quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pelo fim do regime de Mubarak


Foi só falar. Os protestos no Cairo e em diversas outras cidades egípcias estão incendiando a nação. O regime de Mubarak faz de tudo para sufocar as rebeliões, inclusive sabotar o twitter e prender milhares de opositores. No confronto entre a população e as forças de segurança houve mortos e feridos. A polícia não hesita em abrir fogo contra os demonstrantes. O Egito vive a maior revolta das últimas décadas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cuba no carnaval de Floripa


Uma forte emoção,
No meu coração…
Liberdade!
Eu sou União
A voz de um povo pela igualdade

Sonhos… de um poeta ecoam no ar
Cuba… o desejo de se libertar
Conquistou a independência
Do Tio Sam sofreu influência
Momentos de luta estão na memória
Fidel e Che fizeram história
Me levam na busca por um ideal
Que vai embalar, nosso carnaval!

Guerreiros unidos na Revolução
Pelo bem de uma Nação
Um preço a pagar, não vou negar
Mas a Comunidade em primeiro lugar

Os sonhos se tornam verdade
Trazendo pra muitos a felicidade
Com saúde, educação
A base pra um cidadão
Esporte, cultura, na arte… mistura
Riqueza, o Mundo se encantou
No Cabaré Tropicana,
Carmem Miranda deu um show!
Ilha de pura Magia
Vem sambar…
Verde, Branco e Ouro
Na Avenida vai brilhar.

Compositores: Júlio Maestri e Vinícius da Imperatriz

“Cuba sim! Em nome da verdade” é o surpreendente samba-enredo da Escola de Samba União da Ilha da Magia, de Floripa, para o carnaval deste ano. Pela primeira vez no Brasil uma escola de samba vai tratar do tema Cuba durante o desfile do Carnaval. Antes do Carnaval, é possível assistir a dois ensaios técnicos na Passarela Nego Quirido: 22 de janeiro (sábado) e 19 de fevereiro (sábado) às 20 horas. Haverá também um desfile-ensaio gratuito na Praça XV, no Centro de Florianópolis, no dia 23 de fevereiro.

A escola irá apresentar a Revolução Cubana no samba-enredo e nas fantasias, passando pelas camisetas de propaganda e o discurso em defesa da autodeterminação cubana. Para desenvolver o tema, uma delegação da escola e da Associação Cultural José Martí de Santa Catarina visitaram Cuba em julho do ano passado para conhecer melhor o país e trocar experiências culturais. O grupo conheceu museus, monumentos históricos e casas de shows.

Segundo o presidente da escola, Valmir Braz de Souza, um dos motivos da escolha do tema é a proximidade cultural entre Brasil e Cuba. “A alegria cubana e brasileira são muito parecidas”, disse ele ao jornal Brasil de Fato. A diretoria da escola quer mostrar a realidade do país caribenho para o Brasil.

As 17 alas vão representar diversos momentos do período anterior e posterior à Revolução Cubana, em especial as conquistas e a cultura, como exemplo: Tio Sam; Ditadura comprometida; Paraíso de ricos e milionários; Sofrimento de muitos - o povo; Nacionalização das empresas estrangeiras; Saúde para todos; Reforma agrária; Esporte - conquista de medalhas; A pesca; Indústria farmacêutica e biotecnologia; A Santeria; O carnaval de Cuba; Cabaré tropicana; e Rumba - Música e Dança.

Segundo o diretor de Carnaval, Joel Brigido da Costa Junior, as peças vão emocionar o público, principalmente aqueles que acreditam em um mundo diferente através da transformação social.

Além disso, o desfile irá abrir os olhos de muitos, que continuam sem ver, porque estão dominados pelo velho discurso americano de considerar do mal tudo o que tem qualquer conotação social.

Ao mesmo tempo, defende que está mais do que na hora de levantar o embargo contra a ilha, que já dura quase quatro décadas, ao qual, apesar de tudo, o pequeno país caribenho resistiu com valentia, em muitos casos dando um vigoroso exemplo de melhorias para a população em meio à carestia de tudo. Cuba é exemplo para o mundo inteiro na área da medicina e da educação (não há analfabetos em Cuba, enquanto os índices são alarmantes em todos os outros países latino-americanos, por exemplo).

O desfile alerta para a insanidade americana de manter o embargo contra a Ilha, mesmo duas décadas depois do fim da Guerra Fria e do bloco soviético. É simplesmente ridículo, ultrajante e um crime de lesa-humanidade contra um povo ordeiro e trabalhador, que só quer ter o direito de escolher sua própria maneira de conduzir a sua vida coletiva. A ONU, uma instituição-fantoche dos EUA, não tem força alguma para impor as sanções cabíveis num caso inadmissível como este, de opressão sobre um povo minúsculo e indefeso.

