sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ninguém assume a culpa


É sempre a mesma coisa. O culpado sempre é o outro. A Airbus (empresa construtora de aviões) e a Air France (companhia aérea que perdeu um Airbus com a queda do voo AF 447) acabam de desencadear uma guerra de versões sobre quem é culpado pela morte das 228 pessoas a bordo daquele voo. Enquanto o discurso do fabricante reitera que “não há mais dúvidas” sobre a culpa dos pilotos, a companhia aérea frisa que ao longo dos três minutos de queda o trabalho dos pilotos foi dificultado por informações eletrônicas contraditórias.

Fatos sempre geram versões e estas sempre envolvem interesses. Isso é assim desde Adão e Eva no paraíso: Adão culpou Eva, esta culpou a serpente. No caso do acidente, é cômodo acusar os pilotos. Eles fazem parte dos 228 mortos e, portanto, não podem defender-se. Como é difícil assumir os próprios erros. Por isso, quando os que conduzem os rumos deste mundo dizem estar no comando, não acredite, porque eles não estão no comando. Aliás, eles mal sabem o que estão fazendo no posto do timoneiro. A nave sem rumo vai para o precipício. E ninguém assumirá a culpa pelo desastre inevitável...

Estatuto dos Refugiados faz 60 anos

Refugiados da fome aguardando um punhado de comida na Somália.
Foto: Farah Abdi Warsameh (AP)

Completa 60 anos hoje a adoção do Estatuto dos Refugiados pelas Nações Unidas, ocorrida no dia 28 de julho de 1951. Criado para proteger os sobreviventes da segunda guerra mundial, o Estatuto dos Refugiados visa dar ampla proteção a quem precisa deixar seu país de origem.

Desde que está em vigor, o número de refugiados em todo o mundo passou de 2,1 milhões para 43,7 milhões, número atingido no ano passado.

Aprovada por 26 países há 60 anos, atualmente 144 nações são signatárias da convenção. O Acnur, Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, fundado há 60 anos, descreve a convenção como o documento internacional mais importante para proteção dos refugiados – e base de todo o trabalho do órgão.

Ainda assim, há cerca de 28 milhões de pessoas em todo o mundo que não estão sob a proteção do estatuto da ONU. Ele somente considera aqueles que tiveram que sair de seu país, e não os deslocados internamente, que deveriam estar sob responsabilidade do próprio Estado. Eles estão em países com governos ditatoriais ou frágeis, como o Afeganistão e a Somália, onde a falta de serviços mínimos provoca o êxodo dos cidadãos. Estima-se que metade desses deslocados seja de crianças, confrontadas com a fome, o abuso sexual, o recrutamento forçado e o trauma da falta de um lar. Desde 2006, o Acnur oferece ajuda voluntária aos refugiados internos, porque a situação de emergência obrigou os funcionários da ONU a agir.

Quem são esses refugiados hoje? Milhares são obrigados a deixar suas casas para fugir de catástrofes naturais, da fome e da miséria. O aumento de conflitos em diferentes regiões também aumenta o número de refugiados: Costa do Marfim, Líbia, Síria e Iêmen são exemplos recentes. Estima-se que, desde o início do conflito na Líbia, 18 mil líbios tenham chegado à ilha de Lampedusa, na Itália. Na Somália 770 mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, vivem como refugiados, fugindo da fome.

Particularmente esta última, no Chifre da África, é uma situação humanitária dramática, que exige o envolvimento de todos nós, no sentido de evitar que milhares de crianças, severamente afetadas pela desnutrição extrema, morram de fome. A UNICEF está pedindo a sua ajuda, aqui.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Energia que vem do telhado


O templo da igreja evangélica de Mittelheim é o primeiro na região do Médio Reno, na Alemanha, a produzir energia elétrica a partir do seu telhado. Células fotovoltaicas, as populares placas de captação de energia solar, foram instaladas no teto da igreja para captar a energia do Sol e transformá-la em eletricidade. Por razões estéticas ou por serem da idade média, muitos telhados de igrejas não são próprios para receber as tais placas captadoras de energia renovável, ecologicamente sustentáveis. O novo telhado ficou tão bem no templo de Mittelheim que alguns membros até consideram que a visão ficou mais bonita agora. Ganho para o meio ambiente.

Ainda não estamos preparados para um passo como esse. Mas bem que algumas iniciativas amigas da natureza poderiam se tornar um doce desafio para os nossos presbitérios locais, dando mais suporte ao nosso discurso em favor da natureza, num ano em que propomos "Paz na Criação de Deus".

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Como quebrar o ciclo do ódio 4

Geert Wilders, político holandês de extrema-direita


Como era de esperar, a admiração pela coragem de Anders na execução minuciosa de seu objetivo fica na esfera dos segredos íntimos. Toda a direita, em uníssono, se desvencilhou de qualquer ligação, apoio, ou mesmo proximidade ideológica com Breivik. Ele está só. Ninguém lhe empresta o guarda-chuva. Antes, se antecipam e acusam a “esquerda” de aproveitar-se do atentado para empurrar a culpa no sapato da extrema-direita. É o argumento mais disseminado entre os defensores de leis mais rigorosas para os estrangeiros na Europa; de uma direita que se diz moderna, que afirma não ter nada a ver com o nazismo ou com o fascismo.

Mas Breivik, certamente, aditivou a sua alma em afirmações como a de que “a violência islâmica não é conseqüência de abuso da religião, mas se inspira diretamente no Alcorão”; ou que “o islamismo não é uma religião, mas uma 'ideologia de violência', que quer exterminar qualquer outra forma de sociedade”; ou ainda esta, que “não há outra religião em que seja tão fácil passar para a violência e o terrorismo”. Por trás de todas estas falas há somente um ponto de vista: o islã é o próprio mal, por si só. Elas vieram da boca do político de direita holandês Geert Wilders, do blog anti-islâmico “Politically Incorrect” e do político e autor de direita campeão de vendas Thilo Sarrazin.

Breivik foi respirando esta ideologia durante toda a sua juventude e as regurgitou em seu extenso manifesto de 1.500 páginas, no qual nem o Brasil escapa: “A miscigenação racial fez muito mal ao Brasil, contribuindo para seu subdesenvolvimento”. Esses pensamentos foram moldando a alma, o caráter de Breivik e, até explodirem no exercício tresloucado de ódio do dia 22 de julho, eram somente palavras. Naquela fatídica sexta-feira, a pregação de ódio transformou-se numa bomba de 500 quilos e dezenas de adolescentes mortos inocentemente por inúmeras balas. Ações com as quais a direita, como agora se apressa em dizer, não quer ter nenhuma relação.

O blog “Politically Incorrect”, cujos textos são escritos no conforto do anonimato dos autores, prega essa ideologia abertamente desde 2004, esbravejando contra as esquerdas e usando toda sorte de impropérios contra o islamismo, tem dezenas de posts pedindo “punição exemplar” para Breivik, cujo ato é qualificado de “obra diabólica”, ou “um desserviço para a causa”. Ao mesmo tempo, acusa a imprensa européia de ter atingido o seu nível mais baixo, nas reportagens sobre os atentados, por escreverem “relatos unilaterais e não raro se aproximarem da transfiguração, difamação e desqualificação” sobre os reais motivos de Breivik, que eles classificam como um “crime terrível, repugnante e digno da mais severa condenação”. Sem puxar novo fôlego, logo emendam que as reportagens estão minadas de uma “desavergonhada, cínica e profundamente desrespeitosa fracção dentro da esquerda internacional, que sequer foi capaz de dar um tempo para luto sincero e consternação”.

As reações da direita ao atentado na internet apressaram-se em qualificá-lo como algo “não em ordem”. Segundo sua interpretação, não foi certo escolher jovens como alvos do ato terrorista. É uma formulação pérfida, que poderia levar à interpretação de que os atentados estariam OK se não tivessem vitimado justamente gente jovem e inocente. Qualquer outro alvo seria admissível.

Para o político holandês Geert Wilders, um dos mais influentes líderes de extrema-direita no continente atualmente – e que tem boas chances de tornar-se primeiro-ministro da Holanda um dia desses –, qualificou os atentados de Anders como o ato de um insano. “Enche-me de repulsa o fato de o ofensor referir-se ao meu nome e ao do meu partido no seu manifesto”, desconversa Wilders no site do seu partido. Segundo ele, nem ele nem o seu partido podem ser responsabilizados pelos atos de “um idiota solitário, que abusa dos ideais livres de anti-islamização de maneira violenta”.

Também a Frente Nacional francesa, partido fundado por Jean-Marie Le Pen e liderado por sua filha Marine Le Pen, refutou ultrajado qualquer vínculo com a tragédia norueguesa. Segundo Marine, Anders deve ser “impiedosamente punido”.

Outros defensores da anti-islamização, como o jornalista alemão Henryk Broder, do jornal “Welt”, que escreveu um artigo com o título “temer o islã é uma virtude”, tentam se esquivar de qualquer influência sobre Anders. Infelizmente, trechos de uma de suas entrevistas a um jornal holandês foram parar no manifesto do norueguês. Em um ensaio com o título “O Manifesto e Eu”, ele descreve Breivik como “um monstro em forma de gente, que não é burro”. Argumentos perfeitos, segundo ele, mas que o conduziram a um objetivo absolutamente trágico. Broder prefere entrincheirar-se no cantinho irônico do “o que aconteceria se”, para afirmar que, “caso o norueguês loiro e de olhos azuis não tivesse lido Broder e Sarrazin, mas Patrick Bahners e Roger Willemsen, ele não teria se transformado num assassino em massa”.

