quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Maria canta um novo tempo!

A minha alma anuncia a grandeza do Senhor. O meu espírito está alegre por causa de Deus, o meu Salvador. Pois ele lembrou de mim, sua humilde serva! De agora em diante todos vão me chamar de mulher abençoada, porque o Deus Poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo, e ele mostra a sua bondade a todos que o temem em todas as gerações.
Deus levanta a sua mão poderosa e derrota os orgulhosos com todos os planos deles. Derruba dos seus tronos reis poderosos e põe os humildes em altas posições. Dá fartura aos que têm fome e manda os ricos embora com as mãos vazias.
Ele cumpriu as promessas que fez aos nossos antepassados e ajudou o povo de Israel, seu servo. Lembrou de mostrar a sua bondade a Abraão e a todos os seus descendentes, para sempre. (Lucas 1.47-55)


Que Deus é esse que anuncia Maria? Ele não proclama a guerra santa, nem anuncia o poder ou a destruição. Que Deus é esse que vem, num menino frágil e indefeso, deitado na coxia do trato dos animais, parido por mulher Maria? Ele não é um rei com um trono, um cetro ou uma coroa. Que Deus é esse do Natal? Acreditam os cristãos num rei tão frágil, rejeitado até na mais fétida hospedaria de uma cidadezinha no fim do mundo?

É o Deus Paradoxo, porque a sua força está justamente nessa fragilidade. É o Deus Contraste, porque o seu poder reside especialmente nesta fraqueza, que começa na estrebaria e culmina na cruz, com uma coroa de espinhos cobrindo a sua cabeça.

A força do Natal está no Deus que não vem sobre nós com o poder que estamos acostumados dos poderosos, dos políticos, dos chefes, dos diretores de departamentos ou até do chefe de seção. A força do Deus Natalino, naquele Deus Menino, Deus Fragilidade, está na sua entrega por todos os que não contam com a grana, com o poder da grana, com o poder do poder, com o status ou com a arrogância.

Bem-vindo, Deus Menino. A tua Salvação não custou dinheiro, nem pode ser comprada. Tu és a expressão máxima do Novo Mundo Possível. Por isso, salva-nos da arrogância que querer salvar o mundo com nossas próprias mãos. Ensina-nos a ser exemplo do novo no teu exemplo de entrega total, salvadora, restauradora. Bem-vindo, novo tempo! O tempo do Deus Humilde, do Deus que Salva.

A todos um Feliz Natal, repleto do totalmente novo que é Cristo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dia Internacional dos Direitos Humanos


Hoje, 10 de dezembro, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nele, celebramos uma das maiores conquistas da humanidade, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela Organização das Nações Unidas no ano de 1948. São os 30 artigos mais importantes já promulgados na busca por um ideal comum a todas as nações, no sentido de respeitar os direitos mínimos de cada habitante deste planeta.

Fala-se muito de direitos humanos, mas o conteúdo da Declaração é pouco conhecido. No Brasil, por exemplo, há muitos que identificam os direitos humanos com uma defesa dos "direitos dos bandidos". Tal visão tem conquistado cada vez mais espaço entre nós, causando um lamentável desserviço à nação brasileira, feita de gente de índole tão pacífica e respeitosa. É preciso mudar este preconceito urgentemente.

É preciso ler a Declaração na íntegra, (confira, por exemplo, http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm) para perceber que estamos diante de uma declaração de esperança no ser humano e de confiança em sua capacidade de construir um mundo melhor, que seja mais justo e igualitário para todos.

Por isso, hoje é um dia de vigília pelos Direitos Humanos. Proteger esta declaração é apostar no respeito do ser humano ao ser humano. É também dia de lamentar os muitos lugares ao redor do planeta em que esta declaração é desrespeitada, inclusive no Brasil. Para inteirar-se de algumas dessas situações ao redor do mundo, dê uma boa olhada no site da Anistia Internacional, http://www.br.amnesty.org/, e saiba porque, 61 anos depois da Assembleia Geral da ONU que promulgou a Declaração, ainda é preciso anunciar, denunciar e acreditar que o caminho dos direitos humanos é o melhor para toda a humanidade.
Também é um dia em que eu declaro minha total solidariedade a todos os que sofrem abusos dos direitos humanos. Lembro das crianças, dos jovens, das mulheres humilhadas e abusadas em todo mundo, e dos homens humilhados com trabalho vil e salário de miséria. Lembro de todos os que têm fome, sede, estão presos, doentes, são estrangeiros ou estão nus (Mateus 25.31-45). Que tenhamos olhos para estes nossos "pequeninos irmãos". Ao ajudá-los, estamos socorrendo apenas um ser humano, mas através dele, somos solidários com o próprio Cristo ("a mim o fizestes").

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quanto vale o seu tempo?


O Advento é um tempo muito especial no calendário cristão. É um tempo de reflexão e de silêncio interior, de espera e alegria pelo que vem. No comércio, o tempo de Natal já começa bem antes do primeiro domingo de advento, pois cada dia que podem acrescentar ao período do Natal representa mais vendas e mais lucro em caixa, melhorando a “rentabilidade” do Natal.

Tudo hoje é medido por sua “utilidade econômica”. É isso que marca também o ritmo do tempo e a forma como fazemos uso dele. Assim, por exemplo, os domingos foram transformados em dias úteis e bons para negócios, ao mesmo tempo em que o calendário está repleto de feriados que lembram eventos festivos sobre cujo significado não se tem mais clareza.

Há uma grande confusão sobre o que é trabalho e descanso, dia útil e domingo, e cada pessoa precisa organizar a sua agenda de forma individual, em busca do equilíbrio entre esses dois pratos da balança. A maioria já não tem domínio algum sobre a sua agenda, especialmente os trabalhadores do comércio, do turismo, dos serviços e de cada vez mais setores envolvidos numa sociedade que, em busca do rendimento máximo, não consegue mais estabelecer paradas para recuperar o fôlego.

Quanto vale o nosso tempo na sociedade de consumo? Se não o podemos usar para ganhar dinheiro, ele parece não ter valor algum. Mas quanto ele passa a valer quando precisamos administrar uma crise, estamos sem emprego ou nos tornamos velhos, ou doentes?

É na forma como lidamos com o nosso tempo que se mostra o que é importante para cada um de nós ou para a nossa sociedade como um todo. O que você mais tem ouvido ultimamente: “Pode falar, que estou com tempo para ouvi-lo” ou “Lamento, mas estou com pressa”? É impressionante como as pessoas medem cada vez mais a sua realização pessoal pelo que ainda têm para fazer, em vez de olhar para o que já fizeram. Cá entre nós, tenho descoberto que, por mais que eu me empenhe, sempre haverá alguma coisa esperando para ser feita.

A forma como organizamos a agenda deixa entrever qual é a nossa concepção de vida. A vida não adquire mais sentido quando lotamos a agenda a ponto de nos faltar o fôlego. É muito mais importante dar qualidade ao que fazemos. A quantidade é absolutamente desimportante.

O tempo da nossa vida é um presente de Deus. É tempo presenteado, portanto, que não está interessado em “utilidade” ou “eficiência”. O tempo que recebemos de Deus está ancorado na percepção da eternidade e deveria voltar-se nesta direção, no sentido de ocupar-se com o amor e a liberdade, dando espaço para que a luz da vontade de Deus penetre em nosso tempo.

Só assim é que vamos perceber o nosso tempo como um tempo pleno e repleto de sentido, aberto para a vida e para o reconhecimento de que nosso tempo está nas mãos de Deus. Tal visão diminui a percepção econômica e numérica do nosso tempo e lhe dá a qualidade de algo que está orientado para o ser humano.

Stevie Wonder é mensageiro da paz da ONU


O cantor norte-americano Stevie Wonder foi nomeado “mensageiro da paz” da Organização das Nações Unidas (ONU) com um enfoque especial nas pessoas com deficiência, anunciou a ONU ontem (03.12). Os mensageiros da paz são celebridades geralmente nos campos de cinema, música, literatura e esportes, que promovem as atividades e os ideais da ONU em aparições públicas e contatos com a mídia.

Em comunicado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, descreveu Wonder, que é cego, como “uma verdadeira inspiração aos jovens do mundo todo sobre o que se pode conseguir apesar de qualquer limitação física”.

“Ele conseguiu usar sua voz e sua relação especial com o público para criar um mundo melhor e mais inclusivo, defender os direitos civis e humanos e melhorar a vida dos menos afortunados”, disse Ban.

Wonder, de 59 anos, é cego de nascimento, mas aprendeu a tocar gaita, piano e bateria até os nove anos. Em sua carreira, ele emplacou 32 singles no topo das listas de R&B, ganhou 25 prêmios Grammy e vendeu mais de 100 milhões de álbuns. O cantor, cujos sucessos incluem “Superstition”, “I Just Called to Say I Love You” e “My Cherie Amour”, embarcou em uma turnê no ano passado que ele espera ajude a espalhar uma mensagem de união entre as religiões e raças. (Com informações da Folha Online)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Comin recebe Prêmio Gigantes da Ecologia


Na foto André Palhano, colunista de sustentabilidade da Folha de S. Paulo e coordenador do Conselho Consultivo do Gigantes da Ecologia; Gustavo Siqueira, promoter e idealizador do Prêmio; pastor Clovis Horst Lindner, representando o Comin na entrega do prêmio.


O Conselho de Missão entre Índios-Comin, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB, foi um dos premiados na noite da sexta-feira 27 de novembro, em Blumenau (SC), durante a oitava edição do Prêmio Gigantes da Ecologia. O evento é organizado pelo premiado promoter e comunicador blumenauense, o jovem Gustavo Siqueira, fundador e presidente do Instituto Gingantes da Ecologia.

O prêmio faz parte de um amplo projeto de educação ambiental coordenado pelo Instituto, que tem como uma de suas ações a publicação de uma cartilha sobre o tema água, com tiragem de 100 mil exemplares distribuídos nas escolas de Santa Catarina. A cartilha contempla reportagens sobre todos os projetos de conservação de recursos hídricos e personalidades premiados, além de abordar diversos estudos sobre a importância da preservação da água no planeta.

O case do Comin, “Manejo dos Lagos”, é desenvolvido na aldeia Deni-Kanamari, do Rio Xeruã-Itamarati, na Amazônia, sendo um dos oito cases premiados na noite, ao lado de personalidades de destaque no cuidado com a água, que foi tema desta edição do Prêmio, com o mote “A Água é o Sangue da Terra”.

