terça-feira, 30 de março de 2010

Enquanto Roma encobria os pedófilos...


“Papa convoca bispos da Irlanda para discutir escândalos de pedofilia”; “Papa diz a bispos irlandeses que pedofilia é crime hediondo”; “Vaticano cria ‘muro de silêncio’ sobre abusos, diz ministra alemã”; “Igreja holandesa anuncia investigação sobre abusos contra menores”; “Arquidiocese nega que papa tenha ajudado padre acusado de pedofilia”; “Vaticano critica ‘tentativas agressivas’ de envolver papa em escândalo”; “Líder católico da Irlanda pede perdão por proteger padre pedófilo”; “Papa pede desculpas às vítimas de padres irlandeses pedófilos”; “Vaticano ignorou caso de padre que molestou mais de 200”…

Eis uma pequena amostra de manchetes sobre pedofilia clerical de 15.2 a 25.3.2010, data em que outra bradava: “Escândalos podem forçar papa a abrir arquivos secretos, diz vaticanista”. É esperar para ver o balancê da nau de São Pedro no mangue em que se encontra a credibilidade moral do Vaticano. Um chamado à responsabilidade não absolverá o papa Bento XVI, que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) – antigo Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, que zela “pela ortodoxia da Igreja Católica e pelas questões disciplinares” – de 1981 até 2005, quando foi eleito papa.

Até aqui o texto extraído do site de Luiz Carlos Azenha (viomundo.com.br), escrito por Fátim Oliveira. O inferno em que se meteu o Vaticano tem nome: dissimulação. Enquanto escondia cada caso de abuso sexual com um profissionalismo digno da Interpol, o Santo Ofício se esmerava em calar a voz dos profetas.

Não dá para não lembrar o “silêncio obsequioso” a que Leonardo Boff foi condenado, no mesmo período em que Ratzinger protegia os abusadores de criancinhas. Não dá para não lembrar cada meticuloso lance do jogo de xadrez, que foi derrubando, um a um, com a paciência típica deste jogo, os peões das Comunidades Eclesiais de Base-CEBs. Não dá para não lembrar as centenas de viagens do papa João Paulo II para desconstruir, obstinadamente, cada trincheira erguida pelos teólogos da libertação. Não dá para não lembrar o empenho de Ratzinger – o mesmo que agora se traveste de ancião cansado e pronto a ir-se do infeliz trono em que ambiciosamente ousou sentar – para calar a voz de Jon Sobrino, Hans Küng, Clodovis Boff e tantos, tantos outros...

Não dá para não recordar a estratégia sórdida do Vaticano, com o testa-de-ferro Ratzinger bem à frente, subdividindo, desmantelando e esfacelando a arquidiocese de Olinda e Recife para calar Dom Élder Câmara, a arquidiocese de São Paulo para enfraquecer Dom Paulo Evaristo Arns. Quantas pedras Roma colocou no caminho de Dom Pedro Casaldáliga? Quantas ajudaram a pavimentar o caminho do assassino de Dom Oscar Romero?

Quatrocentas mil eram as Comunidades Eclesiais de Base no Brasil quando Ratzinger/Wojtyla assumiram o Trono de Pedro. Sobraram uns dez por cento...

Muitos mais eram os cléricos envolvidos em escândalos sexuais e financeiros. Eles continuam firmes em seus postos. Nenhum rigor para eles. Nenhum Santo Ofício para suas mãos invasivas... Só foram punidos aqueles que caíram de maduro, nas garras da justiça comum...

Ainda mais eram as crianças, os rapazes e as mulheres abusados pelos cléricos. A sua dor, o seu trauma e o seu medo nem a patética declaração de Ratzinger sobre pedofilia como crime hediondo dá um alívio...


Santo Deus... Que saudades do vigor daquela igreja dos santos que Roma escorraçou...

Mesa farta até na Santa Ceia


Duas versões da Santa Ceia com o tradicional pão e o vinho

O mesmo quadro com uma mesa farta

Uma ousada montagem do cenário da Santa Ceia com os personagens do seriado Lost: abundância sobre a mesa.

