quinta-feira, 31 de março de 2011

Tesouro inca é devolvido ao Peru



Um primeiro lote de 363 peças de Machu Picchu chegou a Lima, vindas da universidade americana de Yale quase cem anos depois que foram retiradas pelo explorador Hiram Bingham da cidadela inca. Segundo o ministro da Cultura do Peru, Juan Ossio, até o final de 2012 Yale devolverá todas as 46.332 peças de Machu Picchu que foram retiradas por Bingham. Ele destacou o acordo entre a Universidade de Yale e a Universidade de San Antonio Abad, de Cuzco, para desenvolver pesquisas e trabalhar juntos.

As peças serão primeiramente expostas no Palácio do Governo e, em seguida, serão enviadas à Câmara Shell em Cuzco, onde permanecerão até a construção do Grande Museu do Tahuantinsuyo. O governo peruano e Yale fizeram um acordo no ano passado para que este primeiro lote de peças volte ao Peru, para comemorar o centenário da chegada de Bingham à cidade inca.

O acordo foi alcançado após negociações em meio a uma campanha internacional lançada pelas autoridades peruanas para obter o retorno total das 46.332 peças encontradas por Bingham em Machu Picchu. O explorador levou as peças para Yale após suas expedições de 1912 e 1915 a título de empréstimo por alguns meses, mas levou quase cem anos sem que fossem devolvidas.

A situação repete-se no mundo inteiro, onde sítios arqueológicos foram dilapidados e peças valiosas levadas para museus nos Estados Unidos e na Europa. Aos poucos, essas relíquias do passado comum da humanidade voltam às suas origens.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Portugal, um Estado brasileiro?

A terrinha não seria um dos mais ricos, mas certamente um dos mais belos Estados brasileiros.


Em artigo publicado na edição de 25 de março, a equipe de colunistas da seção Lex do Financial Times sugere que Portugal seja anexado ao Brasil para sair da crise econômica e política em que vive. Segundo o jornal, tornar-se um dos estados da federação brasileira seria um bom negócio para o país dos conquistadores – a antiga colônia, que já naquela época foi a salvação para um reino endividado até o pescoço. Portugal nem seria um dos maiores estados no Brasil, pois tem apenas cinco por cento da população e um décimo do PIB brasileiros.

A verdade é que Portugal é a próxima pedra do tabuleiro europeu a ser tomada no complicado tabuleiro do Euro. Por conta da grave crise, o premiê socialista José Sócrates renunciou ao cargo no último dia 23, após ver seu plano de austeridade ser rejeitado pela Assembleia Nacional Portuguesa pela quarta vez. De acordo com o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Juncker, Portugal precisaria de um empréstimo de 75 bilhões de euros (cerca de R$ 175 bilhões) para solucionar seu alto endividamento e o déficit público. Antes de renunciar, Sócrates resistia aceitar ajuda externa.

Para o Financial Times, apesar da perda de status, Portugal sairia ganhando caso se tornasse um estado brasileiro: “A antiga colônia tem algo a oferecer, mesmo para além da diminuição dos ‘spreads’ de crédito e, proporcionalmente, déficits e contas correntes governamentais muito mais baixos. O Brasil é um dos BRIC, o centro emergente do poder mundial. Isto soa melhor lar que uma cansada e velha União Européia”, escreve a matéria do diário britânico. Segundo o jornal, a União Européia vê em Portugal um membro problemático: “Sem governo, elevada resistência à austeridade e crônico desempenho econômico”. (Com informações do Portal de Imprensa)

terça-feira, 29 de março de 2011

Para pessoas comuns com sonhos extraordinários



Esse vídeo é baseado numa história real, que mostra a mobilização de um grupo de amigos, hoje com 81 anos, que decidem, após a morte de um deles, empreender uma expedição com suas antigas motocicletas... O que impressiona é a determinação que pode brotar do mais profundo tédio e depressão, fazendo retornar a juventude e a vitalidade. "Para que vivem as pessoas?", é a pergunta. Responda com uma virada no seu modo de viver e de encarar a vida. Você irá se surpreender! Sonhe e realize seus sonhos. Sonhar é viver. Este vídeo é a prova. Ele foi formatado para pessoas comuns com sonhos nada comuns. A propósito, obrigado ao amigo Alexandre, que fez chegar este vídeo às nossas mãos. Publico aqui com entusiasmo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A cumbuca segura a mão


Segundo o filósofo de política internacional Michael Walzer, a intervenção armada do ocidente na Líbia é um erro. Tal ato intervencionista somente se justificaria em caso de um genocídio, o que daria motivo para promover uma “guerra humanitária”. Segundo Walzer, entretanto, o que acontece na Líbia no momento não justifica uma guerra humanitária, nem representa um genocídio, no sentido de um massacre como o que vinha sendo promovido pelo Khmer Vermelho no Camboja, nos anos 70.


A intervenção irá provocar um banho de sangue na Líbia e não conseguirá seu principal intento, que é o de pegar Kadafi (embora esse objetivo não esteja bem claro também). Apoiar uma oposição que já está praticamente derrotada é temerário e não se justifica, porque dessa maneira se teria que intervir em outros países também só porque a oposição não consegue vencer quem está no comando (a Venezuela, por exemplo).


A comunidade internacional não deveria abrir uma trilha tão temerária para justificar esse tipo de intervenção direta. Segundo Walzer, “só um clamoroso desastre humanitário pode justificar uma intervenção”.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os refugiados do clima

(Clique sobre a imagem para ampliá-la. Quando abrir, clique novamente para ver no tamanho máximo)

Cada vez mais pessoas, especialmente nos lugares mais pobres do planeta, estão sendo desalojadas de suas regiões de natalidade por causa de catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas. É um novo tipo de exílio, que deve aumentar muito nos próximos anos: o das pessoas que perdem o seu “chão” por causa de tragédias ambientais. Essas pessoas são classificadas como refugiados do clima.

O Conselho Português para os Refugiados (CPR) é uma ONG sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é promover, através de análises, trabalhos e trocas de informações, uma política de asilo mais humana e liberal, a nível nacional e internacional.

