Quando o pastor e pacifista norte-americano Martin Luther
King pronunciou o seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, ele obviamente não
estava sozinho. Havia uma grande retaguarda que sustentava todo o processo e
dava forças ao líder que colocava o rosto na vitrine e personalizava toda
aquela luta. Naquele dia, em 1963, Bayard Rustin estava bem atrás de King. Ele
era um estrategista brilhante do movimento dos direitos civis e mentor de King.
Ele era a própria alma da Marcha sobre Washington.
Apesar da sua importância para o movimento dos negros
americanos, Bayard Rustin tinha que permanecer oculto. Sua homossexualidade era
um escândalo e muitos integrantes da luta daqueles dias gloriosos se mantinham afastados
dele, com medo de manchar sua própria reputação.
Ele trazia a filosofia da não-violência desde casa. Era filho
de uma militante quaker que o ensinou a enfrentar a injustiça sem o uso da
violência. Numa sociedade marcada pelo racismo legalizado, ele era um raro
negro que cursou universidade, onde foi um astro do futebol.
Martin Luther King dava grande importância a Rustin,
considerando-o um dos cabeças do movimento. Planejamento e organização eram
sempre com ele. Foi por meio dele que King conheceu mais de perto as táticas
não violentas de Mahatma Gandhi. Afinal, Rustin já era um experiente lutador
dessa causa desde os anos 1940, quando ao lado do teólogo A. J. Muste e do seu
movimento ecumênico-pacifista “Aliança de Reconciliação”, aos 30 anos de idade,
excursionava pelos EUA para treinar lideranças em resistência não-violenta e
desobediência civil contra o estado de segregação racial. Nesse engajamento,
ele enfrentou três anos de prisão por negar-se a lutar na 2ª guerra mundial por
razões de consciência.
Quando Martin Luther King se tornou a vitrine do movimento
pelos direitos civis nos EUA, Bayard Rustin já tinha décadas de engajamento na
causa atrás de si e havia sido preso 25 vezes por conta desse empenho.
Mas ele conheceu o preconceito mesmo não durante essas
prisões de motivação política. Em 1953, entretanto, ele foi preso em Pasadena,
na Califórnia, por “delito moral”, ao ser flagrado no banco traseiro de um
carro abraçado com dois homens, causando uma ferida profunda em seu desejo de
viver. A exposição seguida da prisão, que convinha magnificamente a seus
opositores, transformou o ativista num “perverso”. Ele perdeu o emprego que
tinha na organização do pastor Muste e muitos companheiros da causa contra o
racismo afastaram-se dele do dia para a noite.
Martin Luther King, 17 anos mais jovem que Rustin, não se
afastou dele e, desde que conheceu o idealista da não-violência, ele pedia
conselhos ao veterano estrategista a cada ação. Eles passaram a organizar tudo
em parceria, e é provável que Rustin até tenha escrito diversos dos discursos
de King, que mais e mais se tornava o rosto mais conhecido do movimento.
Mas em 1960 a parceria dos dois foi submetida a um severo
teste. A condição para que o candidato a presidente John Kennedy apoiasse o
movimento pela igualdade racial era que o “imoral” Rustin fosse afastado da liderança
do movimento. Se isso não acontecesse, chantageou o deputado democrata Adam
Powell, seria lançada a suspeita de que King e Rustin têm um caso. O efeito foi
imediato, e Rustin foi tirado do front do movimento. Tanto é assim que, nas
fotos de 1963, na famosa “Marcha sobre Washington”, Rustin aparece atrás de
Luther King. Mas o velho batalhador foi, mesmo assim, o estrategista que deu
condições de transformar a Marcha num estrondoso sucesso, como insubstituível
organizador. O movimento alcançou um nível nunca antes imaginado, sacudindo
toda a nação. Onze meses depois, já após a morte de Kennedy, seu sucessor
assinava o “Civil Rights Act”, acabando com todas as leis de discriminação
racial nos EUA.
Nos anos 1970 e 1980 o velho batalhador, agora já de cabelos
brancos, viajou por todo o mundo, engajando-se em causas a favor dos
refugiados, contra as armas atômicas e o apartheid na África do Sul. Nos EUA, a
sua última luta foi pela igualdade de direitos para os homossexuais, desafiando
essa minoria a engajar-se também por outras minorias.
Há 25 anos, Bayard Rustin morreu, no dia 24 de agosto de
1987, em Nova York. Mais informações sobre a sua luta você pode conhecer no
documentário Brother Outsider – The Life of Bayard Rustin, cujo trailer você
pode conferir aqui.
Fonte das informações: Zeitzeichen
O mais triste e que ainda nos dias de hoje ele seria considerado um cidadão de segunda classe por ser gay.
ResponderExcluirDa mesma forma que nao se escolhe nascer heterossexual , nao se escolhe nascer homossexual .
Estamos nas igrejas aos domingos, e ouvimos os comentários preconceituosos, os olhares , a falta de acolhimento, buscamos conforto para as nossas almas em cada linha do Santo Evangelho.
Cremos na salvação mediante fé !
Nos nao somos um erro de Deus! Ele e perfeito e nunca erra! Somos todos parte da sua criação .