Em nossa sociedade, tão afundada no consumismo desenfreado e sem controle, perdeu-se completamente a capacidade de moderação. Tudo é exagerado. Ostentação, poder aquisitivo, excesso, exibição é o que importa. Não queremos abrir mão de nada, nem quando se deveria ser contido, resguardado, comedido, recatado.

E já que estamos na Semana Santa - um tempo tradicionalmente reservado ao jejum! -, nada melhor do que falar da Última Seia. Lembrada na Quinta-Feira Santa, nela Jesus reuniu os seus discípulos em torno de uma mesa, na noite antes de sua crucificação, para repartir com eles o pão e o vinho. A famosa noite deu origem ao sacramento da Eucaristia, que marca a tradição de toda a cristandade, em todas as confissões. A Eucaristia lembra o sacrifício de Jesus Cristo pela humanidade. O pão é o seu corpo e o vinho é o seu sangue. Em torno deste jantar repleto de simbologia gira o cerne da fé cristã.

Pois, uma nota na IstoÉ desta semana divulga a pesquisa de cientistas americanos em torno do famoso quadro "A Última Seia", pintado por Leonardo da Vinci, que gerou inúmeras reproduções. A conclusão dos pesquisadores é impressionante. Segundo eles, ao longo dos séculos - especialmente nos últimos anos - a mesa vai se tornando mais e mais farta. A proporção dos alimentos aumentou nos quadros pintados ao longo dos últimos anos. O prato principal cresceu 69% e o pão cresceu 66% sobre a mesa do Senhor.

Não se trata de uma simples multiplicação, como se poderia supor. Transparece claramente neste fato a incapacidade humana de lidar com o pouco, o racionado, o limitado. Não se admite que Jesus, ao repartir o mínimo com os seus discípulos - e por intermédio deles com toda a humanidade - estava justamente dando o essencial, ou seja, a salvação em sua própria morte e ressurreição.

Parece que, para a humanidade consumista que viemos a ser, isto é muito pouco. Não bastam o pão e o vinho. Afinal, um jantar que seja digno deste nome tem que ser farto. E a mesa farta sempre foi símbolo de prosperidade e abundância.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O toldo dos poderosos e a devoção do povo


Encontrei esta imagem impressionante no blog da jornalista Elaine Tavares (http://eteia.blogspot.com/). Junto dessa foto, que foi tirada por ela mesma, um texto ("Pois eu fui à procissão") que é uma maravilhosa pregação para a semana santa, no qual a jornalista descreve de forma magnífica, com uma fina ironia e profundidade ímpar, a cena da turminha do poder debaixo do toldo quaresmal e Aquele que o povo realmente enxerga. Dois bêbados deitados no chão completam o caráter de homilia do texto, ao apontar para o Cristo como o alvo de devoção do povo, não os poderosos. Vale a pena dar uma olhada lá.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Para ver e entrar no ritmo



Sonho com um mundo assim também, Marcelo. Todos no mesmo ritmo, sem ninguém para atravessar o samba, quebrar o ritmo, querer ser mais do que o outro. Um mundo que pulsa num único ritmo, numa batucada comum, gigantesca e transformadora. Todos juntos, num só coração, irmanados e solidários de norte a sul, de leste a oeste.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Os dissimulados abusam da graça de Deus


Há quase 500 anos, um corajoso monge alemão escancarava a falibilidade da Igreja. A arrogância papal de então não aceitou a pecha e, em vez de ouvir um líder de um grupo que só queria uma Igreja mais condizente com sua pregação, preferiu persegui-lo e excomungá-lo, tudo para manter o status quo.

Não posso deixar de lembrar de Lutero nesta história toda do envolvimento da Igreja Católica com os escândalos sexuais de seus sacerdotes. Não, não me entendam mal. Não estou dizendo que os luteranos são melhores que os católicos, nem que Lutero fez o certo ao liderar um movimento que resultou numa separação de Roma.

Ao contrário, como luterano, defensor apaixonado do movimento ecumênico, eu admiro e respeito a Igreja Católica porque há muita gente boa nela, muitos que vestem a camisa de Cristo com uma paixão impressionante. Ou Lutero não era um bom católico? Defendo também que a nossa divisão é o maior dos escândalos. Coloca sob grave suspeita tudo o que pregamos. Uma Igreja forte para mudar o mundo tem que ser unida. Com todas essas divisões, o nosso testemunho é pífio, hipócrita e soa falso.

