Apenas meio século nos separa do ano mais explosivo da história recente. Promovido por jovens estudantes em sua maioria, 1968 foi um ano atípico, que desencadeou uma explosão em escala global. Muitos dos temas que ainda hoje causam tanta polêmica foram para a rua naquele ano, em festivais, encontros, canções, gritos de guerra e protestos, muitos deles sangrentos.
A juventude de 1968 protestou contra a guerra do Vietnã e a guerra fria, o imperialismo norte-americano, a desigualdade e injustiça promovidas pelo capitalismo, a opressão das ditaduras comunistas (Leste Europeu) e militares (América Latina) e em defesa de uma democracia mais participativa. Os protestos clamavam contra o autoritarismo, a bomba atômica e as desigualdades sociais. Gritava a favor dos direitos humanos, das liberdades e dos direitos das minorias.
Nem a igreja escapou da onda de choque, arejando a teologia, a liturgia, a estrutura, abrindo espaço para as comunidades de base, a celebração abrilhantada por bandas e para uma teologia que ficou conhecida por falar de libertação.
Num movimento de contracultura sem qualquer precedente na história, 1968 abriu as portas para a liberdade do corpo, o movimento feminista, a igualdade de gênero, o fim do patriarcalismo, do machismo e da violência contra as mulheres. Ou seja, 1968 continua muito atual e alguns temas continuam pululando à flor da pele da humanidade. O movimento hippie à frente, os protestos clamavam que é proibido proibir.
Tudo começou na Universidade de Sorbonne em Paris contra a burocracia educacional. Foi como acender um rastilho de pólvora que dava a volta ao mundo. Em seguida, Itália, Alemanha, Tchecoslováquia, Estados Unidos e o mundo todo pegaram fogo. No Brasil a Guerra Fria tinha um alvo: a ditadura militar, coisa que se espalhou pela Argentina, Chile e outros países reprimidos pelo exército no poder.
Em suma, 1968 foi um ano em que as utopias pipocavam ao redor do planeta como cogumelos (muitas vezes movidas pelos próprios). Foi o ano que deu uma nova cara à sociedade, à política, ao comportamento e à própria juventude. Seus ídolos musicais, muitos deles mortos há muito, jamais desceram dos palcos e das paradas de sucesso nesses 50 anos.
Pergunto: 2018 não deveria tornar-se um novo 1968? As mesmas polêmicas, problemas, diferenças, ideias e utopias continuam mais atuais do que nunca. Ainda mais em meio a esta sórdida onda de conservadorismo, que avança como uma mancha gigante de fungos pelo planeta.
Mas, talvez não seja possível. Enquanto os jovens se entregaram às sereias que seus avós combatiam heroicamente, os avós hoje viraram hippies cooptados pelo stablishment e se unem aos gritos que pedem o retorno a tempos anteriores a 1968. Querem derrubar as conquistas de uma geração que tornou o mundo mais interessante.
É, talvez um retorno de 1968 seja inviável mesmo...
Mas eu me nego a desistir de algumas das bandeiras, das utopias e das lutas daquela juventude. Enquanto insisto, lhe desejo paz e amor!
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