sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Morte junto ao rio



Minha biografia pessoal tem algumas marcas bem destacadas. Elas são como sulcos profundos na pele, que moldam não apenas a minha fisionomia, mas também o meu caráter e os próprios contornos e cores da minha alma. Boney M é uma dessas marcas. By the rivers of Babylon já foi até inspiração para uma prédica empolgadíssima, quando fui homenageado pelo Vocal Isaec com a gravação da minha Canção para a América Latina.

A impressionante história deste negro spiritual belíssimo, que conta a épica história do povo de Israel morrendo de saudades da pátria, no exílio, junto aos dois rios que cercam a Mesopotâmia, em referência ao salmo bíblico "como vamos cantar a canção do Senhor numa terra estranha?".

Letra magistral e um credo de confissão de esperança, virou um kitch romântico no Brasil, na pobre e vazia tradução cantada pela Perla (Rios da Babilônia), que falava de um romancezinho bobo, que em nada lembrava o belíssimo negro spiritual composto pelos escravos norte-americanos para tracar um vigoroso paralelo entre o seu exílio e infortúnio escravo em terra estranha. A belíssima canção foi honrada também na inesquecível voz de Bob Marley.

Relembro tudo isso para mencionar aqui, com muita tristeza, que ontem morreu Bobby Farrell. Ele era a alma do Boney M e, aos 61 anos, ainda era seu mais emblemático representante. Com sua partida, Farrell desfalca de sua voz mais vigorosa o coral dos exilados nas barrancas do Eufrates (ou do Tigre, tanto faz).

Com eles eu canto:
By the rivers of Babylon, where we set down,
and there we wept when we remembered Sion.
Oh, the wicked karried us away in captivity,
required from us a song,
now how can we sing de Lords song in a strange land.
So lat de words of our mouths and the meditation of our hards
be acceptable in thy sight heare tonight.

Seja esta a canção de todos nós, na noite em que começa um novo ano.
Um abençoado 2011 a todos e todas!

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Natal do burrico


Nesta noite de véspera de Natal, li para os meus a história de um livro natalino da Editora Sinodal, que narra a visão do burrico do espetacular acontecimento na noite de Belém. "Eu estava lá", diz o animal, que protesta por confundirem o seu nome com falta de inteligência. "Eu estava lá, enquanto animais como o leão, o rei da selva, o condor, o rei dos ares, e o tubarão, o rei dos mares, não estavam lá."

Ver o cenário do nascimento de Jesus do ângulo de visão do burro é muito interessante. E revelador. Mostra a extrema humildade da vida do maior rei de todos os tempos. E nós, seres humanos, tão apegados às pompas do poder e dos poderosos, não nos conformamos com tanta simplicidade e tamanho desprendimento.

Acostumados à ostentação, em nossa visão este rei maior deveria vir com a escolta de mil Harley-Davidson, confortavelmente acomodado no banco traseiro de uma reluzente Rolls-Royce. Ele deveria ser seguido de um gigantesco séquito de puxa-sacos com títulos de nobreza, enquanto a sua própria figura deveria estar envolta na mais fina seda, a cabeça coberta por uma coroa de ouro finíssimo e repleta do brilho de milhões de quilates de diamantes.

Mas, à nossa revelia, ele optou pelo caminho da humildade. Ele escolheu uma estrebaria, pela companhia de um burro contando a história da sua vinda. Ele escolheu para si ser coroado com uma coroa de espinhos. Ele decidiu ser gente como nós. Revelou uma face totalmente estranha à nossa visão de poder. Deus mostra um novo rosto, segundo Leonardo Boff, "um novo tipo de poesia e lirismo divino".

Segundo Boff, é exatamente por isso que o Natal nos fornece a chave para decifrar alguns dos mais profundos mistérios da existência humana. "As pessoas se perguntam angustiadas: por que a dor? A humilhação? Qual o sentido do sofrimento? As pessoas perguntavam a Deus e Deus silenciava", escreve o sábio teólogo.

"Agora no Natal, Deus fala. Com este menino no cocho de palha, Deus dá a resposta: ele nasceu pequeno, se fez história; resume tudo no presépio. Ali ele não explica o porque do sofrimento. Ele sofre junto. Ele não responde ao porquê da dor. Ele se fez homem de dores. Ele não responde ao porquê da humilhação. Ele se humilha. Já não estamos mais sós na nossa imensa solidão."

Este menino, segundo o Evangelho, é Emanuel, que quer dizer "Deus conosco". Esta é a maravilhosa e surpreendente história de um Deus que se fez criança, que não pergunta mas faz, que não responde mas se torna, ele próprio, a resposta. Ele vive a resposta; e quê resposta! Isto é Natal. É a noite mais iluminada da história humana. O mundo estreito e escuro em que vivemos tem saída, um desfecho feliz e abençoado. Por isso, podemos desejar FELIZ NATAL uns aos outros!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Em nome da honra e da dignidade



Em protesto contra o reajuste de 62% que os parlamentares concederam aos seus próprios salários, o bispo emérito de Limoeiro do Norte, do Ceará, D. Manuel Edmilson da Cruz, recusou a comenda de Direitos Humanos D.Hélder Câmara, que este ano foi conferido pelo Senado, pela primeira vez.

Ao falar no plenário, na sessão de entrega da comenda, o religioso lamentou que o Congresso tenha aprovado aumento para seus próprios salários, com efeito cascata nos vencimentos de outras autoridades, enquanto os trabalhadores no transporte coletivo de Fortaleza mal conseguiram 6% de reajuste, em recente reivindicação trabalhista.

Segundo o bispo, enquanto o Congresso premia a si próprio, as aposentadorias estão reduzidas e o salário mínimo cresce "em ritmo de lesma". "Só me resta uma atitude: recusá-la (a comenda). Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, ao contribuinte, para o bem de todos com o suor no seu rosto e a dignidade no seu trabalho", disse. Para D.Manuel, o deputado e o senador que aprovaram o reajuste "não é parlamentar. É para lamentar". O bispo foi um dos cinco contemplados pela comenda D.Helder Câmara. (Estadão)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Espectro da discriminação



A campanha “The Spectrum of Discrimination” (“O Espectro de Discriminação”) da ONG francesa Ligue Internationale Contre le Racisme et l’Antisémitisme (LICRA) (Liga Internacional contra o Racismo e o Anti-semitismo), desnuda o racismo em sua forma mais simples e cruel: a discriminação pela cor da pele. A escolha de um catálogo de cores – desses comumente utilizados pela indústria de tintas para ajudar os seus consumidores na escolha de cores – para mostrar que o preconceito de cor é uma das formas discriminatórias mais comuns e cruéis entre todas as formas de discriminação, é simplesmente genial. Conforme a cor vai escurecendo, cresce o índice de desemprego. Ao pé da página, a frase: “Vamos fazer algo contra a discriminação”.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Papai Noel anti-ecológico


Por Edelberto Behs

O planeta Terra terá que suportar demandas de matéria-prima extraídas da natureza para dar conta da produção dos presentes que serão distribuídos na festa do Papai Noel deste ano. Estudo da Worldwatch indica que o mundo extrai da Terra, a cada dia, o equivalente a 112 edifícios Empire State. Em 2006, mostra o estudo Estado do Mundo 2010, a humanidade gastou 30,5 trilhões de dólares em bens e serviços, seis vezes mais do que os 4,9 trilhões gastos em 1960.

Entre 1960 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo oito e o consumo de gás natural 14 vezes. No total, 60 bilhões de toneladas de recursos são extraídos anualmente da natureza, cerca de 50% a mais do que há 30 anos. Só em 2008, pessoas adquiriram 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de celulares.

O Indicador de Pegada Ecológica, que compara o impacto ecológico humano com a quantidade de terra produtiva e área marítima disponíveis para o abastecimento de ecossistemas centrais, aponta que a humanidade está usando um terço a mais da capacidade da Terra do que ela efetivamente possa dispor, afetando a regeneração dos ecossistemas, fundamentais para a espécie humana.

“Apenas nós, seres humanos, produzimos resíduos que a natureza não consegue digerir”, declarou o oceanógrafo Charles Moore ao se deparar com montanhas de lixo plástico vagando pelo Oceano Pacífico, em 1997. No mundo atual, com 6,8 bilhões de habitantes, os padrões de consumo moderno, mesmo em níveis básicos, não são sustentáveis.

Os 65 países de renda mais elevada foram responsáveis, em 2006, por 78% dos gastos com consumo, embora abrigassem apenas 16% da população mundial. Naquele ano, cada estadunidense gastou 32,4 mil dólares, equivalente a 32% dos dispêndios globais de apenas 5% da população mundial! Se todos vivessem nesse padrão, a Terra poderia sustentar apenas 1,4 bilhão de pessoas.

O Estado do Mundo 2010 remete à pesquisa de 2008 sobre gastos no Natal em 18 países com a aquisição de presentes e eventos sociais. Irlandeses despenderam então, em média, 942 dólares, ingleses 721 dólares e estadunidenses 581 dólares. Embora apenas 2% dos japoneses sejam cristãos, o Natal é comemorado no país com generosas entregas de presentes, onde a data é feriado, inclusive.

A mídia é uma importante instituição social de estímulo ao consumismo, uma vez que representa uma ferramenta poderosa na transmissão de símbolos, normas, costumes, mitos e histórias culturais. A cada hora adicional de televisão a que as pessoas assistem semanalmente, elas gastam 208 dólares a mais na aquisição de bens e serviços, mesmo que tivessem menos tempo diário para usá-las.

A indústria que produz alimentos e produtos para animais de estimação empreendeu mais de 300 milhões de dólares em publicidade, em 2005, nos Estados Unidos. Só com ração animal, essa indústria fatura 42 bilhões de dólares/ano no mundo, recorrendo à “humanização” dos animais. O fast-food movimenta 120 bilhões de dólares nos Estados Unidos, em 200 mil restaurantes. Só o McDonald's atende 58 milhões de pessoas, em 118 países.