Esse é um de dois anúncios que foram criados pela ONG para promover o seu nono Congresso, e introduzem um conceito ainda desconhecido para a maioria das pessoas: de que as mudanças climáticas devem aumentar todos os anos o número de pessoas refugiadas por causa do clima.

Agora, além os refugiados políticos, deve crescer muito o número dos refugiados do clima. “Até o ano de 2050, haverá mais de 200 milhões de refugiados devido às mudanças climáticas”, diz o texto, que convida para o debate sobre o assunto no referido congresso. “Em breve, o clima será o nosso maior opressor”, aponta a reflexão principal da peça publicitária. A criação é da agência publicitária portuguesa DraftFCB.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Japão refaz rodovia em seis dias

Foto do dia 11 de março mostrava a rodovia destruída pelo terremoto em Naka.


Outra foto tirada no dia 17 de março no mesmo local já mostra a rodovia totalmente refeita. (Fotos AP)

Não dá para não comentar, sem ficar humilhado. Aqui em Blumenau, o buraco da Rua das Missões, que resultou da queda de parte da pista em vista dos deslizamentos de 2008, foi se alargando, alargando e alargando, até engolir o rodado de um caminhão, meio ano depois. Aí, somente aí, a rua foi interditada, porque durante esse tempo se construiu um desvio (asfaltado!) para o trânsito.

A partir de então, mais de um ano depois, a pista foi sendo reconstruída e finalmente entregue ao tráfego no final do ano passado. Foram dois longos anos! Tudo bem que havia uma eclusa para o ribeirão Fortaleza e ser concluída etc. Só que essa eclusa já estava em obras há pelo menos seis anos. A previsão é que toda a reconstrução do Japão pós-tsunami irá levar menos de cinco anos. Ou seja, menos tempo do que a obra daquela “eclusinha” ridícula.

Diante dessa patetada toda, o exemplo dessa rodovia no Japão é acachapante, desconcertante, humilhante. E, tenho certeza, as nossas autoridades nem sequer ficarão ruborizadas diante dessas duas fotos.



Eis a obra em Blumenau, que levou dois anos para ser concluída.

O McDonald's e o trabalho infantil


Assédio moral, falta de comunicação de acidentes de trabalho, ausência de condições mínimas de conforto para os trabalhadores, extensão da jornada de trabalho além do permitido por lei e fornecimento de alimentação inadequada são algumas das irregularidades apontadas por trabalhadores da maior rede de fast food do mundo. Para fugir de uma multa milionária, a rede compromete-se em fazer propaganda contra o trabalho infantil por nove anos.

Somente no Brasil, o McDonald’s tem mais de 600 lojas e emprega 34 mil funcionários, em sua maioria jovens de 16 a 24 anos. As relações de trabalho impostas pelo McDonald’s são objetos de estudo de muitos pesquisadores. Do mesmo modo, pelas irregularidades recorrentes, a rede de fast food é alvo de diversas denúncias na Justiça do Trabalho. Em São Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp), ao longo dos anos, tem denunciado as más condições a que são submetidos os funcionários do McDonald’s.

Recentemente, resultou em uma punição ao McDonald’s uma denúncia feita há quinze anos pelo sindicato ao Ministério Público do Trabalho (MPT) da 2ª Região, em São Paulo. Trata-se de um acordo que, além de exigir o cumprimento de adequações trabalhistas, estabelece o pagamento de uma multa de R$ 13,2 milhões.

Desse valor, a rede de fast food deve destinar R$ 11,7 milhões ao financiamento de publicidade contra o trabalho infantil e à divulgação dos direitos da criança e do adolescente durante os próximos nove anos. Além disso, a rede deve doar R$ 1,5 milhão para o Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O compromisso foi firmado em outubro de 2010 e passou a valer em janeiro deste ano.

As investigações realizadas pelo MPT a partir da denúncia do Sinthoresp confirmaram as seguintes irregularidades: não emissão dos Comunicados de Acidente de Trabalho (CAT); falta de efetividade na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes; licenças sanitárias e de funcionamento vencidas ou sem prazo de validade, prorrogação da jornada de trabalho além das duas horas extras diárias permitidas por lei, ausência do período mínimo de 11 horas de descanso entre duas jornadas e o cumprimento de toda a jornada de trabalho em pé, sem um local para repouso.

O MPT também apontou irregularidades na alimentação fornecida aos trabalhadores: apesar de oferecer um cardápio com variadas opções, o laudo da prefeitura de São Paulo reprovou as refeições baseadas exclusivamente em produtos da própria empresa por não atender às necessidades nutricionais diárias. Em relação à alimentação, o McDonald’s chegou a ser condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do Rio Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após trabalhar 12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos pela rede de fast food, engordou 30 quilos.

OUTROS PROCESSOS CONTRA O McDONALD’S

Discriminação em processo seletivo: Em janeiro de 2010, o MPT da Paraíba iniciou uma investigação contra a rede de fast food por discriminação em um processo seletivo. O McDonald’s publicou um anúncio de vagas de emprego em que determinava que os candidatos deveriam ter entre 18 e 22 anos. De acordo com o artigo 7º da Constituição Federal de 1988, é proibido utilizar como critério de admissão sexo, idade, cor ou estado civil. Esses critérios são considerados discriminatórios, pois ferem o princípio de igualdade nas relações de trabalho.

Não garantia de alimentação saudável a seus funcionários: O McDonald’s foi condenado, em outubro de 2010, pela Justiça do Rio Grande do Sul a indenizar em R$ 30 mil um ex-gerente que, após trabalhar 12 anos e se alimentar diariamente com os lanches fornecidos pela rede de fast food, engordou 30 kg. Já em 2009, em Ribeirão Preto (SP), o 15º Tribunal Regional do Trabalho condenou o McDonald’s a pagar ao ex-funcionário Rafael Luiz uma indenização de R$ 2 mil, correspondentes ao valor de cestas básicas durante cerca de dois anos – período em que ele trabalhou na rede de fast food. O juiz Ricardo de Plato, que emitiu a sentença, afirmou que é de “conhecimento público e notório” que a ingestão diária dos lanches da rede, “ em substituição a uma das principais refeições do dia, por um longo período de tempo, é prejudicial” à saúde.

