quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Alcantaro, segurança e confiança

A morte de Alcantaro Correa mexeu comigo. Conheci o homem pessoalmente, quando ele era o diretor presidente da Electro Aço Altona. Eu, com um orgulho enorme, tinha esta empresa na minha carteira de clientes, nos primeiros anos da Mythos Comunicação e, mensalmente, sentava com o RH da empresa para montar o informativo que ia para os mil e poucos funcionários da maior fundição do Vale do Itajaí.
Falei pessoalmente com ele na grande festa dos 80 anos da Altona. Era um homem simples, correto, e extremamente competente. Alcantaro Correa tirou a Altona de uma difícil situação nos anos 80 e a projetou internacionalmente nos anos 90. Lembro de algumas fotos publicadas no informativo da empresa, de enormes turbinas que saíam de lá de madrugada, sobre carretas com dezenas de rodados.
Foi naquele tempo que eu tive contatos em 3D com as regras da gestão empresarial séria, internacionalmente regulada pelas rígidas normas ISO. Aquela enorme fundição, que no passado já era um verdadeiro caos misturado a areia e minério de ferro - odiada na vizinhança pela espessa fumaça que grudava em tudo dentro e fora das casas -, havia se tornado num brinco durante a gestão de Correa. Pleiteava a ISO 14.000, de Gestão Ambiental. As outras, era só manter as rédeas para ir galgando os degraus da qualidade.
Alcantaro Correa também era assim em sua vida pessoal. Homem comedido, regrado, reservado até. Ele tinha, entretanto, uma paixão. Ainda que tivesse um sobrenome luso-brasileiro, aparentava ser um rigoroso adepto do slogan "Ordnung muss sein!". Tipicamente alemão, portanto.
Uma joia em sua vida privada expressava isso desde os tempos da Altona: ele não abria mão de dirigir pessoalmente a sua BMW 750i. Se não era a única de Blumenau, é porque ele não ficava com a sua por muito tempo. E alguém invariavelmente botava a mão na 750i de segunda mão do Alcantaro. Assim que saía uma nova versão, ele era o orgulhoso proprietário deste luxo sobre rodas.
A BMW 750i é a limusine top de linha produzida pela Bayerische Motoren Werke de Munique. Nada é maior, nada é mais confortável nem mais luxuoso. Sobretudo, nada é mais seguro e confiável. A profusão de Airbags é tamanha que aquilo mais parece um festival de balões.
Quando esta nave foi lançada pela BMW, alguns jovens alemães ricos e loucos da pedra gostavam de provocar acidentes em alta velocidade nas Autobahn alemãs a bordo da 750i, apenas para ter a alucinante sensação da proteção dessa cama de balões sobre rodas. E quase todos eles escaparam vivos.
Na madrugada de 10 de dezembro, zero hora e quarenta minutos, esta balonave über-segura não poupou a vida de seu solitário amante da segurança. Alcantaro Correa não imaginava, jamais, que um cavalo iria brecar os mais de 400 sob o capô do seu "porto seguro" sobre rodas. Um cavalo... Na BR-101, entre as nossas vias de carroça, a rodovia mais segura de Santa Catarina...
Eu não acredito em destino e me nego a imaginar, sempre que minha mente insiste, que uma combinação de sortes e azares regida por astros ou deuses domine o nosso Já-e-Ainda-Não.
Mas de uma coisa eu tenho certeza. Nossas apostas de segurança e certeza são vergonhosamente arrasadas em muitas ocasiões. Às vezes, por um cavalo que atravessa nosso caminho...

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O medo primordial


Estou impressionado! Alguns dias de Guarda Municipal de Blumenau apontando o radar móvel para as belas curvas da Rua das Missões/Dois de Setembro, e uma deliciosa ordem se instalou. A velocidade máxima no trecho entre a rodoviária e a ponte de ferro reduziu, milagrosamente, de 100 Km/h para 70 Km/h. E a velocidade média, pasmem vocês, está dentro do limite da via, que é de 60 Km/h! Não é fantástico isso?
Só um rígido controlador externo para por ordem na nossa incontrolável propensão à desobediência. A lei, os guardas e, mais, o medo das consequências - a multa que vem pelo Correio e os pontos na Habilitação - inibem a infantil peraltice desobediente dentro das pessoas.
Tem a ver com um medo primordial. O medo do castigo eterno pelo pecado; de um Deus de barba branca e olhos de cyborg (lembra, do tutututututu e a visão ampliada de Steve Austin, o Homem de Seis Milhões de Dólares?)... Na infância, a gente tinha certeza de alguém aí em cima, nos vigiando o tempo todo, não é? E é este medo que ainda nos domina nessas horas.
Que bom que ele existe! Não o cyborg (aquele radar até que parece ter um olho de tutututu!), mas Aquele que tudo vê. Um pouco de controle sobre as nossas molecagens é um sentimento que cria uma sociedade boa, de respeito mútuo. Viva o nosso medo primordial!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A tragédia do amianto. Santa Catarina participa.


A insistência da indústria brasileira com o amianto é uma tragédia e uma vergonha mundial. O jornal The Guardian divulgou um vídeo mostrando que mais de 15 mil brasileiros morrem todos os anos por conta de doenças provocadas pelo amianto. Isso é três vezes o número de pessoas que morreram de ebola na África e representa dez por cento do total mundial de vítimas.
Mesmo assim, a indústria brasileira do amianto, seguindo na contramão do mundo inteiro, trava uma luta feroz na justiça contra as multas que deve pagar às famílias das vítimas e contra a decisão de assinar o tratado de banimento mundial do amianto. A principal indústria do setor no Brasil é a Eternit. Em vista da pressão dessa indústria, o Brasil reluta em assinar os tratados internacionais acordados na Convenção de Roterdã, tendo o Ministério das Minas e Energia como leão de chácara.
O produto já foi banido pela indústria em 66 países, entre eles a Argentina, o Chile e o Uruguai. Até em diversos estados brasileiros a proibição de seu uso já vigora, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso. Mas a decisão de manter a lei em vigor está suspensa e tramita no Supremo. Fala se em “inconstitucionalidade” da lei.
O nosso estado faz parte dessa mancha vergonhosa, e não quer abrir mão. Em Santa Catarina a luta pelo fim do uso do amianto na produção de telhas é feroz e não anda na Assembleia Legislativa. Um dos principais produtores nacionais, Santa Catarina usa o material altamente nocivo na região sul do estado, com destaque para Criciúma. A Imbralit, por exemplo, foi condenada em junho a pagar indenização milionária por conta dos problemas causados a seus colaboradores.
Em diversos países, pelos danos que causa à saúde, o seu uso é considerado crime. Na Itália, dois empresários de uma empresa que produz artefatos de amianto foram condenados a 16 anos de prisão pelos danos à saúde de seus trabalhadores. O produto ataca o sistema respiratório, em especial a membrana que recobre os pulmões (pleura), causando câncer.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...