quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um palhaço que merece a nossa admiração




O palhaço Tiririca virou o deputado mais votado do Brasil há dois anos. Quem não se lembra disso e de tudo o que disseram sobre esta eleição, considerada por muitos – talvez a imensa maioria dos brasileiros – uma demonstração cabal da total decadência da política tupiniquim. “Você sabe o que faz um deputado? Eu também não. Vote em mim para que eu possa descobrir e lhe contar.” Era mais ou menos isso que o Tiririca dizia na sua campanha. Seu bordão virou hit no YouTube. E Tiririca, numa espécie de “piada de mau gosto” nacional, como todo mundo dizia, elegeu-se. Mais do que isso, foi o deputado mais votado de São Paulo, e um dos mais votados do Brasil, recebendo um milhão e trezentos mil votos.

E Tiritica aprendeu o que faz um deputado. Mesmo enfrentando o preconceito da nação contra os pobres, os feios, os iletrados e os palhaços, o mané dos manés foi considerado um dos 25 melhores parlamentares do Congresso Nacional, num escolha feita pelos jornalistas. “Só pode ser piada”, escreveu um missivista indignado no Jornal de Santa Catarina.

Piada é a recorrente predisposição da elite brasileira para avacalhar com gente como Tiririca. Queriam caçar o diploma de deputado dele, ou nem permitir que o recebesse, sem provar que sabe ler e escrever. Ele provou e, ainda assim, os doentes mentais disseram que ele decorou e colou.

Quem é o deputado Tiririca? Bem, segundo a jornalista e professora da UFSC Elaine Tavares, os jornalistas sabem muito bem porque o Tiririca é um dos melhores deputados do Brasil. Não há nenhuma piada nisso. Há é preconceito da parte de quem não acredita.

“E o que sabemos da atuação do Tiririca? Que ele trabalha, que ele tem se esforçado e que apresentou um importante projeto para proteger a gente do circo. Olha só! Ele quer que o estado garanta ao povo do circo o direito de estar incluído na Lei Orgânica de Assistência Social, para que possam ser atendidos pelo SUS mesmo sem ter endereço. Segundo ele, os artistas circenses não conseguem atendimento médico nos posto de saúde por esse motivo: não têm endereço. Assim como não podem ter seus filhos matriculados na rede pública de ensino. Pois vejam bem, o Tiririca. Está atuando pelos direitos dos que o elegeram de fato: os empobrecidos, os abandonados. Ao contrário dos deputados que se elegem prometendo cuidar dos pobres, ganham o voto dos pobres, e depois se deitam na cama dos seus financiadores de campanha, cedendo aos desejos das grandes empresas, das multinacionais,” escreve Elaine em seu blog.

“Segundo informes da Câmara dos Deputados, Tiririca é um dos nove parlamentares que registraram presença em todas as 171 sessões destinadas às votações. É presença certa nas comissões, coisa que não é obrigatória e esteve em 106 (88%) das 120 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular. Também segundo os dados da Câmara já apresentou sete projetos de lei – todos voltados para o circo e a educação. Ainda não falou no plenário, mas pode ser encontrado sempre em seu gabinete, onde atende com deferência a quem quer que chegue,” emenda a jornalista.

Antes de elogiar o surpreendente desempenho do “palhaço”, Elaine questiona: “Eu não sei o que vai acontecer com o Tiririca, se ele vai um dia sucumbir ao canto da sereia do poder. Se vota com a direita, se não tem muita consciência do que é o seu minúsculo partido”.

A resposta às dúvidas da jornalista está na edição de hoje (27 de setembro) da Folha de S. Paulo. Decepcionado com a política, tão-somente dois anos depois de iniciar a sua aplaudida trajetória na Câmara dos Deputados, Tirica se diz profundamente “desacreditado da política”. Ele demonstra decepção com a burocracia do Congresso. “Eu não sei se pretendo continuar, por ser muito difícil lá dentro”, disse Tiririca à Rádio Libertadores FM, de Aracaju (SE).