Falta de higiene e cuidados no preparo dos alimentos: Em 2006, no Texas (EUA), uma família abriu um processo contra uma das lojas franqueadas da rede de restaurantes fast food por ter encontrado um rato morto em uma salada comprada no local.

(Com informações de Michele Amaral, em http://www.brasildefato.com.br/)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Rumo à serra Fluminense

Estou seguindo hoje para Petrópolis, região serrana do Rio, onde devo participar da Conferência Ministerial do Sínodo Sudeste da IECLB. Será um confronto direto com os acontecimentos recentes daquela região.

Para quem sente necessidade de ter uma avaliação diferenciada e humana da tragédia lá ocorrida, acesse o blog do jornalista Paulo Hebmüller. É o mais impressionante e tocante relato que eu li sobre o ocorrido. Paulo, que também estudou teologia e é casado com uma pastora da IECLB, passou uma semana como voluntário em meio à lama e à dor daquelas pessoas. É uma extensa crônica sobre a solidariedade humana, que ele chama de viajante do inverso. Vale a pena visitar: http://viajantedoinverso.blogspot.com/.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A visita de um astro em declínio


Segundo o La Nación, o Brasil prepara uma recepção de estrela de rock para o presidente norte-americano Barak Obama, durante sua visita neste final de semana. Vai ter muito carnaval, mulatas, visita ao Cristo Redentor e outras frescuras típicas da bajulação dos grandes artistas.

Tratado a pão-de-ló, o presidente da esperança – que é o homem certo para governar o país errado na hora errada (segundo a revista Carta Capital) – não parece muito confortável no posto de homem mais poderoso do planeta. Obama é uma estrela cadente, ou uma grande anã branca que emite muita luz, porém está perto do fim.

Fragorosamente derrotado no meio do seu mandato por eleições para compor o novo congresso, o presidente que voa no Air Force One ainda não sofreu um golpe porque governa a mais tradicional democracia do planeta, que inclusive pode tolerar um negro no comando da Casa Branca por quatro anos.

Mas mandar, ele não manda pivicas. No momento, ele está até tendo que ceder a chantagens semanais do congresso para poder cumprir a sua agenda semanal, porque a oposição ameaçou não aprovar o seu orçamento para 2011. Sem dinheiro não há governo, sabe qualquer criança.

Em resumo, o presidente dos EUA que visita o Brasil pomposamente neste final de semana é um fantoche. Para poder continuar representando razoavelmente o papel de presidente americano, Obama apagou suas promessas de campanha e até voltou atrás em promessas que já havia cumprido. Por exemplo, Guantánamo já deveria ter acabado no ano passado. Não só continua a todo vapor, como os presos voltam a ser julgados por um tribunal militar.

Pior que isso foi a capitulação de Obama aos interesses de Wall Street, quando tapou os bucacos dos bancos e deixou os endividados no gancho. Fraco, ele não consegue nem manter suas posições em questões de pouca importância material, mas simbolicamente marcantes.

Se ele tivesse mantido suas posições tão estrondosamente divulgadas em campanha, talvez tivesse moral para diminuir o ímpeto agora demonstrado pelos republicanos em jogá-lo de vez rente ao chão, e ainda por cima conseguisse unir seus aliados e boa parte da opinião pública norte-americana em torno de si. Mas ele entregou tudo. Obama está perdido na poeira. E, como eu já vaticinei aqui, a sua derrota para um segundo mandato é certa e será acachapante.

Talvez, por isso mesmo, o Obama que visita o Brasil neste final de semana não passe realmente de um astro famoso. Cubramo-lo de rapapés. Vai fazer bem ao seu ego. Para o Brasil, essa visita pomposa não significará absolutamente nada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O sistema bancário e a usura


Se um correntista tivesse depositado R$ 100,00 (Cem Reais) na poupança em qualquer banco, no dia 1º de julho de 1994 (data de lançamento do Real), teria hoje na conta a fantástica quantia de R$ 374,00 (Trezentos e Setenta e Quatro Reais).

Se esse mesmo correntista tivesse sacado R$ 100,00 (Cem Reais) no cheque especial, na mesma data, teria hoje uma pequena dívida de R$ 139.259,00 (Cento e Trinta e Nove Mil e Duzentos Cinquenta e Nove Reais), no mesmo banco.

Ou seja: com R$ 100,00 do cheque especial, ele ficaria devendo nove carros populares, e com os R$ 100,00 da poupança, conseguiria comprar apenas três pneus, e dos bem simples! Não é à toa que o Bradesco teve quase R$ 2.000.000.000,00 (Dois Bilhões de Reais) de lucro líquido somente no 1º semestre, seguido de perto do Itaú etc. Dá para comprar outro banco por semestre!

Lutero ficava indignado com as pessoas que emprestavam aos outros dinheiro e cobravam juros sobre juros, o que tem o nome de “usura”. Ele escreveu longos tratados sobre a usura, condenando veementemente essa prática abusiva e extorsiva. E olha que no tempo de Lutero os bancos nem eram os grandes vilões. No seu tempo, esta prática era costume entre os agiotas, que exploravam as viúvas e os pobres sem dó nem piedade.

E o que é que os bancos – os estatais e os populares inclusive – fazem hoje, senão praticar a usura? Além de cobrar juros sobre juros, aplicam taxas abusivas de toda ordem sobre o dinheiro que emprestam e remuneram o dinheiro captado do poupador com pífios trocados. Os bancos praticam a agiotagem escancarada, sob a proteção da lei, que deveria proteger o cidadão dessas práticas vergonhosas com o dinheiro.