Resultado: 1,6 bilhão de pessoas no planeta apresenta sobrepeso ou são obesas, fator responsável pela diminuição da qualidade de vida desse grupo. O estudo da organização Worldwatch defende uma mudança cultural profunda porque “neste planeta finito, definir sucesso e felicidade através de quanto uma pessoa consome não é sustentável”.

O governo brasileiro concedeu incentivo à indústria automobilística no ano passado, em virtude da crise econômica global. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, nos anos 40 do século passado, após o término da Segunda Guerra Mundial, que mobilizara uma potente economia de guerra, mas sem mercado após o conflito.

Uma solução foi canalizar a produção voltada à guerra para outros setores. Em 1955, o economista Victor Lebow argumentava: “Nossa economia, tremendamente produtiva, exige que façamos do consumo nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de produtos em rituais, que busquemos no consumo a satisfação espiritual e do ego”.

O crédito foi facilitado via prestações mensais. A introdução do cartão de crédito ampliou ainda mais esse leque de facilidades. Os produtos passaram a ser projetados para terem menor durabilidade ou sair de moda – a obsolescência física e psicológica. Os gastos globais com publicidade alcançaram 643 bilhões de dólares em 2008. Empresas destinam 1% do produto mundial bruto para vender seus artigos.

Worldwatch defende a mudança dos sistemas culturais para tentar salvar o planeta da falência e ganhar sustentabilidade. O ativista Gary Gardner, da organização, propõem que instituições religiosas se engajem nessa luta, disseminando culturas de sustentabilidade e de bloqueio do consumismo desenfreado.

Para prevenir o colapso da civilização humana, alerta o pesquisador Erik Assadourian, autor do capítulo “Ascensão e queda das culturas de consumo” no documento “Estado do Mundo 2010”, “é necessário nada menos do que uma transformação generalizada de padrões culturais dominantes”.

Essa transformação, sugere o autor, “rejeitaria o consumismo – a orientação cultural que leva as pessoas a encontrar significado, satisfação e reconhecimento através daquilo que consomem – que seria tido, então, como um tabu, e criaria em seu lugar um novo arcabouço cultural centrado na sustentabilidade”.

Assadourian sugere a recuperação ecológica como o principal mote da humanidade. No novo significado cultural construído, passaria a ser “natural” encontrar valor e sentido na vida através do quanto uma pessoa ajuda a recuperar o planeta, “e não de acordo com o que esse indivíduo ganha, o tamanho de sua casa, ou quantos utensílios ele tem.”
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Edelberto Behs é jornalista, correspondente da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Interpol, a torneira e as camisinhas de Julian Assange


Uma semana depois de ser preso em Londres, o fundador do WikiLeaks Julian Assange conseguiu uma importante vitória nos tribunais. Apesar de ainda preso por dois dias para confirmar alegações e resolver questões burocráticas, ele será libertado e, com uma tornozeleira, poderá responder os processos contra ele em liberdade e sem ser extraditado para a Suécia, país que expediu um mandado internacional de prisão contra ele. Promotores suecos emitiram um mandado de prisão para o australiano de 39 anos, que é procurado na Suécia sob suspeita de cometer crimes sexuais, acusação que ele nega.

“Agentes da unidade de extradições da polícia metropolitana prenderam Julian Assange em nome das autoridades suecas por suspeita de estupro”, declarou a polícia. A polícia acrescentou que Assange recebeu uma acusação de coerção ilegal, duas acusações de assédio sexual e uma de estupro, todas elas supostamente cometidas em 20 de agosto.

Segundo o NYT, as acusações são baseadas em encontros sexuais com duas mulheres. As relações, que começaram consentidas pelas envolvidas, acabaram não consentidas quando Assenge não quis mais usar camisinha. A Suécia expediu o primeiro mandado de prisão para Assange em 18 de novembro, mas a ação foi invalidada por um erro processual. Um novo mandado foi emitido em 2 de dezembro.

O que não dá para entender, nem pela importância tradicionalmente dada aos casos que resolve, que a Interpol se preste a uma caçada internacional por causa de acusações tão inconsistentes quanto estas que pesam contra Assange. É uma verdadeira piada. O cara se negou a transar com camisinha e é caçado pela Interpol? Que espécie de polícia internacional é essa? Fala sério. Até parece que na Suécia, um dos países mais liberados do mundo, uma relação sexual sempre envolve um homem, uma mulher e um advogado...

As razões para esta caçada, ainda mais com argumentos tão microscópicos, ultrapassam a tênue barreira da obviedade. Eles querem que a torneira pare de vazar. E isso é tudo. E o que a gente faz com uma torneira teimosa? Troca a bichinha por outra. O destino de Essange, infelizmente, já está traçado... Cabe a todos nós erguermos nossas vozes contra este estupro contra a livre expressão. Essange e a sua torneira pingante prestaram um inestimável serviço à humanidade, desmascarando a horda de mascarados que domina o planeta há décadas. Ele é um herói.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vai nevar no Natal!

Um frio fora de época está pegando no Rio Grande do Sul. Em Cambará da Serra, nesta madrugada, a temperatura chegou a 2,5ºC. (Foto: Juan Barbosa/Pioneiro/Agência RBS)

Em Cambará do Sul (RS), na madrugada desta terça-feira (14), foi registrada a mínima de 2,5ºC, segundo medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Trata-se da menor temperatura registrada no estado em dezembro, desde 1982, quando Bom Jesus registrou 2,2ºC. Mas por aqui a coisa não está sendo diferente. Em Santa Catarina, Urubici registrou 1,1ºC. Acho que vai cair neve neste Natal! Pelo menos o Papai Noel brasileiro vai sentir-se mais à vontade com esse frio. Porque, casaco de pele, botas e gorro, convenhamos, não combina com o Brasil, não é mesmo? Mas, como nós somos uns copiões, vamos que vamos, de neve. Agora, talvez, tudo vai se confirmar, afinal.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Falso brilhante: luxo de Dubai esconde massa de miseráveis

Esta é a Dubai pela qual o mundo se encanta

Este é o bastidor de um mundo glamuroso, servido por gente miserável


Por Marcia Camargos

A sensação começa no aeroporto, na hora do embarque. O traje das comissárias de bordo, arrematado por um chapéu coco vermelho, de onde pende um meio lenço, tentando esconder metade do rosto, procura fazer uma ponte fashion entre o que o senso comum define como Oriente e Ocidente. Também a mistura étnica já se faz presente durante o voo, com mulheres filipinas, africanas e europeizadas servindo as várias refeições da viagem interminável. A chegada não deixa dúvidas. Adentramos um mundo de ficção, espécie de parque temático ou ilha da fantasia onde o dinheiro compra tudo. No saguão principal do aeroporto, colunas de arenito emitem faíscas cintilantes. Brilho nouveau riche, aliás, será parte do cardápio desta cidade-estado que faz parte dos Emirados Árabes Unidos. A limpeza asséptica estende-se do teto ao assoalho. Na fila do passaporte, confirma-se a impressão da artificialidade, marca registrada desta invenção que se quer pós-moderna. Os jovens que manejam os carimbos vestem impecáveis túnicas brancas, como se tivessem acabado de sair da lavanderia, num cenário perfeito para um comercial de sabão em pó. Tão engomados são as cafias na cabeça, em contraste com a barba negra cerrada, que o cérebro custa a aceitar como verídico o que se enxerga.

Lá fora, esqueça a muvuca acolhedora de um país árabe. Enfileirados, os táxis zero quilômetro são dirigidos por homens ou mulheres em corretíssimos uniformes igualmente recém-passados a ferro. Nem uma prega fora de linha no automóvel de ar condicionado nas últimas. Cadê os carros usados de um ano atrás? Decerto exportados para os irmãos menos afluentes, pois aqui não cabe a pátina do tempo. No trajeto para o hotel, os famosos arranha-céus “mais altos do planeta” capturam a vista e causam estranheza. Eles crescem como cogumelos no horizonte inóspito. A motorista filipina, no seu inglês ininteligível, tenta obter informações sobre o caminho com o gerente de origem hindu. Nada se compreende e eles tampouco se entendem. Eu ainda não sabia, mas aquilo era uma amostra da falta de identidade, produto fora do mercado em Dubai.

Ao invés de um caldeirão cultural, em que as diversas raízes se interpenetram e se transformam, formando um atraente mosaico, nota-se um emaranhado de nacionalidades desconectadas entre si, que não conversam e não se comunicam. Pela proximidade geográfica, migrantes das áreas pobres da terra afluem para este trecho do Golfo Pérsico, que não passava de uma pequena aldeia com 20 mil habitantes vivendo do comércio até meados dos anos 1960, quando o petróleo jorrou. Trata-se, evidentemente, de um superlativo nunca citado, o das massas mais miseráveis da Índia, Paquistão e Filipinas que fogem da indigência para formar um exército de mão de obra não qualificada nesta máquina financeira. Eles habitam guetos – ou pelo menos assim suponho, pois tal qual uma Brasília do século XXI, ali os empregados existem apenas para servir, refluindo para a invisibilidade de cidades-satélites após o expediente. Dizem que moram em containers, ardendo no calor de quarenta e cinco graus, mas isso é um assunto que escapa da pauta. Porém, nem com o maior dos esforços se consegue pensar numa passeata, greve ou paralisação de trabalhadores. Porque eles não formam uma nação, não possuem um idioma nem laços em comum. São meros braços hiper explorados a desempenhar funções subalternas neste aglomerado que se impõe como uma cópia futurista e desfocada de Las Vegas.

Fruto do voluntarismo dos xeques da dinastia Al Maktoum, no poder desde o século XIX, Dubai esbanja torres envidraçadas, praias e ilhas artificiais, resorts e shoppings gigantescos, com badaladas marcas internacionais. Tudo induz ao consumo de luxo, passando a ideia de que os desejos mais extremos serão saciados, num turbilhão hedonista levado às últimas consequências. Mas se engana quem confunde tal frenesi com modernidade. Ali impera uma monarquia ditatorial, fincada numa leitura estreita do islamismo, que desrespeita os direitos humanos, ignora a liberdade de expressão, oprime a mulher, proíbe relações sexuais fora do casamento e mantém a população sob estrito controle. Nesse contexto, não é difícil imaginar os bastidores de lavagem de dólares, prostituição, contrabando de armas, pedras e outros males a sustentar a voracidade do consumismo emergente.

