quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Moralismo na crítica ao sepultamento do ator



A morte do consagrado ator norte-americano Philip Seymour Hoffman, no dia 2 de fevereiro aos 46 anos, causada por uma overdose de heroína, chocou o mundo. Muitas pessoas foram testemunhas da batalha de Hoffmann contra as drogas, uma inglória luta perdida.

Mas um choque maior ainda veio depois, e de dentro da igreja. Sepultado segundo o ritual católico de encomendação, nos dias seguintes muitos “cristãos” criticaram a legitimidade do cerimonial, uma vez que o apego de Hoffmann à droga o tornaria um pecador digno de julgamento e, portanto, não merecedor de um sepultamento como o que recebeu. Novamente a moral colocou os pesos na balança.

Como estamos às voltas com o tema suicídio, não pude deixar de fazer a dramática ponte entre nossa dor e tabus e o drama de Hoffmann. Segundo esses moralistas, à semelhança do trato destinado aos suicidas no passado, a morte do ator por overdose o tornaria quase um suicida. Talvez eu exagere, mas é exatamente esta postura que vejo nos críticos do cerimonial que ele recebeu e na falsa moral que o condenou ao limbo dos indignos.

Que Deus nos perdoe por nossa fé arrogante, moralista e injusta.

Maiores detalhes sobre o tema, em inglês, aqui.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Admoestação e oração por união no barco da igreja



 Pastor presidente Friedrich entre o sinodal Lemke (E) e o casal de ministros da Barra.

A passagem do pastor presidente da IECLB, Nestor Paulo Friedrich, por Santa Catarina neste final de semana teve uma advertência e uma oração: a unidade da igreja é inegociável. Friecrich chegou no sábado 22 de fevereiro, para uma megaordenação de nove ministros e ministras ao ministério pastoral em Jaraguá do Sul (SC). No domingo, ele esteve em Estrada da Ilha, onde a comunidade celebrava 150 anos e lembrava o pastor Otto Kuhr.

O PP foi o pregador nos dois cultos. No sábado em Barra do Rio Cerro-Jaraguá do Sul a sua mão conduziu seis mulheres e três homens ao ministério ordenado, ou seja, agora eles se juntam àqueles e àquelas que têm o legado de anunciar o evangelho em nome da IECLB.

Em sua pregação, Nestor deixou muito claro que os nove – nem ninguém! – não recebiam a ordenação para falar em seu nome e de suas ideias ou ideologias, mas era um compromisso de responsabilidade com o Evangelho de Jesus Cristo.

Ele disse explicitamente que a ordenação não é a chave para falar em nome de um grupo, uma facção ou um movimento dentro da IECLB. Eles agora integravam o ministério ordenado da IECLB e a sua responsabilidade estava com esta instituição e não com qualquer outro agrupamento dentro ou ao lado da mesma. Senti firmeza.

Quem participou do culto do domingo, na Estrada da Ilha, ouviu as mesmas admoestações do PP. Que usou o exemplo do pastor Otto Kuhr como um homem sábio, que lutou pela unidade em tempos bicudos.

Mais do que uma admoestação do pastor Nestor, essa coincidência é uma oração por diálogo e unidade. Um dos lugares em que também há esse tipo de confronto é nos grupos da IECLB no FaceBook. Eu junto minhas orações às do pastor presidente. Essa disputa pela "verdade" é odiosa.

Estamos todos e todas no mesmo barco. Enquanto digladiamos, o próprio barco corre sérios riscos. O pastor Otto Kuhr era sábio e, para quem aprecia um pouquinho as lições da história, ele foi um dos arquitetos da unidade da IECLB naqueles tempos bicudos. Porque a coisa estava bem feia entre as comunidades independentes e cada uma se julgava uma pequena igrejinha e não queria muito ouvir dos outros.

Espero que sejamos tão sábios quanto foi Otto Kuhr e que, depois de 150 anos, não comecemos a dar lamentáveis passos para trás, nos dividindo cada um para o seu campinho com a sua bola. É fácil de adivinhar o resultado: quando a bola tem dono, o jogo pode acabar antes do segundo tempo!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

General que apoiava Goulart foi subornado pela FIESP





Presidente João Goulart e o general Amaury Kruel

O coronel do Exército reformado Erimá Pinheiro Moreira, de 89 anos, prestou depoimento nesta terça-feira (18) ao presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, vereador Gilberto Natalini, e denunciou que, em 31 de março de 1964, o então comandante do 2º Exército, general Amaury Kruel, foi subornado com US$ 1,2 milhão pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Raphael de Souza Noschese, para trair o ex-presidente da República João Goulart e apoiar o golpe militar.

Erimá Pinheiro Moreira era major farmacêutico na época e servia no Hospital Geral Militar, situado no Cambuci, na Zona Sul de São Paulo. Cedeu a pedido as instalações de um laboratório de análises clínicas de sua propriedade, localizado no bairro da Aclimação, no Centro de São Paulo, para que o general Kruel fizesse uma reunião sigilosa. Até aquele momento, o comandante do 2º Exército apoiava o presidente Goulart e se mostrava disposto a resistir contra os militares golpistas. Kruel havia sido chefe do Gabinete Militar da Presidência da República e ministro da Guerra de Goulart.