Diga-se de passagem, que a agiotagem é crime previsto no Código Penal, sujeito a severas punições. E os bancos, quem os pune pela agiotagem escancarada e legalizada que praticam? Quem nos defende das implacáveis armadilhas que eles montam todos os dias, com ajuda de bem-pagos especialistas financeiros, para pegar o pobre e indefeso povo e arrancar dele o sangue até a última gota?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Parem o mundo que eu quero descer!


“Isso que está acontecendo no meu país me faz sofrer muito, é muito triste. Nós, os sobreviventes das bombas nucleares, lutamos pela paz e contra a energia nuclear. A radiação é a pior arma que existe. Não tem cheiro, não podemos vê-la, não tem barulho, não deixa rastro. As pessoas vão sentir seus efeitos ao longo do tempo.” Takashi Morita, 87 anos, sobrevivente de Hiroshima, que reside em São Paulo.

Em vista da catástrofe nuclear após o terremoto no Japão, as igrejas exigem o fim do uso da energia atômica. “Uma tecnologia que não perdoa erros não nos faz bem”, disse o presidente da Igreja Evangélica na Alemanha (IEA), Nikolaus Schneider. O dirigente da Conferência alemã dos bispos católicos, Robert Zollitsch, afirmou que a “energia nuclear não é energia do futuro”.

Segundo ele, são necessárias novas formas de energia que preservem o ambiente e que possam ser controladas sem riscos. Para o pastor Schneider “precisamos sair dessa forma de energia o quanto antes, pois lidamos em terreno inseguro”. Mesmo um país altamente desenvolvido tecnologicamente agora aponta que não há outra alternativa e que a “sociedade tecnológica precisa aprender a humildade, pois não domina tudo”, disse.

Para os líderes das igrejas não se trata somente de debater sobre o tempo de vida das usinas nucleares. Chegou a hora de dar um basta e de apontar todas as dramáticas consequências de se continuar utilizando esse tipo de energia. Chegou o momento de promover um “desembarque rápido” da tecnologia atômica.

O diretor do Instituto de Ciências Sociais da IEA, Dr. Gerhard Wegner, disse que essa atitude deveria basear-se num princípio ético fundamental, que diz: “Você deve correr somente aqueles riscos pelos quais você pode responsabilizar-se”. A catástrofe nuclear no Japão mostra claramente que não há seguro contra o fracasso técnico e humano.

Também o patriarca Bartholomeu I, da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, apelou aos governos de todo o mundo para que repensem suas políticas atômicas. Entrementes começam a ser anunciados inúmeros protestos ao redor do mundo, reforçando o desembarque urgente das energias baseadas na fissão nuclear.

Eu me integro ao crescente grupo dos que querem o definitivo abandono da energia nuclear em todos os países do mundo. Aqui no Brasil, com as duas usinas de Angra mais a terceira em construção, tristemente apelidadas de “usinas vagalume”, e um projeto de construção de mais quatro novas usinas, temos que colocar um fim imediato nesses projetos. O risco é maior do que os eventuais benefícios e os custos da produção dos poucos megawatts de energia não valem o esforço. É o mesmo que pular de um avião sem pára-quedas: uma hora o chão chega perto e... quando isso acontece, no que diz respeito a energia atômica, literalmente não há o que fazer, a não ser esborrachar-se no solo e morrer.

terça-feira, 15 de março de 2011

O dólar precisa de Deus


O Supremo Tribunal dos EUA recusou a tentativa de retirar a frase “In God we trust” (“Em Deus confiamos”) das notas e moedas de dólar. A ação foi interposta pelo advogado Michael Newdow, que sustenta que a frase é discriminatória ao promover uma religião monoteísta. Newdow dirige associação de ateus FACTS e considera que a discriminação contra os ateus é similar à que sofreram em outros momentos da história dos EUA as mulheres, os homossexuais e os negros.

Certamente muitos cristãos também não fazem muita questão de manter esta inscrição no papel-moeda que simboliza o que há de pior no mundo dos negócios escusos da economia mundial. Mas sondagens afirmam que 90 por cento dos norte-americanos concordam com a alusão a Deus em sua moeda. Alguns deles também não teriam dificuldades em colocá-la ao lado e no mesmo patamar dos mais tradicionais símbolos da fé cristã, como a cruz, a pia batismal e os elementos da eucaristia.

Na verdade, para a economia americana em franca decadência, a confiança em Deus, outrora tão segura de si enquanto os negócios iam bem, agora parece mais uma tábua de salvação em meio à inundação. Hoje o dólar precisa mais de Deus do que de outra coisa para manter-se acima do nível de afogamento.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Programado para quebrar



Como somos levados a comprar coisas que não necessitamos? Esta é, afinal, a base sobre a qual se edifica toda a economia ocidental. Repor, renovar, trocar, descartar para renovar. A economia precisa girar. Dinheiro parado é dinheiro morto. Isso sempre foi assim? Qual é a estratégia mais oculta, para fazer com que a economia cresça, não para melhorar as coisas, mas cresça por crescer; sem parar, como uma bola de neve, infinita e que não se pode parar.

O nome desta, que é uma das mais lucrativas descobertas da economia de mercado, tem o pomposo nome de obsolescência programada. Assista ao vídeo acima, de 50 minutos, e descubra o tamanho da armadilha em que estamos presos. Tudo começou com a lâmpada incandescente, essa impressionante invenção de Edison. As primeiras duravam muito. Há uma dessas lâmpadas num quartel de corpo de bombeiros, nos EUA, que funciona desde 1909. Centenas de pessoas vieram para comemorar os seus 100 anos de funcionamento. Hoje, elas duram menos de mil horas.

Depois da crise de 1929, esta metodologia de mover a economia passou a ser imposta às indústrias e aos engenheiros, que eram obrigados a reduzir a durabilidade de seus produtos sob pena de pesadas multas. Tudo para que a roda não pare de girar: comprar, descartar e comprar novamente, num moto contínuo.

E o pior: produzindo lixo, lixo e mais lixo. Muito lixo, que soterra particularmente a África em milhões de toneladas de sucata de computadores e televisores. É a obsolescência programada com a sua pior face. Veja você mesmo, com os seus próprios olhos, neste vídeo espanhol.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um tapa na cara das tradições

Stammtisch na véspera da Semana Santa, uma afronta às nossas mais caras tradições.