Se não for por nada disso, entretanto, o enredo da escola de Floripa deve ser valorizado pelo aspecto cultural, de mostrar o quanto nossos povos são próximos, não só pela alegria, pela música de origem semelhante e pelo passado comum de escravidão e fundamento sobre a cultura africana. Somos irmãos, latino-americanos, com mais laços a nos unir do que a música e o sentimento fraterno. Parabéns à União da Ilha da Magia pela coragem e lucidez da escolha do seu enredo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Desconecte para conectar



Uma boa mensagem, num mundo cada vez mais interligado pelas modernas tecnologias de comunicação, mas que fabrica pessoas-ilha. Cada um está sozinho diante do teclado, às vezes falando virtualmente com alguém que está ao seu lado. Se desviarmos os olhos por um segundo das ferramentas com as quais tentamos nos comunicar, talvez consigamos comunicação... e de maneira fantástica e direta. (Obrigado ao Odilon por me alertar para a existência deste vídeo espetacular).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Surpresa: a Tunísia era uma ditadura

Ben Ali, presidente da Tunísia, foi derrubado após ocupar o poder por 23 anos.

Reproduzo abaixo um texto do jornalista Igor Fuser sobre o espanto acerca de situações aceitas como “normais”, quando convêm aos interesses das grandes potências. Por exemplo, você sabia que a Tunísia era uma ditadura? E o Egito, outra ditadura que atentam frontalmente contra os direitos humanos, mantendo quase toda a oposição atrás das grades? Por que não se divulga isso? Não chegou ao meu conhecimento, pelo menos. Provavelmente, também não até você. De minha parte, eu confesso que me causava certa estranheza ouvir o nome de Hosni Mubarak – sempre ele, há décadas – como presidente do Egito. Pelo artigo de Fuser, descobri que ele não larga a cadeira desde 1981. Tudo com o tácito apoio dos EUA... (aqui no Brasil, estamos no sexto presidente desde 1985!). Pois é.

Ao texto de Fuser:

Quando eu ingressei como redator na editoria de assuntos internacionais da Folha de S.Paulo, um colega veterano me ensinou como se fazia para definir quais, entre as centenas de notícias que recebíamos diariamente, seriam merecedoras de destaque no jornal do dia seguinte. “É só olhar os telegramas das agências e ver o que elas acham mais importante”, sentenciou. Pragmático, ele adotava esse método como um meio seguro de evitar que o noticiário da Folha destoasse dos jornais concorrentes, os quais, por sua vez, se comportavam do mesmo modo. Na realidade, portanto, quem pautava a cobertura internacional da imprensa brasileira era um restrito grupo de três agência noticiosas – Reuters, Associated Press e United Press International, todas afinadíssimas com as prioridades geopolíticas dos Estados Unidos.

Passadas mais de duas décadas, a cobertura internacional da mídia brasileira ainda se orienta por diretrizes estrangeiras. A única diferença é que agora as agências enfrentam a competição de outros fornecedores de informação, como a CNN e os serviços de empresas como a BBC e o New York Times, oferecidos pela internet. Mas o conteúdo é o mesmo. O resultado é que as informações internacionais que circulam pelo planeta, reproduzidas com mínimas variações em todos os continentes, são quase sempre aquelas que correspondem aos interesses de Washingon. Quem confia nessa agenda está condenado uma visão parcial e distorcida, uma ignorância que só se revela quando ocorrem “surpresas” como a rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia. De repente, o mundo tomou conhecimento de que a Tunísia – um país totalmente integrado à ordem neoliberal e um dos destinos favoritos dos turistas europeus – era governada há 23 anos por um ditador corrupto, odiado pelo seu povo. Como é que ninguém sabia disso?

A mídia silenciou sobre o despotismo na Tunísia porque se tratava de um regime servil aos interesses políticos e econômicos dos EUA. O ditador Ben Ali nunca foi repreendido por violações aos direitos humanos e, mesmo quando ordenou que suas forças repressivas abrissem fogo contra manifestantes desarmados, matando dezenas de jovens, o presidente estadunidense Barack Obama e sua secretária de Estado, Hillary Clinton, permaneceram em silêncio. Não abriram a boca nem mesmo para tentar conter o massacre. Só se manifestaram depois que Ben Ali fugiu do país, como um rato, carregando na bagagem mais de uma tonelada de ouro. O caso da Tunísia não é o único na região. No vizinho Egito, outro regime vassalo dos EUA, Hosni Mubarak governa ditatorialmente desde 1981. Suas prisões estão lotadas de opositores políticos e as eleições ocorrem em meio à fraude e à violência, o que garante ao governo quase todas as cadeiras parlamentares. Mas o que importa, para o “Ocidente”, é o apoio da ditadura egípcia às posições estadunidenses no Oriente Médio, em especial sua conivência com o expansionismo israelense.