O projeto “Manejo dos Lagos” é executado na reserva Deni, que tem em torno de 165 lagos de várzea, formados durante o período de cheias da Bacia Amazônica. O projeto – que tem o apoio da EED da Alemanha e da Fundação Luterana de Diaconia – está em fase de implantação, com cursos preparatórios assistidos por 46 indígenas das quatro aldeias Deni do Rio Xeruã de Itamarati, Morada Nova, Boiador e Itaúba, além de representantes Kanamari de quatro aldeias ao longo dos rios Xeruã e Juruá.

O objetivo é elaborar o manejo sustentável de preservação dos lagos, utilização da pesca como alimento para a própria comunidade e a futura comercialização certificada do pirarucu, hoje ainda abundante na maioria dos lagos atingidos pelo projeto “Manejo dos Lagos”. O assunto é tema de debate do povo Deni ao longo dos últimos anos.

Durante os cursos são trabalhados temas como ecologia, aquicultura, piscicultura, fauna e flora, vegetação primária e secundária, biodiversidade, preservação, desenvolvimento sustentável, biologia do pirarucu, mudanças climáticas e mapeamento dos lagos. O foco dos cursos é a discussão sobre desenvolvimento sustentável, na busca pelo equilíbrio entre meio ambiente, renda e qualidade de vida para a comunidade indígena, que seja ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável.

Os Deni e os Kanamari estão conscientes da importância da preservação dos lagos, evitando a pesca predatória de invasores não-indígenas, controlando rigorosamente a pesca e aumentando a consciência da preservação dos lagos, tendo proibido a pesca em alguns deles para conservação. A coordenação da implantação do projeto é do pastor da IECLB Walter Sass, que atua dentro da aldeia Deni-Kanamari.

Na noite da entrega do prêmio, o Comin foi representado pelo pastor Clovis Horst Lindner, coordenador do grupo de apoio à missão indígena da IECLB em Santa Catarina.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A corrupção e a sociedade do acúmulo


E agora essa? Todos dizem: “O Arruda já é velho conhecido!”. Mas é mais um caso – dos muitos – pipocando em todos os lugares. A população civil já não suporta mais. A cidadania está na UTI, porque os responsáveis para que a sociedade civil caminhe uma boa marcha não têm feito outra coisa do que olhar para os seus próprios bolsos.

Os nossos líderes são o resultado escancarado de uma forma de vida que está centrada unicamente no acúmulo de bens materiais, no prestígio comprado com grandes cifras e no respeito aos que têm muito, não importando como chegaram ao que acumularam, porque é um vale-tudo descarado e maldito. Nada mais é respeitado. Não há mais limite algum. Até descaradas orações de agradecimento pelo dinheiro recebido da propina agora é permitido. É uma zombaria tão maldita que nem mesmo o diabo pode com ela.

O gozado é que esse tipo de ousadia descarada acontece sempre onde o desnível entre ricos e pobres é mais gritante, mais injusto e mais desumano. A corrupção se torna gigante bem ali, onde menos tem. As boas famílias, ilibadas, dignas de todo o respeito de todos, que moram em casas milionárias e ostentam descaradamente, devem sua fortuna à exploração das classes oprimidas, formadas de gente que trabalha como animais de carga, iniciando o dia bem antes de o sol nascer e parando muitas horas depois que ele se põe, caindo na cama como pedras desgastadas e aniquiladas pela inglória luta de colocar pão na mesa, de juntar o mínimo para chamar aquela porcaria que vivem de vida. São os infelizes integrantes de uma massa indefesa diante do privilégio e do poder do capital.

Eu não tenho mais nenhuma dúvida. A corrupção é um monstro comedor de gente, uma fedentina que se espalha por todos os meandros da sociedade, na economia, na política, na justiça, nos sindicatos, nos grandes e pequenos partidos, nas bilhões de gavetas das milhões de salas das administrações públicas de todo mundo.

A corrupção é a única meta dos que vão ao pote da política com o único objetivo de enriquecer a qualquer custo, enriquecer muito, sem nunca dizer a palavra “chega”. Ela é a única causa das obras que nunca saem, do ensino público que forma esquálidos intelectuais, e a única culpada pelas milhões de vítimas dos péssimos serviços do Estado em todo o mundo. A corrupção é o único instrumento capaz de transformar cidadãos em mendigos, homens e mulheres honestos em párias, trabalhadores em escravos.

A corrupção é uma praga apocalíptica. É algo tão sério que torna a sociedade insensível, incapaz de reagir, de dizer “basta”. A sociedade assiste a tudo isso estática, como que paralisada, desbotada, atrofiada pela avalanche de notícias sobre corruptos, corrupção, desvios e abusos. A corrupção não devora somente as nossas economias, mas se alimenta das nossas próprias almas. A corrupção é muito séria, porque coloca em perigo a própria democracia. A casa está por cair a qualquer momento, vítima da descrença generalizada de que alguma coisa possa mudar. Ou a democracia acaba com a corrupção, ou a corrupção vai minando lentamente a própria democracia. Sim, porque ela vai exterminando todas as ideologias, arrasando todos os princípios e aniquilando todas as utopias.

E o Brasil presenciou num curto espaço de tempo a queda de seus grandes sonhos e utopias, sem saber substituí-las por outros que não o do traiçoeiro, desalmado e arrogante culto ao dinheiro. O Brasil sonha em ser uma grande potência mundial, sem medir qualquer conseqüência. O negócio é crescer, vencer sempre, ser o maioral. Nossa sociedade está construída unicamente sobre valores materiais.

Com isso, se vai a ética, o respeito pelo outro, a gentileza, o carregar junto, Deus e o próximo, a criação e as criaturas. Sai pelo ralo o respeito à vida, que é o único bem. O dinheiro jamais poderá ser um bem. O dinheiro é poder, mas não é um bem. O bem beneficia o máximo de pessoas, sem exclusão. O dinheiro é por natureza excludente. E corrompe. Isso está cada vez mais claro. Está à luz do dia na nossa sociedade brasileira, doente, corrupta até a medula, atrofiada.

Mesmo assim, não posso desistir de sonhar. Podem malhar, insinuar, desfazer ou falar sem conhecimento de causa. Podem colocar o meu “pastor” assim, entre aspas. Não importa. Eu vou continuar sonhando. E minha inspiração não é outra senão o próprio Cristo e sua revelação de novo eon.

A partir dessa visão, mesmo com a crescente barbarização da nossa sociedade corrupta, eu sonho que, antes da chegada da barbaridade final, os cidadãos livres das nações livres irão se levantar numa revolução pacífica universal, e tomarão os parques e as praças, fecharão rodovias e becos, se negarão a ter cartões de crédito e contas em bancos, e numa festiva greve geral cruzarão os braços até que todos os atores sociais concordem que precisamos de uma sociedade melhor, na qual o ser humano volte a ser a medida de todas as coisas. É um sonho utópico, mas às vezes os sonhos se realizam... (Com inspiração em Alfonso Ropero)

HIV/Aids: Uma tragédia mundial


No Dia Mundial de Combate à AIDS, vamos lembrar que a tragédia afeta cerca de 12 milhões de crianças, que perderam o pai, a mãe ou ambos para a imunodeficiência. A maioria delas estão no sul da África, mas também na Ásia e na Europa Ocidental. Prevenção, tratamento dos infectados e a busca de perspectivas de vida para os órfãos da AIDS são as tarefas que cabem a todos nós para a busca de uma vida minimamente digna para elas.
Apesar das notícias de que o número de infectados diminuiu em todo o mundo, o drama instalado nas regiões mais pobres do mundo ainda está longe de poder deixar de ser qualificado de tragédia. O avanço dos bons resultados em todo o mundo só não foi maior porque há uma grande barreira de preconceito e intolerância em torno do problema.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os primeiros passos da cruzada da intolerância


Numa decisão política surpreendente, os suíços votaram – em um plebiscito realizado neste domingo (29/11) – pela proibição da construção de minaretes no país. A iniciativa de políticos populistas de direita conquistou o apoio de 57,5% dos eleitores. Além de ter obtido 5 milhões de votos, a proposta de proibição foi aprovada pela maioria necessária de 26 dos 30 cantões da Suíça.

O sociólogo suíço Jean Ziegler advertiu sobre o surgimento de uma “atmosfera de pogrom” no país. Para ele, o plebiscito sobre a proibição de minaretes é, na verdade, um referendo sobre o islamismo. “Muitos muçulmanos temem atentados, violência e estigmatização”, explica o ex-deputado social-democrata. “Inicialmente só havia um pequeno grupo dentro do Partido Popular Suíço, beirando ao fascismo, que exigia que se proibisse a construção de minaretes.” E esse grupo acabou iniciando uma campanha gigantesca, que levou à vitória deste domingo.

A decisão é um revoltante ato de regressão, que abre caminho para a volta de estigmas assustadores, como a perseguição aos judeus durante o regime nazista na Alemanha. Vencem o preconceito e a total intolerância religiosa, além de trazer consequências econômicas para a Suíça. O sociólogo prevê que o plebiscito seja só o começo de uma “cruzada” contra o islã e teme que ela ainda possa se acirrar. Além disso, Ziegler adverte que isso poderá transformar os suíços nos “novos inimigos” no mundo islâmico. (Com informações da Deutsche Welle)

Lembranças assustadoras – É inevitável relembrar os tempos do início da imigração alemã no Brasil, iniciada em 1824, quando a religião oficial do estado brasileiro era o catolicismo e os protestantes foram proibidos de construir torres para os seus locais de culto. Durante décadas os nossos antepassados conviveram com essa imposição da maioria católica.

Mas a decisão do povo suíço e muito pior, porque não são só os minaretes que caem. Monumentos mais visíveis da fé islâmica, essas torres de chamado para as cinco orações diárias dos muçulmanos são o símbolo maior de uma presença que é vista com crescente incômodo em toda a Europa.

Preparem-se para uma caça às bruxas, não só em solo suíço. As grandes lições do século 20 estão caindo rapidamente no esquecimento das novas gerações e a xenofobia volta com toda força.