Perfeito! Mais uma vez, Blumenau se supera. Está marcada para o sábado 16 de abril a maior farra gastronômica e alcoólica germânica de que se tem notícia nas Américas; o Stammtisch de Blumenau. Nada contra nem a favor do famoso Stammtisch. Afinal, ele junta uma multidão inigualável ao longo da Rua XV para cultivar uma tradição absurda, que nem na Alemanha se pratica e que se vende como se tradição fosse. “Fress- und Sauftag” (dia de comilança e bebedeira) devia ser o nome disso que se faz por aqui.

O Stammtisch dos nossos antepassados era bem outra coisa. Era um lugar de encontro de amigos, em torno de uma mesa cativa, num ambiente público. Para comer e beber, sim. Mas também para debater e conversar sobre temas polêmicos ou assuntos da urbe. Eram grupos de pessoas com interesses temáticos semelhantes, que se encontravam regularmente para trocar ideias. Nesse sentido, um motoclube é uma espécie de Stammtisch, por exemplo. Por isso, seria bem mais interessante criar um Stammtisch para conversar a sério sobre tradições germânicas. Iriam ter o que falar...

Até Martim Lutero participou de um Stammtisch assim, onde se registraram muitas das suas famosas “Tischreden” (Conversas de mesa). A quantidade de coisas fundamentais que ele disse nessas conversas ao redor de uma mesa mostra que isso não seria possível no moderno “Stammtisch” de Blumenau, porque até as onze horas da manhã está todo mundo no maior “mé”.

Ninguém durante o nosso Stammtisch moderninho teria lucidez suficiente para dizer, por exemplo, algo assim: “Eu sustento que as autoridades civis têm a obrigação de forçar o povo a enviar os seus filhos à escola, exatamente como estão prometendo... Se o governo pode obrigar tais cidadãos, quando prestam o serviço militar, a segurar a espada e o rifle, a cavar trincheiras e a cumprir os outros deveres militares em tempo de guerra, tem muitíssimo mais direito de obrigar o povo a mandar os seus filhos à escola, porque neste caso nós estamos lutando contra o demônio...” (Uma das famosas Tischreden de Lutero).

Mas se querem assim, que assim seja. Já não se pode chamar mais nada de tradição germânica por aqui mesmo. Sobrou somente uma miscelânea disforme e confusa, que vende um peixe que nunca existiu, com raras exceções entre os grupos folclóricos que levam tradição a sério. Acho que essa bagunça começou nos anos 1970, quando se permitiu a invenção do enxaimel aparente, aquela lambança estética que afronta a genialidade arquitetônica dos nossos colonizadores.

O que incomoda de verdade é a data! Explico. Sempre foi tradição – isso sim, uma legítima tradição dos imigrantes alemães que fizeram a história do Vale – que durante a Quaresma não há bailes, nem festas ou casamentos. Muitos até se esforçavam para maneirar na mesa e no copo. E quando eu ainda era criança, isso era quase uma unanimidade. Agora, há festas, bailes e casamentos por todo lado. Tem até festa de igreja no tempo da Quaresma...

Agora, um Stammtisch na véspera do Domingo de Ramos, início oficial da Semana Santa, em que nos deveríamos preparar para, contritos, nos sensibilizarmos com o sofrimento e a morte de Cristo, convenhamos, é uma bela patada na cara de todas as nossas mais belas tradições. Durma-se com um barulho desses!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sem desculpas esfarrapadas

FUI EU! Sete semanas sem desculpas, diz o texto em alemão, num dos cartazes da campanha da Igreja Evangélica da Alemanha para a Quaresma de 2011, Sieben Wochen Ohne.

A tradicional ação de Quaresma “Sete Semanas Sem” (Sieben Wochen Ohne), da Igreja Evangélica da Alemanha, apela para a verdade nua e crua em 2011. O objetivo desta edição é colocar um ponto final nas desculpas esfarrapadas e acabar com as mentiras de ocasião, propondo uma quaresma da verdade, com o tema “Diante de Deus não necessitamos de desculpas”.

Será possível passar sete semanas sem faltar com a verdade uma única vez? A realidade parece confirmar que esse será um desafio complicado. As mentiras de ocasião já começam a aparecer nos primeiros anos de vida da criança. Conforme a pessoa se torna adulta, a dissimulação, o disfarce, a desonestidade e as meias verdades vão se tornando cada vez mais sofisticados.

Hoje há até especialistas em montar álibis, que cobram bem para construir uma convincente saída para quem se mete em encrenca. É o caso, por exemplo, de quem precisa confirmar uma viagem de negócios quando a esposa desconfia que andou com outra mulher. Pela internet é possível encomendar a história perfeita para ocultar a traição. Esse tipo de “construção de desculpas” é defendido com o argumento de que toda relação duradoura precisa de pequenas mentiras para sobreviver.

A proposta da ação quaresmal alemã para 2011 é acabar com tais mentiras, ao menos no período antes da Páscoa. Dizer a verdade aos outros, nesse contexto, é visto como um presente ao próximo e a si mesmo, pois essa nova conduta nos faz crescer. Aquele que aprende a reconhecer os seus erros e a confessá-los, torna-se forte e confiável, ensina a campanha da igreja alemã.

Experimente também você passar os 40 dias do tempo de Paixão dizendo sempre a verdade, onde quer de seja. Será uma boa maneira de praticar a penitência e de crescer como ser humano, valorizando a verdade e a honestidade.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quaresma, tempo de abstinência

O ator Charlie Sheen lança fora a sua vida, enquanto o pai tenta desesperadamente salvá-lo.

Nesta quarta-feira de cinzas inicia o período da Quaresma, um período do ano destinado à abstinência e à penitência. Está aí algo que está fora de moda. Ninguém mais quer abster-se de nada. Vivemos na época do gozo pleno, do consumo sem limites, do prazer a qualquer custo. A abstinência não tem espaço.