Em toda a Europa, a direita está fazendo um esforço gigantesco para distanciar-se de Anders Breivik. Ele ficou isolado no cenário. Todos os discursos – ao menos os oficiais – vão nessa direção. Há muita estratégia política em jogo para admitir influência sobre um maluco como Anders. No mínimo, ele não entendeu os insuspeitos objetivos do discurso xenófobo de grande parte da direita no mundo.

Infelizmente para essa direita, muitos outros podem não estar entendendo bem os seus "nobres" objetivos e, lamentavelmente, farão mais burradas do calibre de Anders.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Como quebrar o ciclo do ódio 3

A Noruega de luto inundou a praça diante da Catedral de Oslo com um mar de flores e velas acesas. Mais de 150 mil pessoas estavam lá ontem à noite, participando do gigantesco luto nacional.

Eu escrevi ontem aqui que Anders Behring Breivik, além de amealhar contra si a repulsa do mundo civilizado, secretamente está também sendo admirado como um herói pelos que concordam com a xenofobia que se instala na Europa. Tem muita gente que gostaria de ter feito o que ele fez, só não tem coragem. Espera e torce para que outros o façam em seu lugar.

Eu disse também que muitos outros Anders estarão surgindo. A intolerância, em vez de ser lentamente espremida num canto pelos que amam a paz, transferiu-se solenemente também para os cristãos e agora o terrorismo e a violência imperam, de modo igual, dos dois lados. A chanceler alemã Angela Merkel reconheceu ontem que a política da democracia racial fracassou, diante do crescimento da extrema direita em toda a Europa. Como quebrar o ciclo do ódio?

Ontem alguém comentou a matança promovida por Anders, no twitter do Ricardo Gondim: “Se um cristão disser ‘não se pode julgar uma religião pelos atos de alguns’, eu respondo: ‘parabéns, agora sabe como um muçulmano se sente’” (@diego_calazans). E ele tem razão, porque toda uma religião está sendo julgada com preconceito por causa de fanáticos e terroristas em seu meio.

Agora também temos um terrorista fanático que mancha a reputação dos cristãos.

Somos todos um pouco culpados pela atitude de Anders. Calei-me vezes demais diante de opiniões racistas, xenófobas, discriminatórias, contribuindo para fortalecer esse tipo de pensamento em nosso meio. Como quebrar o ciclo do ódio?

Talvez devêssemos ter mais atitudes como a que foi tomada na semana passada, na Alemanha. O túmulo de Rudolf Hess, em Wunsiedel, no sul da Alemanha, foi destruído depois de os restos mortais do líder nazista terem sido exumados. Os restos mortais de Hess foram exumados na quarta-feira, 20 de julho, incinerados e lançados ao mar.

A comunidade evangélica de Wunsiedel decidiu negar à família a prorrogação do arrendamento do túmulo, vencido desde 2007. A neta de Hess chegou a entrar na Justiça contra a decisão, mas acabou cedendo e concordando com a remoção da sepultura. O túmulo de Hess foi durante mais de duas décadas local de peregrinação de grupos neonazistas. Com a remoção da sepultura, a comunidade espera que as marchas neonazistas na cidade tenham fim.

Após cometer suicídio em 17 de agosto de 1987 na sua cela na prisão berlinense de Spandau, aos 93 anos, os restos mortais de Hess foram sepultados em Wunsiedel e o túmulo se converteu em local de peregrinação para a extrema direita alemã.

Na cena neonazista alemã, Hess era considerado um mártir. E isso confirma o que eu digo sobre Anders.

Nos últimos anos, os desfiles neonazistas em Wunsiedel tinham sido sistematicamente proibidos pelas autoridades, mas a extrema direita obtinha a autorização nos tribunais, invocando o direito à liberdade de manifestação, constitucionalmente protegido. É o mesmo direito constitucional que vigora nos EUA e que protege inúmeros sites neo-nazistas que continuam divulgando o pensamento da extrema-direita em nosso meio. Livres e soltos, eles dão suas aulas de graça. E eles têm discípulos, seguidores, defensores fanáticos, também entre nós.

Condescendências como estas reviveram o Nazismo na alma de muitos jovens extremistas na Alemanha e no resto do mundo. Aqui no Brasil, os skinheads atacam travestis e nordestinos, e praticam toda ordem de ataques xenófobos, até como brincadeira do tipo lançar combustível sobre andarilhos durante a noite e atear fogo neles enquanto dormem. Como quebrar o ciclo do ódio?

Mesmo aqui entre nós, no sul imigrante, tem muita gente que ainda se nega a acreditar no holocausto. Afirmam ser propaganda anti-alemã. São cabeças que fazem vingar ideias como o movimento “O Sul é Meu País”, de clara verve xenófoba contra nordestinos e o norte pobre do Brasil. Eles são a base ideológica dos skinheads que praticam seus atos xenófobos pelas madrugadas. No fundo, flertam com a extrema direita europeia no mesmo pensamento sobre o mundo islâmico. Na cabeça deles, a identificação externa que caracteriza um muçulmano é sinônimo de homem-bomba. São os nossos Anders. Como quebrar o ciclo do ódio?

Há diversos episódios recentes que revelam a sua presença latente em nossa sociedade, tão tolerante e condescendente. Aqui, em se plantando, tudo dá. Tudo viceja. Só lembro da jovem advogada que expressou livremente sua opinião xenófoba contra os nordestinos no twitter, no ano passado. O twitter continua cheio dessa gente. E nós nos calamos.

Ficamos quietos quando os nossos adolescentes emitem opiniões semelhantes nos corredores de nossas bem-pagas escolas de classe média. Não queremos nos queimar com os pais, que pagam suas mensalidades e mantêm a escola. Cada aluno não é um ser humano em formação, mas apenas uma conta bancária para onde enviar um boleto cobrando a mensalidade. Um caldo propício para que novos Anders se desenvolvam livremente, enquanto nos calamos. Como quebrar o ciclo do ódio?

Esta é uma pergunta que não larga do meu pé, nos últimos dias. Quero continuar trabalhando nela. Espero por companheiros e companheiras que ajudem a nossa sociedade a refletir sobre ela. Que esta pergunta não nos deixe em paz.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Machu Picchu 100 anos


A cidadela de Machu Picchu, um santuário da civilização Inca construído no século XV pouco antes da chegada dos espanhóis, completou neste domingo 100 anos de sua descoberta por um explorador americano. A cidade, do sul do Peru, foi posta no mapa moderno por Hiram Bingham, que chegou a ela em 24 de julho de 1911, quando esta era coberta por uma selva de exuberante flora e fauna e a divulgou à comunidade arqueológica mundial. O lugar tornou-se um ícone do turismo mundial com mais de 700.000 visitas por ano e trouxe o desafio de conservação de suas construções. O governo peruano adiantou a celebração do aniversário para o dia 7 de julho, pois esta foi a data em que Machu Picchu foi reconhecida como uma das novas sete maravilhas do mundo moderno. A capital sagrada dos Incas foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1983 pela Unesco, que vigia sua manutenção.

Como quebrar o ciclo do ódio 2


O duplo atentado ocorrido na Noruega na sexta-feira 22 é mais um lamentável episódio erguido sobre a crescente xenofobia na Europa. Anders Behring Breivik (32 anos), autor confesso dos dois atentados, matou 76 pessoas na ilha de Utoya e em outro atentado em Oslo.

Durante a audiência de hoje, em que foi ouvido pela justiça, ele não se declarou culpado pelas mortes. Aproveitou para disseminar sua ideologia nefasta e repetiu seus argumentos já divulgados num manifesto de 1.500 páginas publicado na internet, onde ele listou vários “inimigos”: multiculturalismo, imigrantes e muçulmanos, que, segundo o acusado, deveriam ser banidos da Europa.

Seus atentados, segundo afirmou ao tribunal, tinham a intenção de “salvar a Europa Ocidental da invasão muçulmana” e também do marxismo. Ele atirou num acampamento jovem de verão do partido trabalhista para “evitar futuros recrutamentos” de quadros para o Partido Trabalhista, que em sua visão traiu a Noruega no governo.

Geir Lippestad, advogado de Breivik, afirmou que o manifesto foi totalmente escrito pelo acusado. “Ele queria uma mudança na sociedade, e, segundo seu ponto de vista, ele precisava conduzir uma revolução”.

Jens Breivik, pai do terrorista, disse que o filho “deveria ter se suicidado”. Ele mora na França, em Cournanel, onde vive sem contato com o filho há muito tempo. “Ainda não consegui me recuperar da comoção”, disse ele depois de ver a notícia na TV. “Nunca mais vou retornar à Noruega de vergonha”, finalizou o pai.

Deus nos livre, mas é fácil prever que outros monstros como Anders estão crescendo neste exato momento em toda a Europa e nos EUA. Sentem-se fortalecidos pela coragem desse monstro. Para muitos, Anders é um herói; alguém que teve a coragem de fazer aquilo que eles só pensam. As homenagens aos mortos pela guerra da xenofobia em Oslo reuniu 100 mil pessoas.

Flagrante de violação internacional



No último dia 20 de julho ocorreu um grave fato de violação internacional, promovido pelos EUA (surpreso?). Um voo comercial regular da Aeromexico foi proibido de sobrevoar o espaço aéreo americano em direção a Barcelona só porque a CIA determinou.