A execução de Jesus


Como uma crítica à onipresente imagem de Mao Tsé-tung (1893-1976) por toda a China, os Irmãos Gao resolveram tematizar este culto em sua arte. Os Irmãos Gao estão entre os mais célebres artistas plásticos chineses. Em sua arte, o culto à personalidade do líder comunista ganha tons iconoclastas e sombrios. Obviamente, a dupla não consegue exibir grande parte de seus trabalhos na China.
A Execução de Jesus é a mais recente obra dos Irmãos Gao. Na obra, seis figuras de Mao Tsé-tung empunham baionetas contra um Jesus indefeso, enquanto uma sétima, também com o rosto de Mao, segura a arma ao fundo. A obra só pode ser vista no estúdio dos artistas, no Distrito 789, uma espécie de território livre da arte contemporânea chinesa. Os artistas estão negociando sua apresentação em 2010 no Kemper Museum of Contemporary Art, em Kansas-EUA.
Gao Zhen (53) estudou Pintura Chinesa Clássica na universidade, enquanto seu irmão Gao Qiang (47) optou por Literatura. Na metade dos anos 80, os dois começaram a realizar trabalhos conjuntos e deram início a uma parceria que se aprofundou a ponto de ambos serem conhecidos como os Irmãos Gao e não por seus nomes individuais. Os dois se vestem de maneira parecida, usando o mesmo tipo de boné e andam sempre juntos nas ruas do Distrito 798.
Eles se tornaram famosos em 1989, ao participarem da China Avant-Garde. Na mesma época, os Irmãos Gao deram início ao ativismo político que viria caracterizar sua obra, ao assinar uma petição que pedia a libertação do dissidente Wei Jingsheng, que estava preso havia dez anos por participar do movimento Muro da Democracia, em 1978.
Os Irmãos Gao entraram na lista negra do governo chinês e se transformaram eles próprios em dissidentes. Seus passaportes foram confiscados e por 14 anos os artistas foram proibidos de sair da China.
Eles não puderam participar da Bienal de Veneza em 2001, onde apresentariam a performance Utopia do Abraço de 20 Minutos, realizada pela primeira vez na China no ano anterior. Nela, voluntários são estimulados a abraçar um estranho por 15 minutos e a participar de um abraço coletivo por cinco minutos. O evento se tornou uma marca registrada dos Irmãos Gao, que já o promoveram em Hong Kong, Berlim, Nottingham e Tóquio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um debate com cheiro de pólvora


O debate em torno da questão das armas, nos últimos dias, atingiu níveis que só podem ser lamentados. O cheiro de cartuchos detonados já impregna o ar. O tema é sério, é preocupante, é digno de uma reflexão mais isenta e mais respeitosa. Entretanto, nem todos os debatedores aplicaram esta regra.

Entre os muitos argumentos de franco ataque à defesa da paz desarmada, faço questão de citar somente um, mormente por sua origem. É uma manifestação que veio de ninguém menos do que Bene Barbosa, o presidente do Movimento Viva Brasil – entidade que foi constituída em 2005 com o único propósito de vencer o referendo que queria o desarmamento da população civil.

Está óbvio que conseguiram o seu intento. Está óbvio que o resultado de 76,64% dos votos a favor das armas foi fruto do seu trabalho, amealhando votos de uma população desinformada e que sequer tem dinheiro para comprar uma arma. Mas não é este o problema.

Ao conquistarem o direito de ter armas através do referendo, eles imaginam que o respeito à sua vitória significa o total silêncio de quem defende a paz. Ao contrário do que Barbosa afirma, tão raivosamente, com argumentos absolutamente chulos e desrespeitosos, a vitória deles não significa que o assunto se esgotou. Muito menos, significa que devêssemos nos calar e não tocar no assunto. Se fosse assim, toda oposição seria ilegítima, uma vez que a maioria elegeu quem está no poder. Mas ainda não é este o problema.

O problema de Barbosa, que usa o argumento do "respeito é bom", bem no estilo "ou cale-se ou eu atiro", transformou a palavra "babaca" – que sequer consta no Aurélio –, segundo sua brilhante dedução etimológica, em "órgão genital feminino". Para ser claro, na sua cabeça babaca é vagina.

Embora de um nível desprezível, a sua argumentação fortalece o que eu quis dizer. Por defender a paz, eu me sinto como um "babaca", como uma vagina estuprada pelos trogloditas da guerra. Aliás, foi um deles que usou exatamente esta palavra para desfazer os que defendem a paz. Os trogloditas da guerra se defendem, como Barbosa, com argumentos baixos do tipo: dizer que todo dono de arma a possui para usar, "é o mesmo que dizer que todo homem é um estuprador uma vez que possui instrumento para execução deste tipo de crime".
É assim que funciona a mente de quem usa e defende armas. Sinceramente, me nego a descer ainda mais baixo na argumentação. Além de defender a paz desarmada, me alinho com todos os que praticam a não-violência.
A propósito, o texto que foi tão vilmente atacado por Barbosa, está aqui, no Blog, postado no dia 12 de novembro. Ele foi publicado no dia 25 de novembro no Jornal de Santa Catarina, com algumas alterações.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

The boy who harnessed the wind


O jovem William Kamkwamba, hoje com 22 anos de idade, viu uma oportunidade de ouro num lugar em que mal conseguiríamos sobreviver. Ele vive no interior do Malauí, um paupérrimo país perdido no meio da África, que faz fronteira com Moçambique. Seu pai é agricultor em Wimbe, uma pequena vila do interior, praticando agricultura de sobrevivência num lugar inóspito, de colheitas reduzidas e secas periódicas terríveis.

Com dois livros de física elementar, um monte de lixo e vento, William criou eletricidade em meio ao nada, abrindo caminho para a luz e para o bombeamento da água do poço, permitindo irrigação da roça e duas colheitas por ano ao seu pai. De quebra, os vizinhos podem abastecer seus celulares.

A ousadia de Kamkwamba chegou ao canal de TV local e correu o mundo. Hoje sua história virou livro, com o título deste post (O menino que domou o vento). Seu sucesso surgiu em meio a miséria, dedicação, senso de oportunidade e muito lixo. Segundo William, na seca de 2000 a sua família e toda a vizinhança foi forçada a cavar o chão para encontrar raízes, cascas de banana ou qualquer outra coisa para forrar o estômago. Sem dinheiro para ir à escola, seu destino era ser mais um agricultor miserável do Malaui. Mas ele não se rendeu ao destino.

Na biblioteca comunitária perto da vila ele encontrou os livros que o tornaram um empreendedor e palestrante requisitado. Enquanto ele construía seu moinho de vento para gerar energia, todos o chamavam de louco e maconheiro. Quando viram o moinho girando e produzindo eletricidade, seu valor foi finalmente reconhecido. Não só na sua vila, mas em todo o mundo. Hoje, ele estuda na African Leadership Academy, em Johannesburgo, uma escola que reúne jovens de 42 países africanos para formar líderes para a África. Hoje ele quer voltar ao Malaui e gerar energia em todas as vilas, levar água a todas as cidades e fazer com as próprias mãos o que o governo não faz. Um exemplo que deveria ser imitado por aqui...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma visita indesejada


Uma carta do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs-CONIC ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assinada pelo presidente, o pastor da IECLB Carlos Möller, e pelo secretário-geral, rev. Luiz Alberto Barbosa, critica a visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na semana que vem. Segundo a carta, as importantes relações comerciais entre Brasil e Irã não podem ser a única motivação para recebê-lo.

Os direitos humanos são o pomo de discórdia. “Como cidadãos brasileiros, ficamos extremamente preocupados ao testemunhar a aproximação do nosso país com um regime autoritário e perpetuador de graves violações dos direitos humanos, como o dirigido pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad”, diz o texto do CONIC.

A violação sistemática dos direitos humanos tem sido a regra no Irã, inclusive no campo religioso. “É um regime de profunda intolerância religiosa, em que cristãos, judeus e os seguidores da fé Baha’i, dentre outros, sofrem perseguições diárias, inclusive com ameaças que muitas vezes culminam em prisões e até mesmo em morte”, exemplifica o CONIC.

Uma temática urgente é proposta pela carta, no sentido de que os direitos humanos e a liberdade religiosa sejam parte dos temas abordados durante a visita de Ahmadinejad. “Uma vez que esta visita parece ser mesmo inevitável, esperamos que o Governo brasileiro não perca a oportunidade histórica de cumprir com o seu papel em defesa das minorias perseguidas e oprimidas pelo regime do Sr. Mahmoud Ahmadi­nejad”, reforça a carta.

O importante papel do Brasil no mundo é destacado pelo CONIC na carta, que afiança o apoio das Igrejas “para a construção de um Brasil cada vez mais justo e fraterno para todos”. Segundo o organismo ecumênico brasileiro, “o Brasil cumprirá bem e com eficácia o seu papel no mundo, se continuar defendendo os valores éticos e democráticos que não constam na agenda do atual presidente iraniano”.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os 40 anos do milésimo


Hoje é um dia muito especial. No dia 19 de novembro de 1969, diante do Maracanã lotado, Pelé marcava, de pênalti contra o Vasco, o milésimo gol oficial de sua carreira. Quarenta anos depois, nem o próprio Rei do Futebol consegue esquecer que as suas pernas tremeram naquela noite.

Não é pelo gol, não é pela figura única de Pelé como o atleta mais admirado de todos os tempos, em todo o Planeta. É como lembrança de um futebol de outros tempos, com outra índole e uma certa inocência perdida. O que Pelé ganhou ao longo de sua vida, é uma merreca diante do que ganham Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Cristiano Ronaldo e outros. O dinheiro acabou com o futebol-arte. O dinheiro acabou com os craques. O dinheiro acaba com tudo.

Pelé, que o seu gol continue indelével em nossa memória por muito tempo. Aos que não se contentam com a imagem acima, um link para rever um pouco das peripécias do artista máximo da bola: http://www.youtube.com/watch?v=8QEmnP48PEc&feature=related.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Hyperphotos de Rauzier


O fotógrafo francês Jean-Francois Rauzier inaugura este mês em Londres a exposição "Hyperphotos". Em suas obras, Rauzier mistura sonho e realidade em composições fotográficas manipuladas no Photoshop. Dando atenção minimalista aos detalhes, o artista monta imagens que parecem reais, mas surpreendem pelos elementos nada convencionais. "Durante longas horas, dias e noites, eu trabalho nas imagens e algumas vezes chego a dormir na frente do computador", disse ele ao jornal britânico The Independent. Rauzier junta no Photoshop algo entre 600 e 3,5 mil fotografias em close de inúmeros detalhes da imagem representada. A costura entre as imagens é tão precisa que mal dá para perceber, mantendo forma e foco nos menores detalhes. A alta definição das imagens, que mantém a mesma qualidade mesmo quando ampliadas mais de 50 metros, também se destaca. Se você quer ver o impressionante trabalho do artista, não precisa ir até Londres. Entre no site http://www.rauzier-hyperphoto.com/ e divirta-se. Você vai ficar horas por lá.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cadeias e navios negreiros


A foto aí de cima, de Eliane Gorritti e publicada no Terra, é uma das duas celas do Departamento de Polícia Judiciária de Vila Velha, na região metropolitana de Vitória (ES). Segundo Eliane, que visitou o local, as celas foram interditadas porque havia muita sujeira, terra e até fezes no local. O calor intenso, a insuportável proximidade de dezenas de pessoas, o tempo todo e nenhum espaço. Isto é cadeia no Brasil. Nem as masmorras dos porões dos castelos medievais eram assim.