Hoje, no princípio da Quaresma, vem à minha mente a imagem de algumas pessoas que viveram a vida intensamente, sem qualquer controle, sem abrir mão de nada, de absolutamente nenhum prazer. Poder-se-ia citar uma lista enorme de nomes. Mas o que me vem à mente como o exemplo mais forte do momento, é o do ator Charlie Sheen. Famoso e premiado, já habituado ao mundo da fama como filho de ator (seu pai é o ator Martin Sheen), Charlie perdeu de tal maneira o controle sobre a sua vida depois de envolver-se com diversos tipos de drogas que está entrando num buraco sem fundo. Ontem mesmo (8 de março), ele foi demitido da série de TV americana Two and a Half Men. Seu pai, em desespero, tenta resgatar o filho também famoso do buraco em que se meteu, mas é uma luta extremamente difícil e de muito sofrimento.

Esta não é uma imagem rara. Ela se repete todos os dias, nos quatro cantos do mundo. Pais, professores e amigos se desesperam a cada revelação de dependência de drogas, álcool (a droga aceita e a mais maldita de todas) e outros comportamentos qualificados como “desvios”. A humanidade perdeu muitos jovens talentosos para as drogas. Cazuza, ele próprio uma vítima delas, cantou: “meus heróis morreram de overdose”.

A canção de Cazuza também revela o principal motivo da maioria das dependências: falta sentido na vida das pessoas. “Ideologia! Eu quero uma pra viver!”, é seu grito desesperado. Por falta de sentido, nos tornamos dependentes de elementos químicos, manias, costumes ou atitudes que têm efeito passageiro. É efêmera a felicidade que produzem. Depois dela vem um imenso vazio e a sensação de necessitar uma nova dose, ainda maior, para fazer retornar a sensação de prazer que se experimentou.

Este princípio é sempre o mesmo, tanto faz qual é a dependência que nos prende. A dependência das drogas é a mais conhecida; mesmo assim esse conhecimento não evita que as pessoas continuem experimentando, sempre acreditando poder “largar na hora que quiser”. Mas, também nos tornamos completamente dependentes da internet, de jogos eletrônicos, de comida, de álcool e cigarro, ou mesmo do incontrolável desejo de consumir coisas novas.

Se o princípio é o mesmo, também a razão que o provoca é sempre a mesma. Falta sentido na vida das pessoas. O desejo pela sensação de prazer e felicidade é a busca por preencher o vazio que está na alma. Cada vez mais pessoas passam toda a sua vida correndo atrás do prazer momentâneo e um número cada vez maior delas cai no buraco sem fim da depressão, tornando-se dependente de antidepressivos.

Essa corrida maluca começa já na infância, quando a criança se atira no chão do supermercado e faz o maior escândalo com o intuito de arrancar dos pais a satisfação do seu desejo de consumo. Na adolescência, passa pela troca de celular três vezes ao ano, pelos modismos passageiros, pelos costumes tribais que mudam a cada estação do ano e pelo individualismo crescente e alienante. Quer solo mais fértil para plantar o desejo pelas fortes emoções de um cigarro de maconha ou de uma carreira de cocaína?

O que nos preenche realmente? Nossa independência está no sentido de vida. Quem não se detém para responder à pergunta mais importante da sua existência, é sério candidato a campeão da corrida maluca. Para que eu estou neste mundo? Qual é minha missão? Qual é o sentido da minha vida?

Em primeiro lugar, devemos nos deixar preencher da vida que vem de Cristo: “Vim para que tenham vida, e vida em abundância”. Ele nos enche o copo até transbordar, justamente para que possamos passar vida adiante, sem medo de que fiquemos no prejuízo. E, passar vida adiante não é outra coisa do que servir. Este é o sentido da nossa vida. Servir. Quem não vive para servir, não serve para viver. Frase batida, mas cheia de razão. Quem coloca sua vida a serviço, preenche-a de sentido.

Em segundo lugar, é preciso que paremos de vez em quando para avaliar nosso grau de dependência. Tenho insistido em que a Quaresma (40 dias antes da Páscoa) e o Advento (quatro semanas antes do Natal) são os períodos ideais para abrir mão de alguma dependência. Isto nos ajuda, porque é uma forma de autodisciplina que enriquece e fortifica o espírito. Faça a experiência. Aproveite a Quaresma para deixar de fumar, de beber cerveja ou de comer chocolate e transforme esta economia financeira e de energia em alguma espécie de serviço voluntário. Você vai entender o que eu estou querendo dizer.

(Parte deste artigo eu publiquei originalmente no Anuário Evangélico de 2006)

Estudo alerta para risco de extinção em massa pela humanidade

Cada vez mais raro na natureza, o tigre indiano está na lista dos animais em sério risco de desaparecer da face da Terra.

Segundo um extenso estudo sobre espécies ameaçadas de extinção, divulgado no início de março pela revista Nature, a espécie humana pode estar causando a sexta onda de extinções em massa na Terra. As outras cinco extinções em massa no planeta ocorreram ao longo dos últimos 540 milhões de anos e foram todas causadas por fenômenos naturais. Evidências coletadas em fósseis sugerem que, nessas cinco grandes extinções, 75% de todas as espécies animais simplesmente desapareceram.

Milhares de espécies estão desaparecendo para sempre da face da terra neste exato momento, tudo por causa da ação humana. Entre os principais motivos estão a redução dos habitats, a caça e pesca indiscriminadas, a disseminação de germes e vírus, a introdução de espécies exóticas em habitats sem predadores naturais para as mesmas e as mudanças climáticas provocadas pela emissão de gases causadores do efeito estufa.

Paleobiólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley/EUA, estudaram a atual situação da biodiversidade utilizando como parâmetro as espécies de mamíferos. Até a grande expansão da humanidade, há cerca de 500 anos, a extinção de mamíferos era muito rara. Em média, apenas duas espécies pereciam a cada milhão de anos. Nos últimos cinco séculos, no entanto, pelo menos 80 das 5.570 espécies conhecidas de mamíferos foram extintas, um claro sinal de alarme para os riscos à biodiversidade.