Se muitos tiveram que engolir em seco com o desempenho do “palhaço”, agora ele dá a prova definitiva de que ele não estava fazendo piada ao se candidatar a uma vaga no Congresso. “Eu pensei que chegando à condição que eu cheguei, ia lá e ia aprovar projetos que iam beneficiar a população e essas coisas todas, mas não é assim. Há outros interesses”, afirmou.

É, Tiririca, o verdadeiro palhaço não é você! Você é um brasileiro digno, que merece o nosso respeito e admiração. Você é um exemplo e a sua história merece um quadro! Os palhaços somos nós, que continuamos rindo de tudo o que fazem naquele circo que colocou os holofotes em você para poderem continuar a roubar o dinheiro das entradas do circo... Os palhaços somos nós, que pulamos e nos divertimos com essas eleições municipais e com as palhaçadas que dizem uns dos outros... Santo circo!

O pecado do excesso e a arrogância teórica




Marcelo Gleiser é um astrofísico cada vez mais respeitado. Digo, com muito orgulho, que ele é brasileiro. Pesquisa, leciona e reside nos EUA, mas é um cidadão do mundo. Desde que eu li a sua obra “Criação Imperfeita” (publicada no Brasil pela Editora Saraiva), sou fã e admirador de Marcelo Gleiser. Além de seu vasto conhecimento, tem uma incrível facilidade de comunicação, tanto nos seus escritos quanto nas narrações (como na série sobre o Universo que ele apresentou exclusivamente ao público brasileiro no Discovery). Ele também escreve regularmente na Folha de São Paulo.

Tenho muito respeito por Gleiser porque é um cara que despreza a arrogância, tanto da ciência quanto da teologia. Reproduzo, abaixo, um trecho de uma entrevista recente dele, à revista do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU). Ateus e fundamentalistas precisavam ouvir mais um cara como ele.

“Acho que Dawkins, Dennett, Harris e Hitchens pecam pelo excesso, pelo uso da mesma retórica virulenta que criticam nos extremistas religiosos. Todo fundamentalismo é, por definição, exclusivista e destrutivo. Mesmo que muita gente ache que eles representam a posição da ciência, isso não é verdade. Existem muitos cientistas que, mesmo sendo ateus ou agnósticos, não adotam uma postura combativa em relação à fé. Esse tipo de atitude não só não leva a nada como é filosófica e extremamente ingênua. Basta dar uma olhada mais cuidadosa na ciência e em como ela funciona para entender que têm limitações essenciais, questões que estão além do seu alcance. Isso não significa que as pessoas de fé devam buscar Deus nos limites da nossa compreensão científica, mas que os cientistas precisam ter mais humildade em seus pronunciamentos sobre o que a ciência já compreende e o que é ainda mera especulação. Achar que todas as questões podem ser reduzidas ao método científico é privar a cultura humana de outros modos de compreensão. A realidade é bem mais rica do que isso.”

Você pode ler a íntegra do que ele disse à Revista do IHU, aqui.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ira muçulmana ou gasolina na fogueira?



Um casal de jovens egípcios dando um tempo em sua "ira islâmica".

Quem acompanha as notícias das últimas semanas sobre o que vem sendo chamado de “a ira muçulmana”, tem a perfeita visão do inferno. A grande mídia mundial, com as agências, jornais e revistas americanos na frente, estão insistindo em mostrar intermináveis ataques a alvos ocidentais, por conta de um filme de péssima qualidade, islamofóbico e repleto de clichês sobre o Islã e o profeta Maomé.

 Uma pacata família egípcia "pronta para atacar".

Quem, entretanto, busca ir um pouco mais a fundo em toda essa questão, descobre que tudo não passa de um fogo alimentado com gasolina. O ‘hashtag’ #MuslimRage, no Twitter, deixa transparecer que, bem à moda do pastor radical Terry Jones, que queimou o Alcorão no ano passado, tem gente nos EUA empenhada em jogar mais combustível nessa fogueira, nem que seja para vender jornal. A grande maioria da população islâmica vive um dia a dia pacífico e distante da fúria que se propaga. As imagens deste post foram pescadas no site gawker.com. Elas demonstram que “a vida segue”, mesmo em meio a notícias que querem nos fazer crer que o oriente é um barril de pólvora.

