quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Alcantaro, segurança e confiança

A morte de Alcantaro Correa mexeu comigo. Conheci o homem pessoalmente, quando ele era o diretor presidente da Electro Aço Altona. Eu, com um orgulho enorme, tinha esta empresa na minha carteira de clientes, nos primeiros anos da Mythos Comunicação e, mensalmente, sentava com o RH da empresa para montar o informativo que ia para os mil e poucos funcionários da maior fundição do Vale do Itajaí.
Falei pessoalmente com ele na grande festa dos 80 anos da Altona. Era um homem simples, correto, e extremamente competente. Alcantaro Correa tirou a Altona de uma difícil situação nos anos 80 e a projetou internacionalmente nos anos 90. Lembro de algumas fotos publicadas no informativo da empresa, de enormes turbinas que saíam de lá de madrugada, sobre carretas com dezenas de rodados.
Foi naquele tempo que eu tive contatos em 3D com as regras da gestão empresarial séria, internacionalmente regulada pelas rígidas normas ISO. Aquela enorme fundição, que no passado já era um verdadeiro caos misturado a areia e minério de ferro - odiada na vizinhança pela espessa fumaça que grudava em tudo dentro e fora das casas -, havia se tornado num brinco durante a gestão de Correa. Pleiteava a ISO 14.000, de Gestão Ambiental. As outras, era só manter as rédeas para ir galgando os degraus da qualidade.
Alcantaro Correa também era assim em sua vida pessoal. Homem comedido, regrado, reservado até. Ele tinha, entretanto, uma paixão. Ainda que tivesse um sobrenome luso-brasileiro, aparentava ser um rigoroso adepto do slogan "Ordnung muss sein!". Tipicamente alemão, portanto.
Uma joia em sua vida privada expressava isso desde os tempos da Altona: ele não abria mão de dirigir pessoalmente a sua BMW 750i. Se não era a única de Blumenau, é porque ele não ficava com a sua por muito tempo. E alguém invariavelmente botava a mão na 750i de segunda mão do Alcantaro. Assim que saía uma nova versão, ele era o orgulhoso proprietário deste luxo sobre rodas.
A BMW 750i é a limusine top de linha produzida pela Bayerische Motoren Werke de Munique. Nada é maior, nada é mais confortável nem mais luxuoso. Sobretudo, nada é mais seguro e confiável. A profusão de Airbags é tamanha que aquilo mais parece um festival de balões.
Quando esta nave foi lançada pela BMW, alguns jovens alemães ricos e loucos da pedra gostavam de provocar acidentes em alta velocidade nas Autobahn alemãs a bordo da 750i, apenas para ter a alucinante sensação da proteção dessa cama de balões sobre rodas. E quase todos eles escaparam vivos.
Na madrugada de 10 de dezembro, zero hora e quarenta minutos, esta balonave über-segura não poupou a vida de seu solitário amante da segurança. Alcantaro Correa não imaginava, jamais, que um cavalo iria brecar os mais de 400 sob o capô do seu "porto seguro" sobre rodas. Um cavalo... Na BR-101, entre as nossas vias de carroça, a rodovia mais segura de Santa Catarina...
Eu não acredito em destino e me nego a imaginar, sempre que minha mente insiste, que uma combinação de sortes e azares regida por astros ou deuses domine o nosso Já-e-Ainda-Não.
Mas de uma coisa eu tenho certeza. Nossas apostas de segurança e certeza são vergonhosamente arrasadas em muitas ocasiões. Às vezes, por um cavalo que atravessa nosso caminho...