“Parece que os níveis modernos de extinção se assemelham ao patamar registrado pelas extinções em massa, mesmo depois do nível mínimo para definir uma extinção em massa ter sido ampliado”, diz o autor da pesquisa, Anthony Barnosky. Este cenário torna-se ainda mais assustador com a quantidade de mamíferos incluídos nas categorias “risco crítico” e “ameaça” da lista vermelha da biodiversidade, atualizada pela União Internacional pela Preservação da Natureza.

Na hipótese de todas essas espécies terminarem extintas sem que a redução da biodiversidade seja combatida, “a sexta extinção em massa pode chegar dentro de pouco tempo, dentro de três até 22 séculos”, afirma Barnosky. Nesse ritmo, em relação às outras, esta seria a mais rápida extinção em massa já documentada.

Quatro dessas ondas de extinção ocorreram num lapso estimado de centenas de milhares e até milhões de anos, e foram causadas principalmente por aquecimento ou resfriamento global natural. A extinção mais abrupta já estudada pela ciência aconteceu no fim do período Cretáceo, há cerca de 65 milhões de anos, quando um cometa ou asteróide caiu sobre a península de Yucatán, no atual México, provocando tempestades de fogo cujas cinzas resfriaram o planeta. Os cientistas estimam que este evento tenha sido responsável pela extinção de 76% das espécies que habitavam a terra, incluindo os dinossauros.

Os próprios pesquisadores indicam que suas estimativas são conservadoras e alertam que uma extinção em grande escala teria um impacto inimaginável sobre a vida humana.
“A recuperação da biodiversidade (após uma extinção em massa) não ocorrerá dentro de um período de tempo familiar às pessoas”, afirma o estudo.

terça-feira, 8 de março de 2011

Academia de falsos doutores

Karl-Theodor zu Guttenberg perdeu o título de doutor e o cargo de ministro da defesa da Alemanha.

Eu sempre imaginei que a fraude científica fosse uma praga que se dá muito bem nas universidades brasileiras. Afinal, a nossa orgulhosa academia se move num planeta à parte, que é o Brasil. Neste mundo em particular, as falsidades mais óbvias são movidas pelas teclas control+C e control+V, que são o meio mais rápido, barato e fácil de construir trabalhos de conclusão de curso, dissertações de pós-graduação e até partes substanciais de teses de doutorado.

Num caso recente na USP, por exemplo, um conceituado professor foi sumariamente demitido do corpo docente da universidade simplesmente porque o seu doutorado, tão apreciado no mundo científico, havia sido construído sobre a movediça areia do plágio de textos de autoria alheia.

Também sempre imaginei que o nosso meio acadêmico fosse um dos poucos terrenos férteis em que proliferam ghostwriters de trabalhos acadêmicos. Eles são discretos. Mas todo quadro de avisos de universidade tem os famosos papéis A4, impressos em impressoras jato de tinta, oferecendo o eficiente serviço: “Faço trabalhos de pós-graduação”. Os mais discretos oferecem-se para digitar o trabalho. Os mais ousados, entretanto, dizem na caradura o que realmente está em jogo: montam todo o trabalho, desde a pesquisa até a redação. Alguns já têm até trabalhos prontinhos para vender a um precinho módico aos incautos estudantes que passaram o seu período de pesquisa na cervejaria da esquina e estouraram todos os prazos que tinham para montar o trabalho.

Este é certamente um dos mais lucrativos negócios dentro das nossas universidades, mesmo porque os mestres estão cada vez menos valorizados, com os seus salários beirando os rendimentos do serviço braçal. Dar aulas, ainda mais a alunos com um reduzindo índice de interesse, além de ser desgastante, não é um bom negócio. É melhor escrever trabalhos para os outros. Isso sim, é um serviço especializado e muito bem pago, num mercado carente de gente com conhecimento suficiente para isso.

O mundo acadêmico brasileiro, com honrosas exceções, é uma grande mentira intelectual. De um lado, muitos professores fingem que ensinam (até porque já fingiram sua própria graduação, construída de forma duvidosa e pouco honesta); do outro, muitos estudantes fingem que estudam, que frequentam as aulas e os seminários e que escrevem seus TCCs.

Como eu dizia no início, eu sempre imaginei que isso só podia acontecer no Brasil. Afinal, somos bem afeitos à corrupção e ao jeitinho, segundo se diz. Mas as notícias que vêm da Alemanha mostram que, pelo jeito, esta é uma praga mundial. Ninguém menos do que o ministro da defesa alemão Karl-Theodor zu Guttenberg (ofensa suprema, este sobrenome!), é o pivô do maior escândalo de plágio universitário de todos os tempos na Europa. A sua tese de doutorado foi conceituada com a letra “A” pela universidade de Bayreuth, até aqui vista como uma instituição onde só estudam juristas de primeira linha.

A descoberta do plágio em Bayreuth custou a Guttenberg o título de doutor e o cargo de ministro da defesa. Para a orgulhosa academia europeia, o escândalo Guttenberg arranhou uma imagem de séculos de rigor acadêmico, agora envolta num manto negro de suspeitas de fraudes. A semanal Der Spiegel foi atrás dos ghostwriters nas universidades alemãs e desvendou um universo hermético de engodos e mentiras dentro do mais tradicional mundo acadêmico europeu (http://www.spiegel.de/unispiegel/jobundberuf/0,1518,747608,00.html).

Não que essa descoberta minimize a falsidade em terras tupiniquins, aliviando o já reduzido peso em nossas fracas consciências. Antes, ela deixa claro que o nosso mundo acadêmico e científico pode, na verdade, ser um gigantesco castelo de areia de proporções planetárias. Neste cenário, um diploma na parede pode não ter significado algum. Pois ele pode ser uma deslavada mentira.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lustrando a biografia em tempo


Beyoncé anunciou ter doado ao Haiti o dinheiro que recebeu por uma apresentação em uma festa de ano novo dos filhos de Kadafi, em 2009. O show foi na ilha caribenha de São Bartolomeu. Ela recebeu um milhão de dólares para cantar para Mutassin Kadafi e seus convidados. Segundo a porta-voz da cantora, Yvette Noel-Schure, toda a quantia, incluindo comissões destinadas à sua agência, foram doadas há um ano para as vítimas do terremoto no Haiti. “Assim que tivemos notícia que o evento estava relacionado à família Kadafi, tomamos a decisão de destinar esse dinheiro a uma boa causa”, afirmou a assessora.