Os escândalos sexuais são só mais um grave sinal de mundanidade da igreja, não só da igreja católica. Há tarados, pedófilos, maníacos em todas as confissões. Gente que bate no peito para falar de Cristo e, entre quatro paredes, não tem escrúpulos em divertir-se com brinquedos sexuais ou filmes pornô, até aproveitando congressos cristãos longe de casa para fazer uma visita a endereços que prestam esse tipo de serviço.

O mais lamentável, entretanto, é o recorrente costume de esconder, disfarçar, tapar o sol com a peneira, fazer de conta que isso não existe, ignorar solenemente e, até, partir para o ataque quando não há mais argumentos de defesa. Volta e meia se comenta algo não tão decente dentro da igreja ou que derrapa no perigoso pântano que tanto gostamos de apontar no mundo, logo seguido da recomendação: "Mas não comente isso com ninguém!".

O pior de tudo é quando se usa a máscara da falsa moral, daquela que aponta o erro do outro com o próprio dedo lambusado.

Aliás, somos mestres nisso. Estamos adorando esse maldito julgamento dos Nardoni, porque ele é um espetáculo jurídico-circense que busca o mal extra nos. Com isso, nos tornamos bem melhores do que os outros. Nos sentimos pessoas justas, honestas, incapazes de um ato assim. Imagina! Somos até melhores do que os líderes dessa igreja, que está cheia de pedófilos, não é verdade?

Então, ironias à parte, somos todos miseravelmente mentirosos, desonestos, dissimulados, bons em acusar o outro e péssimos em reconhecer e confessar as próprias derrapadas. Passamos uma vida inteira construindo a própria reputação jogando lama nos outros. Mas a verdade, mesmo, aquela que não pode ser ocultada por ninguém, é somente uma: "Eu não passo de um miserável e fedorento saco de vermes!" Lembram de quem é esta frase? Pois é! Dele mesmo: Martim Lutero.

Junto com ele, eu só posso dizer: que Deus tenha misericórdia de nós e nos acolha em sua benevolente graça. Porque não nos resta, definitivamente, outra esperança. Aos pés do Cristo Ressurreto, nossa maldita dissimulação se torna tão transparente quanto o cristal, tão visível quanto uma montanha e tão vergonhosamente exposta quanto a nudez.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Vinte e cinco anos transformam a gente


Em 1989, quando eu assumi a Coordenadoria Regional da Juventude na RE II. Na foto colorida, durante uma palestra em 2008, na assembeia sinodal do Sínodo Norte Catarinense.

Ao longo dos últimos 25 anos, tenho percorrido muitos caminhos. Um deles, porém, tem se cristalizado de forma perene: O Caminho. Para quem não sabe, trata-se do jornal O Caminho (http://www.jornalocaminho.com.br/), o periódico surgido na antiga 2ª Região Eclesiástica da IECLB e que hoje é o informativo dos sínodos Vale do Itajaí e Norte Catarinense dessa. que é a maior igreja luterana da América Latina.

Ao longo de 25 anos, O Caminho divulgou quase cinco mil páginas de notícias, reflexões e artigos de anúncio, denúncia e proclamação do Evangelho daquele que é "o caminho, a verdade e a vida". Circula mensalmente, com tiragem média de 25 mil exemplares, e a missão de ser um informativo que adotou como slogan ser "um pedaço do mundo luterano em suas mãos".

E eu estou nesta empreitada desde a primeira hora, na primeira reunião de pauta para compor o novo jornal, em fevereiro de 1985. Entrei neste barco de forma despretensiosa, como um obreiro jovem e que tinha sobre seus ombros parte de uma das maiores paróquias luteranas do Vale do Itajaí à época (Timbó), e ainda puxava junto um animado trabalho entre os jovens luteranos do vale e da RE II.