Aparência enganosa
No alto de um edifício, a efígie de dimensões exageradas de Mohammed bin Rashid Maktoum, que acumula as funções de primeiro-ministro e vice-presidente, vigia como o Grande Irmão de George Orwell. Culto à personalidade? Ninguém parece se importar com tais detalhes em meio a tantas lojas, restaurantes e locais de diversão. Quer um zoológico com pinguins em carne e osso? Vá ao Dubai Mall. Sonha com uma pista de patinação no gelo ou até rampas de esqui com neve? No Emirates Mall elas emulam a experiência de um passeio nos Alpes suíços que se erguem até o infinito do... teto de plástico, a laTruman Show.

Do ônibus vermelho, cópia dos congêneres londrinos, turistas deslumbrados admiram a paisagem urbana que se espalha entre viadutos, pontes e auto-estradas. Não há ruas, esquinas ou calçadas em que a gente caminha e se encontra. As altas temperaturas e a areia que cisma em aflorar nos terrenos ainda desocupados expõe a face real desta shopping-city que nega a natureza e a sabedoria ancestral dos povos do deserto, em vez de fazer delas sua aliada. Com exceção de uma ou outra ousadia arquitetônica digna de nota, o que se vê é um enfiado de construções sem estilo, de aparência enganosa, que não esconde o aspecto fake nem a falta de bom gosto e charme, num vácuo de qualquer coisa semelhante ao que chamamos de “espírito”. Indivíduos deslocados, expatriados, perdidos e sozinhos nesse caos aparentemente ordenado de um sistema que pulou direto da vila comunitária dos beduínos para o capitalismo do terceiro milênio - ou o que há de pior nele.

Não por acaso, no avião regressando de Amã, capital da Jordânia, cuja balbúrdia aparece como um bálsamo refrescante, pergunto a um passageiro de origem inglesa como ele consegue viver em Dubai. A resposta, dada após uma breve hesitação, vem afiada o bastante para compor o retrato que tão bem define este simulacro de sociedade: “O dinheiro”, diz ele, com um brilho falso nos olhos claros.
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Marcia Camargos é escritora com pós-doutorado em história pela USP. Tem 22 livros publicados, entre eles O Irã sob o Chador. Esteve recentemente em Dubai, em escala de viagem rumo à Jordânia e à Palestina. Artigo originalmente publicado pela Agência Carta Maior.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Deixem os homossexuais em paz!


O teólogo presbiteriano Juan Stam, hoje vivendo na Costa Rica, propôs às igrejas evangélicas uma moratória de cinco anos para que elas analisem com calma o assunto da homossexualidade, deixem os homossexuais em paz e se fixem em outros temas mais importantes e evangélicos.

O tema da homossexualidade entrou com força nos debates durante a última campanha presidencial e já vem sendo um dos principais pomos de discórdia dentro das igrejas ao longo de vários anos. Dentro da igreja luterana (IECLB) basta lembrar o lamentável episódio protagonizado pelo pastor Ademir Creutzfeld, cuja homofobia somente entrou num período de mais moderação quando foi processado pela vítima, que, numa demonstração de mais espírito cristão do que o próprio pastor, retirou a queixa de homofobia contra ele diante do juiz.

O tema ficou bem demarcado pelas balizas da moralidade e amparado por versículos bíblicos do Antigo Testamento, que tentam sobrepor a lei ao evangelho, como se a salvação não passasse pela cruz e pela Páscoa, ou seja, pelo próprio sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Segundo Stam, a guerra homofóbica está causando dano à igreja. “Os evangélicos parecem estar presos a uma obsessão pelos temas sexuais, como se fossem os únicos problemas críticos de nosso tempo e como se deles dependesse o futuro da igreja e da civilização”, vaticinou.

O tema domina, de modo a cansar, o discurso de políticos protestantes. Ele indaga, por exemplo, por que as igrejas não se uniram para organizar marchas contra as guerras do Iraque e do Afeganistão? Ou em protesto contra o golpe de Estado em Honduras e, agora, contra o regime repressivo do seu governo?

Stam está certo ao afirmar que “as igrejas evangélicas carecem de autoridade moral para que suas campanhas anti-homossexuais sejam convincentes. Suas arengas contra a homossexualidade caem no ridículo ante os setores pensantes e críticos da população e, às vezes, cheiram a oportunismo e hipocrisia”.

O evangelho não se sustenta com a negação da salvação para este ou aquele, como se nos coubesse classificar os que estão na lista dos salvos ou fora dela. O evangelho é boa nova de salvação. “Na América Latina os evangélicos têm se destacado por serem anti: anticatolicismo, anticomunismo, antiecumenismo e agora anti-homossexualidade. O evangelho é o ‘sim’ e o ‘amém’ de Deus; quando o negativo domina a Igreja, ela está doente”, defende Stam.

Toda esta campanha gerou ódio e fanatismo, ao mesmo tempo em que ignora solenemente dados preocupantes e assustadores para quem defende o valor último da vida. De 1980 a 2009, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 3.196 assassinatos de homossexuais no Brasil, uma média de 110 por ano. O Paraná é o Estado mais homofóbico do país, ao lado da Bahia, e seguido por São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Alagoas. No ano passado, foram mortos 15 travestis, oito gays e duas lésbicas no Paraná. Entre travestis e transsexuais, 70% já sofreram algum tipo de violência naquele Estado. O ex-presidente do Grupo Gay da Bahia, o antropólogo Luiz Mott, frisa que a maioria dos crimes contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais (LGBT) é motivada por “homofobia cultural”.

A comunidade LGBT luta pela aprovação do projeto de lei, em tramitação no Congresso nacional, que criminaliza a homofobia. O presidente da Associação Brasiléia de LGTB, Toni Reis, destaca que o maior empecilho para a aprovação da lei é a oposição de grupos religiosos conservadores. A reivindicação da comunidade LGBT, ao contrário do que afirmam os “cristãos” em sua campanha moralista e discriminatória, não é o casamento religioso, mas a união civil.
(Com informações da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

John Lennon está em nós

Ainda na noite do assassinato, multidões de fãs fizeram vigília diante do Dakota Building, edifício em que Lennon morava.

Três décadas depois, ninguém esquece. Está nas entranhas das nossas almas. Um selo definitivo, inapagável. Eu me lembro com um vínculo ainda mais especial. Esperávamos a nossa primeira filha, que nasceu dois dias depois, prematura de oito meses. A notícia nos paralisou diante da TV. Estávamos de luto, todos nós, como quem perde um irmão.

Mas não é só o maldito tiro de Mark Chapman que ninguém esquece. O que ficou na mente de todos, como uma trilha sonora da inconformidade, é a obra de John Lennon. Mother, Give Peace a Chance, Imagine, Power to the People... melodias que são narrações do modus vivendi de uma geração de jovens que queria transformar o mundo com as suas próprias mãos.

O seu espírito contestador – mais vigoroso aos 40 do que quando integrava a mais famosa banda de todos os tempos – incomodava. Ainda mais porque, em Nova Yorque, ele pisava diretamente no calo do Tio Sam com canções como Happy X-Mas (War is Over). Incomodava porque cobrava a paz para o mundo, enquanto Tio Sam investia fortunas na guerra do Vietnã, vergonhosamente perdida, e que marcou definitivamente os EUA até os dias de hoje.

Por conta da sua irreverência crítica, quiseram extraditá-lo e retirar dele a cidadania americana. Mas não houve tempo para isso. Por se recusar a permanecer um prisioneiro da própria fama, ele foi para as ruas, andava nas ruas, se expunha, participava de protestos e movimentos. Num tempo sem sites, nem blogs ou twitters, ele botava a cara famosa para bater.

E num desses encontros do famoso com o incógnito, ele topou com Chapman. No dia 8 de dezembro de 1980 tombava, numa poça de sangue na calçada de Nova Yorque, o maior ativista pop que a humanidade já produziu.

A sua vida divide-se em dois períodos de uma década. É difícil determinar qual das duas foi mais marcante, mais definitiva, mais visceral. De 1960 a 1970 ele foi um dos gênios que integraram os Beatles. Nada mais é preciso dizer sobre esta década. De 1970 a 1980 ele foi John Lennon, a lenda. Há poucas personalidades no mundo que podem comparar sua história de vida como a dele.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A tecnologia do apocalipse

Foram abertas ao público, no final de novembro, as fotos e os filmes de um projeto ultra-secreto dos Estados Unidos: registrar, com o maior número possível de detalhes, cada milionésimo de segundo das explosões nucleares que eram realizadas nas ilhas do pacífico. Este blogueiro revela alguns desses inacreditáveis instantâneos dessa nefasta tecnologia do apocalipse.

O material agora divulgado foi compilado num estúdio secreto, em Los Angeles, entre os anos de 1947 e 1969, sendo retirado de um total de 6500 filmes. Um grupo de 40 fotógrafos e câmera man fizeram o trabalho sujo de registrar este material, que documenta um período único e assustador da história recente da humanidade. “Espero que este tempo nunca mais volte”, desabafa o diretor do projeto de “exumação” deste material, o documentarista Peter Kuran. A seguir, umas poucas gotas do sangue de quem o deu para registrar em detalhes o que de pior o ser humano já foi capaz de produzir.

Operação Greenhouse: A imagem registra um privilegiado grupo de observadores VIP, no ano de 1951. Eles estão na primeira fila do teatro dos horrores, com óculos especiais, para não perderem nenhum detalhe da detonação de uma arma atômica sobre o Atol de Eniwetok, localizado nas Ilhas Marshall, no Oceano Pacífico.