Beyoncé não é a única estrela pop a doar o dinheiro de suas apresentações para a caridade. A cantora canadense Nelly Furtado também fez show para os Kadafi e jogou no Twitter, em 28 de fevereiro: “Em 2007, recebi um milhão de dólares por uma performance de 45 minutos. Eu vou doar esse dinheiro”, postou.

Outros artistas famosos também já figuraram na lista de pagamento da família Kadafi. Segundo a revista Rolling Stone, no Réveillon de 2008, também em São Bartolomeu, Mutassin Kadafi pagou a mesma quantia para Mariah Carey cantar quatro músicas. Em 2006, Lionel Ritchie se apresentou na Líbia em comemoração ao aniversário de 20 anos do ataque aéreo norte-americano ao país. Um ano antes, o rapper 50 Cent fez uma apresentação exclusiva para a caravana de Mutassin durante o Festival de Cinema de Veneza.

A mesma controvérsia já foi abordada nos anos 1980, quando foi revelado que diversos artistas, como Rod Stewart e os grupos britânicos Queen e Status Quo se apresentaram em um resort sul-africano – em pleno regime do apartheid. Após a polêmica, os três afirmaram ter doado o dinheiro. (Com informações de http://operamundi.uol.com.br)

O mago da não-violência ativa


Toda essa “ola” de protestos que varre o Oriente Médio, na busca pelo fim da tirania de alguns dos mais emblemáticos ditadores da atualidade, traz de volta ao cenário dos debates políticos a velha idéia do uso dos métodos da não-violência ativa como forma de combater a opressão. A maioria das pessoas ao falar em não-violência logo lembra de Mahatma Gandhi e Martin Luther King. As pessoas envolvidas com lutas populares também vão lembrar de Henry David Thoreau, ideólogo da desobediência civil. Aqui no Brasil a gente logo lembra de Chico Mendes. São verdadeiros ícones desta luta, que protesta e procura concretizar suas conquistas sem apelar para a violência, apesar de fazer amplo uso de protestos e ações coletivas.

A “ola” popular do norte da África, onde manifestantes já derrubaram as ditaduras de Zine Ben Ali e Hosni Mubarak, seguiram os ensinamentos do ativista e cientista político americano Gene Sharp (na foto acima). Ele escreveu um livrinho de apenas 93 páginas com o título “Da Ditadura à Democracia – um guia conceitual para a libertação”, que vem influenciando movimento de libertação ao redor do planeta. Por exemplo, foi o livro de cabeceira dos dissidentes na Bósnia, na Estônia, no Zimbábue, e agora na Tunísia e no Egito. Segundo Dália Ziada, blogueiro egípcio e ativista pró-democracia, as ideias de Sharp sobre atacar as fraquezas dos ditadores se tornou popular no movimento que derrubou Mubarak.

O livrinho, infelizmente, ainda não foi traduzido para o português. Talvez seja um bom sintoma da pouca importância que se dá na sociedade brazuca ao tema justiça e não-violência. Com exceção dos movimentos populares, este não é um assunto corriqueiro nem curricular na educação brasileira, trazendo como resultado direto a nossa falta de formação para a cidadania. Mas você poderá ler este manual de luta popular em espanhol, baixando-o no seguinte endereço: http://www.aeinstein.org/organizations/org/DelaDict-1.pdf.

Sharp inspirou seu trabalho nos ensinamentos de Gandhi. Seus textos falam de desobediência civil, boicotes econômicos e luta por direitos civis. De acordo com ele, a não-violência é a melhor arma contra uma ditadura. “Se você luta com violência, está lutando com a melhor arma do seu inimigo”, diz. “Será um herói corajoso e morto”.

Na visão de Sharp, até as ditaduras são vulneráveis à oposição não violenta das massas. Segundo ele, no Oriente Médio o gênio saiu da garrafa: as pessoas são capazes de alcançar a própria liberdade em circunstâncias difíceis, e depois não há como colocar o segredo de volta na garrafa.

Agora no caso da Líbia, em que a Europa e os EUA já começam a mobilizar tropas para fazer seu tradicional apelo às armas e a violência, Sharp é taxativo: “eles devem ficar de fora. Possivelmente eles não vão entender o que está acontecendo lá. E as declarações de Washington demonstram que ninguém no governo compreende de que tipo de luta se trata. E não importa o que digam, o que quer que decidam fazer: será no próprio interesse europeu ou norte-americano, e não no interesse da população da Tunísia ou da Líbia”.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Traço irônico e certeiro


Um blog que merece sua visita diária – porque faz refletir de forma crítica –, é o do cartunista católico espanhol Jose Luis Cortés (http://blogs.periodistadigital.com/hermano-cortes.php/). Às vezes de forma reflexiva, outras de maneira contundente, e diversas vezes de forma ácida e irônica, ele coloca o dedo nas contradições existentes entre o evangelho e a ortodoxia da igreja. A tradição atropela o evangelho, mutila a fé genuína e reduz o evangelho a uma sequência infindável de regras e dogmas.

As contradições que ele flagra no arcabouço dogmático cristão chegam a chacoalhar a gente e fazer pensar que, infelizmente, é a própria igreja a maior culpada por hoje ser tão amplamente ridicularizada e vista como ultrapassada. Visite e reflita. Vale a pena.

A charge acima é só um dos muitos exemplos de como o “Hermano Cortés”, com seu traço preciso e seu texto contundente, lança um novo olhar sobre a nossa pequena fé, quase sempre engessada pela tradição e por preceitos pseudo-morais que pouco ajudam no testemunho profético da igreja.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...