Para quem entrou mais para somar, sem dar atenção especial aos ferrenhos debates em torno do rescaldo da decisão unilateral da RE II em criar um jornal só seu à época, esta decisão acabou transformando radicalmente a minha vida. De um simples integrante do conselho de redação em 1985, fui paulatinamente assumindo mais e mais tarefas. (continua no próximo post)

Rubens Zischler, o primeiro com o violão em Acampamento da Juventude,no Asilo Recanto do Sossego, e Irene Zwetsch, na Assembleia da Federação Luterana Mundial, em Curitiba, no ano de 1989. Hoje os dois são casados e moram na Suíça.

A primeira delas veio em 1992. Durante os três anos anteriores, como um dos coordenadores regionais de Juventude, nos havíamos empolgado com a ideia de fazer um jornal para a juventude da IECLB. Surgia assim o "Firmando Pé", que era produzido pela jornalista Irene Zwetsch, pelo estudante de computação Rubens Zischler e por mim.

Esses dois jovens mudaram a minha vida, porque eu gostava de escrever e também tinha uma veia para a arte da diagramação. O Rubens ensinou-me a diagramar no computador, no programa Ventura, que ainda rodava no DOS. Daí para a diagramação do jornal O Caminho e para uma vida inteiramente voltada para a comunicação foi um passo só. Junto com o Rubens e a Irene veio a Mythos Comunicação. Mas essa é outra história... (continua no próximo post)
Capa da edição de abril, mostrando o novo projeto gráfico do Caminho.

Por ora, me atenho ao Caminho. Talvez o processo mais desafiador desta experiência no jornal foi a impressionante transformação tecnológica pela qual passou a formatação de jornais nesses últimos quinze anos. E a gente tendo que acompanhar isso tudo... Foi uma gigantesca caminhada de readaptações, de novas aprendizagens e de mundos desconhecidos a serem desbravados, desde o velho Past-Up ao processo inteiramente digitalizado. E tudo isso está longe de se estabilizar, porque a tecnologia nos obriga a novas adaptações cada vez mais velozes e avassaladoras.

O resultado de tudo isso, entretanto, é gratificante. Cada nova edição do jornal, pronta e diagramada, com cada uma de suas palavras colocadas no seu devido lugar com amor, arte e profissionalismo crescente, é para mim motivo de orgulho e de gratidão. Agora, em que O Caminho chega aos 25 anos com uma maturidade editorial e visual digna dos grandes jornais, e demonstra também um bom nível de linguagem comunicacional séria e confiável, não posso deixar de expressar minha satisfação por ser uma parte importante desta caminhada. (continua no próximo post)
O pastor Gierus e sua esposa Helga

Em meio a tudo isso, veio também a tarefa de ser o diretor de redação. Com a aposentadoria do pastor Friedrich Gierus, que foi a grande força motriz que alavancou O Caminho rumo ao grande jornal que ele é hoje, esta parte também cabe a mim. Esta é uma tarefa de grande responsabilidade. Em primeiro lugar porque, para substituir o pastor Gierus, não é fácil. Quem o conhece, sabe bem. Quando todos já estão com a língua de fora, ele liga o turbo e redobra as forças... Um ritmo quase alucinante, de tirar o fôlego. Em segundo lugar, porque é uma tarefa de liderança, num jornal feito historicamente em mutirão. E em terceiro lugar, porque é um papel que exige muito cuidado, muito tato e serenidade, pois é preciso manter um bom nível comunicacional e coerência com a proposta do jornal.

Enfim, 25 anos nesta batalha e muitas lições aprendidas. Algumas delas literalmente mudaram a minha vida. Peço a Deus todos os dias para que eu possa cumprir com dignidade esta grandiosa missão. Todo mundo comete erros e eu certamente falho todos os dias. Mas prefiro fazer as coisas errando do que deixar de fazê-las por medo de cometer erros.

quinta-feira, 18 de março de 2010

As masmorras capixabas


No dia 17 de novembro, publiquei aqui esta foto e um texto sobre o descaso das cadeias no Espírito Santo, comparando-as aos navios negreiros, pela quantidade de gente enfiada dentro delas. Hoje eu dou uma passada no blog do Erik Schunk (http://erikschunk.blogspot.com/) e leio o seu post sobre as cadeias do Espírito Santo. O caso, que em termos de crueldade ele compara à fervura de presos no Uzbequistão, foi relatado em Genebra na última segunda-feira 15 de março, num painel paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Trata-se de um dossiê sobre a situação prisional do Espírito Santo, de 30 páginas sobre o que ficou definido como as "masmorras capixabas". O relatório, que contém oito fotos estarrecedoras de corpos de presos esquartejados, atirados em meio ao lixo, teve que ser enviado à ONU porque as organizações de direitos humanos não conseguiram providências do governo capixada em relação às denúncias.