Motivo? A bordo estava a socióloga Raquel Gutiérrez Aguilar, cidadã mexicana, ativista dos direitos indígenas da Bolívia e fichada pela CIA. Seu trabalho de defesa dos direitos dos indígenas da Bolívia por duas décadas fora o motivo da ficha suja. Ela não poderia sobrevoar os EUA e, enquanto ela estivesse dentro da aeronave, também o voo 033 com destino a Barcelona não o poderia fazer. Não haveria nenhuma escala em solo americano, e Raquel tampouco permaneceria em Barcelona, onde estaria em trânsito rumo a Roma, onde teria compromissos acadêmicos.

O avião retornou ao aeroporto de Monterrey, onde ela foi retirada do avião com toda a sua bagagem. Somente então o voo 033 pode retomar sua rota normal rumo a Barcelona.

Causa estupefação internacional o fato de a CIA se considerar no direito de causar imenso prejuízo a uma companhia aérea, de impedir uma cidadã de outro país a estar numa aeronave não-americana e de impedi-la de viajar a um destino fora dos EUA. Pior do que isso tudo somente seria se o avião fosse obrigado a pousar em território americano para retirar Raquel de dentro e conduzi-la a um presídio americano. Do ponto de vista do cerceamento das liberdades individuais, tanto fazia. A decisão da CIA causou surpresa e indignação na Bolívia, no México e em todo o mundo.

É extremamente amedrontador perceber que as autoridades dos EUA ficam sabendo quem viaja em voos rotineiros da Aeroméxico e da Alitália (companhia em que Raquel iria seguir seu voo de Barcelona a Roma). É mais desconcertante ainda que o governo norte-americano tenha causado impunemente um sério dano econômico a uma empresa aérea mexicana, desviando a rota de uma de suas aeronaves de um itinerário transcontinental somente porque a CIA se julga no direito de proibir uma cidadã de outro país a transitar pelos céus dos EUA rumo a um destino fora de seu território, como passageira comum, em um voo comercial. Isso afeta seriamente a todos nós.

Veja a notícia na íntegra, com a carta denúncia de Raquel, aqui.

domingo, 24 de julho de 2011

Amy Winehouse



Ela se foi. Aos 27 anos ela morreu. É muito cedo. Mas todos diziam que ela fez a escolha. Litros e litros de vodka, vinho, misturados com drogas de todo tipo. “Uma overdose de extasy” teria sido a causa de sua morte.

Impressiona como se transformou num mito no mundo da arte morrer cedo demais por causa das drogas. Arte, drogas e vida intensa parecem estar irremediavelmente aliadas. Emy também foi vítima desse mito. Antes dela, Curt Cobain, Jimi Hendrix, Janis Joplin e muitos outros foram devorados.

O que será tão insuportável? A urgência dolorida da capacidade criadora? A fama a galope levando a vida de roldão? A insuportável solidão de não poder aparecer na janela de casa sem ter uma horda de fãs atropelando a gente? O que será?

Não importa. Mais uma vida extremamente talentosa, rica, plena foi ceifada. Quando o chão se vai, não há arte que resista, não há juventude que suporte. Todos sabíamos que o caminho seria esse, e que seria breve. Adeus Amy.

Transformas-te em mais um exemplo da sociedade de fachada em que vivemos. Nos consumimos uns aos outros e achamos normal. Você também foi consumida, como a sua música, a sua arte, o seu jeito louco de ser. Você foi a manifestação mais escrachada da nossa hipocrisia. Mesmo assim, apesar de você, vamos continuar com ela, corroendo outras vidas, destruindo outros ídolos, corrompendo a juventude e acabando com tudo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Fome volta a matar na África




“A pior crise alimentar dos últimos anos” atinge a Somália, divulgou a UNICEF nesta sexta-feira. Segundo a entidade da ONU para a infância, 780 mil crianças precisam de ajuda imediata para não morrer de fome naquele país. Com o Quênia e a Etiópia, o número de afetados pela crise alimentar chega a 2,3 milhões de pessoas que correm risco de morrer de fome neste momento. A UNICEF pediu 1,9 bilhão de dólares para ajudar, mas até agora só recebeu a metade deste valor.

Desde o início de julho, a UNICEF conseguiu fazer chegar 1.300 toneladas de provisões às áreas atingidas do sul da Somália, mais afetadas pela seca e o conflito armado, os causadoras desta catástrofe humana. Mas o esforço é claramente insuficiente, visto que a previsão é que apenas 240 mil crianças serão beneficiadas pela ajuda. Saiba como ajudar aqui.

Como quebrar o ciclo do ódio 1


Foi executado com injeção letal, na noite de quarta-feira (20/07), o norte-americano Mark Stroman, de 32 anos, na penitenciária Polunsky, de Livingston-Texas. Ele foi condenado à pena capital por ter matado um indiano, um paquistanês e por ter deixado um bengali cedo após lhe dar um tiro no rosto. Ele alegou ter atacado essas pessoas por “patriotismo”, uma tentativa de vingar os norte-americanos pelo ataque às Torres Gêmeas, já que suas vítimas pareciam muçulmanas.

A irmã de Stroman morreu no atentado de 11 de setembro de 2001. Quatro dias depois, Mark matou a tiros o paquistanês Waqar Hasan, de 46 anos, que trabalhava fazendo hambúrgueres em Dallas. Seis dias depois disso, atirou no rosto de Rais Bhuiyan em um posto de gasolina da cidade. Ele sobreviveu, mas ficou cego do olho direito. No dia 4 de outubro, em outro ataque a uma loja de conveniência de um posto de gasolina no subúrbio de Mesquite, Mark matou o indiano Vasudev Patel.

“Não sou um assassino em série. Estamos em guerra. Fiz o que tinha de fazer”, disse, depois de ser preso, em 2001. Um júri o condenou à morte em abril de 2002. O caso ganhou repercussão quando a vítima sobrevivente, Rais Bhuiyan, iniciou uma campanha para tentar reverter a pena para prisão perpétua. “Eu já o havia perdoado muitos anos atrás e sabia que matá-lo não resolveria a situação, não traria nada de bom à sociedade. Se ele conseguisse retomar sua vida, talvez pudesse ajudar outras pessoas em situações parecidas”, disse ele.

Bhuiyan recebeu apoio das famílias das outras vítimas e criou um blog para divulgar a idéia. “Estou aqui para construir uma ponte entre a vítima e o agressor, para quebrar esse ciclo de ódio”, disse ele.

Em entrevistas concedidas nos últimos dias, Mark Stroman mostrou sinais de arrependimento. “Eu era um idiota ignorante na época e agora sou um ser humano que entende melhor as coisas”, disse ele à BBC uma semana atrás (na foto ele aparece dando a entrevista à BBC por telefone). “Não importa o que eu faça ou diga, nada vai mudar o fato de, inclusive, você passar a ver os muçulmanos como suspeitos”, lamentou.

Apesar do esforço de Rais Bhuiyan, o governo do Texas não retrocedeu e manteve a pena de morte. Rick Perry, governador do Texas, é conhecido por sua inflexibilidade diante das sentenças. Na semana passada, o mexicano Humberto Leal Garcia também teve a pena de morte mantida e foi executado, mesmo depois de pedidos do presidente Barack Obama, do governo do México e da ONU (Organização das Nações Unidas). A condenação violava tratados internacionais porque, em sua prisão, as autoridades policiais do Texas não avisaram Leal Garcia sobre seu direito a assistência consular, prejudicando sua defesa.

(Fonte: Opera Mundi)

Doação

Ninguém é tão pobre, nem deveria ser tão mesquinho, que não pudesse doar alguma coisa a alguém necessitado.

Nem o morto está morto para a doação.

Já sem livre-arbítrio, o morto não pode negar-se à doação.

É forçado a desfazer-se da família, dos amigos, das posses. É forçado a doar o seu sangue, as suas carnes e os seus ossos aos vermes da terra.

Doar é participar alegremente da inexcusável essência do Ein Sof, a Luz Infinita.

Charles Kiefer, escritor gaúcho (daqui)

Pedras contra tanques




A organização de direitos humanos israelense B’Tselem acusou o governo de Israel nesta semana de prender e julgar crianças palestinas acusadas de jogar pedras no exército de Israel nos territórios árabes ocupados. O grupo apresentou um relatório, no dia 18 de julho, mostrando que 93% dessas crianças palestinas presas na Cisjordânia foram julgadas em tribunais militares e condenadas a penas de até 20 meses.

Embora os tribunais de Israel proíbam a detenção de crianças menores de 14 anos, militantes da B’TSelem entrevistaram 50 crianças palestinas e 30 delas contaram que foram tiradas de suas casas no meio da noite e que seus pais não puderam acompanhá-las. Mais de 20 disseram que não puderam dormir, ir ao banheiro ou comer enquanto esperavam pelo interrogatório.

O Exército israelense disse em comunicado que atirar pedras é uma “transgressão criminal séria” e que muitas crianças estavam sendo exploradas por “grupos terroristas”. Jogar pedras em tropas e blindados de Israel é algo que as crianças palestinas fazem desde 1987, quando começou a intifada, ou revolta das pedras. E vão continuar fazendo, enquanto não lhes devolverem sua terra e seu país.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O último pouso


Guarde bem esta imagem. É a última de uma saga de 30 anos. Muitos defeitos, mortes, explosões e interrupções de última hora depois, os ônibus espaciais da NASA entram para a história da humanidade como um importante capítulo da aventura espacial humana. A nave Atlantis pousou hoje de manhã (6h57min), depois de sua última missão ao espaço. Era a última nave do tipo retornável em circulação. A última caravela do século 20 volta ao seu porto derradeiro. É quase como um velho ônibus urbano que, depois de décadas de transporte diário de passageiros, é estacionado na garagem em definitivo.