Por isso, a ausência de democracia em países como a Tunísia e o Egito nunca recebe a atenção da mídia convencional, ao contrário da condenação sistemática de regimes autoritários não-alinhados com os EUA, como o Irã e o Zimbábue. É sempre assim: dois pesos, duas medidas.
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Igor Fuser, jornalista, doutorando em Ciência Política na USP, professor na Faculdade Cásper Líbero e membro do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu sou a justiça

Bruce Willis é um justiceiro do gênero.

Fazer justiça pelas próprias mãos está virando um procedimento aceito com naturalidade. Segundo Luiz Gonzaga Belluzzo, a origem dessa prática vem dos Estados Unidos, onde os massacres promovidos por uma só pessoa são quase uma rotina. Segundo Belluzzo, “há nos EUA um culto à violência e não é difícil perceber as razões. Suas origens estão na concepção peculiar do povo sobre algumas questões cruciais. A liberdade individual, por exemplo, está acima das conveniências sociais”.

Para Belluzzo, o cinema e a literatura americanos ajudaram a celebrar “a figura do cavaleiro solitário, aquele indivíduo dotado de uma coragem e um senso de justiça extraordinários, destinado a impor a ordem e a moralidade à sociedade corrupta e às instituições ineficazes”. Nos filmes de faroeste, por exemplo, quase sempre “o xerife é covarde, os juízes são corruptos e os bandidos, audazes”. No cinema moderno, este papel foi interpretado com maestria por Bruce Willis na série “Duro de Matar”.

Nessa forma de ver o mundo, o indivíduo é naturalmente bom, capaz de discernir entre o justo e o injusto, o certo e o errado, o bem e o mal, enquanto a sociedade e as instituições são corruptas. Também no Brasil tal visão está se tornando assustadoramente aceita. Um dado, por exemplo, que é largamente desconhecido e ignorado entre nós é que acontecem cerca de 500 linchamentos por ano no Brasil.

Para as pessoas que defendem a tese da soberania do indivíduo sobre o estado, “as instituições da sociedade, sobretudo o Estado, com suas instâncias de controle, suas leis ambíguas e seus métodos de punição insuficientemente rigorosos, vão transformando a Justiça numa farsa, num procedimento burocrático e ineficaz”, analisa Belluzzo. Para essa gente, “a sociedade está suja, contaminada pelo vírus da tolerância. Só o herói solitário pode salvá-la, consultando sua consciência, recuperando, portanto, a força da moral ‘natural’, aquela que Deus infunde no coração de cada homem”. Haveria uma espécie de “lei moral” inscrita na alma humana desde o princípio.

Segundo a premissa dessa gente, “ao vingador tudo é permitido. Até mesmo matar inocentes. Aliás, não há inocentes, porque os complacentes com o Estado corrupto são igualmente corruptos”.

O problema é que esse é o tipo de serpente mais venenoso que exista. Quando a volta se completa, a serpente morde o próprio rabo. Quem faz justiça pelas próprias mãos, pode acabar sendo vítima da teoria que defende. E este é o terreno fértil sobre o qual viceja o fascismo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Abaixo os muros que nos dividem

O muro que isola o território dos EUA do México e da América Latina toda.

O governo grego anunciou que vai construir um muro com cerca de 13 quilômetros de extensão e três metros de altura na fronteira com a Turquia para evitar a entrada de “imigrantes ilegais”. O modelo copiado pelas autoridades gregas é o muro entre a Califórnia e o México.

O muro de Berlim, derrubado euforicamente há mais de 20 anos, continua sendo cada vez mais copiado em todo o mundo. Já há muros entre as Coreias, entre Marrocos e o Saara Ocidental, entre os EUA e o México, na Cisjordânia, entre Israel e o Egito, Israel e a Faixa de Gaza, entre o Paquistão e o Afeganistão. Agora o muro grego na fronteira com a Turquia entrará nessa lista. Será o segundo a separar zonas de influência dos dois países, contando com o que existe em Chipre.

A chamada “Fortaleza Europa” vai começar a ter forma física na zona fronteiriça de Orestidada, segundo as autoridades gregas. De acordo com dados de Atenas e da agência europeia Frontex, cerca de 200 imigrantes “ilegais” entram diariamente na Grécia por aquele ponto de passagem, apesar da presença de tropas no terreno. “É uma realidade dura e temos uma obrigação para com os cidadãos gregos de lidar com ela”, declarou o ministro grego da tutela, Christos Papoutsis, ao apresentar o projeto.

Diz a agência Frontex que nove em cada dez estrangeiros entram na Europa através da fronteira entre a Turquia e a Grécia e que 75% desse movimento se registra na zona de Orestidada ao longo de cerca de 13 quilômetros.

A maioria dos “imigrantes ilegais”, ainda segundo as mesmas fontes, são originários de países como o Afeganistão, o Paquistão, a Somália, alguns do Oriente Médio, como o Iraque, e do Norte de África, na sua maioria regiões onde as guerras conduzidas pelos Estados Unidos e a OTAN, com envolvimento da União Europeia, não resolveram e têm agravado os problemas sociais, humanitários e políticos.