Segundo o blog de Schunk, "o Espírito Santo tem 7.000 presos espalhados em 26 cadeias, com uma superlotação de 1.800 pessoas. Há detentos guardados em contêineres sem banheiro (equipamento apelidado de micro-ondas). Celas projetadas para 36 presos são ocupadas por 235 desgraçados. Alguns deles ficam algemados pelos pés em salas e corredores."

Se você tiver bastante sangue frio e estômago resistente, poderá ler o relatório na íntegra, e ver as fotografias. Mas, antes de clicar no endereço, não diga que eu não avisei. As imagens são repugnantes. Revoltam profundamente e mexem com a minha dignidade humana. Isso é caso de intervenção direta da ONU no Espírito Santo e em qualquer lugar do mundo em que aconteça apenas uma fração disso. Dizer que vivemos num país em plena democracia, com uma constituição em vigor e judiciário com todos os poderes em funcionamento; um país que almeja uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU... Causa repulsa... O relatório está publicado no site do Estadão, no endereço http://www.estadao.com.br/especiais/2009/11/crimesnobrasil_if_es.pdf.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Quando o assunto é cota, vamos à guerra


A Deutsche Telekom, gigante alemã das telecomunicações, vai introduzir uma cota de 30% dos postos entre seus executivos para mulheres até o final de 2015. Será a primeira empresa entre as 30 maiores companhias abertas da Alemanha. Esforços anteriores nesse sentido eram bem-intencionados, mas não muito bem-sucedidos. Dos 130 mil funcionários da empresa na Alemanha, apenas 32% são mulheres, e somente 13% dos postos administrativos de médio e alto escalão são ocupados por elas.

Não se trata de contratar mulheres apenas por contratar mulheres, mas conseguir uma estrutura de competição e de procura de talentos, num país em que cresce o número de mulheres diplomadas nas universidades, atualmente 60% do total de formandos. Segundo os especialistas, quem não está contratando mulheres hoje em dia, na verdade está focando apenas na metade dos talentos disponíveis no mercado.

A iniciativa da Deutsche Telekom acendeu um debate na Europa sobre o melhor caminho para elevar o número de mulheres em postos executivos nas empresas. “Como economista, sou a favor da autorregulação e da criação de incentivos voluntários para que as companhias contratem mulheres”, disse Elke Holst, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. “Mas pessoalmente sinto que muito pouco aconteceu e que uma ação mais forte, como a legislação, pode ser necessária.” Segundo o Instituto, as mulheres atualmente ocupam apenas 2,5% dos conselhos diretivos das 200 maiores empresas alemãs e 10% dos conselhos de supervisão.

A Alemanha está seguindo o exemplo da Noruega, que introduziu a lei de cotas que obriga as empresas a terem 40% de mulheres em cargos de chefia, estabelecendo penalidades às empresas que não atingem esta cota. Também já adotaram legislação de cotas a Finlândia, a Suécia e a França.

A tendência até agora na Europa tem sido de insentivar iniciativas voluntárias de levar mais mulheres aos cargos de chefia. Entretanto, ninguém cobra das empresas que não cumpriram as metas que elas mesmas colocaram. Para a associação Mulheres em Conselhos de Supervisão, leis que obriguem as empresas a respeitar cotas são necessárias. Nem todas as mulheres concordam. Para algumas, as cotas podem garantir a igualdade, mas não necessariamente o mérito.