"A situação lá dentro é lastimável. Muita sujeira, lixo, água e fezes boiando. Enquanto escavavam, os presos foram juntando terra em duas celas. Um cano estourou e a água ficou represada no local. O resultado é realmente crítico", descreveu o delegado Mário Brocco para Eliane. Mais de 250 presos ocupam um espaço onde por lei só deveriam estar 36 pessoas. Presos também ocupam a recepção da unidade.

Nem mesmo os navios negreiros eram tão entulhados de gente. Não será dessa maneira que o Brasil vai ser respeitado a ponto de ocupar uma cadeira no Conselho Permanente de Segurança das Nações Unidas. O desrespeito aos direitos humanos é tão revoltante que chega a causar náuseas. Aliás, olhando essa foto aí, alguém ainda pode falar de algum direito?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os três grandes problemas da Aldeia


Hoje, a comunidade científica está cada vez mais inquieta com três grandes problemas que se avolumam e não têm solução à vista:

A Crise Social – Ela consiste no fosso cada vez maior entre ricos e pobres. Cerca de 20% dos mais ricos do mundo consomem 80% de tudo que se produz e, em seu consumo desmedido, poluem o planeta. Se cada pessoa que vive hoje no mundo quisesse viver conforme o padrão de consumo médio norte-americano, seriam necessários dois e meio planetas Terra.

A Crise do Sistema de Trabalho – A modernização tecnológica e a robotização dispensam cada vez mais a força do trabalho humano. O uso de alta tecnologia gera sempre mais desemprego e acumulação de riquezas nas mãos dos grandes empresários. Como resultado, temos pobreza endêmica, violência generalizada e apelo à contravenção como meios de sobrevivência. Vivemos uma guerra civil e o caos social.

A Crise Ambiental – Os recursos renováveis do planeta Terra estão chegando à exaustão. O ser humano se constitui no “câncer da Terra”. O modelo civilizatório em curso destruirá o planeta em poucas gerações. Se não tratarmos a nossa casa (oikos) global como um organismo vivo, que precisa de cuidados especiais, acabaremos por destruir o único lar que temos no universo.

A república, a democracia e o voto

Foto histórica da campanha pelas Diretas, em 1984. A luta desses políticos foi a porta de entrada para o retorno do direito do voto no Brasil, no dia 15 de novembro de 1989.


No dia 15 de novembro, o Brasil teve duplo motivo de comemoração. O primeiro deles é o dos 120 anos da Proclamação da República, embora nessas 12 décadas que se passaram ainda não conseguimos acabar com os principais males que motivaram o fim do Império e o início de um novo tempo na maneira de governar o Brasil. Como nos tempos do Império, velhas oligarquias continuam manejando as marionetes. Ainda é assim que grande parte do poder está nas mãos dos grandes proprietários de terras e dos que compram o poder com o seu dinheiro - muitas vezes amealhado justamente pelas facilidades que a proximidade com o poder dá.

Entretanto, a República trouxe a participação popular para perto do poder, mesmo que em 1889 ainda valesse a regra de que era necessário ter posses e ser homem para votar. Os ex-escravos, os meeiros, os operários, o homem trabalhador do campo e as mulheres não tinham espaço entre os cidadãos.

Hoje tudo isso é superado. Na lei, diga-se. Mas a exclusão da cidadania por pobreza ou gênero é passado no Brasil. E isso é digno de comemoração. Difícil é fazer com que o nosso povo entenda o tamanho do poder que tem nas mãos. Para muitos, o voto é uma obrigação chata, que a gente cumpre justamente porque é uma obrigação. Antes de facultar livre decisão sobre o exercício do direito do voto, entretanto, é preciso educar para que se perceba o poder imenso que a oportunidade do voto coloca nas nossas mãos.

Para dizer o mínimo, podemos falar mal de Brasília o quanto quisermos, podemos detonar o congresso com todas as forças ou atacar o senado com nosso protesto veemente, mas tudo isso que está aí foi escolhido por nós. O nosso voto tem este poder. E também pode mudar tudo. Basta querer. Basta fiscalizar.

É uma grande bobagem dizer que o meu voto é apenas um voto. Somado aos votos dos outros, ele tem poder. A soma dos nossos votos muda tudo. Portanto, se quisermos realmente, vamos melhorar o Brasil.

Ah, já ia esquecendo o outro motivo de comemoração. No dia 15 de novembro de 1989 elegíamos o primeiro presidente do Brasil pelo voto direto, depois de 30 anos sem exercer este direito. Muitos fizeram isso pela primeira vez naquele dia, ao menos todos os brasileiros que tinham menos de 45 anos. E, sem dúvida, este é o melhor caminho. Mesmo que depois das eleições haja muitos que querem estragar esta festa da democracia, o voto é o melhor instrumento que temos. Que mantenhamos o nosso sagrado direito de opinar e que o voto seja a manifestação básica da cidadania entre nós por muito tempo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ser da paz é babaca


Os defensores da sociedade armada em defesa da família uniram forças para defender o artigo do colunista Cézar Zillig, na última segunda-feira, na qual o escritor e médico defendeu a idéia de que a segurança depende do amplo acesso da população a armamentos, para se protegerem dos larápios e invasores de propriedade alheia. De quebra, Zillig criticou outro colunista do Jornal de Santa Catarina, colega seu, que tem defendido meios mais pacíficos de convivência.

Em resposta a Zillig, escrevi ao jornal uma manifestação, publicada na terça-feira: "O estimado colunista Cezar Zillig, sempre tão ponderado em sua coluna, acaba de anular o Estado Constitucional de Direito e instituir a república da justiça pelas próprias mãos, remetendo a humanidade de volta à Idade da Pedra. De minha parte, peço a Deus que nos livre de uma sociedade assim. Armas, só nas mãos da polícia e, mesmo ali, elas têm feito lambança demais."

Nos dias seguintes, diversas cartas e até um artigo de leitores deram apoio a Zillig e jogaram pesado com os defensores da sociedade sem armas. Para eles, quem defende a paz tem sangue de barata nas veias e é incapaz de reagir à violência que assola nossa sociedade.

Sem levar em consideração a ideologização de algumas reações, tais manifestações resumem o quanto temos que começar do zero na construção de uma sociedade capaz de resolver seus conflitos de modo não-violento, que seja promotora da paz e se recuse a retribuir com violência maior à violência que nos atinge. Este é o caminho mais longo, trabalhoso, mas certamente mais eficaz que o armamento geral. Mas o pessoal quer trilhar o caminho mais curto: o atalho da violência contra a violência. Não percebem que isso leva a uma escalada brutal. Anamaria Cováks tem razão em sua coluna de hoje: "estamos numa guerra civil".

Opiniões raivosas contra os defensores da paz demonstram que damos muito mais ouvidos a protagonistas violentos da ficção, como Silvester Stalone, Arnold Schwartzenegger, Vin Diesel, Steven Siegel, Brus Willys, Chuck Norris, Mel Gibson e muitos outros. A sua forma de reagir é que vale, jogando no lixo do esquecimento as gigantescas lições de ícones da história humana, arautos da luta pacífica, como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Dietrich Bonhoeffer, Nelson Mandela, Madre Tereza de Calcutá e Jesus Cristo. Não posso deixar de citar também dois seres humanos extraordinários do nosso meio, infelizmente já falecidos, que são os pastores luteranos Ricardo Wangen e Bertoldo Weber.

Ao classificarem os que defendem a ideia de uma sociedade pacífica como equivocados, covardes e até babacas, os defensores do método violento educam seus filhos para reagirem sempre, para nunca deixarem uma agressão sem resposta e jamais levarem um desaforo para casa. Depois, estranham que eles são capazes de orquestrar o assassinato dos próprios pais para se livrar das críticas. Depois, lamentam que eles são capazes de ir para a escola com uma pistola no bolso para intimidar o professor que lhe deu uma merecida nota baixa numa prova, metendo bala em todos que estão à volta.

A nossa geração deixou Woodstock no registro da história. Os netos dos hippies de Woodstock, pelo visto, não querem mais nada com esse papo careta de paz e amor. O negócio hoje é impor respeito pelo visual agressivo, apostando na violência como melhor solução para combater a violência. A aula inaugural da sociedade Mad Max em que vivemos já se recebe muito cedo, em jogos eletrônicos com muitos tiros e muito sangue. Vamos em frente! Defendamos a paz armada. Até o dia em que seremos a próxima vítima...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A vida no escuro


Todo mundo assustado com o apagão? Isso vai acontecer mais vezes? De quem é a culpa? Alguma coisa será feita para evitar que isso se repita? Essas são algumas das perguntas. Há muitas respostas. Umas querem apagar o fogo e outras jogam gasolina na fogueira. Mas o buraco, minha gente, é mais embaixo.

Em primeiro lugar, o Brasil não tem problema de geração de energia. O Brasil tem problema de transmissão da energia gerada. Por isso, esta reação em cadeia. Cai um poste na linha Paraná-São Paulo e começa uma sequência de dominó que ninguém sabe em que ponto do país vai parar. Todo o sistema está interligado e num emaranhado tão grande qual um novelo de lã que passou pela fanfarrice de um gatinho. Ninguém sabe de onde vem a energia consumida aqui, em São Paulo ou em Brasília. As usinas são todas ligadas num imenso emaranhado de fios e, quando cai uma delas fora, é o caos. Ainda mais se for Itaipu.