Bruxelas, onde fica a sede da União Européia, mantém um silêncio quase absoluto sobre a estratégia fortificadora grega. Apenas Michele Cercone, porta-voz da comissária Cecilia Malstrom, comentou que “vedações e muros já provaram no passado que são medidas de curto prazo” pelo que é “importante que as fronteiras sejam geridas de modo a desencorajar e interromper o tráfico”. A esta declaração de aceitação do muro, desde que “a curto prazo”, junta-se a declaração grega segundo a qual a cooperação com Estados-membros no âmbito da solução encontrada “vai bem”.

A oposição grega de esquerda considera desde já a medida “desumana e ineficaz”. Oficialmente, a Turquia afirma que necessita de ter mais informação, mas que sendo o problema de âmbito internacional deverá ter uma abordagem internacional. Um funcionário público turco da região fronteiriça afirmou que o muro não resolverá o problema porque há outros meios de passagem, como por exemplo o rio Evros – de barco no inverno e a pé no verão.

Um diplomata europeu citado pelo jornal britânico Daily Telegraph transportou, entretanto, o problema da fortificação europeia para outros terrenos de debate que estão à tona. “É fácil imaginar como uma estrutura permanente sinalizará o campo anti-turco ou dará a impressão de uma fortaleza cristã europeia para manter os islâmicos do lado de fora”, disse. O mesmo diplomata, citado em condição de anonimato por estar em funções oficiais, acrescentou que “construir muros não ajuda neste tempo em que o importante é construir pontes”. (Com informações de Brasil de Fato)

Que caiam todos os muros! Também os que separam os nossos quintais e redutos em que nos isolamos. Quem defende o direito de ir e vir, não pode construir muros.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A solidariedade afasta os abutres


Com a marca da morte atingindo o nível de quase 700 pessoas e ainda incontáveis desaparecidas – sem levar em consideração os milhares de animais de todos os portes que morreram sob a lama e a água –, o cheiro de cadáver começa a tornar o ar insuportável na outrora bela serra do Rio de Janeiro.

Os abutres vivem da morte alheia, e esta condição lhes é natural e até necessária. Mas não são os abutres que estão aparecendo em grande quantidade naquele cenário de tragédia. Em meio à crescente horda de gente solidária e disposta a ajudar, infiltram-se os insensíveis que se aproveitam da desgraça alheia para se dar bem.

A primeira espécie desses abutres são os que se aproveitam do abandono dos lares e estabelecimentos comerciais atingidos para surrupiar objetos de valor. Aconteceu também aqui, em Blumenau. E não eram bandidos, no estrito sentido da palavra. Era gente comum, que nunca roubou, sem ficha corrida na polícia. Eles chegam como quem não quer nada, até ajudam quando solicitados, mas não se intimidam diante de uma oportunidade. “Estava ali e não era de ninguém”, se desculpam. São daqueles que encontram uma carteira na rua e que não se juntam à turma dos heróis que são capazes de devolver até uma pasta cheia de milhares de reais encontrada num táxi ou banco de praça. Talvez estejam acostumados a esse tipo de “apropriação” desde os tempos de criança, quando não perdiam a oportunidade de tirar uma nota de dez ou vinte reais da carteira dos pais para comprar guloseimas.

A segunda espécie desses abutres são os comerciantes inescrupulosos. Um galão de água mineral chegou a custar 40 reais na serra fluminense. Além de uma safadeza sem classificação, aproveitar-se dessa maneira para ganhar uns trocados a mais em cima da desgraça dos outros é crime previsto no código penal: abuso econômico. É lógico que a dificuldade em fazer chegar qualquer produto ao palco da tragédia custa bem mais do que custaria em tempos normais, mas nada justifica um preço absurdo assim num produto que, fora do ambiente de catástrofe, custa míseros seis reais. Como quem atenta contra a economia popular, o lugar de tais abutres é diante do juiz, que o deveria condenar ao menos a prestar serviços comunitários. Em casos extremos, multa e alvará caçado.

A terceira espécie de aves de carniça que revoam a zona da tragédia são os prometedores de soluções. Eles estão no poder ou pretendem ocupar um lugar de destaque entre os poderosos, são filiados a partidos e até pisam na lama para chupar as almas da população, que continua acreditando, acreditando e acreditando. As soluções mirabolantes que propõem jamais são implantadas. Passa o tempo, passam as tragédias, mas eles não passam. Estão pousados em todos os galhos de todas as cidades, nos campos, nas praças, em todos os poleiros. Eles não têm pressa. Sabem esperar o momento certo.

Mas o pior de todos os abutres que aparecem nessas horas são os que se aproveitam da infância, que é sempre a parcela da sociedade que mais sofre nas catástrofes e nas guerras. Uma semana depois da tragédia, se contam às centenas as crianças que perderam os pais. Elas estão recebendo todos os cuidados das autoridades, segundo as notícias. Mas já tem gente alertando para a chegada de eventuais abutres pedófilos, que se misturam às filas de adoção para tirar proveito da inocência e ingenuidade daqueles que já têm seus corações extremamente dilacerados pela perda dos pais.