Aqui no Brasil, quando se fala de cotas, toca-se num assunto tabu. No caso das cotas para negros nas universidades, então, o chão chega a tremer. Pessoalmente, considero que os argumentos válidos para debater uma legislação de cotas para toda a Europa sobre a presença do talento feminino nas empresas encaixam-se com precisão no debate sobre cotas nas universidades brasileiras. O argumento mais usado para combater as cotas - além de afirmar que a cota é uma forma de racismo invertido (!), o que é um golpe abaixo da linha de cintura - é o da igualdade para entrar na universidade, quando é sabido e notório que não há igualdade alguma. E isso, historicamente...

Infelizmente, nos falta sobriedade e maturidade intelectual para debater o assunto num nível civilizado. O tema certamente é polêmico. A diferença de posições, entretanto, apenas deveria ajudar a aprofundar e amadurecer o debate e a reflexão.

Mas, quando o assunto é defender a própria opinião, nos comportamos como se estivéssemos numa guerra. Cada um fica na sua trincheira e vai atirando a esmo. O que importa é atingir o outro. De preferência, para matar. Muito pouco se considera a possibilidade de um debate real. Ouvir não faz parte. Ceder, nem pensar! Nem um único milímetro... Para a maioria dos brasileiros, é muito mais uma questão de torcida, de lado... Temos muito a aprender ainda.

sábado, 6 de março de 2010

Parabéns pelo dia da mulher!


Margot Kässmann acompanhada das quatro filhas


Nesta antevéspera do dia da mulher, eu volto mais uma vez aos recentes acontecimentos com Margot Kässmann. A primeira mulher a presidir o conselho da igreja protestante da Alemanha continua sendo um maravilhoso exemplo do que as mulheres são capazes de realizar. Não me refiro à sua brilhante passagem pelo bispado de Hannover e à quase unanimidade que amealhou na Alemanha como uma mulher de fibra, que tem convicção e coragem para carregar o mundo nas costas sozinha, para dizer o que deve ser dito e para buscar a coerência absoluta entre a prática e o discurso.

Refiro-me à sua determinação de ir até o fim. Ela foi literalmente soterrada por uma avalanche nas últimas semanas. E ela aguentou firme, sem titubear. Foi até o fim com o que deveria ter sido feito. Exatamente do jeito que as mulheres, mesmo as mais anônimas, sempre procederam. Se o leite está derramado, importa limpar tudo. O que não pode é deixar rastro, arestas, pontinhas em que se possa pendurar o que quer que seja. Com o coração sangrando, as mulheres são capazes das atitudes mais impressionantes.

Assim como as duas Marias no domingo de Páscoa. De que adiantaria fazer o mesmo que os homens e trancar-se atrás de portas sem saber o que fazer? Se Jesus estava morto, e sofreu do jeito que sofreu, o que importava era preparar o seu corpo para um descanso eterno digno. Graças a esta determinação, de não deixar para depois, de fazer o que tem que ser feito, as Marias foram as primeiras testemunhas da ressurreição e suas primeiras arautas.

E pensar que depois disso a Igreja fez de tudo para que elas não tivessem direito à palavra. As primeiras testemunhas da ressurreição do Senhor foram caladas durante séculos...

Margot Kässmann poderia ter se calado, depois da avalanche. Mas ela falou o que tinha que ser dito. E espero, sinceramente, que tal qual uma Maria do século 21, ela não cale a sua voz de testemunha tão eloquente, tão eficiente, tão coerente do Evangelho de Cristo. Eu sei que não o fará. Mesmo em alguma paróquia perdida numa vila qualquer do interior da Alemanha, ela continuará fazendo o que deve ser feito. Sem pestanegar. Exatamente do jeito das mulheres.

Inspirado no legado de Margot Kässmann, desejo mil bênçãos a todas as mulheres, neste dia da mulher, 8 de março. Não desistam! Vocês, tenho certeza, irão fazer o que tem que ser feito para que este mundo seja melhor, mais justo, mais íntegro, mais ético e, sobretudo, mais bonito. Mesmo que tentem impedir, vocês não desistirão. E isso é o que todos temos que aprender com vocês...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Negros culpados da escravidão?