Projeto secreto da arte da catástrofe: Um homem registra em 1955 a décima primeira série de testes americanos de armas nucleares, na chamada Operação Teapot, no campo de testes de Nevada. A operação executou ao todo 14 testes de armas atômicas.


Cronista de bombas: Protegido com máscara e traje especial, um câmera man filma um teste nuclear nos EUA. Durante o seu trabalho, tais profissionais estavam quase sempre no epicentro do teatro de operações sem qualquer proteção especial. Alguns usavam somente bermuda e camiseta, tornando-se vítimas posteriores de câncer.

Atribuição mortal: Um dos cerca de 40 câmeras do 1352. Photografic Group, da Força Aérea Americana, registra uma explosão nuclear no campo de testes de Nevada, em 1957. Esses homens do comando especial secreto tinham que se aproximar até bem poucos quilômetros do cenário da explosão, estando diretamente expostos a seus efeitos altamente nocivos.


Detalhes incríveis: A foto foi registrada com a câmera especial “Rapatronic”, que permitia registrar os primeiros micro-segundos da explosão atômica. As mais modernas câmeras da época eram capazes de registrar 15 milhões de imagens por segundo.

Operação Dominique: O registro de uma explosão em 1962 sobre o Atol de Kiritimati, feito com um filme especial XR, que permitia o registro das explosões que eram dez vezes mais claras do que o Sol. “A gente podia ver a onda de choque atravessando o vale, vindo em nossa direção”, lembra o fotógrafo George Yoshitake. Quando a bomba explodia, com seus 1,5 quilotons de TNT, George primeiro sentia o calor da explosão. Em seguida, a onde de choque o forçava a ficar de joelhos, como numa tempestade. Enquanto ele resistia àquela força gigantesca, a sua câmera não parava de registrar cada detalhe. Yoshitake é um dos únicos que esteve diretamente exposto a esta força descomunal e ficou vivo até hoje para contar a experiência. “As fotos ficavam psicodélicas”, diz o documentarista Peter Kuran, que está organizando esses impressionantes registros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Privação ritual do prazer



A Comissão Europeia e várias ONGs estão conclamando os países-membros da União Europeia a apoiar as vítimas de mutilação genital feminina que vivem no bloco e a proteger adolescentes do risco desta prática.

O procedimento envolve a remoção parcial ou completa da genitália externa da mulher e é geralmente executado sob condições precárias de higiene e sem anestesia, em crianças e adolescentes de até 15 anos de idade, representando uma violação severa dos direitos humanos. A prática constitui tortura e degrada a vítima. Trata-se de uma violação dos direitos da mulher à integridade física e também dos direitos da criança. A prática é mais comum na África, em cerca de 30 países onde as crianças e adolescentes são submetidas ao procedimento. Ela é praticada na África, em alguns países do Oriente Médio, comunidades da Ásia, da América Latina e até na Europa.

A mutilação genital feminina já foi explicada e denunciada por este blogueiro (http://clovishl.blogspot.com/2010/02/abaixo-mutilacao-feminina.html), por ser uma prática que viola inúmeros direitos humanos. Apesar de ter sido a postagem campeã de acessos deste blog, a prática perniciosa é pouco conhecida e não tem levado a comunidade internacional a ações que realmente denunciem e combatam esta grave violação contra as mulheres. Para muitos, talvez, a curiosidade tenha sido o principal ingrediente da consulta ao post. Espero que a curiosidade os tenha levado à indignação e à denúncia.

As imagens desta postagem são de dois cartazes de uma campanha da Anistia Internacional contra a prática, que atinge até países da Europa e, infelizmente, também tem casos registrados no Brasil. O principal objetivo dos agressores (por incrível que pareça, na maioria são as próprias mães que realizam a agressão às suas filhas) é manter uma tradição nefasta, que reduz a mulher a mera procriadora, sem direito a prazer.

Mal sabem eles/elas que o prazer sexual é uma das poucas coisas boas que Deus permitiu aos seres humanos levar consigo depois da expulsão do paraíso. O pensamento é de Ricardo Wangen, um saudoso professor de teologia que eu tive na minha juventude.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Passeio amoroso virtual



Esta impressionante produção levou dois anos para ficar pronta. É comovente ver como este homem constrói um mundo holográfico em 3D para a sua amada, que está em coma. Com um ship acoplado à cabeça dela, ele consegue transmitir-lhe todas as sensações de um passeio real por uma cidade deslumbrante, em cujo jardim ele planta uma flor. O filme impressiona pela genial composição, mas também pelo alto grau de sensibilidade humana embutido no enredo.

Será que um dia poderemos ter tal interatividade com os computadores que seremos capazes de despertar as sensações do real a partir do virtual? Eu não duvido.

Entretanto, na minha caminhada de vida até aqui com pessoas em coma ou em fase terminal de vida, percebi que, mesmo ausentes, elas estão presentes. O coma dá a impressão de total paralização; um stand by biológico e emocional. Mesmo neste estado letárgico agudo, o doente sente, percebe, ouve e entende o que é dito em sua presença. Ele não pode reagir, mas registra, se emociona ou se apavora, tem esperança ou entra em desespero com tudo aquilo que capta.

Por isso, mesmo sem os recursos sugeridos neste vídeo, simplesmente com a nossa voz e as nossas mãos, podemos transmitir milhões de sensações a alguém amado e que esteja no fundo da cama.

Dá para comparar com a historinha que contamos aos nossos filhos antes de dormir. Estimula, anima, desperta a fantasia e faz qualquer um ir longe, viajar sem sair do lugar, mesmo que esteja no fundo de uma cama esperando a morte chegar. Um passeio virtual pelas melhores lembranças de qualquer pessoa é possível, mesmo sem os recursos 3D. Você pode até colher e entregar uma flor virtual à pessoa amada durante este passeio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As revelações do WikiLeaks


Os milhares de documentos revelados pelo site WikiLeaks nos últimos dias apenas escancaram o que já se sabia há tempos. Ou o que, ao menos, se deveria saber sobre as coisas que realmente acontecem nos bastidores da diplomacia mundial. É tudo uma grande encenação, cujo principal objetivo é garantir o seu espaço, os seus negócios, a sua fatia, o seu domínio estratégico.

Não há porque ficar espantado com afirmações do que os diplomatas pensam sobre Lula, Ahmadinejah, Berlusconi ou Angela Merkel. No fundo, eles convivem com esses “líderes” e sabem exatamente como eles são, como se comportam, quais as suas manias e manhas na hora de negociar, o quanto são patéticos ou estão apenas representando um papel ensaiadinho.

O que incomoda profundamente os poderosos é que Wikileaks deu voz alta e sonora aos seus mais íntimos pensamentos. E agora o mundo sabe exatamente com quem está lidando, ou seja, uma turma extremamente desonesta, falsa, mentirosa, enganadora e que está representando o tempo inteiro.

Ah, e não adianta o Chávez pedir que Hillary renuncie. Irão colocar outro especialista em representação no lugar dela.

O que mais assusta em toda esta revelação do Wikileaks é a abertura das portas mais secretas, por trás das quais se decide o futuro do mundo em que todos nós vivemos. O que se vê é um bando de “líderes” tão perdidos quanto nós comuns mortais, e que estão mais preocupados em dar “pitacos” sobre os tiques nervosos uns dos outros do que com o que realmente deveriam fazer: garantir um futuro razoável para uma nau que, no fundo no fundo, está à deriva.
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PS: O verbo To Leak significa vazar e leaks é vazamentos. Mais uma prova do estreito parentesco das línguas anglosaxônicas: a palavra no alemão é Lecken.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Rosa não saiu do lugar

Rosa Parks sendo fichada na polícia depois de seu ato de rebeldia

Rosa Parks, metodista e costureira negra americana, ficou famosa por ter recusado ceder o seu lugar a um branco no ônibus. O episódio aconteceu em Montgomery, no dia 1º de dezembro de 1955, e obteve uma repercussão extraordinária, iniciando o movimento de luta pela igualdade de direitos entre negros e brancos nos EUA, liderada por Martin Luther King. Depois do seu ato de rebeldia, pelo qual ela foi expulsa do ônibus e presa, da noite para o dia foram impressos mais de 35 mil folhetos e, no dia seguinte, os negros passaram a boicotar os ônibus de Montgomery.

O ônibus em que Rosa se recusou a ceder lugar está no museu.

Rosa Parks não foi a primeira a recusar o lugar a um branco nem a primeira a ser expulsa do ônibus e presa. Mas porque era membro do National Association for the Advancement of Colored People, o seu caso obteve um eco que viria a chegar a Martin Luther King e a mudar a história dos EUA. Rosa Parks nasceu em Tuskegee, no dia 4 de fevereiro de 1913, e morreu em Detroit, no dia 24 de Outubro de 2005. O ônibus no qual ela cometeu o seu ato de rebeldia foi restaurado e pode ser visto no museu dedicado ao tema.
Rosa com o pastor Martin Luther King Jr.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tribunal de Nuremberg vira museu

A famosa Sala 600 onde ocorreram os julgamentos ainda funciona como tribunal

O tribunal de Nuremberg onde Hermann Göring, Rudolf Hess e outros líderes nazistas foram condenados por crimes de guerra e contra a humanidade agora virou museu e está aberto a visitação pública. É mais um memorial do terror daqueles anos da história da humanidade que envergonham não somente a Alemanha mas toda a espécie humana que vive na Terra.

Sessenta a cinco anos após o início dos Julgamentos de Nuremberg, o local que testemunhou a condenação dos líderes nazistas por crimes de guerra foi transformado em museu, lembrando o momento histórico que fez com que o mundo inteiro fixasse os olhos sobre a cidade do estado da Baviera, no sul da Alemanha.

