quinta-feira, 16 de abril de 2015

Na contramão energética

O governo brasileiro decidiu seguir rumos opostos aos do resto do mundo no planejamento do futuro energético do país. O ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou, no dia 15 de abril, que está nos planos do ministério a construção de 12 novas usinas nucleares no Brasil até 2050. Enquanto Europa e Japão se distanciam dos altos riscos desse modelo energético, o Brasil parece ser o destino de velhas tecnologias rejeitadas por lá.
Pior é que não aprendem com o que já temos. O Complexo Angra é um terror! Uma verdadeira bomba de efeito retardado. Conhecida como "usina vaga-lume", a usina nuclear de Angra dos Reis (na foto, Angra I) não funciona, vive com problemas e está construída sobre um terreno instável, que compromete a segurança de toda a região onde está construída. Angra ainda vai ser responsável pelas notícias que ninguém quer receber no Brasil, nem no resto do mundo.
Não entendo essa estúpida insistência do governo nesse tipo de fonte energética. A Alemanha tem uma inveja boa do sol que temos por aqui o ano todo. Constrói usinas solares por todo o país e está num acelerado processo de desmonte de suas usinas nucleares, erguendo milhares de geradores de energia eólica por todo o país (inclusive mudando radicalmente a paisagem das extensas planícies do mar do norte). E nós aqui, abençoados por um sol tropical que faria explodir baterias, fazendo uma banana para tanta bênção.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

As veias continuam abertas

Hoje é o dia... Primeiro a notícia da morte de Günter Grass. Agora, o passamento do historiador e escritor uruguaio Eduardo Galeano (aos 74 anos). Ele que foi uma das referências das esquerdas latino-americanas, com sua espetacular obra "As Veias Abertas da América Latina", uma obra história fundamental para entender o passado e o presente de todos os países do Cone Sul.
Todos devíamos ler este livro, uma obra em que a seca história ensinada no ensino fundamental e médio se torna viva, clara como cristal e, acima de tudo, reveladora. Graças à sua pesquisa, ficamos sabendo quanto ouro e quanta prata foram arrancados do nosso solo, quantos indígenas deram o seu sangue no holocausto que foi a conquista espanhola, bem como portuguesa, deste continente.
Também por causa dele é que ficamos sabendo detalhes da aviltante expropriação a que historicamente foi submetida a América Latina. No momento, uma de minhas consultas constantes é um livrinho seu chamado de LIVRO DOS ABRAÇOS. Trata-se de um livro de versos, meditações e histórias instigantes que fazem pensar.
Sugiro ainda digitar o seu nome no YouTube. Há dezenas de depoimentos dele, que arejam nossa mente e nos fazem ver nosso continente com outros olhos, numa visão holística da nossa história. Ele revelou as muitas veias abertas da nossa história, que continuam sangrando. Uma das mais significativas representações desta visão é a mão da qual escorre sangue, símbolo do Memorial da América Latina em São Paulo, criado por Oscar Niemeyer.

A última pele da cebola

O escritor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura com sua magnífica obra "Die Blechtrommel" (O Tambor), morreu hoje de manhã, aos 87 anos de idade.
O polêmico gênio da literatura alemã contemporânea era um homem de corajosa ousadia. Em todas as suas obras ele realizou uma análise monumental da tragédia nazista na segunda guerra mundial, tornando-se seu mais pontiagudo crítico. Era um apaixonado critico dos rumos da sociedade alemã.
Com sua obra "Beim Häuten der Zwiebel" (título de difícil tradução para o português, que foi publicado por aqui como "Nas Peles da Cebola"), entretanto, Grass foi vítima da mesma navalha que usou por toda a vida, sendo impiedosamente criticado e largamente incompreendido.
O áspero crítico do nazismo confessa na obra que foi integrante da Waffen SS e, na adolescência, nutria inocente admiração pelo "Führer". Despelando a cebola da sua vida camada por camada, Grass não se intimidou e escancarou sua biografia, expondo com isso as tremendas incoerências de toda alma humana, como exemplo de si próprio. Com isso, toda a Alemanha, da imprensa à igreja, caíram de pau em cima de sua bem-sucedida biografia literária.
A obra e a vida de Günter Grass, entretanto, permanece sendo inspiração constante para despelarmos as camadas da cebola da humanidade com coragem e muito choro... Porque, bem sabemos, que mexer com a intimidade da cebola da nossa vida provoca lágrimas, muitas lágrimas. Com sua morte, a humanidade inteira perde um dos raros seres humanos até ontem vivos, ainda capazes de enfrentar uma cebola sem máscaras ou pudores. De Grass, vei-se assim a última camada da cebola. Mas a nossa continua por ser enfrentada...

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...