Em segundo lugar, isso é só o começo. Já faz um tempão que ninguém leva a sério os avisos que vêm sendo dados. Pelo visto, o jogo de empurra-empurra continua. O problema é que a questão energética no Brasil vem sendo empurrada com a barriga há décadas. O Luz para Todos só pendurou mais gente no novelo emaranhado. E com o Brasil crescendo ao ritmo da China nos últimos meses, vai acontecer de novo, e de novo, e de novo... A demanda é maior que a capacidade de distribuição. E, cá entre nós, arrumar este emaranhado não vai ser coisa de poucas horas.

Em terceiro lugar, não adianta falar, não é? Reuniões e mais reuniões, encontros, cúpulas, tudo para tratar da séria questão energética do planeta. A Terra não suporta 7 bilhões de seres humanos consumindo desenfreadamente todo tipo de energia. E tem gente achando que é séria ao escrever em seu blog que dormiu mal porque não conseguiu ligar o ar-condicionado. Ora, tenha santa paciência. Falta um pingo de desconfiômetro nisso.

Por fim, blecautes não são uma exclusividade nossa. Desde 2006, grandes partes da Suécia e da França ficaram completamente sem energia por dias a fio. Mas, como era no primeiro mundo, nem chegou aqui. A escuridão brasileira da última noite (!) está em todos os jornais do mundo hoje. Interessa a quem quer vender energia, usinas ou catastrofismo... para tirar uma lasquinha. Então toca o filme, nem que seja no escuro!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O livre mercado não satisfaz


Vinte anos depois da queda do muro de Berlim, a maioria das pessoas não está satisfeita com o capitalismo. A afirmação é resultado de um estudo britânico, realizado em 27 países, segundo o qual a melhor impressão sobre a economia de mercado ficou por conta dos americanos e dos paquistaneses.

De resto, a insatisfação com o capitalismo impera ao redor do planeta. O estudo da BBC de Londres foi divulgado no dia 9 de novembro. Segundo ele, somente 11% dos entrevistados em 27 países eram de opinião que o capitalismo, em sua forma atual, funciona bem. Para 27% a economia de livre mercado comete muitos erros – na França 43% pensam assim, no México 38% e no Brasil 35%. Em contrapartida nos EUA e no Paquistão um entre cinco estavam satisfeitos com a atual ordem econômica.

Tendo a pior crise econômica mundial da história recente como pano de fundo, 51% dos entrevistados é de opinião que o mercado precisa ser regulado com maior rigor. Em média 23% pensam que uma ordem econômica totalmente nova deva ser criada.

“Parece que a queda do muro de Berlim não representou a vitória derradeira do livre mercado, como se pensava na época”, disse Doug Miller, executivo do Instituto GlobeScan, que em parceria com a Universidade de Maryland, ouviu 29 mil pessoas. “Alguns elementos do socialismo, como a distribuição mais igualitária das riquezas continuem soando bem para muita gente no mundo”, disse Steven Kull, da Universidade de Maryland.

Em 15 dos 27 países a maioria é favorável a um controle maior do Estado sobre as empresas privadas. Em 22 países a maioria deseja que os governos dos países melhorem a distribuição de renda, constatou a pesquisa. (Fonte: Der Spiegel)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Die Mauer


Die Mauer 1 - O mundo ficou pasmo no dia 9 de novembro de 1989. Os noticiários e jornais do mundo todo exibiam a euforia dos alemães da República Democrática Alemã-RDA, empoleirados sobre o até então intransponível muro de Berlim. O motivo da euforia era plenamente justificado. Acabava naquele dia uma das maiores "nações-cadeia" da história humana. Na prática, acabava ali a Guerra Fria. Com o fim do muro e o posterior desmonte da Cortina de Ferro, acabava também a União Soviética. Uma nova era na história humana estava sendo lançada naquele momento de alegria infantil, de gente pulando sobre o muro e abraçando estranhos como se fossem familiares.

Vinte anos depois, a nação alemã reunificada celebra - já não tão eufórica - a lembrança daquele dia. É que a República Federal da Alemanha-RFA pagou a conta dessa unificação. O fim do muro, que praticamente caiu de maduro, custou caro à nação mais desenvolvida da Europa, afetando dramaticamente seu poder aquisitivo e seu poderio econômico. Afinal, havia um vasto território a reinventar, restaurar, remontar praticamente do zero - uma tarefa que ainda está bem longe de terminar, mesmo após 20 anos. A extinta RDA é, de certo modo, o Nordeste da Alemanha de hoje.

Em 1986 eu conheci aquela fronteira. Estive cara a cara com o muro e mirei por cima dele, no mirante que dava para o Portão de Brandenburgo. Também andei pelas ruas da Berlim Oriental, angustiado com cada visão de um Stasi, descrito pelos nossos hóspedes como a visão do próprio demônio. Estive no Check-Point Charlie e ouvi o emocionado depoimento de um jovem que havia transposto a fronteira intransponível ileso, enquanto mostrava as fotos de centenas de conterrâneos seus que haviam sido fuzilados durante a tentativa de sair da RDA.

Em 1988 estive por 11 meses na Alemanha com a família... um ano antes do fim do muro e da Cortina de Ferro. Se alguém sequer mencionasse a possibilidade de que, um ano depois, aquilo tudo iria ser mera lembrança, seria chamado de doido varrido. Hoje, num processo tão revolucionário quanto o da eleição de Obama nos EUA, a nova Alemanha é governada por Angela Merkel, uma cidadã da extinta RDA.

Na primavera de 1988 convidamos um casal de aposentados, primos da minha avó e cidadãos da RDA a virem nos visitar na RFA. Um país já falido facilitava a saída de seus aposentados e até ficava feliz se não voltassem. E o ocidente pagava as aposentadorias como se tivesse resgatado vítimas de uma pandemia. Mas eles não vieram para ficar. Apenas se animaram com a possibilidade de conhecer o ocidente.

Minha esposa e eu ficamos impressionados com aquela visita. Durante 14 dias, aquele casal viajou conosco pela Alemanha Ocidental sem fechar a boca, literalmente. Nunca haviam visto tanta fartura, tanta facilidade, tanta riqueza, tanta tantura... Coisa que, de modo algum, era suficientemente óbvio para nós brasileiros, sem que nos atingisse profundamente também.

O contraste com o que estavam acostumados era tão gigantesco que quase adoeceram de emoção. A lembrança de sua carestia, das filas para tudo, dos mercados vazios, das vitrines desbotadas, dos produtos sem qualidade, dos 13 anos de fila para comprar o seu Trabant, tudo isso era o assunto inesgotável da conversa com eles.

Poucos meses depois, pegamos o nosso velho carrinho ocidental de 10 anos de uso e fomos a Dresden-Radebeul visitá-los. Uma semana dentro da cadeia comunista. Foi a experiência mais dramática das nossas vidas. Vimos que eles não estavam inventando, nem exagerando. Dresden era uma cidade ainda muito marcada por ruínas do tempo da guerra e havia muita decadência. Almoçar num restaurante era um exercício de paciência. Heinz e Elfriede quase nos cozeram vivos em sua casinha, com medo de que passássemos frio. Acho que detonaram a metade da sua ração de carvão de inverno para aquecer a casa naqueles dias. Na volta para casa, o nosso carro foi quase desmontado no posto da fronteira. A Stasi temia que algum cidadão oriental pudesse querer cruzar a fronteira encapado no forro dos bancos do carro...

Ainda hoje guardo centenas de slides dessa memorável visita, do muro de Berlim e da cerca que dividia as duas Alemanhas. O fim de tudo isso significou um novo tempo para a humanidade. Caiu o Muro da Vergonha, como se dizia à época. A sua queda deu a falsa impressão ao mundo de que o capitalismo havia derrotado o comunismo e que o livre mercado iria resolver tudo. A partir daí, também quem estava até então atrás da Cortina de Ferro iria ser incluído no mercado mundial de consumo quase que por mágica, e todos viveriam felizes para sempre.

Die Mauer 2 - Mas não foi bem assim. A euforia dos "vitoriosos" durou bem pouco. Em 2008, com a inadimplência gigante dos tomadores de empréstimos nos EUA, caiu o segundo muro, o de Wall Street. Em pouco mais de um ano, aquela exagerada abundância que tanto encheu os olhos dos nossos parentes que visitaram a RFA em 1988 apresentava a conta em todo o mundo.

Mais que uma simples crise, o rombo de Wall Street trouxe o segundo significado simbólico de que o mundo precisa para, realmente, iniciar uma nova era na história da humanidade. Agora, não é necessário somente fazer a contabilidade do fim do mundo comunista que havia por trás da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim. Mas é necessário também abrir a caixa preta do capitalismo, agora falido, derrotado, jogado ao chão, impiedosamente.

O tempo provou que as duas contas jamais iriam fechar e que é preciso começar uma contabilidade totalmente nova, que seja global, que pratique inclusão, que seja sustentável e respeite os limites (muito tênues!) do único planeta que podemos habitar. Não há outro! Edificar uma nova casa para a humanidade fora deste nosso querido planeta é um muro intransponível. A colonização de Marte é um sonhozinho tão ridículo que chega a me causar um ataque de riso. A estratosfera é o nosso muro definitivo. Não contemos com a sua queda!

Por isso, longe da velha briga entre esquerda e direita, ocidente e oriente, comunismo e capitalismo, a humanidade precisa encontrar uma nova forma de administrar a única casa que lhe foi disponibilizada. A queda dos dois grandes muros foi o começo. Mas ainda há muitos para cair. Há o muro da indiferença com a África, isolada na peste e na fome. Há a cortina entre dois mundos religiosos, o cristão e o muçulmano. Se ela não vier abaixo, nos aguarda uma terceira guerra mundial, e de proporções apocalípticas. Há o muro entre ricos e pobres, o muro da fome, o da exclusão e o da falta de solidariedade.

Que o dia de hoje, em que a Alemanha e o mundo celebram os 20 anos da queda do Muro de Berlim, instale em nossos corações esta reflexão necessária.

domingo, 8 de novembro de 2009

Olho por olho


A resposta dos EUA ao ataque que derrubou as torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, veio. E na forma que já se poderia adivinhar: com mais armamento. Um monumento no lugar dos prédios derrubados já não tem mais necessidade de ser. Ele já existe.

A marinha americana apresentou, na semana passada, seu mais novo navio militar, o USS New York. A sua poderosa carcaça é feita de aço. Uma pequena parte, porém, contém um tipo de aço muito simbólico: sete toneladas do aço que sobrou das torres gêmeas derrubadas no dia em que o orgulho americano foi ao chão.