Uma piscina pública no Iraque, repleta de muçulmanos "radicais".

Uma conta bem simples é a primeira demonstração do que eu estou afirmando. As estimativas iniciais mostram que a participação nos protestos incendiários contra o filme envolve algo como 0,001 a 0,007 por cento da população islâmica mundial, que é de 1,5 bilhão de pessoas. Essa percentagem é uma fração minúscula se for comparada com os muçulmanos que realizaram os protestos da chamada Primavera Árabe.

Um casal iraniano planejando "atacar um alvo americano".

A grande imprensa também não faz nenhum esforço para mostrar que a esmagadora maioria dos protestos contra o filme foram pacíficos. Invasões de embaixadas e ataques violentos, com destruição de alvos americanos foram quase todas organizadas por um grupo da direita radical islâmica, chamado de movimento salafista, cujo principal objetivo é atacar e combater os islâmicos moderados em todo o mundo.

Um grupo de feirantes em Cairo, negociando perigosas "armas de destruição em massa".

A imprensa também não divulga que as investigações sobre o assassinato do embaixador americano na Líbia têm quase como certo que ele foi planejado pelos salafistas para coincidir com o 11 de setembro e, portanto, não tem nada a ver com os protestos contra o filme. Além desse ataque, e de outro promovido no Afeganistão por grupos radicais, até agora a massa de manifestantes não matou nenhuma única pessoa.

O filme, de má qualidade e de mau gosto, foi condenado por todas as grandes lideranças mundiais, muçulmanas ou não, que também condenaram os protestos violentos. Durante a visita do Papa Bento XVI ao Líbano, as lideranças do Hezbollah participaram do sermão do papa e não fizeram nenhum protesto contra o filme até que o papa deixasse o local. Ao contrário, eles pediram por mais tolerância religiosa.

Bem, talvez devêssemos ainda realizar uma última análise sóbria, desapaixonada e tentar, pelo menos, ser imparciais. As duas grandes religiões do planeta são constituídas por uma ampla maioria de gente civilizada, sóbria, tolerante e aberta ao diálogo. As duas grandes religiões do planeta têm uma minoria radical que semeia o ódio religioso. Em ambas, esse grupo não representa dez por cento.

Vamos deixar que os muçulmanos salafistas e os cristãos fundamentalistas dominem o senário noticioso e nos levem a uma guerra sem precedentes? Estou certo de que nem Deus, nem Alah, nem Jesus, nem Maomé aceitariam uma guerra absurda desse tipo. Vamos nos deixar levar? O desejo da maioria é pela paz. O sonho da maioria é por aceitação e respeito.

Olhe com carinho para essas fotos. Se você ainda acreditar em tudo que lhe dizem depois de vê-las, sugiro que visite o site acima e veja as outras fotos sobre a temida "ira islâmica".

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dia mundial de oração pela paz




Hoje é o dia mundial de oração pela paz. Uma notícia salutar para este dia: Um local chamado Antietam, nos Estados Unidos, foi o campo de batalha onde 23 mil soldados americanos morreram, no dia mais sangrento da guerra civil americana. Mais de 150 anos depois, 20 diferentes confissões religiosas se unem neste antigo campo de batalha, no dia de hoje, para orar e cantar pela paz no mundo.

O dia de hoje não envolve somente cristãos, mas também muçulmanos, judeus, budistas e bahais. Na capital do México, uma coalisão chamada Movimento pela Paz com Dignidade e Justiça uniu as ONG’s numa ação de dez dias que culmina neste dia 21 de setembro em orações pela paz.

Em inúmeros outros eventos este dia está sendo marcado pelos pedidos por paz. Em mais um momento em que a tensão no planeta chega ao pico, com os protestos contra o filme que ofende Alá, cada oração é um pequeno gesto em favor da paz planetária.

Deus da Paz, clamamos por paz!
Anima-nos a depositar armas...
Empurra-nos para o abraço fraterno...
Que cada punho cerrado se transforme em mão estendida,
Cada olhar crispado se dissipe em um sorriso acolhedor
E cada coração endurecido amoleça ante o pedido de perdão.
Dá-nos tua paz, Senhor!
Pacifica nossas almas, amém!

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...