Os ônibus espaciais nos ajudaram a montar no espaço alguns óculos que nos ajudaram a ver mais longe... bem mais longe. Muitas fotos depois, ainda estamos sozinhos no universo conhecido. Descobrimos, sobretudo, que o nosso planeta, que parece tão gigante e inesgotável daqui do chão, na verdade não passa de uma pequena bola, frágil e delicada, visto da janela do ônibus espacial. E é assim que é a nossa Terra, a nossa casa no Universo. Ela é a nossa única casa.

Apesar dos 30 anos, ainda não despertamos muito mais do que curiosidade sobre o que nos cerca. Devíamos ter aprendido que o planeta-aeroporto da Atlantis, da Columbia, da Chalanger, e de muitas outras naves que ainda voltarão a ele, é na verdade a nossa única casa na imensidão que sondamos. Devíamos ter aprendido a cuidar mais dela. Mas parece que não.

A Atlantis vai para o museu sem nos ensinar a lição essencial. E o tempo vai passando. Talvez ainda a aprendamos, antes que nossas naves não tenham mais onde pousar quando retornarem de suas missões que tanto aplacam a nossa curiosidade.

Meu filho, você não merece nada

Eis um texto que recomendo para quem tem que lidar com a atual geração de jovens. Falo de pais, de educadores, de professores e professoras que não encontram mais saída para as exigências cada vez mais absurdas da juventude mimada e descompromissada com que têm de travar uma luta de vida e morte todos os dias. O texto, primoroso, é da jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum e está publicado aqui.


A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada.

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O boato do filme Corpus Christi

Uma das coisas mais incômodas deste mundo, sem caixas postais e caixas de correio cada vez mais vazias nos portões das casas, é o lixo que enche as nossas caixas de e-mail. Circula coisa de todo tipo. E bota circular nisso.

Está voltando com tudo e de maneira irritantemente insistente, nesses tempos de polêmica em torno do homossexualismo, um e-mail conclamando para um abaixo-assinado contra o lançamento de um tal filme chamado Corpus Cristi. O e-mail pede por assinaturas contra o lançamento do filme. E no último que eu recebi tem muita gente da nossa querida IECLB que, na tocada, também assinou o e-mail. A gente vai botando o nome e não olha muito, acreditando estar defendendo uma grande causa.

Atenção, e isso é importante:
1) O filme não existe! Talvez, por nossa insistência, algum diretor resolva enfim rodá-lo.
2) Este e-mail é um hoax e está circulando desde que a internet existe. Aliás, já circulava antes da internet, pelo correio, na forma de abaixo-assinado por carta. Ele está por aí desde o longínquo ano de 1984!
3) O e-mail que é citado como receptor das assinaturas é homasg@softhome.net. Quem enviar uma mensagem para esse endereço vai receber como resposta: homasg@softhome.net has been canceled for abuse. Ou seja, foi cancelado por receber tantas assinaturas que não suportou, e foi cancelado pelo provedor.
4) Maiores detalhes sobre essa história deste filme inexistente você pode ler aqui.

A coisa mais certa a fazer quando se recebe pedidos dessa ordem é checar. No caso do filme Corpus Christi, eu simplesmente digitei o termo no Google e os alertas choveram. Faça isso sempre que tiver dúvida sobre algo muito "importante e urgente" que recebe por e-mail.

Nossa sociedade medieval


Então você não pode mais andar na rua abraçado com um outro homem sem ser confundido e, pior, agredido por suspeitarem que você é gay? O que está acontecendo com a nossa cultura ocidental cristã, democrática, livre e afeita ao respeito? O que está acontecendo com a nossa sociedade? Que tipo de fundamentalismo radical e intolerante está se instalando entre nós?

O fato, terrível e que denuncia um rumo assustador das coisas, aconteceu no interior de São Paulo, em São João da Boa Vista. A vítima, que não quer se identificar, é um homem de 42 anos que perdeu parte da sua orelha durante agressões que sofreu por ter sido atacado por um grupo homofóbico que o confundiu com um gay, por estar circulando abraçado com o seu filho. Não quiseram nem ouvir os argumentos. Viram, desconfiaram e partiram para o abate. Cegos e surdos pelo seu preconceito, não pararam um minuto para pensar. Em sua visão torpe, julgaram estar fazendo uma limpa geral.

O STF está muito certo em proteger as minorias, também os homossexuais – mesmo que aqui não tenha obviamente sido o caso. O Congresso está correto em debater e aprovar leis como a lei anti-homofobia, que tanto assusta os pretensos missionários que se julgam cerceados no direito de pregar que o homossexualismo é pecado. Porque, ao proteger as minorias, está livrando a cara de muita gente que sofre as consequências de uma sociedade podre, intolerante, inacreditavelmente medieval.

O que mais assusta, entretanto, não é um ou outro grupo que leva seu preconceito ao ponto de deixar inocentes sem orelha – o que é obviamente inaceitável e um crime previsto no Código Penal brasileiro. O que assusta, de fato, é o quanto gente que pensa como eles está aqui, bem ao nosso lado, fazendo piadinhas idiotas e, no íntimo, concordando com linchamentos, justiça pelas próprias mãos, surras “merecidas”, bullying de todo tipo. O que assusta, é gente transformando a Bíblia num código penal mafioso para condenar a vida dos outros e o seu comportamento. É um caldo social no qual florescem excrescências como a Ku Klux Klan.

Enquanto em nossa sociedade se julgar justificado agredir travestis, prostitutas ou gays pelo simples fato de não aceitar o que são, erros como o de São João da Boa Vista irão se repetir perigosamente e, pior, um dia poderão atingir a nossa própria família ou até a nós mesmos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

A União Europeia agoniza


Eu já afirmei aqui, há tempos, que a Europa não iria terminar bem este século, por causa da crescente xenofobia que está se instalando no continente. Agora já acho que veremos mudanças substanciais ainda na presente década.

Ninguém gosta de ver a sua casa invadida sem pedir licença. Ainda mais quando esta casa está cheia de cristaleiras e armários da mais fina louça. Quando há cofres lotados de bens de toda ordem e a garagem abriga carros de última geração. Ninguém gosta, nem mesmo, que invadam sua geladeira sem pedir licença. Ainda mais quando ela está repleta de coisas boas.

E a Europa está se sentindo assim. As pessoas vão entrando, tomando conta, invadindo a geladeira e se metendo até no código que regula o dia a dia da casa. Há medo e angústia no ar. As respostas vão chegando com a mesma força, e algumas são absolutamente exageradas. Desde ordens para esperar ser servido (em lugar de invadir a geladeira sem pedir licença), até expulsões sumárias de dentro da casa estão acontecendo.

Agora a Dinamarca acaba de instalar uma sonora campainha. Só entra quem passa pelos postos de controle de fronteira (mais informações aqui). A decisão do parlamento dinamarquês coloca em cheque o mais importante pilar ainda de pé da União Europeia-UE: o Acordo de Schengen. Por ele, os países que se uniram na UE decidiram que não haverá postos de controle entre os países do bloco e que haverá, portanto, livre circulação de bens e de pessoas, sem barreiras nas fronteiras. A Dinamarca agora decidiu controlar tudo o que passa pelas suas fronteiras. A UE esperneia, grita, bota bronca e até ameaça processar a Dinamarca por causa de sua decisão unilateral. Mas a UE já fala que as barreiras podem vir, em caso de emergência. Do ponto de vista de quem tem a geladeira lotada (ainda!) e sendo invadida sem autorização, o estado de emergência parece estar bem próximo de realizar-se.

Enquanto a direita vai se instalando nos governos e nos postos mais importantes dos governos de vários países, a angústia de ver o Euro derretendo e os países invadidos por gente que a gente não aprecia muito, a coisa vai tomando contornos claros de xenofobia. O medo de perder os privilégios não só fecha as portas da casa, mas vai aumentando uma onda de ódio e repulsa contra os invasores indesejados. Principalmente aqueles que vêm da deflagrada África do norte, onde o caldeirão islâmico e das ditaduras ferve e pede socorro.

O final desta década vai ser bem dramático para a Europa. Primeiro cairá o Euro. Depois, o Acordo de Schengen. A própria União Europeia está na lista. Só Deus sabe o que virá depois. Mas o roteiro já está escrito, e não será um filme do tipo Emotion...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mandela unanimidade planetária


Nelson Mandela completa 93 anos hoje. Ele tem todo o direito a esta generosa recompensa da vida, depois de ter perdido a juventude atrás das grades. Mas o seu tempo na prisão não foi em vão. Muito menos, transformou-se numa escola para torná-lo amargo, vingativo, pronto para detonar Deus e o mundo. Mandela aproveitou o tempo para gestar o mais brilhante parto de uma nação em pleno século 20. A África do Sul nem nação era. Era um arremedo de campo de concentração com cara de Mad Max, com direito a overdoses de barbárie e desumanidade plena.

Além de ter enobrecido como um vinho bem guardado, Mandela é uma das poucas unanimidades do Planeta Terra como exemplo de ser humano. Enquanto o Vaticano canoniza pateticamente João Paulo Segundo, o “papa pop”, Mandela continua gente como a gente e, próximo dos 100 anos de vida, é um ser humano de carne e osso que não aceita a canonização do planeta. Mas sabe muito bem a importância única e histórica da sua espetacular caminhada cidadã. Iguais a ele não há ninguém hoje. E se a humanidade tivesse meia dúzia de Mandelas espalhados, um para cada continente, tudo seria muito diferente.