Benjamin Ferencz, ex-promotor norte-americano no tribunal de guerra, e um dos poucos ainda vivos, retornou a Nuremberg aos 91 anos para discursar na cerimônia de abertura do museu, o Memorium Nürnberger Prozesse: “Quando deixei a Alemanha pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, e deixei Nuremberg, o meu maior desgosto foi nunca ter ouvido um alemão dizer ‘sorry”. Nunca acreditaria que retornaria depois de 60 anos e ouviria um tom completamente diferente em um mesmo país”, discursou Ferencz, que foi promotor-chefe aos 27 anos no julgamento de 22 nazistas em 1947, um dos 12 julgamentos posteriores à condenação dos principais criminosos de guerra.

O Tribunal Militar Internacional de Nuremberg teve a primeira sessão em 20 de novembro de 1945 na Sala 600 no Palácio de Justiça de Nuremberg (foto), cidade associada aos congressos do partido nazista também foi o palco do primeiro tribunal de crimes de guerra da história. Chamado de "o tribunal do século" pela imprensa, passaram-se 218 dias antes que os acusados ouvissem suas penas em 1° de outubro de 1946. A Sala 600 ainda é usada como tribunal, ficando aberta a visitação em dias sem julgamentos.

A inauguração do museuagora simboliza o fim gradual da perseguição judicial dos crimes de guerra nazistas, deixando que os livros de história julguem aqueles que possam ter escapado da Justiça.

Os julgamentos de Nuremberg deixaram um legado que vai além do período nazista. Ao abrir o julgamento de 1946, o promotor-chefe Robert H. Jackson afirmou que “os erros que estamos para condenar e punir foram tão devastadores que a civilização não pode tolerar que eles sejam ignorados, porque não poderá sobreviver a uma repetição deles”.

O Tribunal de Nuremberg pavimentou o caminho para a criação do Tribunal Penal Internacional (TPI), além de ter sido a primeira corte a estabelecer o precedente legal de crimes contra a humanidade.
(Com informações de DW-World)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Big Bang Big Boom



Esta animação em vídeo de dez minutos gastou muita tinta, meses de trabalho, criatividade e resultou num novo olhar sobre a história da vida do ser humano na Terra. Tudo isso pelas mãos do artista italiano Blu, especializado em artes de rua, que resultou em uma das animações Stop Motion mais impressionantes: o Big Bang Big Boom.

Stop Motion é uma técnica de animação que consiste basicamente em tirar várias fotos de objetos em diferentes posições ou ambientes em determinados intervalos de tempo. Depois é só juntar as imagens capturadas para termos a impressão de movimento. Imagine o trabalho gigantesco por trás desta obra.

Para ter uma ideia, esse vídeo tem uma média de oito imagens por segundo. Ou seja, na maior parte das cenas, oito imagens foram pintadas em paredes, calçadas e muros, sempre com um cuidado para que, ao juntá-las, os espectadores tivessem a impressão de uma única imagem em movimento. Isso significa 480 pinturas diferentes para cada minuto de evolução ilustrada. O trabalho todo levou uns dez meses para ficar pronto.

Afora o trabalho, a genialidade e a criatividade do artista, a mensagem é espetacular. Merece a nossa reflexão sobre onde queremos chegar. A iminência belicosa de mais uma guerra, desta vez, retomando a nunca encerrada guerra entre as duas Coréias, faz ressurgir em nos os mais assombrosos monstros.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Briga mortal


Asia Bibi (38 anos) foi condenada à morte no Paquistão depois de uma briga com outras mulheres. Ela é cristã católica e, segundo as suas vizinhas, durante a briga com elas Asia teria desrespeitado o profeta Maomé. Agora Ásia está na cadeia, no corredor da morte. Seu marido Ashiq Masih e as filhas Sidra e Isha estão em Islamabad para levar o seu drama ao conhecimento da imprensa mundial e para pedir o apoio dos políticos. Eles agora moram em Sheikhupura, para poderem visitar Asia na cadeia em que está presa.

Segundo as vizinhas que a levaram diante do tribunal, ela teria afirmado durante a briga que Jesus Cristo havia morrido na cruz pelos pecados da humanidade e o que Maomé fez em comparação? Tanto as vizinhas quanto o tribunal qualificaram isso como prova de blasfêmia. As discussões entre Asia e as vizinhas já vem ocorrendo há mais tempo e este provavelmente é o principal motivo da acusação.

“Na verdade todos nos damos muito bem por aqui”, disse Ashiq Masih, um morador da aldeia em que a briga ocorreu. Os muçulmanos e os cristãos do lugar têm um bom relacionamento. “Eu não entendo por que transformar uma briguinha numa catástrofe tão grande”, ele complementou.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pedalando pela água


Os holandeses Joost Notenboom (28) e Michiel Roodenburg (25) viajam numa bicicleta feita de bambu e fibra de maconha e levam consigo uma garrafa de água que trouxeram do Polo Norte e querem levar até o Pólo Sul. A viagem irá durar 18 meses e deve acabar no Natal do ano que vem. Eles se conheceram em Israel e agora estão no México, em uma viagem de 30 mil quilômetros que começou no Alasca e vai terminar em Ushuaia, na Argentina.


A dupla quer chamar atenção para o problema da água no mundo. O projeto (que pode ser acompanhado pelo site Cycle for Water, em inglês) busca investigar a relação das diferentes populações em diferentes ecossistemas com a água. Os holandeses dormem em barracas ou na casa de pessoas que se oferecem para hospedá-los. As bicicletas têm quadros de bambu e, segundo a dupla, são fortes e resistentes.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Beatles! Sempre eles...


Até parece uma banda nova surgindo, embora já faça 40 anos que ela deixou de existir. Como explicar? Após anos de negociações entre o fundador da Apple, Steve Jobs, e a agência e gravadora dos Beatles (EMI), o catálogo da mais famosa – e bem sucedida! – banda de todos os tempos foi finalmente lançado no iTunes, a maior loja de música digital do mundo, no dia 16 de novembro.

Pasme você, os Beatles já venderam mais de 2 milhões de músicas e mais de 450 mil álbuns em todo o mundo na primeira semana. “Abbey Road” (a foto antológica está acima) foi o álbum digital mais vendido no iTunes nos Estados Unidos, encerrando a semana em sexto lugar. Já “Beatles Box Set” ficou em décimo lugar no ranking do iTunes. “Here Comes the Sun” foi o single digital mais vendido dos Beatles, mas a música não ficou entre as dez mais vendidas da semana, de acordo com a Apple.

Não é por acaso que Paul lota estádios por onde quer que se apresente. A febre, pelo visto, deve continuar ainda por muito tempo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma pausa no Amargo Pesadelo



Esta sequência do filme “Amargo Pesadelo” foi um maravilhoso encontro do acaso, e merece ser relembrada pela sua beleza. Eu também estou aprendendo que pessoas especiais têm dons muito especiais, que nós, normais, temos dificuldade em compreender. A música é uma linguagem universal, que permite que entremos no mundo lindo de pessoas como este garoto do filme. Antes, porém, vamos à história desta sequência, que me marcou muito desde que a vi no cinema pela primeira vez.

O filme estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos e, para esta sequência, o diretor John Boorman fez a locação de um posto de gasolina num lugar isolado, onde vários atores iriam contracenar com o proprietário do posto, que morava no local, com a sua mulher e o seu filhofilho. O rapaz era autista e nunca saía do terreno da casa.

Naquele cenário insólito aconteceu a cena mais marcante que o diretor teve a felicidade de encaixar no filme. Num dos cortes para refazer uma cena de abastecimento, um dos atores, que era músico e sempre andava acompanhado de seu violão, já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa, aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto. Como houve uma resposta musical por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar. O resultado, para quem não viu o filme ou quer relembrar a espetacular cena, pode ver o vídeo.

O garoto é verdadeiramente um autista. O diretor incluiu o garoto, que não estava nos planos do filme. Alguns detalhes chamam a atenção: a alegria do pai curtindo o duelo dos instrumentos, dançando; a felicidade da mãe captada numa janela da casa; a reação autêntica de um autista, quando o ator músico quer cumprimentá-lo no final.

Vale a pena o duelo, a beleza do momento e, mais que tudo, a alegria do garoto, a sua expressão. No início está distante, mas à medida que toca o seu banjo ele cresce com a música e vai se deixando levar por ela, até transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria.

A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a um violão forasteiro. O garoto brilha, cresce, exibe seu sorriso e seu talento, que a magia da música traz à superfície. Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada por acaso, no filme “Amargo Pesadelo”, de 1972.

Bolsa Família também nos EUA


UMA REVELAÇÃO DESCONCERTANTE para os que desqualificam o Bolsa Família como um programa paternalista, que ajuda vagabundos e desocupados. Um artigo publicado no Wall Street Journal, no dia 4 de novembro, dá conta de que 42.389.619 cidadãos norte-americanos dependem de Food Stamps para comer. O texto é da jornalista Sara Murray. A mesma informação também foi mostrada no Globo Repórter, na última sexta-feira (19 de novembro), de uma forma muito sutil e disfarçada, como se não fosse o que de fato é, ou seja, ajuda humanitária para os miseráveis que hoje vivem nos EUA.

“O número dos que recebem o cupom de comida (Food Stamps, a versão americana do Bolsa Família) cresceu em agosto, as crianças tiveram acesso a milhões de almoços gratuitos e quase cinco milhões de mães de baixa renda pediram ajuda ao programa de nutrição governamental para mulheres e crianças. Foram 42.389.619 os americanos que receberam food stamps em agosto, um aumento de 17% em relação a um ano atrás, de acordo com o Departamento de Agricultura, que acompanha as estatísticas. O número cresceu 58,5% desde agosto de 2007, antes do início da recessão”, escreve o jornal.

Justamente a capital dos EUA, Washington DC, tem o maior número de residentes recebendo food stamps: mais de um quinto da sua população, 21,1%, recebeu assistência em agosto. Em segundo lugar vem o Mississipi, onde 20,1% dos moradores receberam food stamps, e o Tennessee, onde 20% dos residentes buscaram ajuda do programa de nutrição.

O benefício nacional médio por pessoa foi de 133,90 dólares em agosto. Por domicílio, foi de 287,82 dólares. Os cupons se tornaram um último refúgio para os trabalhadores que perderam o emprego, particularmente entre os que já perderam o direito ao seguro-desemprego.