Durante a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o sistema de cotas raciais nas universidades, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) afirmou que negros também eram responsáveis pelo tráfico de escravos. “Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da pauta econômica africana”, disse o senador. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

De acordo com a reportagem, Demóstenes ainda defendeu que a miscigenação no Brasil se deu de forma consensual, o que também iria contra as cotas: “nós temos uma história tão bonita de miscigenação. (Fala-se que) as negras foram estupradas (...) Gilberto Freyre, que é hoje renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual”. Ainda segundo o jornal, o DEM considera as cotas inconstitucionais, pois iriam contra o princípio da igualdade dos candidatos no vestibular. (Portal Terra)

Fico muito impressionado com a capacidade de argumentação dessa gente. No ano passado, a revista IstoÉ publicou uma matéria que afirmava com todas as letras que a direita no Brasil estava praticamente extinta e que a possibilidade de voltar a ter força de forma articulada seria quase impossível diante do quadro atual.

Sinceramente, eu não apostaria todas as fichas nisso.

É quase parecido com a história dos primeiros anos do Real no Brasil. Muitos economistas diziam que o monstro da inflação estaria apenas adormecido, dopado, e que poderia acordar a qualquer momento, para agir e causar a costumeira destruição. O monstro da inflação continua dormindo a sono solto...

Mas eu tenho certeza que o monstro do fascismo está apenas cochilando. E vai acordar... E vai fazer novamente os velhos estragos. É só aguardar para ver. E não é só aqui no Brasil que pensamentos como este, do DEMóstenes Torres, começam a voltar à baila como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Um bilhão pelos 100 anos de Tancredo Neves?


O neto do presidente mais amado do Brasil (Tancredo Neves, que nunca governou), está pagando a bagatela de mais de um bilhão de reais para homenagear seu avô, que completaria o centenário exatamente no dia de hoje, se vivo estivesse. Toda esta fábula de dinheiro no que?

Segundo o Estadão, em uma solenidade para três mil convidados, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), inaugura hoje o Centro Administrativo do Estado, suntuosa obra projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na zona norte de Belo Horizonte, ao custo de mais de R$ 1 bilhão.


A chamada Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves é inaugurada hoje, data do centenário do nascimento do avô do governador. "Marcada pela pompa, a cerimônia é uma espécie de grand finale da gestão do tucano, que já anunciou que no fim do mês irá se desincompatibilizar do cargo para disputar as eleições", explica o jornal. Mas ele não vai ser vice de José Serra, conforme já deixou claro. Ele vai lançar-se a senador, deixando o presidenciável tucano uma arara.

O monumental complexo de edifícios abrigará toda a administração direta e indireta do Estado. Numa área de 804 mil metros quadrados, sendo 265 mil metros de área construída, o centro é formado pelo Palácio do Governo – com 146 metros de vão livre, considerado o maior vão suspenso do mundo –, dois edifícios em curva de 15 andares que abrigarão as secretarias, auditório, centro de convivência, praça cívica e lagos.

Ainda segundo o Estadão, obra foi contratada por R$ 949 milhões pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), mas seu custo final, incluindo reajustes e intervenções complementares, como obras complementares no entorno, já passou de R$ 1,2 bilhão em recursos públicos. Além disso, somente com mobiliário e divisórias foram desembolsados R$ 78,6 milhões. Quando da apresentação do projeto, em julho de 2004, o gasto global estava estimado em cerca de R$ 500 milhões. Só dobrou, mas para essa gente isso não tem nada de mais.

Segundo o Estadão, a festa de Aécio lotou os hotéis da cidade e contará também com a presença de artistas ícones do período da redemocratização, como a cantora Fafá de Belém, o músico Milton Nascimento e a atriz Christiane Torloni. Niemeyer, que chegou a visitar as obras, não deverá comparecer. O arquiteto, de 102 anos, gravou uma mensagem que será exibida durante a solenidade.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Muito chiclete na Rua XV



Em Dublin há excesso de chiclete jogado no chão. Para combater o problema, no ano passado, sapatos foram colados ao chão em pontos de grande movimento, com o cartaz “Chiclete, é melhor jogar no lixo”. Eis aí uma belíssima ideia para aplicar em Blumenau, na Rua XV de Novembro, onde o problema é crônico também e já foi denunciado por muita gente. Quem sabe, uma loja de sapatos da famosa rua blumenauense não disponibiliza os sapatos para colar na calçada da Rua XV?

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...