Ele foi apresentado publicamente em Nova York. Em terra, policiais, militares e muitos parentes das vítimas do atentado, admiraram o mais novo símbolo nacional de superação de uma tragédia, com direito a salva de canhões em homenagem às quase três mil vítimas mortas nas torres gêmeas.

É uma homenagem, sim. Mas é também uma resposta à altura e no grau exato de belicosidade americana. Não há espaço para a paz quando a homenagem vem envolta num tão magnífico e poderoso instrumento de guerra.

A resposta fica ainda mais significativa pelo fato de os EUA nunca terem sido atingidos em seu território em todas as guerras nas quais se meteram. A resposta a Pearl Harbor foram duas bombas atômicas que emudeceram os japoneses e estarrecem o mundo até hoje. A resposta ao ousado ataque de 11 de setembro começa a tomar forma nesse navio com o aço da vingança em seu casco.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O mundo marcha pela paz


Iniciou no dia 2 de outubro e deve terminar no dia 2 de janeiro a primeira Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência. A Marcha foi lançada durante o Simpósio do Centro Mundial de Estudos Humanistas no Parque de Estudo e Reflexão Punta de Vacas (Argentina), em 15 de novembro de 2008.

O objetivo dos organizadores é criar consciência frente à perigosa situação mundial que atravessamos, marcada pela grande probabilidade de conflito nuclear, pelo armamentismo e pela violenta ocupação militar de territórios.É uma proposta de mobilização social sem precedentes, impulsionada pelo Movimento Humanista através de um de seus organismos, o Mundo sem Guerras.

Em poucos meses, a Marcha Mundial já teve a adesão de milhares de pessoas, agrupações pacifistas e não-violentas, diversas instituições, personalidades do mundo da ciência, da cultura e da política, sensíveis à urgência do momento. Também inspirou uma grande diversidade de iniciativas em mais de 100 países, configurando um fenômeno humano em veloz crescimento.

A Marcha Mundial é um chamado para que todas as pessoas unam seus esforços e tomem em suas mãos a responsabilidade de mudar nosso mundo, superando sua violência pessoal, apoiando-se em seu âmbito mais próximo e até onde chegue sua influência. Também pede o desarmamento nuclear no mundo, a retirada de tropas invasoras de todos os territórios ocupados, a redução progressiva dos armamentos convencionais, a assinatura de tratados de não-agressão entre os países e a renúncia de governos que usam a guerra como forma de resolver seus conflitos.

No dia 2 de outubro iniciou, em Wellington (Nova Zelândia) uma marcha simbólica de uma equipe multicultural que percorrerá os seis continentes, com previsão de terminar no dia 2 de janeiro de 2010 aos pés do Monte Aconcágua, em Punta de Vacas (Argentina).

Ao longo de todo o trajeto, em centenas de cidades haverá marchas, festivais, fóruns, conferências e outros eventos com o objetivo de criar a consciência da urgência da paz e da não-violência nas relações entre as nações e as pessoas individualmente. A marcha só está acontecendo porque pessoas aderem a ela. E ela só irá tornar-se significativa e forte o bastante, se também você aderir. Entre no site (http://www.theworldmarch.org/) e participe.

Você poderá participar de um dos trajetos brasileiros da Marcha, que deverá percorrer 160 mil quilômetros em todo o mundo. A marcha passará por diversas cidades brasileiras, rumo à Argentina, durante o mês de dezembro. Algumas cidades são Recife (15), Salvador (17), Rio de Janeiro (18), São Paulo (20), Curitiba (22), Florianópolis (23), Porto Alegre (24) e Canoas (26), chegando a Montevideo no dia 27 de dezembro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma mulher à frente dos luteranos alemães


Margot Kässmann é uma mulher de fibra. Admirada e respeitada, ela é pastora luterana e bispa da sua igreja territorial da Baixa Saxônia, na Alemanha. Suas opiniões firmes e bem-fundamentadas têm tido cada vez mais ouvidos atentos em todo o mundo. Criticada no início, por ter abertura ecumênica e social e inovar no exercício do ministério pastoral, ela foi conquistando admiradores e o respeito dos adversários a ponto de ser escolhida Mulher Alemã do Ano, em 2006.
Na presidência da sua igreja territorial, ela estendeu a mão em direção à Igreja Católica e disse que, apesar das diferenças, há mais pontos em comum do que questões que separam as duas confissões. Também referiu-se aos temas sociais, como a política de asilo, a pobreza, o cuidado das crianças, dos idosos e dos doentes. Comentou abertamente as dificuldades pelas quais passou na sua vida pessoal, de modo especial o divórcio e a luta contra um câncer (http://www.alcnoticias.org/).

Agora, no dia 25 de outubro, aos 51 anos, ela tornou-se a primeira mulher eleita para a presidência do Conselho da Igreja Evangélica da Alemanha (IEA), comunhão de igrejas territoriais que reúne 25 milhões de protestantes, no Sínodo reunido em Ulm. Ela recebeu 132 votos dos 142 eleitores para substituir o bispo Wolfgang Huber pelos próximos seis anos na função de presidente da IEA.

Um Novolhar sobre a Bíblia


Já está circulando a edição número 30 (novembro e dezembro de 2009) da revista Novolhar. Até parece mentira, mas já foi divulgado um bocado de informação ao longo das mais de 1200 páginas já publicadas. Foi enriquecedor ter participado desta caminhada.

O tema da edição de número 30 da nossa revista é a Bíblia. Diversos especialistas debruçam-se sobre o texto maior da fé dristã e o dissecam sob diversos ângulos. Os autores revelam como surgiram os escritos bíblicos a partir de relatos transmitidos oralmente por gerações e como foi formado o cânone da Bíblia que chegou aos nossos dias com o título de Bíblia Sagrada. Você também fica sabendo como o texto bíblico é alvo dos mais diversos abusos e distorções e fica sabendo que no Brasil está a maior gráfica da Bíblia de todo o mundo, em Barueri, na sede da Sociedade Bíblica do Brasil.

A Novolhar número 30 também aborda outros assuntos, como os 120 anos da República, as maiores religiões do mundo, os 100 anos de existência dos albergues da juventude e a questão dos quilombos.

Com vistas ao Natal, a revista publica algumas fotos da coleção de presépios étnicos de Werner Ewaldt, além de outros assuntos.

A edição atual da revista você pode obter por assinatura, na Editora Sinodal (51/3037.2366). As 29 edições anteriores estão disponíveis no site da revista: http://www.novolhar.com.br/. Visite o site da Novolhar, onde você poderá encontrar uma fonte rica de informações sobre temas tão diversos quanto chás, a história do pão ou as mudanças climáticas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mais uma lição básica aos humanos


Mais uma lição do mundo animal para os humanos, que pouco conseguem dividir. A foto da Agência EFE, vinda da Tailândia e divulgada no Terra, mostra um filhote de macaco de três meses se segurando nas costas de um cão, perto do templo budista de Tung Luang, na província de Chiang Mai, na Tailândia. O indefeso filhote órfão foi adotado pelo vira-latas, depois que a mãe do macaco foi morta por caçadores. Os dois dividem a comida e a água que recebem das pessoas na rua.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Advento é em dezembro!

No domingo passado fui surpreendido com um guindaste da Prefeitura de Blumenau enfeitando a Rua das Palmeiras para o Natal. Para o Natal? Sinceramente, não me senti empolgado com a ideia da chegada do natal. Outubro ainda não terminou, falta todo o mês de novembro e, somente então, começa o mês com os quatro domingos de Advento, tradicionalmente de preparativos para o Natal. No shoping também já estão bem adiantados os "enfeitamentos" natalinos.
Me faz lembrar uma densa campanha da Igreja Evangélica na Alemanha, iniciada por esta época no ano passado. "Advent ist in Dezember", era o mote da campanha. Talvez, devêssemos adotá-la por aqui também. Mas a sanha de lucro do capitalismo não tem limites. Senhores comerciantes: "O Advento começa em Dezembro"! Dá para respeitar isso? A vida é mais do que lucro a qualquer preço.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Parabéns, IECLB!


Hoje é um dia muito especial para o mundo luterano brasileiro. No dia 26 de outubro de 1949, há 60 anos, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB tornava-se uma organização nacional, unificando os sínodos, paróquias e comunidades luteranos de norte a sul do Brasil. Seis décadas nos separam desse feito, que, visto desta distância, nem parece tão relevante assim.

Entretanto, um demorado processo ecumênico, no mais autêntico sentido desta palavra, possibilitou o feito. Uma verdadeira conquista, em termos de unificação. Várias tradições oriundas da Reforma do século 16 conseguiram entender que era hora de unificar as trilhas (syn-hodós) que cada uma delas havia aberto carinhosamente em vários pontos do território nacional, mormente aqueles marcados pela imigração alemã e pomerana.

Dentro do cenário religioso cristão brasileiro, a IECLB é uma igreja pequena, sem dúvida. Pouco mais de 750 mil brasileiros estão ligados à sua tradição confessional.

Mas a IECLB tornou-se uma inegável referência no mundo protestante brasileiro. A sua teologia e modo de edificar comunidade são referência. A formação teológica oferecida por décadas no Morro do Espelho e, mais recentemente, em dois outros centros de formação, em São Bento do Sul e Curitiba, são nota A em classificação do MEC com seus cursos de Teologia. Hoje, formar-se num desses centros, mesmo que para atuar em outras igrejas do mundo protestante brasileiro, é um quesito altamente considerado no currículo de cada vez mais teólogos e obreiros. A Faculdades EST, com seus programas de mestrado e doutorado em Teologia, são referência em toda a América Latina e, mesmo, nos grandes centros de graduação europeus.

Por isso, parabéns, IECLB!

Mas não é só isso que me orgulha por ser um dos 750 mil brasileiros com filiação na IECLB, ou mesmo por ser um de seus obreiros. O que me torna apaixonado por suas fileiras, é a confessionalidade luterana, a pessoa de Martim Lutero e sua impressionante obra, tornando a salvação uma graça e não uma conquista. Num mundo capitalista extremado, isso chega a ser uma afronta.