Também a merenda escolar entrou na cesta básica de muitas famílias americanas. Mesmo durante as férias de verão as crianças foram às escolas para garantir a merenda. Cerca de 195 milhões de almoços foram servidos em agosto nas escolas, 58,9% deles de graça e 8,4% a preço reduzido.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Revolta da Chibata completa 100 anos


No dia 22 de novembro de 1910 uma rajada de metralhadora rompia o silêncio a bordo do encouraçado Minas Gerais, ancorado nas águas da Baía da Guanabara. A embarcação tornava-se palco de um motim de marinheiros que entrou para a história como a Revolta da Chibata. O movimento protestava contra o sistema de violência e opressão com que eram tratados os marinheiros de baixa patente, em sua maioria negros, pela Marinha do Brasil.

O objetivo do levante era acabar com os castigos físicos constantemente sofridos pelos marinheiros, além de exigir melhora da comida e adoção do horário de trabalho aprovado pelo Congresso na época.

O estopim do motim era a execução da punição de 250 chibatadas ao cabo Marcelino Rodrigues, que havia recebido o castigo por ferir um marinheiro a bordo do Minas Gerais. No dia de hoje, há cem anos, um grupo liderado pelo marujo negro João Cândido tomou o controle do navio, matando o comandante e outros três resistentes ao movimento.

Como a revolta já vinha sendo planejada há dois anos, os revoltosos conseguiram rápido apoio de outros navios da Marinha, forçando o presidente a negociar com os revoltosos para evitar que bombardeassem o Rio de Janeiro com os potentes canhões dos navios dominados pelo movimento revoltoso.

No dia 26 o presidente Hermes da Fonseca promete abolir o castigo físico e anistia aos revoltosos, conseguindo trégua. Mas ele não cumpriu a palavra e os revoltosos foram expulsos da Marinha e vários deles foram presos, inclusive João Cândido.

Banido da Marinha, João Cândido sofreu grandes privações, vivendo precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio. De acordo com a sua ficha, nos quinze anos em que permaneceu na Marinha, foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias “a pão e água”, além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro. Discriminado e perseguido pela Marinha até ao fim de sua vida, se recolheu no município deSão João do Meriti, onde tornou-se membro da Igreja Metodista. Ali em sua casa passou mal e foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, noRio de Janeiro, onde faleceu de câncer, pobre e esquecido, no dia 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade.

A sua memória foi resgatada na década de 1970 pelos compositoresJoão Bosco e Aldri Blanc, no samba “O mestre-sala dos mares”.

Em 14 de julho de 2008, 39 anos depois da morte de João Cândido, publicou-se no Diário Oficial da União a Lei Nº 11.756 que concedeu anistia ao líder da Revolta da Chibata e a seus companheiros, ideia que partiu do Senado Federal e foi aprovada pela Câmara dos Deputados em 13 de maio de 2008, dia da Abolição da Escravatura. No entanto, a lei foi vetada na parte em que determinava a reintegração de João Cândido à Marinha do Brasil.

O motivo do veto é que esse reabilitação post mortem importaria em impacto orçamentário para o qual a lei não apontou fonte de custeio. Assim, uma vez que tal reconhecimento imporia à União o pagamento dos soldos atrasados e das promoções que lhe seriam devidas, bem como na concessão de aposentadoria e pensão aos seus dependentes, a lei foi vetada. Na realidade, somente duas famílias se apresentaram como descendentes de marinheiros que participaram da Revolta da Chibata: a do próprio líder João Cândido e a do marinheiro Adalberto Ribas, que fugiu de um dos barcos logo após a revolta. Entidades alegam que indenizar duas famílias não quebrará os cofres do governo.

Em maio deste ano, a Transpetro, a pedido de Lula, batizou com o nome de João Cândido o primeiro navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota, primeiro petroleiro produzido em estaleiro nacional após um intervalo de mais de 13 anos. O Petroleiro “João Cândido” tem 274 metros de comprimento e capacidade para transportar 1 milhão de barris de petróleo. O navio foi construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, ao custo de R$ 300 milhões.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Querem destruir Julian Assange


A Suécia emitiu ontem, 18 de novembro, uma ordem de detenção internacional contra Julian Assange (foto), 39 anos, fundador do site WikiLeaks (http://wikileaks.org/), por crime sexual. O tribunal de Estocolmo, responsável pelo caso, emitiu ainda um mandado de busca e captura de Assange. “Será emitida uma ordem de prisão internacional”, anunciou o site da procuradoria responsável por crimes sexuais. O processo encerrado em agosto foi reaberto em 1º de setembro pela procuradora Marianne Ny.

Assange encontra-se em Londres. Seu advogado desmente a suspeita de que ele teria fugido. As suspeitas de abusos sexuais vieram pelas denúncias de duas mulheres suecas que, segundo as autoridades, fizeram declarações “profundamente perturbadoras”.

Seria uma história comum – mais uma – de abuso sexual contra mulheres, não fosse por um detalhe intrigante. Assange negou todas as acusações e disse estar sendo alvo de uma campanha de difamação lançada pelo Pentágono, que ordenou a destruição dos documentos confidenciais divulgados por ele no site WikiLeaks ainda antes de estes terem sido disponibilizados. O WikiLeaks divulgou mais de 400 mil relatórios sobre incidentes ligando o exército americano a graves delitos contra os direitos humanos no Iraque.

Julian Assange fundou o site WikiLeaks em dezembro de 2006 com o objetivo de divulgar informações recolhidas como provas de injustiças dos regimes opressores na China, na África subsariana e no Próximo Oriente. Mas Julian Assange deixou de ser um ilustre anônimo, passando a ser manchete dos jornais de todo o mundo, após a divulgação de 90 mil documentos militares sobre a guerra do Afeganistão.

Três meses depois, novas revelações sobre o Pentágono faziam estourar um novo escândalo, envolvendo o nome do australiano e do site que fundou. Apesar de Assange ser um dos homens mais temidos pelo Pentágono, por ter comprometido a credibilidade da Defesa norte-americana, especula-se que o australiano possa vir a ser considerado “homem do ano” pela revista “Time”.

Pode ser um simples caso de crimes sexuais. Mas, diante do tamanho do incômodo que o seu site e a simples menção do seu nome têm causado no mais alto escalão da inteligência norte-americana ultimamente, tudo aponta na direção de um grande jogo armado para desmoralizar Assange. Admira ainda estar vivo. Ainda hoje, o ousado ativista pediu asilo político à Suíça.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prates deve ser punido pela lei



O comentarista Luiz Carlos Prates deixou de ser uma referência digna faz tempo. Como comentarista do Jornal do Almoço, da RBS-TV, ele tem destilado o seu veneno com um detestável formato de ranhetice e mau humor diário que vem irritando muita gente, cada vez mais gente. Os seus comentários agridem, doem nos ouvidos, ferem os sentimentos das pessoas e desrespeitam milhares de catarinenses que não pensam como ele e não assinam embaixo de seus infelizes palpites.

Para além de sua ranhetice habitual, entretanto, o comentário extremamente preconceituoso, xenófobo e infeliz deste vídeo merece o nosso mais veemente repúdio. Peço, solenemente, à OAB de Santa Catarina, que entre com um processo formal de discriminação contra Luiz Carlos Prates pelos disparates ditos neste comentário, que passa de trator por cima dos pobres e ainda por cima chama de espúrio um governo com mandato legítimo, segundo a Constituição deste país. Veja você mesmo e junte-se ao meu pedido: punição legal e exemplar para Luiz Carlos Prates!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Creedence na veia é muito bom!



Foi uma experiência fantástica, daquelas de volta ao passado, com direito a som e imagem. Na noite de 14 de novembro, fui buscar o presente de aniversário que havia recebido dos meus mais íntimos. Ao lado da minha esposa, fui a Floripa, para ver um show de retorno ao passado.

Dentro do Floripa Music Hall um filme da minha vida passou diante de mim; da minha e da vida de todos e todas que foram ao Floripa. E olha que havia ali umas dez mil pessoas. Muitos jovens, mas o que mais se via eram cabelos grisalhos, brancos ou ausentes. Gente buscando um revival. E o tivemos de prato cheio.

No primeiro momento, um documentário montado pela banda Dasantiga, com todas aquelas imagens que estão guardadas porém muito bem vivas no fundo das nossas almas, como milhões de estampas indeléveis e reveladoras. Imagens que construíram nosso caráter, nosso comportamento; moldaram tudo o que somos, como que misturado ao barro de que fomos formados.

Estavam ali os Beatles, Antônio Britto anunciando, solene, a morte de Tancredo, o casamento de Charles e Diana, o nascimento do primeiro bebê de proveta, o lançamento do Saturno V e "um pequeno passo para um homem, porém um grande passo para a humanidade". Não podiam faltar ali as aberturas de Rin-Tin-Tim, de Jornada nas Estrelas, de Zorro (o bonachão sargento Garcia estava ali, fresquinho como na minha memória, sem faltar um único fio da barba mal-feita!).

Não faltaram nem as cenas da repressão da ditadura à livre-manifestação, um velho selo da Censura Federal, cenas de Irmãos Coragem, do programa Jovem Guarda e muita, muita velharia. Também marcaram presença os múltiplos rostos esculpidos na face de Michael Jackson, ao som de "Beat it".

Coisas que fazem o paranho das nossas almas soltar-se euforicamente. Tudo isso, acompanhado por um DJ do perú, que mandava muito bem toda aquela trilha sonora tão visceral e intransferível, que ainda encanta as novas gerações como se de hoje fossem.

Enquanto esperávamos, animados e bombando adrenalina para dentro do peito, o relógio passava das 23 horas, quando o palco do Floripa apareceu sob uma tênue luz azulada. Aos poucos alguém movia uma guitarra aqui, um microfone ali, um fio acolá. A plateia alvoroçou-se cheia de fome de som eterno.