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O medo primordial


Estou impressionado! Alguns dias de Guarda Municipal de Blumenau apontando o radar móvel para as belas curvas da Rua das Missões/Dois de Setembro, e uma deliciosa ordem se instalou. A velocidade máxima no trecho entre a rodoviária e a ponte de ferro reduziu, milagrosamente, de 100 Km/h para 70 Km/h. E a velocidade média, pasmem vocês, está dentro do limite da via, que é de 60 Km/h! Não é fantástico isso?
Só um rígido controlador externo para por ordem na nossa incontrolável propensão à desobediência. A lei, os guardas e, mais, o medo das consequências - a multa que vem pelo Correio e os pontos na Habilitação - inibem a infantil peraltice desobediente dentro das pessoas.
Tem a ver com um medo primordial. O medo do castigo eterno pelo pecado; de um Deus de barba branca e olhos de cyborg (lembra, do tutututututu e a visão ampliada de Steve Austin, o Homem de Seis Milhões de Dólares?)... Na infância, a gente tinha certeza de alguém aí em cima, nos vigiando o tempo todo, não é? E é este medo que ainda nos domina nessas horas.
Que bom que ele existe! Não o cyborg (aquele radar até que parece ter um olho de tutututu!), mas Aquele que tudo vê. Um pouco de controle sobre as nossas molecagens é um sentimento que cria uma sociedade boa, de respeito mútuo. Viva o nosso medo primordial!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A tragédia do amianto. Santa Catarina participa.


A insistência da indústria brasileira com o amianto é uma tragédia e uma vergonha mundial. O jornal The Guardian divulgou um vídeo mostrando que mais de 15 mil brasileiros morrem todos os anos por conta de doenças provocadas pelo amianto. Isso é três vezes o número de pessoas que morreram de ebola na África e representa dez por cento do total mundial de vítimas.
Mesmo assim, a indústria brasileira do amianto, seguindo na contramão do mundo inteiro, trava uma luta feroz na justiça contra as multas que deve pagar às famílias das vítimas e contra a decisão de assinar o tratado de banimento mundial do amianto. A principal indústria do setor no Brasil é a Eternit. Em vista da pressão dessa indústria, o Brasil reluta em assinar os tratados internacionais acordados na Convenção de Roterdã, tendo o Ministério das Minas e Energia como leão de chácara.
O produto já foi banido pela indústria em 66 países, entre eles a Argentina, o Chile e o Uruguai. Até em diversos estados brasileiros a proibição de seu uso já vigora, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso. Mas a decisão de manter a lei em vigor está suspensa e tramita no Supremo. Fala se em “inconstitucionalidade” da lei.
O nosso estado faz parte dessa mancha vergonhosa, e não quer abrir mão. Em Santa Catarina a luta pelo fim do uso do amianto na produção de telhas é feroz e não anda na Assembleia Legislativa. Um dos principais produtores nacionais, Santa Catarina usa o material altamente nocivo na região sul do estado, com destaque para Criciúma. A Imbralit, por exemplo, foi condenada em junho a pagar indenização milionária por conta dos problemas causados a seus colaboradores.
Em diversos países, pelos danos que causa à saúde, o seu uso é considerado crime. Na Itália, dois empresários de uma empresa que produz artefatos de amianto foram condenados a 16 anos de prisão pelos danos à saúde de seus trabalhadores. O produto ataca o sistema respiratório, em especial a membrana que recobre os pulmões (pleura), causando câncer.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Bolivarianismo?


Pronto, inventaram mais um palavrão para xingar nas redes sociais. Depois de comunista, terrorista, petralha ou coxinha, agora as pessoas vêm com essa de bolivariano. Ninguém sabe muito bem o que quer dizer, mas tá bombando! Serve pra xingar desafetos políticos, então vamos usar. Afinal, é preciso impedir que o Brasil vire um país "bolivariano". Como diz o Emir Sader, o povo agora anda com medo de ter um bolivariano debaixo da sua cama... Que coisa!
Bem, antes de imaginar que está numa heroica luta para livrar o Brasil daquela "pereba" do chavismo venezuelano, consulte a Wikipedia. Quem foi Simón Bolívar (1783-1830), afinal? Este é um bom começo.
O nome de Bolívar tem um importante significado para um amplo espectro político que vai da esquerda à direita, em toda a América Latina, mesmo após 200 anos de sua morte. O que há de realmente original nisso é de se perguntar. O "bolivarianismo" é algo muito vago e impreciso. Já o próprio personagem histórico era complexo. Culto, ele deixou muitos escritos, principalmente discursos e artigos.
Como militar, liderou guerras de independência e combateu o colonialismo espanhol. Ele foi importante não só para a Venezuela, mas também para Colômbia, Bolívia, Equador e Peru.
Ele não era nenhum pé rapado, não. Era membro da elite e um intelectual que não tinha nada a ver com as classes populares do seu tempo. Sua marca está na defesa da república, no combate ao colonialismo e também era contra a escravidão e defendia um sistema público de educação. Esteve várias vezes na França e foi influenciado pelo iluminismo.
Há dezenas de estátuas equestres dele espalhadas por estes países, porque seus feitos repercutiram concretamente na vida de milhões de pessoas. Entrou para a história como o libertador. e todas as classes sociais e espectros políticos querem tirar uma casquinha dessa história.
Assim, quando você enche a boca para xingar alguém de "bolivariano", ele pode não saber bem o que isso significa (e você também não, hehe). Então, é bom informar-se antes. Até porque, Bolívar é muito, mas muito mais importante para a história da América Latina do que os nossos pálidos figuraças nacionais, como Duque de Caxias, Anita Garibaldi e muitos outros.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Eu tenho diploma de datilógrafo