Também me orgulha o fato de pertencer a uma igreja em que muitas correntes filosófico-cristãs encontram pleno abrigo. Na IECLB há liberdade de pensamento. A crítica é forte às vezes, mas ninguém coloca mordaça em ninguém. Há muitas maneiras de ser IECLB, mas nenhuma é imposta. Por isso, a IECLB não é a minha igreja só porque nasci evangélico-luterano, mas porque ela é do jeito que é.
Menciono ainda, com prazer, a importância que esta pequena grande igreja conquistou no mundo ecumênico. Atualmente ocupamos a presidência do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs-CONIC (pastor Carlos Möller, em Brasília), a secretaria-geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas-CLAI (pastor Nilton Giese, em Quito), e o nosso pastor-presidente é o Moderador do Comitê Executivo do Conselho Mundial de Igrejas-CMI. Somos protagonistas no que se refere à tarefa santa de unificar a cristandade. Esta abertura ecumênica ampla e irrestrita da minha igreja me enche de orgulho sadio.

Tenho certeza de que a IECLB é assim por causa da sua história. Muitos jeitos de entender Lutero uniram-se há 60 anos, no dia 26 de outubro. Foi necessária uma alta dose de ceder e aceitar, para poder colocar tudo isso sob o amplo e generoso guardachuva da IECLB. Desde então, essa diversidade só fez aprofundar a reflexão, enriquecendo todo o mundo ecumênico no seu entorno. Por tudo isso, apesar das muitas (e boas) rusgas, parabéns, IECLB!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A difícil arte do respeito à diversidade religiosa


Estudiosos, professores e representantes de diversos países da América Latina participaram ontem à noite, em Blumenau, no auditório do Viena Park Hotel, da solenidade de abertura do I Seminário Internacional Culturas e Desenvolvimento. O encontro, que se estende até sábado, abriga também o V Seminário Catarinense de Ensino Religioso. Organizado pela FURB-Universidade Regional de Blumenau, com participação da Associação de Professores de Ensino Religioso de Santa Catarina e diversas outras entidades, discute o tema Culturas e Diversidade Religiosa na América Latina - Pesquisa e Perspectivas Pedagógicas.

A importância do debate do encontro foi cravada já na apresentação pelo Dr. Roberto Araújo, assessor de Direitos Humanos da Presidência da República, ao quantificar que a Secretaria Especial de Direitos Humanos registra, entrementes, nove matrizes religiosas, que se dividem em 181 religiões em território brasileiro.

Segundo Araújo, os problemas de desrespeito por motivos religiosos estão entre as principais queixas que chegam à Secretaria, ligadas ao tema direitos humanos. "O estado brasileiro, segundo a constituição, é laico, mas tem o dever de zelar pela total liberdade de manifestação religiosa", o que, segundo ele, não é tarefa fácil num país que tem muitos preconceitos religiosos enraizados. Segundo ele, "respeitar o direito do outro de crer no que ele quiser ou até de não ter nenhuma crença é requisito básico para que eu tenha o meu direito de crença preservado também". Esta é a base do convívio respeitoso num ambiente de diversidade religiosa.

O secretário-geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas-CLAI, o pastor luterano brasileiro Nilton Giese, exemplificou que, mesmo entre as diferentes tradições religiosas do cristianismo, o convívio fraterno às vezes é difícil. O problema se agrava quando o objetivo é estender o respeito à religião alheia que não seja ligada ao cristianismo porque, segundo muitos, aceitar redenção fora da pessoa de Jesus Cristo derruba o alicerce do evangelho, no qual o próprio Cristo se apresenta como o único caminho, a única verdade e a única possibilidade de vida. "O que fazemos com a nossa exclusividade de salvação?", questiona Giese. Isso se torna ainda mais delicado quando se trata de integrar as religiões de matriz africana ou indígena.

O seminário se debruça sobre um tema delicado, porém de extrema relevância num mundo plural: o respeito à crença alheia como conteúdo escolar, na formação plena da cidadania, na busca da construção de uma cultura de paz na sociedade. Como repassar tal conteúdo? Que ferramentas pedagógicas facilitam o processo?

A tarefa é gigantesca. Antes de encontrar ferramentas pedagógicas, é preciso quebrar muitas resistências, derrubando o mito da exclusividade da revelação divina a determinados grupamentos religiosos. É preciso desarmar espíritos, derrotar preconceitos e pavimentar caminhos de aproximação respeitosa. É necessário fomentar um estado de espírito favorável ao desejo de aprender com as características de fé do outro. É preciso, também, semear a ideia de que a minha liberdade religiosa depende de uma sociedade que dê liberdade religiosa aos outros e, por isso, não cabe nela a discriminação, o desrespeito, a intolerância ou a galhofa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Diminuição do desperdício acabará com a fome


O número de famintos do mundo aumentou em 150 milhões em 2009, ultrapassando 1 bilhão de pessoas, ou um sexto da humanidade. O problema, entretanto, não é a falta de comida, que está até sobrando e sendo desperdiçada. O problema é a falta de vontade política para resolver e a má distribuição dos alimentos. A Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO) já dizia isso há 20 anos.

Como a pobreza é o principal causador da fome, esta diminui em países que empreendem políticas capazes de gerar empregos e renda. Em contrapartida, onde há ditaduras e despotismo, há fome e morte por inanição.

Em 2007 e 2008, os alimentos estavam extremamente caros, provocando o aumento da fome. Quando os preços começaram a baixar novamente, a crise financeira internacional provocou um colapso das exportações, reduzindo a renda dos países produtores. Secas e más colheitas causadas pela mudança climática completaram o quadro de carestia.

Segundo os especialistas, entretanto, hoje se produz alimentos demais. Muito mais do que seria necessário para alimentar a população atual, sendo que ainda nem estamos perto de esgotar o potencial da alimentação direta. Falta pouco para que os pequenos produtores rurais dobrem a produção, segundo o Relatório Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em inglês) de 2008.

A crise de alimentos existe porque se joga fora entre 30% e 40% dos alimentos produzidos. A prática não se restringe aos abastados. Basta ficar observando, em qualquer restaurante no centro da cidade ou, mesmo, nos restaurantes das indústrias, para ver este fenômeno acontecer bem diante dos nossos olhos. Especialmente no Brasil é possível constatar o desperdício não somente no prato, mas na hora da colheita, durante o transporte até o porto pelas rodovias e ferrovias e no mau armazenamento dos grãos à espera de exportação ou industrialização.

Por isso, sem aumentar um único hectare na produção em todo o planeta, seria possível equilibrar o dramático mapa da fome aí, encima.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um Nobel para a gestão comunitária


Uma das principais batalhas dos nossos estimados ambientalistas locais é impedir a todo custo que parte da Reserva do Itajaí seja anexada à reserva indígena Duque de Caxias, que passa por um doloroso processo de redemarcação. Alegam que a reserva ambiental em mãos dos indígenas vai acabar trazendo prejuízo à mesma, preferindo tudo sob a paquidérmica tutela do Estado.

A ganhadora do Prêmio Nobel de Economia de 2009 acaba de receber o prêmio justamente por provar o contrário. Trata-se da professora Elinor Ostrom (foto), de 76 anos, da Universidade de Indiana (EUA), doutora em ciência política e pesquisadora em gestão de recursos por comunidades. Ela dividiu o prêmio com Oliver Williamson, de 77 anos, professor da Universidade da Califórnia e doutor em economia. Ele estuda tomadas de decisão em empresas.

O trabalho de Elinor Ostrom derruba a tese de que, quando as comunidades administram recursos ou bens finitos, acabam destruindo tudo, e que é melhor um controle centralizado ou a privatização. Elinor comprovou que a gestão comunitária pode ter resultados melhores do que o a esmagadora maioria acredita.

Na prática, ela demonstra que políticas públicas ambientais têm mais resultados quando são baseadas na colaboração entre as partes, e não na simples imposição de regras e leis ou a simples gestão privada. Em 2006 ela disse que, quando os usuários estão engajados nas decisões referentes a regras que afetam a maneira como usam os recursos, a probabilidade de seguirem o que foi definido e monitorarem os outros é bem maior do que quando uma autoridade simplesmente impõe as regras e a lei.

Isso, entretanto, implica em muito trabalho e desgaste. No caso dos povos indígenas no Vale do Itajaí, no Mato Grosso ou na Amazônia, isso exige o empoderamento desses povos com informações e tecnologia parta preservar. Tenho certeza de que eles, tão amigos da natureza, vão saber fiscalizar muito melhor do que exércitos de guardas florestais.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Baleiro, paz é possível, sim!

O texto de Zeca Baleiro na última página da IstoÉ sempre atraiu minhas primeiras curiosidades. Nesta semana, entretanto, ele me entristeceu (http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2083/artigo153658-1.htm). Um diálogo azedo com um imaginário defensor da Marcha Pela Paz no Ibirapuera o faz condenar a empolgação dos pacifistas, que classifica de interessados em promoção ao participarem da referida, dizendo que os homens não nasceram para a paz, mas para a guerra.
Baleiro, uma das mais belas conquistas do pós-guerra é a busca pela paz como um objetivo platônico e real. Não há interesse em aparecer, mas em dignificar o ser humano como alguém que quer, sim, e pode, de fato, construir paz. A paz não é um atributo dos humanos, mas é uma utopia legítima, pela qual vale a pena lutar. Ela pode e deve ser construída, arduamente, no dia-a-dia, desde a mais tenra idade de cada pequeno ser da humanidade.
Pelo amor de Deus, Baleiro, ajude a salvar a humanidade de sua própria ruína. Com a influência que você tem, será bem mais fácil. Cá pra nós, Baleiro, depois dessa sou mais o Bob Geldof.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um Jesus para o Século 21


Você quer uma coleção de imagens que atualizam a mensagem de Jesus Cristo para os nossos dias? Então conheça esta obra de arte, publicada há cerca de um mês. Obrigado, Valdim, por esta dica preciosa. Compartilho com os visitantes do Blog.
Desde o início do Cristianismo, é comum o uso de imagens para passar os ensinamentos do Evangelho. O que o fotógrafo da moda Michael Belk fez foi trazer Jesus para circunstâncias da modernidade. As fotos estão publicadas no site Journeys with the Messiah. Clique no link: http://www.thejourneysproject.com/. Vale a pena deixar que as fotos falem conosco. Para ajudar na reflexão, elas têm uma pequena mensagem (em inglês) ao lado de cada uma, com referência bíblica.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um prêmio antecipado


Até Obama ficou surpreso com a escolha do Comitê do Prêmio Nobel da Paz. O mundo ficou entre estupefato e conformado. “Bem, até que ele iniciou vários esforços pela paz e falou muito no assunto”. Mas a verdade é que não há muita coisa para ser colocada na balança, ainda. Foi um prêmio antecipado? O próprio comitê justificou assim: “é um estímulo”. Ou seja. Obama deve continuar na trajetória que iniciou.