Num rompante, um senhor (desculpe... hehe) grande, com aquelas camisetas cavadas, mostrava braços enormes, tatuados e uma guitarra na mão. Ao saudar a platéia, a conhecida voz rouca e aguda já mostrava o rumo da prosa. Começava um show antológico, do Creedence Clearwater Revisited, uma banda que surgiu em torno do extinto Creedence Clearwater e dois honrosos sobreviventes do grupo. “Have you ever seen the rain...”, lembra? E por aí foi.

Admito que hoje em dia as platéias não vibram mais como antigamente. Ou melhor, como uma platéia com milhares de homens grisalhos e mulheres remoçadas com tudo que tem direito. Pois aquela platéia suportou heroicamente toda aquela overdose de passado. E o Creedence está tão empolgado com as suas platéias de grisalhos que, arrastando multidões por onde passa, já arriscou uma nova carreira de sucesso.

Faz tempo que não nos divertimos tanto. Foi um presente esplêndido. Valeu a pena chegar aos 57 para viver isso.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Hollywood viaja na maionese


Quando a gente lembra do ufanismo que cerca os filmes americanos que envolvem a Presidência, não tem a mínima noção de que tudo não passa de um grande mito. Cenas envolvendo o Air Force One (na foto sobrevoando Nova York), por exemplo, sempre foram recheadas de precisão, competência e decisivas para dar o suporte necessário em situações de catástrofe, para que o presidente dos EUA pudesse continuar plenamente apto a tomar decisões de última hora e salvar milhares de vida – inclusive todo o nosso planeta. O cinema está recheado de tais espetáculos de patriotismo patético.

O livro do ex-presidente Bush, que está em turnê de lançamentos pelos EUA, mostra uma realidade muitíssimo diferente daquela que Hollywood insiste em mostrar. O ex-presidente chega a assustar o mundo, quando revela que o sistema de comunicação do avião presidencial Air Force One era tão antigo, que foi difícil para ele ficar sabendo a bordo do mega-avião o que estava acontecendo, com a rapidez necessária, durante os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Não havia conexão de satélite a bordo da aeronave e, em intervalos de poucos minutos, a TV perdia o contato com as emissoras locais. “O monitor mostrava neve”, escreve Bush em seu livro.

Mais ainda: as ligações telefônicas com Condoleezza Rice, secretária de Segurança, e com o vice-presidente Dick Cheney eram constantemente interrompidas. Ou seja, o presidente só podia ser informado de maneira fragmentada sobre a queda das Torres Gêmeas.

O quadro de vergonhosa desmoralização dos EUA como potência capaz de salvar o mundo de uma catástrofe completa-se com esta espantosa declaração do livro do ex-homem mais poderoso do planeta: Em 11 de setembro Bush pensou que o caso do primeiro avião poderia ter sido um acidente. Ao saber do segundo, ele teve certeza de que se tratava de um ataque. “O terceiro foi uma declaração de guerra”, que levou o então presidente à ira. “Vamos descobrir quem foi o responsável por isso e dar-lhe um belo pé no traseiro”, ele teria dito naquele momento.

Pode até ser que Bush era tudo aquilo que dizem dele até hoje: incompetente e imprevisível. Mas, como é que todo o sistema de vigilância de uma orgulhosa nação como os EUA pode ter levado um golpe tão desmoralizante como o de 11 de setembro sem que se tenha detectado uma tão espantosa manobra de guerra com maior rapidez e antecedência? Hollywood, meus amigos, viaja na maionese...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Anistia Internacional quer processar Bush


A Anistia Internacional convocou o governo norte-americano a processar o ex-presidente George W. Bush, por afirmar no livro Decision Points que ordenou o exército a usar a técnica de afogamento em prisioneiros sob interrogatório. A prática é enquadrada como uma forma de tortura pela própria CIA.

Para o chefe da Anistia Internacional Rob Freer, a confissão de Bush é suficiente para desencadear a obrigação internacional que os Estados Unidos têm de investigar a confissão e levá-lo à justiça.

Em seu livro, escrito pelo jornalista Christopher Michael, de 28 anos, Bush conta que autorizou a CIA a usar a simulação de afogamento ou “submarino” contra o autoproclamado idealizador dos ataques de 11 de setembro de 2001, Khaled Cheikh Mohammed.

Fábrica de Schindler vira museu

A fachada da fábrica de Schindler, que agora virou museu em Cracóvia

O industrial Oskar Schindler era um homem rico e influente. Entre seu patrimônio, havia uma fábrica de utencílios de cozinha, por meio da qual ele ajudou a salvar judeus durante a Segunda Guerra. Localizada em Cracóvia, na Polônia, a antiga fábrica de Schindler agora vira museu que atrai hordas de turistas.

A fábrica de Schindler inspirou o diretor norte-americano Steven Spielberg a rodar, em 1993, o mundialmente conhecido A Lista de Schindler, filme que conta os atos heroicos do industrial que salvou 1.200 judeus durante a Segunda Guerra. Antes com os portões fechados, a antiga fábrica só podia ser observada de fora. Desde meados deste ano, o prédio encontra-se aberto ao público.

A prefeitura de Cracóvia transformou a antiga fábrica em um museu e inaugurou a primeira exposição permanente sobre a vida na cidade durante a ocupação nazista, intitulada Cracóvia: ocupação entre 1939 e 1945. A mostra é composta da biografia de Oskar Schindler e dos funcionários de sua fábrica. Agora a antiga fábrica de utensílios de cozinha virou fábrica de lembranças.

Oskar Achindler no meio dos funcionários da sua fábrica.

Filho de uma família de industriais, Oskar Schindler viveu entre 1908 e 1974. Em outubro de 1939, após a ocupação da Polônia por forças nazistas, ele comprou uma fábrica de utensílios de cozinha em Cracóvia, que até a passagem compulsória das propriedades para mãos de “arianos”, pertencia a judeus. Schindler foi beneficiado pela “arianização” das propriedades dos judeus e acumulou, nos anos que se seguiram, uma fortuna com negócios no mercado negro.

Apesar de pertencer ao partido nazista NSDAP, aos poucos, ele se tornou cada vez mais consciente a respeito da condição aterrorizante dos judeus. Em sua fábrica, ele ocupava 1.200 trabalhadores forçados, que integraram sua famosa lista e foram por ele declarados “imprescindíveis” para a produção bélica nazista. Assim, ele salvou a vida de seus funcionários da morte certa nos campos de concentração.

A fábrica de Schindler foi estatizada em 1947 e transformada na fornecedora de material de telecomunicações Telpod, que fechou as portas em 2002. Três anos mais tarde, as instalações foram compradas pela prefeitura de Cracóvia para transformar a fábrica em museu.

Panelas, vasilhas e pratos de metal simbolizam a história de Schindler com os seus funcionários.

A história de Oskar Schindler é contada onde era o escritório da fábrica, por meio de fotos, documentos e móveis da época. No meio da sala, um grande cubo transparente, cheio de panelas, vasilhas e pratos de metal, serve para simbolizar a história do industrial e de seus funcionários. Dentro do cubo, estão os nomes de aproximadamente 1.200 trabalhadores forçados judeus, cujas vidas foram salvas por Schindler.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Brasil monta fábrica de remédios em Moçambique

Fachada do prédio utilizado para abrigar a fábrica de remédios

O presidente Lula faz uma visita de dois dias a Moçambique, a última a um país africano durante seus oito anos de governo. Em Maputo o presidente irá inaugurar uma fábrica de medicamentos para tratamento do HIV, um dos maiores e mais ousados projetos do governo brasileiro na África.

Com uma verba de 13,6 milhões de reais aprovada pelo Congresso nacional para a compra de equipamentos e transferência de tecnologia e um gasto adicional de 600 mil com um estudo de viabilidade econômica, o projeto da fábrica pretende expandir a experiência brasileira de produção de medicamentos contra a Aids.

Essa será a primeira fábrica pública a produzir medicamentos para o tratamento do HIV na África, o continente mais afetado pelo vírus e onde o acesso ao tratamento é difícil e dependente de doações internacionais. Moçambique é um dos países com maior incidência de HIV do mundo - 13,1% das mulheres adultas e 9,2% dos homens adultos possuem o vírus, totalizando 2,4 milhões de pessoas infectadas. No Brasil, calcula-se que 630 mil pessoas são soropositivas, menos de 1% da população.

Serão produzidos, inicialmente, 21 medicamentos, entre eles cinco antirretrovirais, como são chamados os medicamentos usados para o tratamento da Aids. O registro dos medicamentos foi doado por Farmanguinhos, unidade de fabricação de medicamentos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A capacidade prevista instalada é de cerca de 250 milhões de comprimidos de antirretrovirais e de 150 milhões de comprimidos de medicamento para atenção básica, como diclofenaco de potássio (anti-inflamatório). Estima-se que a fábrica começará a operar no no final do ano que vem, embalando os medicamentos. A próxima etapa será de produção.

Além do registro dos medicamentos, o Brasil doou duas linhas de produção, uma de antirretrovirais e outra capaz de produzir medicamentos diversos. O maquinário já foi encomendado e deve chegar ao país no primeiro semestre de 2011. Já Moçambique ficou responsável pelo prédio onde será montada a fábrica e pelo custeio e manutenção da Sociedade Moçambicana de Medicamentos, empresa que tocará a fábrica.

O Brasil fabrica remédios antirretrovirais desde 1993. O acesso universal e gratuito aos medicamentos é uma política prioritária desde 1996 e calcula-se que cerca de 200 mil pessoas estejam sob tratamento. Já em Moçambique, o tratamento antirretroviral começou apenas em 2004, quando seis mil pessoas passaram a receber o medicamento. Hoje, 200 mil pessoas são tratadas, o que corresponde a menos de um terço das necessidades e a cerca de 10% do total de soropositivos do país.