Todos eles, entretanto, são superados em grande número pelas revoadas múltiplas de aves migratórias solidárias. É gente de todo tipo, com corações enormes, que largam tudo o que estão fazendo para ajudar, praticar a solidariedade, doar tudo o que tem, inclusive a si próprios, para auxiliar. Os abutres podem até virar notícia. Mas cada gesto concreto de solidariedade, em meio à lama ou a milhares de quilômetros de distância, mata muitos abutres de uma só tacada. A solidariedade supera a própria morte, perfuma o ar e dispersa o cheiro de cadáver. O ar no local da tragédia torna-se respirável novamente, faz os atingidos se reerguerem, enchendo-se de coragem e esperança. A solidariedade é o antídoto certo, eficiente, que acaba com os abutres.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Notícias da região da tragédia

O templo luterano de Nova Friburgo foi atingido pelas águas (assinalado em vermelho)

Por intermédio do pastor Guilherme Lieven chegam as primeiras notícias dos luteranos das áreas atingidas na serra fluminense. O pastor sinodal do Sínodo Sudeste da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) trocou e-mails e telefonemas com pastores e lideranças das comunidades de Petrópolis e Nova Friburgo. As informações completas estão disponíveis no portal http://www.luteranos.com.br/.

“Aqui em Nova Friburgo está um caos. A nossa Igreja foi invadida por água e lama. A água foi na altura do altar. O salão social também. A secretaria foi para o brejo, literalmente. Estamos fazendo a limpeza para poder transformar o nosso espaço num centro de serviço social. Temos muito trabalho pela frente. O Pastor Adelcio Kronbauer tem-se mostrado incansável”, foi o primeiro contato do líder Márcio Rebouças ao pastor sinodal.

A foto, postada por Lieven no portal, indica (com um ponto vermelho) a localização da igreja luterana de Nova Friburgo. “O Pastor já distribuiu o que tínhamos na despensa. Precisamos de alimentos não perecíveis, água engarrafada, roupas, colchonetes, e o que mais for possível para aliviar um pouco a dor de quem perdeu absolutamente tudo”, escreve Rebouças.

“A conta bancária do Sínodo foi disponibilizada para receber doações. Há contato também de parceiros da Alemanha. Estou organizando e articulando os contatos com ajuda da IECLB. Precisamos organizar aí em Nova Friburgo um pequeno grupo para responderem por apoios e articulações do Sínodo. Em Petrópolis a Secretaria da Comunidade e o Sr. Walter Berner está centralizando os apoios e doações de alimentos, colchões e água”, responde o pastor Lieven. Lideranças locais podem ser contatadas por e-mail.

Em Nova Friburgo, o pastor aposentado Armindo Müller pelo endereço almolitor@ig.com.br, o pastor Adélcio Kronbauer pelo endereço adelciokron@gmail.com, e a presidente da comunidade Nadia Maria Figueiredo Athayde pelo endereço n.athayde@hotmail.com.

Em Petrópolis, Walter Berner coordena as ações em nome do Sínodo Sudeste, e pode ser contatado pelo endereço wlberner@gmail.com, a secretaria da Comunidade tem o endereço petropolis@luteranos.com.br, a presidente da Comunidade Waltraud Keuper Rodrigues Pereira de e-mail walkeuper@yahoo.com.br, e o pastor Elton Pothin o endereço eltonpothin@hotmail.com.

O Sínodo Sudeste disponibiliza sua conta bancária para depósitos de valores em dinheiro que possam ser convertidos em água, colchões, e outros objetos de necessidade para a sobrevivência:
Banco Itaú
Agência 0057
Conta corrente: 48031-1
Sínodo Sudeste – IECLB
CNPJ: 02511070/0001-30

Aqui na região de Blumenau o Sínodo Vale do Itajaí sugere que as Comunidades destinem as ofertas dos cultos do dia 23 de janeiro ou outras doações para o Fundo JUNTOS EM SOLIDARIEDADE, que tem a seguinte conta bancária:
Banco do Brasil
Ag. 0095-7
c/c 450.000-8

________
Em tempo: Agradeço ao Nivaldo Klein, que me alertou que o pastor Odemir Simon não se encontra mais em Nova Friburgo. A comunidade agora é atendida pelo pastor Adélcio Kronbauer.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Hora de solidariedade

Uma multidão se reúne para identificar os corpos da tragédia.

Hoje o número de mortos na região serrana do Rio de Janeiro já ultrapassa quinhentas vítimas. É a maior tragédia ambiental da história do Brasil e uma das maiores do mundo. Atinge três grandes cidades da serra fluminense que, somadas, têm mais de meio milhão de habitantes. Inúmeras pequenas localidades periféricas foram totalmente varridas do mapa pelas avalanches de lama, árvores e pedras. Os restos das cidades mais altas foram se misturando aos das mais baixas, transformando tudo num amálgama com cheiro de morte e destruição.