Nelson Madiba Mandela! Parabéns! Que Deus te conserve! Que Deus te transforme em eterno exemplo a ser seguido. Que a tua memória viceje como os cedros do Líbano. A tua grandeza não cabe em texto algum. Tu estás no pódio mais alto dos que merecem ser chamados de santos... com ou sem a nossa canonização. És um farol para a comunidade global, e para todos que trabalham para democracia, justiça e reconciliação.

A Igreja e a homossexualidade: um novo caso Galileu

Reproduzo, a seguir, um texto com argumentos expressivos sobre a questão da Bíblia e da homossexualidade. O artigo foi publicado no site Lupa Protestante por Juan Sánchez Nuñez e que eu tomei a liberdade de traduzir para o português. A sua leitura é indispensável para o bom debate do tema. Publico-o como uma contribuição de peso para o debate do polêmico tema. Boa leitura.

Levei muito tempo pensando em escrever este artigo, mas foi o extraordinário testemunho de uma mãe cristã evangélica que acabou de me convencer. Seu sofrimento e, sobretudo, seu esforço por compreender e aceitar seu filho, são extraordinários, e nos mostram do que é capaz o amor.

Uma mãe de três filhos, aos quais educou na mesma fé, nos mesmos valores, com o mesmo amor, e que descobre assombrada o sofrimento que durante anos tem padecido um does por reconhecer-se e aceitar-se homossexual. Exclama essa mãe angustiada: evidentemente meu filho não escolheu ser homossexual, ninguém escolhe o sofrimento, ninguém escolhe ser rechaçado, depreciado, acusado de pecador, denegrido por ser um pervertido; ninguém escolhe esta marginalização e esta humilhação.

E esta nossa irmã tem razão. Ninguém escolhe viver sendo constantemente denegrido e depreciado; mas é mais, querida irmã, e creio que isto é fundamental: ninguém escolhe sua condição sexual, nem o homossexual nem o heterossexual. E esta afirmação é a que eu gostaria de abordar neste artigo, porque creio que é a chave para definir-se em um sentido o em outro. Creio que a recusa desta afirmação é o que está fazendo com que muitas igrejas sejam vistas por grande parte da nossa sociedade como atrasadas e sectárias, e consideradas como grupos de pessoas que ignoram os avanços fundamentais da ciência.

Se, e por isso titulei assim o meu artigo, porque creio que o que divide tão profundamente as igrejas evangélicas quanto à avaliação da homossexualidade, não é o que diz a Bíblia, mas o que diz a ciência. E no fundo, nossa postura a favor ou contra se define mais por nosso conhecimento científico do que por nosso conhecimento bíblico. Daí que estamos, como indico no título, ante um novo “caso Galileu”.

Hoje em dia ninguém pensa que a terra seja o centro do universo, e que o sol, os planetas e o resto das estrelas girem ao seu redor. Quem afirma isto, simplesmente é considerado um ignorante ou maluco. E sem dúvida, chegar até aqui custou muitíssimo sofrimento. Galileu foi condenado, não só pela inquisição da igreja católico-romana, mas também pelas igrejas da reforma, pois ninguém estava disposto a aceitar que a Bíblia poderia equivocar-se, era a ciência que estava errada.

Esse conflito nos ajudou a interpretar melhor a Bíblia e a não ver na ciência um inimigo de nossa fé. Hoje em dia ninguém duvida de que a terra gira ao redor do sol; e ninguém faz uma leitura literal dos textos bíblicos que afirmam o contrário; leva-se em conta o gênero literário dos mesmos e a natureza da linguagem teológica, e se distingue muito bem o tipo de verdade que nos comunicam, que é uma verdade de salvação e não uma verdade científica: não é certo que o sol se deteve para que Israel vencesse seus inimigos (em todo caso se teria que haver detido o movimento de rotação da terra sobre o seu eixo, coisa que o autor do texto ignorava); mas é certo que Deus salvou Israel e esteve a seu lado de maneira extraordinária em todas as circunstâncias adversas de sua história.

As Testemunhas de Jeová têm outro “caso Galileu” com as transfusões de sangue. Alguns fazem uma leitura literal dos textos bíblicos referentes à importância do sangue para a vida humana, em clara contradição com o que diz a ciência moderna: que a vida humana não está em nenhum fluido corporal, mas em todo o corpo humano; uma vida humana que é mais que matéria, é também e fundamentalmente espírito. Quando esses textos bíblicos foram escritos, não se sabia que o sangue circulava pelo corpo, nem se sabia até muitos séculos depois, e muito menos os autores imaginavam que poderiam realizar-se transfusões de sangue. Quando ficou claro para a sociedade a informação de que tal crença coloca em risco a vida humana, gerou uma recusa frontal e absoluta, e as Testemunhas de Jeová são vistos como pessoas retrógradas, ignorantes e sectárias, com uma visão da vida totalmente defasada e perigosa.

Creio que com a homossexualidade estamos ante outro “caso Galileu”. E me explico. Hoje em dia ciência médica, biológica, psiquiátrica, etc, nos diz que a homossexualidade é uma condição sexual e não uma opção sexual. E esta distinção é fundamental. A homossexualidade no é uma orientação sexual eleita por uma pessoa, mas recebida pela mesma, exatamente como acontece com a heterossexualidade. Hoje a ciência nos diz que na orientação sexual de uma pessoa intervêm fatores genéticos, ambientais, sociais, educacionais, etc. e que quando esta orientação amadureceu, deve ser plenamente aceita, sem nenhuma reserva, para que seja possível um desenvolvimento equilibrado da personalidade.

Esta visão da homossexualidade é a que está por detrás das leis que distintos Estados têm aprovado, reconhecendo igualdade de direitos aos homossexuais e permitindo-lhes inclusive o matrimônio. Leis que põem fim a uma discriminação e a uma perseguição e desprezo que os homossexuais têm suportado durante séculos. Hoje em dia o homossexual é visto em nossa sociedade como uma pessoa, não como alguém que padece uma enfermidade ou que fez uma opção sexual pervertida. Pensar assim só é possível se ignoramos tudo o que a ciência moderna nos tem ajudado a entender sobre a homossexualidade.

A homossexualidade começou a ser estudada pela ciência médica no final do século XIX e, claro está, era vista como uma patologia, uma enfermidade, uma opção do indivíduo contra a sua natureza. (Permitam-me abrir um parêntesis. Hoje em dia a ciência nos diz que a homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade, e que não só acontece entre humanos, mas entre uma grande diversidade de animais: golfinhos, cervos, chimpanzés, elefantes, aves, insetos, etc.).

Pois bem, a ciência começou estudando a homossexualidade como uma enfermidade, e foram necessários muitos estudos a favor e contra, muito debate científico, com ampla participação de todos os agentes sociais, das igrejas, de distintas organizações de todo tipo, etc. para que mudasse radicalmente o modo de avaliar a homossexualidade. A primeira associação científica que eliminou a homossexualidade da lista de enfermidades foi a prestigiosa Associação de Psiquiatria Americana (APA), em 1974, e em seu meio começou uma “guerra” do sector minoritário para que voltasse a incluí-la na lista de transtornos, patologias o enfermidades. Não se conseguiu, ao contrário, em 1986 foi ratificada essa decisão aprovada em 1974 pela maioria de seus membros.

A partir dos últimos anos do século XX temos assistido a declarações similares de diversas organizações científicas. A Organização Mundial da Saúde eliminou em 1990 a homossexualidade de sua lista de Enfermidades e Outros Problemas de Saúde; a Associação Médica Norteamericana, A Associação de Psicologia Norteamericana, etc. têm atuado da mesma maneira. Mas não só os profissionais da ciência, mas também as leis e os governos dos países de nosso entorno social e cultural, corroboram esta visão da homossexualidade e adotam as mesmas medidas que a Organização Mundial da Saúde. Assim o fez o Reino Unido em 1994, ou a Sociedade Chinesa de Psiquiatria em 2001, etc.

Em nossa sociedade a homossexualidade é vista como uma condição sexual, não como uma opção sexual; e portanto o homossexual tem os mesmos direitos e deveres que o heterossexual de viver sua sexualidade de uma maneira plena e enriquecedora. A condição sexual do homossexual não pode ser objeto de discriminação nem de menosprezo de nenhum tipo, pois seria como discriminar o desprezar a alguém pela cor de sua pele ou por sua etnia. Creio que nossa sociedade está horrorizada com a discriminação e a perseguição de que foram vítimas os negros, os judeus, etc. por sua condição étnica; do mesmo modo que todavia, em muitas sociedades, são menosprezados e marginados os homossexuais por sua condição sexual.

E agora vem “a grande pergunta” de nossas igrejas: E o que diz a Bíblia?

E a resposta é clara e redonda: nada, absolutamente nada; A Bíblia não diz nada da homossexualidade, pois quando foi escrita se desconhecia que existia. A Bíblia não diz nada da condição homossexual, como tampouco diz nada da circulação do sangue, nem diz que o sol gire ao redor da terra, a não ser numa linguagem coloquial e não científica.

A Bíblia não fala da homossexualidade, A Bíblia fala só de atos homossexuais, e ademais atos homossexuais vistos como manifestação e expressão de uma atitude profunda do coração, atos homossexuais que são fruto da cobiça e da lascívia do ser humano, não manifestação do amor e da ternura entre duas pessoas. Quando foram escritos esses textos, nem sequer podiam imaginar seus autores que os atos homossexuais fossem, tal como os heterossexuais, manifestação do amor e do compromisso entre duas pessoas.