Moçambique é completamente dependente da ajuda internacional para combater a epidemia. Por isso, os programas de saúde pública na área de HIV são vulneráveis a cortes no financiamento. Em maio deste ano, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou para a redução dos fundos para tratamento do HIV na África, inclusive em Moçambique. Além de impedir que novos pacientes fossem tratados, um corte nos fundos poderia forçar as pessoas que já recebem tratamento a interrompê-lo. Mas quem começa a tomar o medicamento não pode parar, precisa continuar até o final da vida.

A moçambicana Florência Tamelle, 33, viu a irmã morrer por causa do HIV. Depois disso, decidiu se informar sobre a causa da morte da irmã, fez o teste e descobriu que também tinha o vírus. Hoje, Florência trabalha para o MSF dando orientação para grávidas soropositivas.

“Se cortam o financiamento [para os medicamentos antirretrovirais] e me dizem que não tem mais medicamento para mim, eu vou morrer! Vou criar uma resistência no vírus. Gravíssimo! Isso não pode acontecer. O nosso país não tem capacidades financeiras para custear as despesas. Estamos a viver num país que está no caminho do subdesenvolvimento, ainda não é desenvolvido. Se tivesse uma fábrica de antirretrovirais aqui, seria muito bom”, afirmou Florência.

(Com informações do Opera Mundi. Texto e foto de Amanda Rossi)

Um limite para o latifúndio


O Banco do Brasil, com 164 mil hectares, e o Bradesco, com 131 mil hectares, são seis dos maiores latifundiários do país. De 0 a 1 numa tabela de concentração de terras, o Brasil apresenta o nível 0,854, considerado elevado.

“O Estado brasileiro tem os maiores latifúndios da humanidade e nunca teve uma atitude política de controlar seus territórios”, disse o professor de Geografia da Universidade de São Paulo, Ariovaldo Umbelino, na apresentação do resultado do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade.

O plebiscito, iniciativa do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, foi realizado este ano de 1 a 12 de setembro, e dele participaram 519,6 mil pessoas, de 23 Estados e do Distrito Federal.

Desse total, 95,5% disseram que a propriedade de terra no Brasil precisa ter um limite máximo, e 94,3% afirmaram que introduzindo esse limite o país teria aumento na produção de alimentos saudáveis e melhores condições de vida no campo.

“A agricultura familiar produz trabalho, alimento saudável e protege o meio ambiente”, argumentou o bispo dom Pedro Stringhini, da Comissão Episcopal de Pastorais Sociais. Ele destacou que a luta pela terra é uma questão prioritária para a Comissão.

Umbelino frisou, na entrevista coletiva, semana passada, que a função social da terra não vem sendo cumprida, “pois 200 milhões de hectares de terras são improdutivos no Brasil”. Enquanto o agronegócio emprega 1,4 trabalhador por propriedade, a agricultura familiar envolve 17 trabalhadores.

O número de participantes no plebiscito foi considerado positivo, uma vez que ele não foi noticiado pela grande imprensa. Esse ensaio, afirmam os organizadores do Fórum, também é um indicativo de que um plebiscito oficial deveria ser proposto para que todos os cidadãos pudessem se manifestar sobre um tema de tamanha relevância para o país.

(ALC - Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Nossos deputados marajás




Ao ver este vídeo sobre como é a vida e o trabalho de um deputado sueco, que ainda por cima não tem nenhuma mordomia enquanto está à disposição do Parlamento Sueco, a não ser um apartamento que não é maior do que um quarto de hotel, fui pesquisar. Descobri, estarrecido, que os nossos deputados estão entre os mais bem-pagos do mundo. Segundo dados levantados em 2006, entre salário e ganhos extras, cada um custa aos cofres do Estado R$ 92.300,00 por mês. Sem contar despesas com assessores e de cada gabinete.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma sombra se levanta sobre nós



A seção Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou ontem com uma representação criminal na Justiça de São Paulo contra a onda de ataques aos nordestinos divulgada por meio do Twitter após a eleição de Dilma. Tudo começou no domingo à noite, assim que a vitória de Dilma estava definida, e usuários do twitter começaram a postar mensagens ofensivas aos nordestinos, relacionando o resultado à boa votação de Dilma no Nordeste. Esta afirmação, na verdade, é falsa, porque Dilma teria ganho as eleições sem os votos do Nordeste. Os votos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste somaram 33,2 nilhões de votos para Dilma contra 32,9 milhões para Serra.

A representação da OAB-PE é contra a estudante de Direito Mayara Petruso, de São Paulo, uma das responsáveis pelo início dos ataques. Segundo o presidente da OAB-PE, Henrique Mariano, Mayara deverá responder por crime de racismo (pena de dois a cinco anos de prisão, mais multa) e incitação pública de prática de crime (cuja pena é detenção de três a seis meses, ou multa), no caso, homicídio.

Algumas das mensagens postadas pela universitária, com frases como: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”, estão no vídeo acima. “São mensagens absolutamente preconceituosas. Além disso, é inadmissível que uma estudante de Direito tenha atitudes contrárias à função social da sua profissão. Como alguém com esse comportamento vai se tornar um profissional que precisa defender a Justiça e os direitos humanos?”, diz Mariano.

Em julho deste ano, a seção pernambucana da Ordem já havia prestado queixa à Polícia Federal contra pelo menos dez usuários do Twitter, por mensagens ofensivas aos nordestinos após as enchentes na região. “Essas redes sociais são meios de comunicação de alcance nacional, e crimes que ocorram nelas são de ordem federal. São ofensas que atingem a todos os nordestinos, existe um direito difuso aí sendo desrespeitado” completa Mariano, para quem o nível agressivo da campanha pela internet este ano, apesar de não justificar os ataques, pode tê-los estimulado.

No domingo, usuários do Twitter insatisfeitos com a vitória de Dilma começaram a postar frases como “Tinham que separar o Nordeste e os bolsas vadio do Brasil” e “Construindo câmara de gás no Nordeste matando geral”. Como reação, outros usuários passaram a gerar uma onda de mensagens com “#orgulhodesernordestino”, hashtag que ficou entre os primeiros lugares no ranking mundial de temas mais citados no Twitter.

O problema maior, entretanto, está na semente que foi plantada. Um sentimento generalizado de ódio contra os movimentos de esquerda e de repulsa aos humildes vem crescendo assustadoramente na sociedade brasileira, coisa que não havia antes – pelo menos não de forma tão clara. Repetem-se a rodo, por exemplo, casos de bulling em escolas contra crianças que declararam apoio a Dilma. Há outros casos de crianças que não têm o menor pudor em revelar que são estimulados pelos pais e agredir Dilma com joguinhos de computador, que chutam o traseiro da presidenta eleita e outras atitudes ostensivas.

Os movimentos sociais também estão cada vez mais e de modo mais explícito na lista das instituições odiadas. Os ataques de ódio chegaram a tal ponto que a própria presidente eleita teve que dizer explicitamente que o MST não é caso de polícia mas de política pública, por exemplo. O que mais assusta, entretanto, é que há cada vez mais ouvidos surdos a qualquer argumento que defenda os direitos dessa gente. O grupo dos que simplesmente se negam a pensar sobre a questão cresce a olhos vistos.

Enquanto olhamos com pena para Obama e vemos, assustados, que democratas e republicanos estão num embate de guinadas fortes, esquecemos que esta briga nos EUA é antiga e está institucionalizada. Ela por lá tem as suas regras bem claras e os dois grupos se respeitam, apesar de tudo.

Aqui, temos uma crescente parcela da sociedade que começa a flertar perigosamente com pensamentos fascistas, que podem construir um futuro sombrio. Pior que isso, há uma sementinha sendo diligentemente plantada em cada coraçãozinho infantil, no sentido de odiar o outro lado acima de todas as coisas. Não estamos sabendo ser promotores de paz e justiça e, sem perceber, plantamos ódio, preconceito, egoísmo exacerbado e xenofobia no mais amplo sentido.

E, cá prá nós, está certo que a OAB de Pernambuco tente frear esses jovens por meio da lei. Mas não tenho tanta certeza assim de que isso vai trazer o resultado esperado. Na verdade, estamos forçando esta gente a manter o seu ódio entre quatro paredes. Mas ele continuará por lá, pronto para revelar-se à luz do dia na primeira oportunidade e, pior, ainda mais forte do que antes. Por isso mesmo, urge conclamar todas as forças da sociedade que acreditam nos direitos humanos a iniciar um trabalho gigantesco de educação e divulgação dos ideais de igualdade, paz e justiça entre nós.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Americanos arrependidos

O senador reeleito pelo estado do Arizona, John McCain, segura cartaz com a frase "Demitam Pelosi", em referência à líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi

A ESCASSA MAIORIA que colocou Barak Obama na presidência dos EUA derreteu em dois anos. Nas eleições legislativas de ontem, o Partido Republicano reconquistou a maioria na Câmara dos Representantes, passando de 178 para 233 cadeiras, segundo projeção da CNN. Os democratas de Obama despencaram de 255 para 180 cadeiras, segundo esta mesma projeção.

Como o Senado não foi completamente renovado nestas eleições, Obama e os Democratas mantiveram uma pequena maioria nesta casa. Além de colocar um breque nas reformas planejadas, os republicanos prometem derrubar aquelas que já forma feitas por Obama, como a reforma da saúde.

Na prática, esta é a terceira eleição em que houve uma troca de poderes desde 2006. Ainda durante o governo de George W. Bush, a Câmara passou para as mãos dos democratas. Em 2008, Barack Obama foi eleito para a presidência, e agora a Câmara volta ao partido da oposição. Tais mudanças rápidas e radicais no Congresso são relativamente novas na história dos Estados Unidos. Com esse tipo de eleição, os eleitores mandam uma mensagem clara: não gostamos do que vocês estão fazendo, e vamos tirá-los daí”.

O conservadorismo americano mostra a sua força. Obama não é conservador que chega para a maioria dos americanos e esta eleição deixa claro que ou ele entra numa luta inglória contra esta força para manter seu programa de Governo ou Obama terá um segundo tempo mais apagado do que o primeiro na Presidência que, tão duramente, granjeou. Minha aposta vai pela segunda opção.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...