Aos luteranos que visitam este blog, lembro que há duas paróquias da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB no epicentro da tragédia. O pastor Odemir Simon atende a paróquia de Nova Friburgo e o pastor Elton Pothin atende a paróquia de Petrópolis. Lembro que o drama de comunidades como a do Baú e de Fidélis, em Blumenau, repetem-se aqui em dose dobrada. Isso cria um vínculo muito forte entre nós e as pessoas que vivem na região atingida.

Aproveito também para lembrar que, desde 2006, o Centro Cultural Teuto-Friburguense, de Nova Friburgo, reivindica para a cidade o título de primeira cidade no Brasil a receber imigrantes alemães, que teriam se instalado no município em 3 de maio de 1824, 82 dias antes da data comemorada em São Leopoldo. Embora não tenham permanecido por muito tempo naquela região, a passagem daqueles imigrantes por lá aumenta ainda mais os laços que nos unem àquela gente.

Mais do que indispensável, nossa solidariedade com os atingidos é um ato de humanidade. O Jornal de Santa Catarina de hoje (http://www.santa.com.br/), com a manchete de capa “É nossa vez de ajudar”, divulga uma extensa lista de locais para os quais se pode encaminhar ajuda. Uma equipe de bombeiros de Blumenau, com treinamento especial para deslizamentos de terra, já se deslocou para a região para prestar auxílio qualificado. Também as nossas comunidades do Vale do Itajaí, os nossos sínodos aqui da região e cada um de nós estão sendo desafiados à solidariedade.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Avalanche repetitiva


Uma repetição apavorante. Nós aqui, do Vale do Itajaí, sabemos bem o que é. Lama. Lama por todos os lados. Destruição. Destruição em qualquer direção que se olhe. É uma efetiva experiência de caos. Impotência. Impotência total e um caminhar sem direção. E morte. Morte cercando tudo, atingindo todos, ceifando famílias inteiras, penetrando nas casas com ainda mais força destrutiva do que a água e a lama. Ao povo desesperado de Teresópolis, Nova Iguaçú e Petrópolis as minhas orações, minha total solidariedade e empatia. Às vítimas das inundações em todo o Brasil, a minha solidariedade.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Brasil e a guerra dos fundamentalismos

Sarah Palin: A beleza americana tem alma fundamentalista

A realidade político-religiosa nos EUA sempre foi marcada pelo fundamentalismo e pelo extremismo exacerbado de direita. Fica até complicado para um brasileiro, como eu, entender a cabeça daquela gente. A base de tudo, ali, não é a política, mas o fundamentalismo religioso. Este é um complicador histórico e de difícil solução. Embora alguns segmentos mais radicais dos nossos partidos mais à direita tenham realizado um apagado movimento de jogar com argumentos religiosos numa campanha presidencial, no ano passado, nada faz sequer lembrar o que acontece neste campo escorregadio nos EUA. Não há nada parecido no ocidente.

Em poucas palavras, quem determina os movimentos decisivos no tabuleiro da política norte-americana é o fundamentalismo construído sobre os legados históricos do movimento evangelista, com destaque para Billy Graham e seus filhos, Jimmy Swaggart, Rex Humbard e muitos outros. Eles passaram a vida semeando o ideário norte-americano com tempero bíblico, arrastando multidões atrás de si. Todos eles são famosos, respeitados e ricos, alguns deles mesmo depois de escândalos sexuais e financeiros. A última palavra nas igrejas, na educação, na ética e na política interna e externa dos EUA passa pela teologia dessa gente. Aliás, é a teologia que determina a vida política por lá.

Dentro dessa cosmovisão, o que é de direita vem de Deus e o que é de esquerda vem do diabo. Muito de sua força cresceu nos anos da guerra fria em cima do terreno fértil da demonização do comunismo ateu. Tal demonização foi estendendo seus domínios cada vez mais à direita, sufocando perigosamente qualquer pensamento de esquerda e até mesmo de centro-esquerda. A tal ponto que jamais houve uma esquerda realmente significativa nos EUA. “Um partido como o PT jamais vai se criar entre nós”, me disse um pastor americano, certa vez. “Não existe esquerda nos EUA”, vaticinou. Perguntado sobre a diferença entre os democratas e os republicanos, ele foi implacável: “Eles são como a coca-cola e a pepsi-cola. A Pepsi é um pouco mais adocicada, mas ambas têm a mesma composição”.

Eles misturam religião e política como quem junta pão e carne moída para fazer um hambúrguer. Mas exaltam-se até o risco de um AVC quando falam da teologia da libertação, acusando-a de fazer exatamente aquilo que eles fazem diuturnamente sem qualquer constrangimento e com a convicção de quem está desempenhando uma missão profética determinada pelo próprio Senhor Jesus.

