrescentam as denúncias de pedofilia, as repercussões em relação ao clero, judiciais e patrimoniais, que geraram desgastes e publicidade negativa nos últimos anos.
Houve até mesmo o cuidado de lembrar "que o sentido desta campanha era exclusivamente combater a cultura do ódio sob todas as formas", informou um porta-voz do grupo conhecido e premiado pela criatividade publicitária da campanha "United Colors of Benetton". A campanha foi apresentada ontem por Alessandro Benetton, vice-presidente do Benetton Group, em Paris.
Com as campanhas publicitárias do grupo Benetton, comandadas pelo fotógrafo Oliviero Toscani, em que estão duas personalidades religiosas ao lado de políticas, será necessário aguardar a reação do grande público. A peça foi elaborada num conjunto em que estão em jogo relações afetivas, políticas, sociais e religiosas de expressão mundial. Se houver eco expressivo de apoio à decisão pela ofensa, a campanha já terá alcançado grande percentual dos objetivos previstos. Se não, restará um discurso moralista que, mesmo divulgado, não conterá os efeitos da divulgação.
Os efeitos para o mundo ocidental devem ter sido avaliados, seguidos pela decisão da manutenção. No caso do mundo árabe, que envolve apenas o imã, por razões inversas, terá o mesmo efeito, por causa da imagem dos valores que costumam atribuir ao ocidente, especialmente com os desgastes gerados pelas guerras de massacres sem objetivos maiores que influência, domínio e lucro.
E um aprendizado longo, a duras penas e sem efeitos: a proporção da reação à ofensa dará os limites da importância atribuída. Do ataque às torres gêmeas, às publicações de wikileaks e às fotos de beijos entre lideranças políticas e religiosas. E às reações, com seus impactos."
(Texto do jornalista Antonio Carlos Ribeiro para a Agência Latino-Americana e Caribenha de Copmunicação-ALC)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Acessibilidade garantida
Para a IECLB, igreja pioneira na luta pela inclusão e que tem dado um belo exemplo, o dia 17 de novembro deve ser registrado como histórico. A presidenta Dilma Rousseff assinou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência-PD, chamado de “Viver sem Limite”. Com o objetivo de promover inclusão social das PD, o governo pretende investir 7,6 bilhões em prevenção, profissio¬nali¬za¬ção e autonomia para essa gente, vítima histórica de exclusão e preconceito.
Romário, criticado quando era jogador e agora como deputado federal, tem surpreendido na luta pela causa das PD. Ele tem uma filha com Síndrome de Down, com o lindo nome de Ivy, e participou da cerimônia de lançamento do Plano inédito do Governo Federal, para cuja implantação ele também contribuiu.
Eliminar barreiras e permitir o acesso a bens e serviços disponíveis a toda a população são os principais objetivos. Com metas a serem cumpridas até 2014, as ações serão executadas em conjunto por 15 órgãos do Governo Federal, sob a coordenação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O programa irá oferecer até 150 mil vagas para qualificação profissional e suas ações estão distribuídas em quatro eixos: educação, saúde, inclusão social e acessibilidade.
Na educação, o plano quer a adaptação de 42 mil escolas públicas e instituições federais de ensino, a compra de 2,6 mil ônibus acessíveis para o transporte de 60 mil alunos, a contratação de 648 professores de Libras e a implantação de mais salas com recursos multifuncionais. Na saúde haverá mais testes do pezinho, acesso à órtese e prótese e recursos do SUS para adaptação e manutenção de cadeiras de rodas. Também haverá centros de referência para apoiar as PD em situação de risco, mais treinadores para cães-guias e acessibilidade nas casas construídas pelos programas do Governo.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Na hora do jogo, pode dizer qualquer coisa sem consequências?
Suárez foi acusado formalmente de ofender Evra com declarações racistas.
Foto: AgNews/AP
Não é de hoje que o futebol inglês tem sido palco de manifestações racistas. Os petardos vêm da torcida dos times, mas também afloram em campo, em meio ao calor e à excitação dos jogos. O zagueiro John Terry e o atacante Luis Suarez são dois jogadores envolvidos em acusações formais desse tipo de comportamento.
Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, entretanto, esse tipo de acusação é conversa. Ele não acredita que os atletas acusados tenham de fato ofendido seus adversários dessa maneira. Por conta de suas declarações, os jogadores negros fizeram duras críticas ao cartola-mor do futebol mundial. Ele disse que resolveria esses casos com um simples aperto de mão entre os atletas.
Ontem (16 de novembro) o atacante uruguaio Suárez foi acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol por ter dirigido xingamentos de conteúdo racista ao lateral esquerdo do Manchester United, Patrice Evra. O capitão da seleção da Inglaterra e do Chelsea, John Terry, foi denunciado pelo zagueiro Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers, pelo mesmo delito.
Para Blatter os xingamentos e as ofensas entre os atletas durante uma partida são normais e todos esses casos, que tomaram grandes proporções na Europa, não passam de mal entendidos. “Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo e ao final dele nós nos apertamos as mãos”, declarou Joseph Blatter em entrevista à CNN.
A declaração de Blatter faz retornar à minha cabeça uma frase que Paulo Maluf disse numa palestra na PUC, em 1989: “Se tem desejo sexual, estupra mas não mata”. Ele próprio a classificou mais tarde como a frase mais infeliz da sua vida. Entretanto, revela que a nossa cabeça nos trai quando, no fundo no fundo, acreditamos em alguma coisa e defendemos outra.