Mas a verdade é que os marines continuam no Iraque e no Afeganistão; Guantánamo continua em funcionamento; a redução de armas nucleares continua uma simpática retórica; o discurso ao mundo muçulmano fez sucesso, mesmo, só no Ocidente; o Irã continua na lista negra dos que mereciam uma guerrinha; os EUA continuam sendo, de longe, a maior potência bélica da face da Terra...

Para um incansável militante pela paz no mundo, ainda faz falta uma lista mais, digamos, convincente.

Quiçá, a intenção do Comitê do Nobel se transforme em obstinação e que a paz ocupe o topo da lista das atribuições do “Number One”. Para colocar nos jornais, a notícia do Nobel da Paz para Barack Obama é perfeita. Mas a sua escolha na lista de mais de 100 indicados é um ato precipitado, que não considera suficientemente centenas de pessoas que já fizeram infinitamente mais pela paz no mundo do que ele.
O problema é que eles não têm a notoriedade do maior fenômeno eleitoral do século 21 até agora.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Camisinha contra estupradores

A sul-africana Sonette Ehlers desenvolveu um instrumento perfeito para inibir o alto índice de estupros em seu país. Trata-se de uma camisinha feminina especial, que inibe a ação dos agressores: a Rape-aXe. A inventora atua há vários anos com vítimas de abuso sexual e a frase de uma dessas vítimas a inspirou: “Eu gostaria de ter dentes lá embaixo”.
A ideia de uma vagina que morde sempre aterrorizou os homens. Tanto é assim que, logo depois que ela apresentou a sua invenção numa cidade, o índice de estupros caiu a zero por três meses. “ homens ficaram com medo de que você tivesse deixado algumas dessas camisinhas por aqui”, disse-lhe o chefe da polícia local.
O medo se justifica, pois cometer estupro em uma mulher que esteja usando a tal camisinha tem consequências devastadoras para o agressor. Na hora em que ele tentar tirar o pênis, centenas de farpas perfuram a pele e a camisinha sai junto, só podendo ser retirada em um procedimento cirúrgico.
Feita de látex e plástico, as farpas são colocadas na parte interna de tal forma que a camisinha não pode ser retirada do órgão sexual masculino sem a ajuda de um médico. Com a camisinha presa ao pênis, o homem sente muita dor e sequer consegue urinar. O uso não é considerado agressão, porque a violência é do estuprador e a camisinha defende a vítima.
O preservativo anti-estupro já está em produção na Malásia e sua distribuição na África do Sul será gratuita para mulheres em situação vulnerável, especialmente durante a Copa do Mundo. Depois disso, deverá ter distribuição mundial.

Ver e emudecer

Este filme foi premiado num festival de curtas, na Alemanha.
http://www.cultureunplugged.com/play/1081/Chicken-a-la-Care

O suco de laranja mais barato do mundo


Depois que os “arruaceiros” do MST deixaram a fazenda da Cutrale, calcula-se em R$ 3 milhões o prejuízo deixado. Segundo a Folha, “a Cutrale, defendida com veemência por deputados e senadores depois de ter visto um de seus laranjais destruído pelo MST, injetou R$ 2 milhões em campanhas de congressistas nas eleições de 2006”.

Portanto, esse prejuízo não deve ser um grande problema para eles. Na verdade, esses pés derrubados e os tratores demolidos vão dar muito lucro. Eles deram a deixa para completar a lista de assinaturas para instaurar a CPI da Terra. A bancada dos “ruralistas” tem quórum... e muitos hectares... e muito poder de persuasão... e apoiadores do peso da Cutrale... e, agora, o argumento perfeito.

Por que criminalizar os movimentos sociais? Qual é o jogo por trás disso?

A Sucocítrico Cutrale Ltda. é de propriedade da família Cutrale, oriunda da Sicília, sul da Itália, há muitos anos. A revista Veja (!) publicou matéria em maio de 2003, segundo a qual “o brasileiro José Luís Cutrale e sua família detêm 30% do mercado global de suco de laranja, quase a mesma participação da Opep no negócio de petróleo”.

A produção mundial de laranjas e derivados, se reduz a duas regiões pontuais do globo terrestre: interior de São Paulo (Brasil) e interior da Flórida (EUA). Cerca de 70% do suco consumido no mundo é plantado e industrializado por brasileiros. O segredo dos altos lucros é comprar a laranja a preço de banana e espremer o suco.

Com apenas cinco grandes compradores de laranjas (o maior deles é a Cutrale) dominando o mercado tupiniquim, isso é fácil. Com esse poderio todo, a laranja brasileira é mais barata, porque o poder de pressão sobre os produtores beira a chantagem. Segundo disse um produtor a Veja, “empregados deles nos visitavam e queriam que a gente vendesse nossa propriedade. Do contrário diziam que seríamos prejudicados na safra seguinte”. Segundo outro entrevistado, “é difícil conseguir bons preços tratando com alguém que pode dizer não até sua laranja apodrecer”.

O cerco aos produtores está irremediavelmente fechado. O cerco ao congresso brasileiro também. Agora, é só cortar a jugular dos movimentos sociais, instaurando uma CPI para matar o MST de inanição, retirando dele o dinheiro que recebe para financiar a sua luta. E está pronto o melhor e mais barato suco de laranja do mundo.


Não parece fácil... e óbvio? Mas tem uma nação inteira que acredita na cena dos tratores derrubando os pés de laranja. Para essa gente, os bandidos estão nos movimentos sociais. Em sã consciência, você realmente acha que os líderes do MST seriam tão burros a ponto de dar uma deixa dessas?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Valores?

Hoje pela manhã, caminhando pela cidade, chamou-me a atenção um carro-forte, desses blindados e armados até os dentes, sendo acompanhado por duas viaturas da Polícia Militar. "Deve estar transportando muitos valores", pensei comigo.

Mas que valores? Nessa sociedade demente, que erguemos com o suor nosso de cada dia, os únicos valores são aqueles que podem ser transportados num carro-forte.

O Povo Xokleng-Laklãno pede socorro


As duas fotos mostram a represa (quando estava vazia) e o vertedouro da Barragem Norte.

Chegou às minhas mãos, por e-mail do pastor Ari Käfer, um grito desesperado. Como coordenador do grupo de apoio à missão indígena em Santa Catarina, da Igreja Luterana, eu não posso deixar de reverberar este grito neste gramofone.

O grito vem do povo Xokleng, em José Boiteux. A chuva não dá tréguas no sul do Brasil e, para o conforto dos brancos do baixo Vale do Itajaí, foram construídas três barragens para conter as águas da chuva e nos livrar das cheias. Uma dessas barragens fica dentro do lugar que os brancos reservaram para este sofrido povo indígena (a Reserva Duque de Caxias). Outrora a nação Xokleng-Naklãno reinava soberana pelas paragens onde hoje viceja o nosso "progresso" branco.

Esta barragem é uma garantia para nós e uma tragédia para os "reservados". Quando as comportas se fecham, forma-se um imenso lago na área indígena, que divide as diferentes aldeias, que ficam isoladas umas das outras. As crianças não podem mais ir à escola, não há mais como ir ao mercado, nem como vender o produto do trabalho. Nem mesmo para socorrer um doente dá para chegar a algum lugar. Vários já morreram afogados ao tentar sair do isolamento de canoa. As estradas prometidas não vieram, as pontes prometidas não foram construídas, as reivindicações mínimas dos Xokleng não foram atendidas. Estão ao Deus dará! Leia abaixo o emocionado apelo do Aniel Priprá, cacique-presidente e, por conseguinte, a autoridade máxima da nação Xokleng-Laclãno.

O Povo Xokleng-Laklãno pede socorro
O Povo Xokleng da Terra Indígena Ibirama-La Klãno, Estado de Santa Catarina Pede socorro. A Barragem Norte, construída sem autorização do nosso povo em 1976, para controle das enchentes no Vale do Itajaí - SC, nunca esteve com um volume de água tão alto. Já temos aldeias completamente isoladas, sem comida, água potável, atendimento de saúde. O ônibus que transporta nossas crianças para a escola não tem mais como transitar devido às áreas alagadas ou desmoronadas. O nível da água sobe assustadoramente ameaçando casas e famílias inteiras. As comportas da barragem estão fechadas. Nosso povo está em uma situação de calamidade, correndo sérios riscos de vida. Ninguém ainda apareceu. Precisamos urgentemente de um barco ou helicóptero e de apoio governamental, principalmente da defesa civil.
Nosso povo foi brutalmente perseguido e assassinado nos últimos cem anos pelos bugreiros e companhias de pedestres financiados pelo governo brasileiro. De caçadores e coletores fomos obrigados a ser confinados em uma reserva em nome do "progresso" nacional.
Não satisfeitos, construíram em nossas terras a Barragem Norte, que além de nos usurpar a melhor parte das terras e causar graves violações a nossa estrutura social, econômica e cultural, hoje nos ameaça com enchentes e isolamento geográfico. Além disso, a ampliação de limites de nossa terra está parada: não temos para onde correr.
Quando este genocídio irá acabar? Ainda estamos vivos. Pedimos a todos que divulguem este documento de denúncia contra mais esta tentativa de assassinato do nosso povo por parte do Estado Brasileiro que assiste parado à nossa tragédia.
José Boiteux (SC), 2 de outubro de 2009
Povo Xokleng – Terra Indigena Laklaño
Aniel Pripá, Cacique Presidente


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Obrigado, Mercedes


Para muito além de Gracias a La Vida,
Viveste teu talento para cantar o nosso povo,
Suas tradições, amores, sonhos e tormentos,
Angústias, temores e esperanças.
Tua voz maravilhosa falou aos poderosos
Sobre a vida sofrida e rica da nossa gente comum.
Obrigado, Mercedes, por teres sido a nossa voz.
Por emprestares teu talento à nossa boca muda;
Por teu encorpado canto, que nossa dor desnuda.
Em tua garganta, nosso lamento tornou-se esperança.
Tornaste nossas canções ainda mais belas, inesquecíveis.
Partiste depois de hercúlea luta,
Mas teu talento continua brilhando,
Como o sol da manhã que anunciaste,
No outrora pálido horizonte da América.
Obrigado, Mercedes!
Por teres sido a nossa voz
E por nos animares a continuar erguendo a nossa própria.
Agora temos voz, porque não calaste a tua...

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...