Tal camisa de força ideológica acabou por conduzir os EUA a um perigoso estado de pensamento único, que rechaça e persegue implacavelmente qualquer um que destoe do padrão. O resultado é uma sociedade que produz, com facilidade, radicais de visão intolerante e violenta. Movimentos como o Tea Party, cuja musa inspiradora é Sarah Palin, escancaram as portas para esse tipo de atitude política. E eles conseguem arrastar multidões atrás de si, ao ponto de desestabilizar o governo de Barak Obama, que não passa de morno-quase-frio, do ponto de vista ideológico. Entretanto, algumas das decisões e erros do seu governo levaram à loucura os movimentos conservadores, lançando desde já Sarah Palin candidata à casa branca, que tem tudo para derrotar Obama já em 2012. Ele não terá um segundo mandato, isso já são favas contadas.

Mas esse movimento é capaz de infinitamente mais do que isso. A prova concreta é o atentado no Arizona, na semana passada. E, anotem aí, irão acontecer outros nos mesmos moldes. A própria vida de Obama corre sério risco nesse contexto efervescente.

As perigosas manobras no tabuleiro do xadrez ideológico norte-americano ainda farão corar o fundamentalismo islâmico. Eles estão se nivelando perigosamente por baixo. Por isso mesmo, tudo aponta para um dramático cenário, nessa emergente segunda década do século 21. O mundo vai pegar fogo, e o incêndio será alimentado por gladiadores que são parecidos ao extremo: o fundamentalismo islâmico e o fundamentalismo de direita dos EUA. Ambos são intolerantes, perigosos, incendiários e capazes de se tornar extremamente violentos. Por isso, mesmo, ambos são terroristas. Ponto Final.

Para encerrar afirmo, com uma ponta de orgulho, que o Brasil – com sua visão política mais moderna, aberta e tolerante – pode ser um poderoso fiel da balança nessa guerra que já tomou conta do mundo. Temos a nosso favor um passado de debate teológico único, liderado pela igreja progressista latino-americana, e que tem aberto preciosas portas no campo ideológico, na luta pelos direitos humanos, pela igualdade ampla entre todas as pessoas e na conquista da cidadania. A diplomacia brasileira, se souber dar os passos no rumo certo, poderá interpor-se como mediadora entre os fundamentalismos do ocidente e do oriente com autoridade e condições reais de obter resultados, a ponto de evitar o pior.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Folha forçando a barra (de novo)


A Folha de S. Paulo – a mesma que declarara seu voto em José Serra em um polêmico editorial durante as eleições – não perde a oportunidade de tentar denegrir a imagem da presidente recém-empossada. No último domingo (9 de janeiro), tentando mais uma vez criar conflito entre Dilma Roussef e os evangélicos, lascou a escandalosa manchete na capa: “Bíblia e crucifixo são retirados do gabinete de Dilma no Planalto”.

A matéria abaixo da manchete noticiava: “em sua primeira semana, Dilma Rousseff fez mudanças em seu gabinete. Substituiu um computador por um laptop e retirou a Bíblia da mesa e o crucifixo da parede. Durante a campanha eleitoral, a então candidata se declarou católica e foi atacada pelos adversários sob a acusação de ter mudado suas posições religiosas”.

O monstruoso factóide que o jornal paulista tentou passar não se sustentou por mais de alguns minutos. Mas, como sempre, desmentido nenhum foi publicado. Graças a quatro curtas mensagens no Twitter, a ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), desmontou as três mentiras grotescas contidas na Folha. Veja a seguir as quatro curtas da ministra Helena:

1 – “Pessoal, só esclarecendo: a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu gabinete. A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança”.

2 – “Aliás, o crucifixo, que Lula ganhou de um amigo no início do governo, é de origem portuguesa. Mais: Dilma também não tirou a bíblia do gabinete”.

3 – “A bíblia está na sala contígua, em cima de uma mesa – onde, por sinal, a presidenta já a encontrou ao chegar ao Planalto”.

4 – “Um último detalhe: embora goste de trabalhar com laptop, a presidenta não mudou o computador da mesa de trabalho. Continua sendo um desktop”.

Chernobyl será aberta a visitação

Elena no topo de um edifício abandonado na cidade fantasma.

No dia 26 de abril de 2011, o acidente nuclear de Chernobyl completa 25 anos. Naquele ano de 1986, foi um dos eventos mais terríveis da história moderna. As autoridades da então União Soviética fizeram de tudo para minimizar os fatos, distorcer as informações e esconder a realidade.

O acidente de Chernobyl foi o triste resultado de uma série de erros, descuidos com a segurança e negligências, que fizeram o reator número quatro da Usina Nuclear explodir. Aconteceu na União Soviética. Um trunfo para o ocidente, mas foi um mero acaso ter ocorrido ali e poderia ter sido em qualquer outro local servido por energia nuclear, inclusive nas usinas vaga-lume de Angra, verdadeiras bombas-relógio em pleno território tupiniquim. E, pior, pode repetir-se novamente, a qualquer momento.