Isto se vê claramente quando os lemos em seu contexto histórico; podemos comprovar então que neles se fala dos atos homossexuais, ou como atos que transgridem as leis de pureza do povo (cf. Lv 15.16-20 e Lv 20.18 antes de ler Lv 20.13, onde se dita pena de morte, tanto ao que tem relações sexuais com mulher no período menstrual, como para o que o faz com outro homem; a razão no primeiro texto que cito, aquele que fala da impureza do sêmen e do sangue); ou como atos realizados em um contexto de egoísmo e autosuficiência humana, de busca de prazeres extremos e de experiências orgiásticas, de situações nas quais os seres humanos desejam transgredir todos os limites e ir além do conhecido em uma corrida desenfreada atrás do prazer e da autosatisfação.

É preciso ter tal contexto bíblico muito presente na hora de ler esses textos, pois resulta uma grande injustiça utilizá-los para condenar os atos homossexuais de uma parelha homossexual que se ama e se respeita; essa utilização seria equivalente à daquele que utilizar a condenação bíblica de promiscuidade e prostituição para condenar os atos sexuais de um casal heterossexual. E não deve ser assim, a Bíblia tem em grande estima os atos sexuais daqueles que se amam e se respeitam.

Gostaria expor brevemente o que disse anteriormente, analisando o que considero mais conhecido, e o que de maneira mais ampla nos fala dos atos homossexuais na sociedade greco-romana do século I, o texto da carta de Paulo aos Romanos, em seu capítulo 1.

É claro o contexto em que Paulo fala destes atos: são manifestação de arrogância dos seres humanos, que em sua rejeição do Criador têm caído na idolatria de si mesmos e na adoração de suas próprias obras, de seus corpos…, e “Deus os têm deixado a mercê de seus baixos instintos, de modo que eles se degradam a si mesmos. Este é o fruto de haver preferido a mentira à verdade de Deus, de haver adorado à criatura em vez de ao Criador” (vs.24-25).

Os destinatários da carta sabiam muito bem de quê falava Paulo. Tanto em Corinto, a partir de onde Paulo escreve, como em Roma, haviam adquirido muita fama os cultos de Mitra, Afrodite, Cibeles, etc. Contavam com muitos santuários e um grande número de fiéis que participavam em ritos orgiásticos com os sacerdotes e sacerdotisas dos mesmos. Nos atos de culto destes santuários era habitual manter relações sexuais com os prostitutos sagrados e participar em atos tanto heterossexuais como homossexuais; e mais, inclusive era habitual que as sacerdotisas utilizassem elementos “fálicos” para penetrar a outras mulheres. É este contexto que Paulo tem em mente quando descreve os atos homossexuais de seus contemporâneos.

São manifestação de idolatria, de um coração entenebrecido que não tem reconhecido seu Criador e “professando ser sábios, se tornaram néscios, e mudaram a gloria do Deus incorruptível por uma imagem em forma de homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis”(vs.22-23). Sim, os templos destas divindades estavam repletos de imagens de deuses, deusas, gatos, chacais, crocodilos, serpentes, Isis, Osíris, Anúbis, etc.

Paulo está fazendo referência a algo muito conhecido em seu meio, a polêmica judaica contra a idolatria e suas consequências. Algo que descreve de maneira muito similar o livro de Provérbios em seus capítulos 13 e 14, livro que não está nas Bíblias protestantes mas nas católicas, escrito uns séculos antes da carta de Paulo e cujo uso era habitual naquela época.

Pois bem, é a idolatria que gera todo tipo de perversões humanas, dirá Paulo: “Por esta razão Deus os entregou a paixões degradantes; porque suas mulheres mudaram a função natural pela que é contra a natureza; e da mesma maneira também os homens, abandonando o uso natural de mulher, se incendeiam em sua luxúria uns com os outros, cometendo atos vergonhosos de homens com homens, e recebendo em si mesmos o castigo correspondente à sua perdição” (vs.26-27).

E não posso deixar de mencionar algo que põe claramente à luz do dia as ideias preconcebidas com que lemos os textos bíblicos. Estou convencido que muitos de nós, quando lemos a primeira parte do texto que citei anteriormente, pensamos que Paulo se está referindo ao lesbianismo. Se lemos que “suas mulheres mudaram a função natural pela que é contra a natureza”, imediatamente pensamos que está condenando atos homossexuais entre mulheres. Pois bem, parece que não é assim. Ao menos durante os primeiros quatro séculos do cristianismo, os que comentam esta passagem não o interpretam assim. Todos os comentários que temos deste texto, de Clemente, de Orígenes, de Agostinho, etc, dizem que Paulo não está falando de lesbianismo, mas de mulheres que têm relações anais com pessoas do sexo oposto.

É imprescindível para interpretar os textos bíblicos ter em conta a sociedade em que foram escritos, seus costumes sexuais, seus ritos sagrados. Era habitual na sociedade greco-romana que muitos homens tinham relações sexuais com varões jovens e esbeltos que estavam a serviço de casa, e descuidavam de suas esposas; algo tão incompreensível para nossa sociedade como esses atos de prostituição sagrada de que temos falado. É imprescindível ter em conta tudo isto para não fazer um uso injusto dos mesmos e condenar inocentes.

Irmãos, a Bíblia não diz nada da condição homossexual, mas tem muito a dizer às pessoas homossexuais, o mesmo que às heterossexuais: que vivam plenamente sua sexualidade, pois é um dom divino a serviço da comunicação humana no amor, no compromisso e no cuidado mútuo.

Quando em nossa sociedade os homossexuais ocupam postos de responsabilidade na Administração de Justiça, no Governo, etc. Quando destacados artistas, atores, cantores, etc. vivem sua condição homossexual com toda naturalidade e sem nenhuma discriminação. Quando nossos governos aprovam leis para que inclusive no exército seja reconhecida a condição homossexual… Quando tudo isto sucede em nossa sociedade, não podemos nós das igrejas seguir falando de opção homossexual e de perversão homossexual, contra o que afirma a ciência, e reconhece a maioria de nossa sociedade.

Se a nossa sociedade age assim, se nossos políticos aprovam estas leis, não é porque sejam uns imorais que não têm em conta o que é bom e justo; mas porque têm aceito o que a ciência diz acerca da homossexualidade e buscam superar a discriminação e a marginalização que têm sofrido durante séculos os nossos irmãos homossexuais.

Creio que também nós das igrejas devemos aceitar o que diz a ciência sobre a homossexualidade; ainda mais quando, como temos visto, a Bíblia não diz absolutamente nada sobre isso. Bem, sim, ela nos anima a respeitar e amar a todo aquele que é desprezado e marginalizado. Mas, por favor irmãos, não incluamos os homossexuais no conjunto dos “pecadores” que devemos amar, NÃO; tal e como creio haver exposto neste artigo, o homossexual é um ser humano que recebeu de Deus sua condição sexual e está chamado a aceitá-la e vivê-la em amor, com seus riscos e suas grandezas, exatamente igual ao heterossexual.

Quanto tempo levará a igreja para reconhecer o que a ciência nos diz acerca da homossexualidade? Quantos “Galileus” terão que arder nas fogueiras de nossas inquisições? Quanta dor nos levará a aceitar que a Bíblia não pode ser utilizada como uma arma de arremesso, como um Código Penal? Espero que não leve tanto tempo, até que nossa sociedade termine por considerar-nos uma seita, e não seja capaz de escutar de nós o mensagem de vida plena que só a fé em Jesus Cristo torna possível.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um aeroporto espetacular


Para o final de semana, divirta-se com a paciência e a criatividade dessa turma, que montou este mini-aeroporto. Um hobby que vira renda. Tem fila de gente querendo ver.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cérebro de pipoca

Já disse aqui, em outra oportunidade, que tem muito lixo que nos é enviado por e-mail. Mas volta e meia aparece algo muito bom, que deve ser divulgado por outros meios. Agora de manhã, à procura do que publicar no blog, o primeiro e-mail da minha caixa postal, enviado pela Marli, tinha incorporado este delicioso artigo do Dimenstein. Reproduzo aqui, como um alerta (mais um!) dos riscos que corremos nos emaranhando na teia mundial de pessoas unidas pelas redes sociais. Boa leitura.


O Google anunciou, na semana passada, um projeto para enfrentar o Facebook, disposto a reinventar a mídia social. A notícia teve óbvio impacto mundial e despertou a curiosidade sobre mais uma rodada de inovações tecnológicas, capazes de nos fazer ainda mais conectados.

No dia seguinte, porém, o Facebook reagiu e anunciou para esta semana uma novidade também de grande impacto, possivelmente em celulares. Para alguns psicólogos americanos, esse tipo de disputa produz um efeito colateral, um distúrbio já batizado de “cérebro de pipoca”.

Esse distúrbio é provocado pelo movimento caótico e constante de informações, exigindo que se executem simultaneamente várias tarefas. Por causa de alterações químicas cerebrais, a vítima passa a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e de lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente.

A falta de foco gera entre os portadores do tal “cérebro de pipoca” um novo tipo de analfabetismo: o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, o que torna complicado o relacionamento interpessoal.

Sou um tanto desconfiado de notícias alarmantes provocadas pelo surgimento de novas tecnologias. Toda ruptura desencadeia uma onda de nostalgia e de temores em relação ao futuro.

Mas algumas pesquisas em torno do “cérebro de pipoca” merecem atenção por afetar o processo de aprendizagem. Uma delas foi realizada em Stanford, a universidade que, por ajudar a criar o Vale do Silício, na Califórnia, impulsionou a tecnologia da informação.