Também a frase do dirigente máximo do futebol mundial dá a entender que, para ele, o calor da competição justifica qualquer coisa e até declarações absolutamente despropositadas podem ser ditas nessas horas. Depois a gente as classifica como “a frase mais infeliz da minha vida” e se passa uma borracha por cima, como se não tivesse sido dita.
Mas o resultado da frase permanece, porque fomenta uma cultura que está na cabeça de muita gente e que precisa, sim, ser combatida não só com afagos e tapinhas nas costas, do tipo “nós compreendemos”. Não dá para compreender, nem aceitar, nem relevar. E se a FIFA não aceita intermediar essa disparidade absurda, quem o fará no futebol? Os atletas negros que engulam em seco e se virem com o que ouvem em campo, porque isso faz parte do futebol? Sinceramente, não dá. A revolta dos atingidos, que não pouparam Blatter de duras críticas, é mais que justificada.
Foto: AgNews/AP
Não é de hoje que o futebol inglês tem sido palco de manifestações racistas. Os petardos vêm da torcida dos times, mas também afloram em campo, em meio ao calor e à excitação dos jogos. O zagueiro John Terry e o atacante Luis Suarez são dois jogadores envolvidos em acusações formais desse tipo de comportamento.
Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, entretanto, esse tipo de acusação é conversa. Ele não acredita que os atletas acusados tenham de fato ofendido seus adversários dessa maneira. Por conta de suas declarações, os jogadores negros fizeram duras críticas ao cartola-mor do futebol mundial. Ele disse que resolveria esses casos com um simples aperto de mão entre os atletas.
Ontem (16 de novembro) o atacante uruguaio Suárez foi acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol por ter dirigido xingamentos de conteúdo racista ao lateral esquerdo do Manchester United, Patrice Evra. O capitão da seleção da Inglaterra e do Chelsea, John Terry, foi denunciado pelo zagueiro Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers, pelo mesmo delito.
Para Blatter os xingamentos e as ofensas entre os atletas durante uma partida são normais e todos esses casos, que tomaram grandes proporções na Europa, não passam de mal entendidos. “Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo e ao final dele nós nos apertamos as mãos”, declarou Joseph Blatter em entrevista à CNN.
A declaração de Blatter faz retornar à minha cabeça uma frase que Paulo Maluf disse numa palestra na PUC, em 1989: “Se tem desejo sexual, estupra mas não mata”. Ele próprio a classificou mais tarde como a frase mais infeliz da sua vida. Entretanto, revela que a nossa cabeça nos trai quando, no fundo no fundo, acreditamos em alguma coisa e defendemos outra.
Também a frase do dirigente máximo do futebol mundial dá a entender que, para ele, o calor da competição justifica qualquer coisa e até declarações absolutamente despropositadas podem ser ditas nessas horas. Depois a gente as classifica como “a frase mais infeliz da minha vida” e se passa uma borracha por cima, como se não tivesse sido dita.
Mas o resultado da frase permanece, porque fomenta uma cultura que está na cabeça de muita gente e que precisa, sim, ser combatida não só com afagos e tapinhas nas costas, do tipo “nós compreendemos”. Não dá para compreender, nem aceitar, nem relevar. E se a FIFA não aceita intermediar essa disparidade absurda, quem o fará no futebol? Os atletas negros que engulam em seco e se virem com o que ouvem em campo, porque isso faz parte do futebol? Sinceramente, não dá. A revolta dos atingidos, que não pouparam Blatter de duras críticas, é mais que justificada.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Beijos contra o ódio
A nova campanha “United Colors of Benetton” com o mote “UNHATE” (não ódio), foi apresentada oficialmente no início da tarde desta quarta-feira por Alessandro Benetton, vice-presidente do Benetton Group, em Paris.
A campanha mostra personalidades da política internacional, que tradicionalmente estão em papéis antagônicos, se beijando na boca. A foto do Papa beijando na boca um imã no Cairo causou revolta entre os fieis das duas maiores religiões do planeta. Em vista da hostilidade dos fieis, a campanha foi retirada do ar em seguida.
“Lembramos que o sentido desta campanha é exclusivamente combater a cultura do ódio sob todas as formas”, comentou em comunicado um porta-voz da Benetton sobre as fotomontagens. Elas mostram beijos calorosos, além da contestada foto com os dois líderes religiosos, entre Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, Mahmud Abbas e Benjamin Netanyahu, Barack Obama e o presidente chinês Hu Jintao, o mesmo Obama e Hugo Chávez, e os presidentes das duas Coréias.
No bolso não!
É engraçado este mundo em que vivemos, que é movido pelo capital. Pode-se mexer em todos os valores, menos naquele que faz mover a economia. Pode-se por a mão em tudo, menos no bolso.
Veja a era Berlusconi, por exemplo. Silvio mexeu em tudo, derrubou todos os preceitos de honradez e respeito. A sua governança foi uma sucessão de escândalos que poucas vezes se assistiu na Itália. Até de fascista ele brincou, e nada lhe aconteceu. Abuso de menores, safadezas de toda ordem e uma cara de pau que por aqui só se viu estampada no Maluf em termos de transformar a coisa pública numa trincheira particular... Nada mexeu nele. O crime que todos cobraram dele, inclusive seus pares de partido, foi a incapacidade de resolver a crise de grana da Itália. Se Silvio tivesse resolvido isso, continuaria firme e forte no seu amado posto de primeiro ministro.
Infelizmente, Berlusconi é apenas uma metáfora para o mundo inteiro. Tudo é permitido, desde que o bolso não seja afetado.
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