Na verdade, até hoje não se sabe exatamente quanta gente aquele desastre nuclear, o maior da história, vitimou. Os dados “oficiais” falam em 3 mil pessoas. Para o Greenpeace, este número chega aos 100 mil, se forem levadas em consideração as mortes causadas pela contaminação nuclear e as doenças que ela causou na população, que foi evacuada do dia para a noite, deixando tudo para trás.

A única prova real de tudo aquilo é uma região perdida no norte território da Ucrânia, do tamanho aproximado do Vale do Itajaí, que virou uma terra de ninguém. Tudo ficou como há 25 anos e, além da usina, há cidades inteiras abandonadas.

Para deixar uma marca para a posteridade, depois de 25 anos o governo da Ucrânia anunciou que o palco do maior acidente atômico do mundo será aberto ao turismo em abril deste ano. Há uma equipe técnica montando um roteiro seguro e informativo para os turistas. O objetivo principal, segundo as autoridades ucranianas, é fazer com que as pessoas se conscientizem do perigo do mau uso da energia atômica.
O turismo nas áreas afetadas já é feito a muito tempo de modo informal, apesar de proibido. Somente no ano passado, mais de 7 mil pessoas visitaram a usina e a cidade fantasma de Pripyat. Entretanto, já muito antes dos “tours” informais, diversas pessoas se aventuraram pelo vale proibido, visitando as ruínas das cidades abandonadas e revelando ao mundo uma “terra de lobos”, na definição de Elena, uma das visitantes que passeou por lá de moto e montou um site na internet, contando o passeio em detalhes.

Se você tiver o mesmo fascínio de Elena, a partir de abril poderá visitar a zona que até agora era “fechada” por motivos óbvios. Você poderá andar pelos escombros do quarto reator e pelas ruas abandonadas de Pripyat, entre tanques de guerra e outros veículos e casas abandonadas. Poderá até medir a radiação com aparelhos fornecidos pelos guias. O governo da Ucrânia explica que, embora haja áreas muito contaminadas, é possível desenhar trajetos turísticos com segurança. Já Elena não foi para lá sem cuidados. Com um contador de radiação ela evitou os lugares contaminados, protegendo-se o tempo todo. Chernobyl foi classificada pela revista Forbes como “um dos lugares únicos para visitar”. Matéria do Jornal de Santa Catarina de hoje (11 de janeiro), pergunta no título: “Você iria?”.

Eu não pestanejaria, se tiver a oportunidade. Quem sabe, podemos ir juntos. Mas, se você prefere ver tudo de longe, sem correr riscos, visite o site de Elena, em www.kiddofspeed.com/chernobyl-land-of-the-wolves/. Só o site – que está indicado entre os favoritos deste blog desde o primeiro momento – já vale como um banho de estupefação e um desafio para a reflexão sobre o nosso futuro. Boa viagem e bom banho de realidade.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano novo, velhos preconceitos


Chega o ano novo e, apesar de todas as nossas esperanças, os nossos bons desejos e renovadas vontades de mudar as coisas e de transformar o nosso velho mundo num lugar melhor, tudo continua exatamente como sempre foi. Um atentado numa igreja copta, no Egito, neste sábado de madrugada, cujo resultado são 21 mortos e maisde 50 feridos, é o primeiro exemplo dos muitos que virão na esteira do interminável preconceito que domina nossas almas qual inço que somos incapazes de eliminar.

Cristãos perseguidos no Oriente Médio e na Ásia, muçulmanos escanteados na Europa, minorias postas de lado em muitos lugares, latinos escorraçados nos EUA... Como já disse alguém: duas coisas me causam admiração; a inteligência dos animais e a barbárie dos humanos.

Ninguém se deu conta ainda, mas não estamos somente iniciando mais um novo ano. Com 2011, estamos dando início à segunda década do século 21. Ou seja, já se passaram dez anos desde 2001, o ano do inacreditável atentado de 11 de setembro, e nada conseguimos alterar em nosso comportamento intolerante, xenófobo, assustadoramente desrespeitoso com o que consideramos diferente de nós e que julgamos ter que combater.

Até quando será assim? Nunca vamos aprender? Por que celebramos Natal? Qual o motivo de desejarmos "paz" no novo ano? É tudo somente uma grande demonstração de fachadas, máscaras, disfarces? Jamais vamos conseguir ser verdadeiros, honestos, sensíveis em relação aos outros? Paz, paz... Quanta verborragia! Quantos discursos inúteis e sem lastro.
Antes de lançar todas as luzes aos céus em comemoração, será preciso criar motivos para a festa. Espero que 2011 possa, de fato, abrir, pelo menos, algumas frágeis sendas...

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...