Neste ano, Clifford Nass, professor de psicologia social na Universidade Stanford, apresentou, num seminário sobre tecnologia da informação, a pesquisa que fez com jovens que passam muitas horas por dia na internet, acostumados a tocar muitas tarefas ao mesmo tempo.

Ele mostrou fotos com diversas expressões e pediu que os jovens identificassem as emoções. Constatou a dificuldade dos entrevistados. “Relacionamento é algo que se aprende lendo as emoções dos outros”, afirma Nass.

O problema, segundo ele, está tanto na falta de contato cara a cara com as pessoas como na dificuldade de manter o foco e verificar o que é relevante, percebendo sutilezas, o que exige atenção.

Os pesquisadores estão detectando há tempos uma série de distorções, como a compulsão para se manter conectado, semelhante a um vício.

Trata-se de uma inquietude permanente, provocada pela sensação de que o outro, naquele momento, está fazendo algo mais interessante do que aquilo que se está fazendo. Tome o Facebook ou qualquer outra rede social.

Chegaram a desenvolver um programa que envia para o celular da pessoa um aviso sempre que um amigo dela está se aproximando de onde ela está.

O estímulo, porém, começa no mercado de trabalho. Vemos nos anúncios de emprego uma demanda por pessoas que façam muitas coisas ao mesmo tempo.

Mas o que Nass, o professor de Stanford, entre outros pesquisadores, defende é o contrário. Quem faz muitas tarefas ao mesmo tempo, condicionando seu cérebro, fica menos funcional. Não sabe perceber as emoções e trabalhar em equipe, não sabe focar o que é relevante e tem dificuldade de estabelecer um projeto que exige um mínimo de linearidade. Não sabe, em suma, diferenciar o valor das informações.

Não deixa de ser um pouco absurdo valorizar tanto os recursos tecnológicos que aproximam as pessoas virtualmente, mas que as afastam na vida real.

Daí se entende, em parte, segundo os pesquisadores, por que, em todo o mundo, está explodindo o consumo de remédios de tarja preta para tratar males como a ansiedade e a hiperatividade.

PS – Perto da minha casa, aqui em Cambridge, há uma padaria artesanal, com mesas comunitárias, que decidiu ir contra a corrente. Seus proprietários simplesmente proibiram que se usasse celular lá dentro para diminuir a poluição sonora e a agitação. Sucesso total. O efeito colateral: ficou difícil conseguir lugar.

Por Gilberto Dimenstein - Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo, comentarista da rádio CBN, e fundador da Associação Cidade Escola Aprendiz. Publicado no Portal Aprendiz.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Shirin Ebadi no Brasil


Uma das vozes mais destacadas da luta contra a discriminação das mulheres no mundo islâmico é a iraniana Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2003. Modelo para a luta pelos direitos humanos e por justiça de gênero no mundo inteiro, Shirin Ebadi esteve no Brasil no mês de junho e, entre suas muitas atividades, participou da segunda conferência do ciclo Fronteiras do Pensamento, realizada na Sala São Paulo, da USP, no dia 14 de junho. O jornalista Paulo Hebmüller escreveu uma detalhada matéria no jornal da universidade, com o pensamento de Shirin Ebadi. A matéria tem o sugestivo título de Uma voz que clama pela justiça. Deixe-se inspirar por seu pensamento e, principalmente, por sua profunda esperança de que um outro mundo é possível, também no mundo islâmico. Você pode ler toda a matéria aqui.

Guernica, o horror das guerras


Em 12 de julho de 1937 a tela “Guernica”, uma das mais conhecidas obras do pintor espanhol Pablo Picasso e uma das mais famosas pinturas do mundo, foi exposta ao público pela primeira vez. O quadro foi exibido no pavilhão da República Espanhola na Exposição Internacional de Paris, onde Picasso vivia exilado. Nela o famoso pintor cubista retratou o bombardeio da vila basca pelos nazistas no dia 26 de abril do mesmo ano. Hitler, então no início de sua trajetória ensandecida, atacou a pequena cidade com a Luftwaffe para ajudar Francisco Franco a assumir o poder da nação em guerra civil. O resultado foi um massacre, com centenas de mortos. Picasso retratou o fato em preto e branco, nessa tela que é um grito contra todas as guerras.

A vila de Guernica tinha 5 mil habitantes e foi completamente destruída pelos 250 quilos de explosivos e bombas incendiárias atirados pelos nazistas. Embora os alemães negassem sua participação nos bombardeios, alegando tratar-se de “antipropaganda da imprensa judaica”, testemunhas haviam identificado as suásticas pintados nos aviões. Hitler, aliado de Franco, aproveitou a oportunidade para testar a capacidade da Luftwaffe.

O horror do ataque foi fixado em óleo sobre tela por Picasso no famoso quadro de mais de três metros de altura por sete de largura. Representa a expressão máxima do impacto devastador dos armamentos modernos de guerra sobre suas vítimas em todas as partes do mundo e a desgraça que provoca um tal ataque sobre a população civil. Jamais na história uma obra de arte havia retratado a guerra de forma tão exemplar. Picasso desistiu de forma consciente do uso de símbolos políticos, mesmo assim a enorme tela conseguiu transmitir a angústia da população e o poder de destruição da força militar. Ao visitar a exposição, um oficial da SS teria perguntado a Picasso: “Você fez isso?”, ao que Picasso respondeu: “Não, você!”.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Morre José Acácio Santana


Perdemos o músico, arranjador, compositor, poeta, professor e maestro José Acácio Santana. Sua morte ocorreu na manhã de ontem (11/07), às 10h, no Hospital de Caridade, em Florianópolis. O maestro estava internado na instituição há 78 dias com câncer. Não suportou o tratamento e veio a falecer pelo agravamento da doença, sobretudo no pulmão.

O corpo está sendo velado na Casa Mortuária de São Pedro de Alcântara, sua terra natal, a 30 km de Florianópolis. O enterro será hoje (12 de julho), após a missa de corpo presente, que será realizada na Igreja Matriz da Paróquia de São Pedro de Alcântara.

José Acácio Santana foi maestro, compositor, poeta e professor catarinense que dedicou a sua vida a serviço do som e da palavra. Ministério que deu início aos sete anos de idade. Mais de três mil obras constituem o saldo da vida artística deste músico e poeta de intensa e extensa capacidade produtiva.

Consagrado internacionalmente, não fugia ao compromisso de servir com sua arte aos pequenos grupos artísticos e às comunidades. Pioneiro no Brasil nas composições litúrgicas pós Concílio Vaticano II, possuía invejável unidade musical e literária em suas composições, onde convivem harmoniosamente o poeta e o músico, de maneira plena.

É nesta unidade, alimentada por uma profunda fé, que se encontra o segredo do sucesso e da aceitação incondicional de suas obras. Conhecido como o Missionário da Música, Acácio transformava seus talentos em frutos acessíveis a todos. Ele alcançou renome internacional, pela extensão e variedade da sua obra musical e poética, que abrange desde a canção infantil até a ópera e os oratórios eruditos.

Sua atuação na área cultural mereceu-lhe grandes homenagens, entre elas Medalha do Mérito Coral Brasileiro, Mérito Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina, Medalha do Mérito Anita Garibaldi, Batuta de Ouro, Cidadão Honorário de mais de 30 municípios brasileiros. Atendeu a mais de 1500 corais brasileiros e vários de outros países. Só em Santa Catarina mais de 1000 grupos se beneficiam do seu trabalho. Grande parte de sua obra está gravada pela Paulinas/Comep, com quem gravou 12 CDs.

Especialista em Canto Coral Sacro José Acácio Santana era graduado em regência e composição em Colônia, na Alemanha. Desde 1962 Acácio trabalhou no incentivo do canto coletivo e acessível ao público. José Acácio contava com seis cursos superiores em música, 900 obras ensaiadas, 10 discos produzidos, criação de mais de 200 corais, 3.000 concertos.

Este blog está de luto pela morte do grande maestro catarinense.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O debate sobre mídias no Brasil também nos diz respeito


O jurista Fábio Konder Comparato disse, em palestra durante o II Encontro Nacional de Blogueiros, em Brasília, que a Globo ameaçou romper o contrato com a UNESCO de promover o “Criança Esperança”. O motivo, segundo o jornalista Luiz Carlos Azenha, seria a publicação em fevereiro de um extenso estudo da Unesco sobre o ambiente regulatório para radiodifusão no Brasil. Veja o estudo na íntegra aqui.

O estudo, de autoria de Toby Mendel e Eve Salomon, concluiu o óbvio: a mídia brasileira é dominada por 35 grupos, alguns nas mãos de uma única família há décadas (Marinho, Frias, Sirotsky, Sivita etc.), que controlam 516 empresas. A rede Globo detém 51,9% da audiência nacional. O estudo condena o monopólio, garantindo que a concessão de TV é um bem público, e aponta soluções com base em experiências em outros países. Segundo o estudo, tal concentração de poder comunicacional prejudica a regionalização da informação e valoriza somente a cultura dos grandes centros, como o Rio de Janeiro e São Paulo, marginalizando outras culturas presentes no país.

O estudo também condena a forma distorcida com que são tratadas as iniciativas comunitárias de rádio e TV, aqui consideradas piratas e, no resto do mundo, vistas como iniciativas indispensáveis para a boa comunicação.

A iniciativa governamental de criar um novo marco regulatório para a comunicação social no Brasil vem sendo tratada como censura, interferência indevida e desrespeito à liberdade de imprensa pelos grandes conglomerados de comunicação, como a Globo, a Abril, a RBS, a NET, o Estadão e a Folha, entre outros, alem das grandes empresas de telefonia. Querem manter o atual status quo, baseado em lei de 1967, quando não havia internet nem celular e que dá ampla vantagem aos atuais detentores dos sinais públicos de transmissão. O documento, além de apontar soluções inteligentes e bem refletidas, dá força aos que lutam pelo novo marco regulatório, inclusive o governo brasileiro, que é visto como um ato de democratização da comunicação no país.