"Kruel dizia que morreria em defesa de Goulart", relata o coronel Moreira, que foi cassado após o episódio. Na hora da reunião no bairro da Aclimação, em 31 de março de 1964, apareceu no local o presidente da Fiesp, acompanhado por três homens. Cada um portava duas maletas. Com medo de um atentado contra Kruel, Moreira exigiu que abrissem as seis maletas para se certificar de que não havia armas escondidas no seu interior. As maletas estavam repletas de cédulas de dólar. Moreira achou que o dinheiro seria usado para organizar a resistência ao golpe militar.

Raphael de Souza Noschese e os três homens foram para o andar superior do laboratório de análises clínicas, que ficava na esquina das ruas Conselheiro Furtado e Tenente Otávio Gomes. Depois, Kruel ordenou que as maletas fossem colocadas no porta-malas de seu automóvel, o que foi feito com a supervisão do próprio coronel Moreira, e deixou o local com cinco militares batedores que conduziam motocicletas. Horas depois, Kruel anunciou o apoio ao movimento que depôs Goulart.

"Kruel foi subornado", afirma o coronel Moreira. Na época, ele questionou em reunião com oficiais do Exército se Kruel havia embolsado o dinheiro. Foi cassado e passou a ser vigiado por homens do Dops e do 2º Exército. Moreira também declara ter recebido a informação de que depois Kruel usou o dinheiro do suborno para comprar duas fazendas na Bahia.
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Texto de Gilberto Natalini (99654-9532) e Ivo Patarra (99603-5058)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O real problema do Mais Médicos

Defendi o programa Mais Médicos desde a sua proposta, e continuo defendendo. Tal defesa não tem conotação ideológica de minha parte, mesmo que afirmem o contrário. Considero o programa um avanço social legítimo, exatamente na direção de melhorar um dos aspectos mais colocados na balança nas críticas ao governo, a saúde pública. Ele vai na exata direção de projetos heroicos como o de Albert Schweitzer na África.

Aliás, neste quesito continuo um defensor do SUS, tão achincalhado ultimamente. Nós temos saúde pública e ela é de qualidade, mesmo que em alguns grandes centros se acumulem os casos de desmandos, descasos e desrespeito nos hospitais. O Sistema Único de Saúde brasileiro é um oásis em meio ao caos da saúde nos outros países do continente, nos EUA inclusive. O sistema é bom, o programa é excelente e os recursos são abundantes. O que falta é vontade, a política de parte dos governantes e a profissional de parte dos responsáveis por gerir o sistema e pelo atendimento direto ao cidadão.

Tem atendimento e procedimentos médicos de qualidade - se necessário até no exterior -, tem garantia constitucional de atendimento a todos os brasileiros, tem remédio e terapias até de alto nível, tudo grátis. Reclamamos de barriga cheia e preferimos pagar planos privados de saúde a peso de ouro para receber atendimento medíocre e só conquistado com um advogado do lado, em muitos casos. Pagamos para ter menos do que o SUS pode oferecer de graça.

Mas, voltando ao Mais Médicos. Este é o ovo de Colombo da saúde pública. Médicos em todos os rincões do Brasil, fazendo saúde preventiva e reduzindo os gastos do SUS a níveis ainda nem sequer imaginados é excelente, olhando só a partir do aspecto da boa administração dos recursos da nação. Quem menos gostou disso, por sinal, é a classe médica. O Mais Médicos é menos doença, e isso não é bom para o cofrinho deles.

Deve ser dito ainda que, aceitem isso ou não, o sistema de medicina cubano é perfeito. Previne patologias e coloca os médicos na casa das famílias. É mole ou quer mais? Por isso, apesar das carências econômicas e de toda ordem, qualquer pessoa que leva a questão da saúde pública a sério e dispensa ranços ideológicos mofos, não tem dúvida em afirmar que a saúde pública de Cuba é a melhor do mundo.

São esses médicos, este princípio e esta filosofia que o Brasil está importando de Cuba. Santa bobagem afirmar que o PT quer importar o comunismo cubano para o Brasil, quando até o governo de Cuba está se esforçando para arejar o seu sistema. Ou seja, nem eles querem mais o que dizem que estamos importando deles. Nós estamos importando médicos e medicina de qualidade, com um conceito inovador da prevenção e do atendimento familiar, algo que o Brasil nunca teve.

O problema - agora chego a ele, finalmente - foi este desastrado acordo do governo de aceitar repassar 90% do salário dos médicos cubanos ao governo da ilha. Agora querem reverter, pedir mais dinheiro para os médicos. Era óbvio que não conseguiriam sobreviver com R$ 800 por mês. Nem o assalariado consegue... Era óbvio que isto ia dar problema. Agora que começaram as deserções, o sapato apertou e querem trocar o dito pelo não dito.

Esta decisão estúpida (de confiscar salário e repassar a Cuba) vai botar a perder o melhor projeto de saúde pública já implantado no Brasil. Deviam ter dito desde o início: "Não concordamos! Nós vamos pagar a eles dez mil reais, como será para todos os médicos vindos também de outros países. Se vocês quiserem uma parte deste dinheiro para o governo cubano, cobrem diretamente dos médicos!". Se meteram numa baita enrascada diplomática. Agora, não adianta pedir para aumentar o repasse.


DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...