segunda-feira, 8 de março de 2021

UM MEMORIAL ÀS MULHERES VÍTIMAS DO MACHISMO










Neste Dia Internacional da Mulher cabe um abraço, sim; cabe parabéns, sim; cabe festa, sim; cabem flores, sim. Mas, antes de tudo, cabe que demos ouvidos aos clamores das mulheres. Não, não é mimimi. É clamor, mesmo; por justiça, por direitos, por respeito, por dignidade.
A matéria anexada a estas palavras é dolorosa e expõe uma das feridas desta América Latina machista; um dos motivos do mimimi. O machismo mata, cada vez mais e com maior refino. Mata no Brasil, na Argentina, no México, no Chile, em Honduras ou na Venezuela...
Dizem que o sangue latino é quente. Na verdade, ele é tão quente que chega a transformar-se em arma. Não há motivo de orgulho no propalado machismo latino, que veio a este continente na bagagem dos colonizadores espanhóis e portugueses; e seguiu vindo nas malas dos imigrantes italianos, alemães, japoneses, ucranianos, poloneses e tantos outros.
E aqui estamos, em pleno século 21, num Brasil da mulher objeto, da mulher submissa, da mulher subjugada, tratada a tapa...
O Brasil é um país assassino de mulheres, pelos motivos mais inacreditáveis.
O Brasil ainda é um país em que mulher vítima de abuso é tratada de "vadia".
O Brasil é um país em que ainda é preciso recorrer ao STF para ver se "legítima defesa da honra" é constitucional ou não (no qual, pasmem, ainda há advogados que dizem no Fantástico: "A legítima defesa da honra nunca vai deixar de existir!").
O Brasil é um país cuja língua é tão machista que até o dicionário do Google ainda sublinha a palavra feminicídio em vermelho, acusando erro de Português.
E, por falar em Português - essa língua de "sangue latino" - o Brasil é um país em que se combate a validade da linguagem inclusiva com fundamentalismo, em nome da "última Flor do Lácio, inculta e bela" (Olavo Bilac)... ou recorrendo a Camões. Enquanto combatem a "feminização" da última filha do Latim, cometem barbaridades linguísticas de real assassinato do idioma.
E, já que citei os imigrantes, não custa lamentar também que, em pleno século 21, ainda haja luteranos e luteranas que pisoteiam o sacerdócio feminino com citações bíblicas capengas. Apenas ouvem o argumento de Paulo contra as mulheres. Não têm o coração aberto para as mulheres aos pés do crucificado até o fim; retirando o corpo do Mestre do madeiro; indo ao túmulo no dia seguinte para embalsamá-lo e, maravilhadas, anunciarem a Páscoa aos quatro ventos. A ressurreição é o motivo fundante da existência desta igreja, que virou reduto de machos! Mas, quem estava lá na hora derradeira não eram os machos, que se recolheram à sua insignificância.
Por tudo isso, o clamor das mulheres numa realidade tão hostil não é mimimi. Que, desarmados, nos tornemos ouvidos. Em meio a tanto a lamentar, abracemos cada mulher neste dia. E que este dia não seja apenas um alegre tilintar das caixinhas das floriculturas, mas um memorial a cada mulher vítima de tudo isso. Que o Dia Internacional da Mulher se multiplique pelos 365 dias do ano.

quinta-feira, 4 de março de 2021

 CERCADOS E IMPOTENTES



Num país que acumula mais de uma morte por minuto por causa da Covid-19, não havia como escaparmos ilesos. Todo dia nossos círculos mais próximos são duramente atingidos por esta tragédia. As próprias redes sociais e, em especial o Facebook, tem sido usado como veículo de nossa dor e nosso luto. Cada vez mais, é também por aqui que deixamos escapar nossa indignação pela inércia e ineficiência de quem devia tomar as medidas sanitárias adequadas e cruza os braços. Estamos impotentes, contando os mortos.
De minha parte, lamento profundamente a perda de dois colegas pastores, muito próximos, desde minha juventude: o pastor Heinz Ehlert (na casa avançada dos 90 anos) e o pastor Sinécio Graeff (pela metade dos 60 anos), ambos com o sepultamento a realizar-se no dia de hoje (04.03). A gente sabe como é um sepultamento de uma vítima de Covid. Para resumir, é indigno!
O pastor Ehlert é da linhagem das grandes biografias da IECLB, mormente na área da extinta Região Eclesiástica 2, ainda nos tempos em que esta abarcava também a Região Eclesiástica 5 e um pedaço das Novas Áreas. Como pastor regional, ele tinha sob sua jurisdição uma área que se estendia do Sul de Santa Catarina até as longínquas regiões do Mato Grosso. Não vou me estender. Ele foi o digno sucessor do Praeses Hermann Stoer, ambos pioneiros em tempos difíceis para uma igreja de imigrantes.
Sinécio foi contemporâneo durante os estudos de Teologia e colega no Vale do Itajaí. Depois, nos perdemos pelos rumos da vida. Hoje, sou surpreendido com a notícia de que a Covid também o vitimou.
Tem misericórdia, Senhor, e olha por nós. O inimigo se atira sobre nós e nos leva o pouco de forças que acumulamos. Enquanto nos debatemos, clamamos: De onde virá o socorro? Não podemos contar com nada, nem com ninguém. Tu és o nosso único socorro.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...