Segundo Comparato, depois da publicação do estudo a TV Globo disse aos autores, Toby Mendel e Eve Salomon, que poderia romper o vínculo entre a emissora e o programa “Criança Esperança”.

Antes de ser uma tarefa do governo, cabe a nós, cidadãos brasileiros, acompanhar este processo bem mais de perto e com maior interesse do que até aqui. Para informar-se sobre o andamento, não acompanhe os informes da Globo, de Veja, do Estadão, da Folha e dessa turminha a respeito. O PIG (Partido da Imprensa Golpista), segundo Paulo Henrique Amorim, mente e distorce as informações propositalmente a seu favor, tudo para não perder a boquinha. A nova “Lei de Medios”, como ele a chama, deve colocar um fim nessa bandalheira que é a comunicação nacional aliada a interesses políticos escusos.

O assunto também interessa, e muito, as igrejas. Se quisermos mais espaço na mídia nacional para defender “o modo luterano de ver o mundo”, temos que participar desse debate. Para isso, acompanhe alguns blogs que estão acompanhando o andamento da implantação do novo marco regulatório da comunicação no Brasil, na lista abaixo:
http://www.conversaafiada.com.br/
http://www.direitoacomunicacao.org.br/
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
http://www.viomundo.com.br/

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desespero por causa de saúde



Um americano identificado como James Verone, de 59 anos, entrou em um banco de Gastonia (Carolina do Norte) para roubar um dólar, com o único objetivo de ir para a cadeia para receber tratamento médico. Ao chegar à agência bancária, Verone aproximou-se de uma caixa a quem entregou um bilhete com a mensagem: “Isto é um assalto. Entregue-me um dólar”. Ele não estava armado. Depoism sentou-se em um banco e, calmamente, esperou pela chegada da polícia.

Quando os agentes chegaram, não resisitiu à prisão, pois seu objetivo era ser preso. Verone está desempregado e necessita pagar um tratamento para curar-se de uma enfermidade no peito e na coluna vertebral, que não consegue pagar. Ele poderia sair livre se pagasse uma fiança de 2.000 dólares, mas como cometeu deliberadamente uma pena leve e sem violência, permanecerá preso até o julgamento, recebendo tratamento de saúde e outras regalias que o estado garante a esse tipo de preso, inclusive depois de ser solto novamente.

Enquanto eles se consideram uma país avançado e muitos dos nossos pensam exatamente desse jeito também, julgando o Brasil um país atrasado e despreparado, nós temos o SUS e garantia na constituição de que todo brasileiro tem direito a atendimento público e gratuito de saúde. Nos EUA isto é apenas um sonho. Obama tentou mudar isso e tem tudo para perder a reeleição, por tentar mudar a lei da saúde por lá.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A IECLB e a homolegalidade


A carta pastoral da IECLB sobre Sexualidade humana – Homoafetividade (leia a carta na íntegra aqui, divulgada pela Presidência da Igreja no último dia 24 de junho, em Porto Alegre, está levando o número de acessos do jornal O Caminho às alturas. Também já apareceram, como era de se esperar, algumas reações bem negativas quanto à posição ali oficializada. As que entraram até agora perguntam se a direção da nossa Igreja rasgou a carta aos Romanos e afirmam que estão envergonhados de serem luteranos.

Na verdade, a carta não é tão contundente assim, para merecer reações tão iradas. Antes de defender o que alguns chamam erroneamente de “casamento gay”, a carta assinada pelo pastor presidente Nestor Friedrich é um convite para “um diálogo franco, desarmado e fraternal”. Um convite não compreendido, uma vez que os opositores da decisão do STF estão ouriçados como cão assustado diante de cobra. Não conseguem ouvir qualquer argumento que não seja o deles.

A carta pastoral da IECLB não faz outra coisa além do que os luteranos sempre fizeram muito bem: submeter-se à lei. Ou seja, reconhece a decisão do tribunal como válida, uma vez que dá garantia legal a uma união que acontece entre pessoas do mesmo sexo que decidem morar juntas, debaixo do mesmo teto.

Tal união tem implicações legais óbvias e nem sempre fáceis de comprovar, como ter uma casa, uma conta conjunta, um carro, previdência social, seguro de vida, móveis, negócios, enfim. Até aqui, esse tipo de união não tinha nenhum amparo legal.

Já aconteceu muitas vezes que, quando morre um dos parceiros de uma união dessas, os parentes dilapidam aquele que sobreviveu, retirando dele até as cuecas do armário. Atacam o espólio como se não fosse de ninguém e, principalmente, como se o sobrevivente não tivesse ajudado durante anos a construir aquele patrimônio comum.

Agora, com a proteção do STF, tal ataque injusto não é mais possível. O espólio entra na lei do inventário, que rege qualquer outra união estável.

E este é o aspecto central da nova lei aprovada pelo STF. O resto, meus revoltosos amigos fundamentalistas, é pura projeção. Nós vivemos, graças a Deus, num Estado Laico. Não me venham com essa conversa de que agora haverá pastores fazendo “casamento gay”, porque isso é forçar a barra. Não há nenhuma decisão da IECLB – nem do STF! – nesse sentido. Os líderes em Porto Alegre sabem muito bem que isso iria literalmente rachar a igreja. Então, parem com essa conversa, que ninguém é bobo. A IECLB está dando sua anuência a uma lei que regula um tipo de união entre pessoas que já vem acontecendo há séculos no mundo inteiro. Nada mais do que isso. E ponto final! Os "casamentos" sendo celebrados são uma forma de protesto, uma maneira de provocar a sociedade, ferindo-a em seu preconceito.

De resto, a IECLB defende o diálogo. Como uma igreja que surgiu de muita conversa entre gente que se odiava, ela nem podia diferente. Por favor, informem-se um pouco sobre a nossa história e como a IECLB foi constituída! Nós somos da conversa! Alguns parecem querer enterrar este nosso passado e partir para a porrada! E vamos conversar, sim, também nesta questão polêmica. O que é que há? À revelia de um dos que se manifestou contra os “tapinhas nas costas”, este é exatamente o jeito de lidar a partir do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo: dando tapinhas nas costas.

Por fim, um alerta aos fundamentalistas: quanto mais vocês insistirem nessa conversa de que querem o direito de livre manifestação contra o homossexualismo, mais estão contribuindo para que a Lei Antihomofobia seja aprovada. Porque essa atitude de vocês é homofóbica, não há como negar. O pior é ser homofóbico introduzindo a argumentação com a frase: “não somos preconceituosos, mas...”

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Motocicletas e motoclubes


O Salão Duas Rodas está aí. Será de 4 a 9 de outubro em São Paulo. Detalhes sobre o encontro podem ser vistos no site do evento: http://www.salaoduasrodas.com.br/. Já dá para comprar ingresso no site. Enquanto aguardamos, ansiosos desde já pelas novidades que ali serão apresentadas, vamos de carona no site, que publica o texto abaixo, contando como surgiram os motoclubes em todo o mundo. Uma boa leitura para quem espera outubro chegar. Enquanto ele não chega, estamos abrindo, aí ao lado, um espaço para publicar fotos de motos muito diferentes, demonstrando que a criatividade humana realmente não tem limites.

“O surgimento dos motoclubes coincide com o fim da Segunda Guerra Mundial. E se engana quem pensa que seus fundadores pilotavam tanques e mergulhavam na lama com fuzis em punho. Surpreendentemente, eram os pilotos de caça que, nas horas vagas, escolhiam as duas rodas para relaxar. A hierarquia dos batalhões e o hábito de andarem com seus companheiros e exibirem o brasão do grupo foram levados aos ‘motorcycles’.

A despeito do comprometimento com que os membros de um moto clube encaram a entidade e da seriedade do código que devem respeitar, a fama criada por alguns personagens do cinema, o poder das máquinas que pilotam e suas roupas imponentes com frequência os associam à agressividade. Porém, aqui, vários grupos mostram pertencer a um MC não se resume a fazer festas e excursões.

O maior moto clube nacional, o Abutre’s MC, percorre o país realizando ações solidárias – de Dia das Crianças à Campanha do Agasalho – e mantém parceria com mais de 10 organizações filantrópicas. Até mesmo certificado de Responsabilidade Social o MC já recebeu. Já o Motoclube de Petrópolis, fundado em 1947, criou o Dia do Motociclista Solidário junto com o Hemo-RIO e a AMO-RJ. Unidos com o Fúria Sobre Rodas MC e outros moto clubes, levaram uma caravana de 120 motociclistas para doarem medula óssea e conseguiram, além de 500 amostras de sangue, um volume de cadastro de doadores superior a 4 mil.

Exemplos de irmandades altruístas espalhadas pelo Brasil não faltam. Em boa parte dos sites oficiais há uma área mostrando fotos dessas campanhas tão benéficas. A solidariedade típica do povo brasileiro não faltariam os que usam as duas rodas com uma única finalidade: aproveitar a vida. Se no início moto clubes e guerra tinham alguma ligação, hoje estão em lados distintos. Prova de que as motocicletas não apenas trazem aventuras, mas também levam alegria a quem precisa.”


Salão Duas Rodas 2011, de 4 a 9 de outubro, no Anhembi, em São Paulo. Estaremos lá!

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...