sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A Revolução Francesa e o Clima

Um exemplo interessante da ligação entre o clima e a história vem da Revolução Francesa. A queda da Bastilha em 1789 tem muitos fatores de longo e de curto prazo, de ordem política, cultural, econômica e social. Mas não foi somente uma população cansada do feudalismo que decidiu livrar-se de seus opressores.

Um desses fatores foi o crescimento populacional em mais de dez por cento nos últimos 20 anos antes da revolução. Desde 1770 a agricultura não dava conta de produzir o que era consumido, além de ser tecnicamente atrasada. A armazenagem era precária e insuficiente, a irrigação ruim, o modo de plantio ultrapassado, o trabalho de plantar, colher e beneficiar era todo manual e os agricultores não aceitavam novas técnicas.

Com isso, obviamente as colheitas eram escassas e não havia estoques, abrindo graves brechas na economia para problemas em caso de insucesso numa colheita ou tragédias meteorológicas. Uma enorme cratera começou a abrir-se com uma crise de fome em 1770 que atingiu toda a Europa. Os “anos dourados” da era Luiz XV terminavam em carestia aguda.

Com a subida ao trono de Luiz XVI (1774), a situação se agravou, com estagnação econômica e recessão em 1778. Para tentar resolver, o imperador implantou uma economia liberal equivocada, com uma política agressiva de livre-comércio, que favorecia a nobreza. Sem estoques de cereais, ele liberou a exportação dos produtos agrícolas já que não havia poder aquisitivo na França para comprar a produção. Os lucros dos produtores foram às alturas e os consumidores não tinham o que comer. Também a indústria francesa foi prejudicada com a liberação de importação de manufaturados ingleses em larga escala, que eram mais baratos. Com isso, veio uma crise de desemprego.

Este quadro explosivo de crise geral foi agravado por severas tragédias climáticas. Em 1788 sobreveio um grave ano de seca, que culminou numa tempestade de granizo que destruiu cerca de 1500 povoados nas cercanias de Paris e reduziu a safra em 20% em toda a França. No ano seguinte, os preços não pararam de subir. O verão de granizos foi substituído por um inverno de frio sem precedentes em 1788/89, que paralisou a economia. O derretimento do gelo e da neve acumulada no inverno produziu enormes inundações na primavera seguinte, seguidas de peste entre o gado. Revoltas provocadas pela fome começaram a eclodir em diversos lugares. Famílias inteiras assaltavam comboios de transporte de mantimentos e cereais e os veículos começaram a ser escoltados pelo exército. Nas cidades, cresciam os arrastões e os assaltos de bandos de famintos a comércios e estoques.

O medo dos assaltos fez o governo distribuir armas aos agricultores, para se defenderem dos bandoleiros. Ainda assim, o clima não deu trégua e o verão de 1789 também foi sem chuva, estorricando o solo e as pastagens. Rios secaram e os moinhos que tocavam a indústria também pararam. Certamente não apenas o clima contribuiu, mas a revolução francesa foi também uma revolução da fome. A data mais simbólica disso tudo foi o dia 14 de julho de 1789. Nesse dia o preço dos cereais atingia o seu ápice. Foi precisamente o dia da queda da Bastilha.


(Fonte das informações: Kulturgeschichte des Klimas/Wolfgang Behringer)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

El Niño

Quem ainda não ouviu falar dele no Vale do Itajaí? "El Niño" (do espanhol "O Menino" e lê-se El Ninho) é o maior fenômeno climático natural que ocorre no nosso planeta. Tem este nome porque costuma ocorrer por volta do Natal, em média a cada sete anos, por isso a referência ao Menino Jesus. Pela bagunça celestial da última noite, estamos em pleno campeonato de bolão do El Niño.

O fenômeno ocorre bem longe daqui, na mudança da temperatura das águas do Oceano Pacífico, na Corrente de Humboldt. Isso muda a realidade de chuvas e secas em todo o Hemisfério Sul e parte do Hemisfério Norte do planeta. Afeta a América do Sul e Central, a África, a Ásia e a Oceania, provocando reviravoltas gigantes no clima nessas regiões. Chuvas e enchentes aqui no Sul e seca no Centro Oeste e no Sudeste estão na pauta.

Entretanto, tem vezes que ocorre um chamado Mega El Niño. Os últimos aconteceram em 1975/76 e em 1982/83 (este último de triste lembrança para o Vale do Itajaí). Nesses eventos climáticos catastróficos acontece o que os oceanógrafos chamam de ENSO (El Niño Southern Oscillation), quando o fenômeno muda a direção das correntes marítimas. Nesses eventos climáticos gigantes, inverte-se radicalmente o regime de chuvas e de estiagem em vários pontos do planeta.

Para historiadores do clima no planeta, alguns desses Mega El Niños se estenderam até por décadas, aniquilando civilizações inteiras, como algumas pré-incaicas nos Andes, a civilização maia no México ou algumas das dinastias de faraós egípcios (por influenciar as cheias periódicas do Nilo). Óbvio que a tragédia climática que se abateu sobre essas civilizações não encontrou governantes em condições de reagir em tempo de salvar o povo da fome e de doenças dela decorrentes, mas o clima ajudou muito.

Por certo, apesar das tragédias sempre dramáticas associadas ao El Niño, a civilização atual é a mais preparada para enfrentar suas consequências. Mas também somos parte da primeira civilização que influencia e potencializa este fenômeno natural com nossa agressão ao meio ambiente, como desmatamentos e poluição atmosférica causadora do efeito estufa.

(Com informações de "Kulturgeschichte des Klimas", Wolfgang Behringer)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um bom termômetro do preconceito

A venda de ingressos das Olimpíadas de 2016 vai de vento em popa. Já no início de agosto, 3 milhões de ingressos de um total de 7,5 milhões disponibilizados para o Brasil foram vendidos, segundo o Comitê Rio 2016. Hoje começa a segunda fase dessa venda, com cada ingresso sendo disputado a tapa.
O mesmo não se repete em relação aos ingressos da Paralimpíada. Menos de 10% foram vendidos na primeira fase. Mesmo com os argumentos da matéria do Estadão, buscando explicações para a baixa procura, na minha opinião o preconceito transparece aqui.
Estão perdendo a oportunidade de contato imediato de primeiro grau com incontáveis casos de superação e lições de vida! Além de superarem as limitações impostas pelas suas deficiências, os atletas paralímpicos ainda têm que superar o descaso, o preconceito e a falta de apoio da sociedade. Nenhum deles ganha o rio de dinheiro que os patrocinadores investem nos atletas considerados "normais".

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...