Fiquei com saudades do meu diploma de datilógrafo. Cada vez menos gente sabe o real significado de ter um desses na pasta de documentos. Era quase como uma passagem para uma vida melhor. Muitos o emolduravam e penduravam na parede. Orgulho-me de ser treinado para usar os dez dedos no teclado de uma pesada máquina de escrever.

Esse súbito ataque de nostalgia me sobreveio ao saber que Tom Hanks coleciona máquinas de escrever. Tem mais de 200 em seu acervo pessoal. Não satisfeito, ele acaba de criar um programa de computador que resgata a maioria das sensações da produção de um texto numa máquina de escrever. Trata-se do HANX WRITER. Uma vez instalado, permite ouvir o som das tecladas durante a produção do texto, enquanto um papel virtual vai brotando na tela enquanto o texto cresce.

Segundo o arquivista Aldemir Chiaramelli, do Estadão, o aplicativo é especial. “O barulho dos teclados, as letras, os tipos são perfeitos, igualzinho a uma máquina de escrever de verdade”.

Já fui bom nisso e me orgulho. Mas conheci um cara na minha adolescência, que era escrivão da Câmara de Vereadores de Rio do Sul no início dos anos 1970, que registrava os discursos e os debates. Nada escapava aos seus ágeis dedos. Tudo ia para as atas e os registros. Ele foi um dos meus primeiros ídolos.

Mas nada define melhor o sentimento de um datilógrafo do que as apropriadas palavras de Tom Hanks: “Tudo o que se datilografa numa máquina de escrever soa grandioso, as palavras se formam em miniexplosões: THAC, THAC, THAC. Um bilhete de agradecimento ressoa com o mesmo fragor que uma obra-prima da literatura”.

Veja o comparativo entre a máquina e o programa Hanx Writer aqui.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Imagine-se sem pátria alguma



Enquanto alguns que se dizem “brasileiros” querem dividir a nossa pátria, dez milhões de seres humanos no mundo vivem sem pátria alguma. Apátrida é a designação para essa gente. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a situação dessa gente é dramática. O órgão da ONU lançou hoje (4 de novembro) uma campanha pedindo aos governos dos países para que tomem uma série de medidas que acabe com o problema no mundo em dez anos. Essas pessoas vivem sem nacionalidade por diferentes motivos. E isso não quer dizer apenas que não têm passaporte, nem uma pátria para chamar de sua. Os apátridas são pessoas privadas de seus direitos básicos, como acesso a educação, a saúde, a emprego, a segurança e ao simples direito de ir e vir. Quando morrem, sequer têm direito a um atestado de óbito ou a um enterro digno. Segundo a ONU, mais de um terço dos apátridas do mundo são crianças. Imagine-se vivendo assim, sem um lugar para chamar de seu... Pensar nessa gente, é refletir sobre essas palavras de Jesus: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8.20).

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Reduzir a maioridade penal irá prejudicar nossos filhos

Reproduzo aqui uma pequena história para ilustrar porque sou contra a redução da maioridade penal para 16 anos. Essa história verídica aconteceu na Inglaterra, um país onde uma criança é tratada como adulta e responsável diante da lei a partir dos 10 anos. Leia a história e se pergunte: é isso que você quer para os nossos jovens, para os seus filhos e para as suas filhas?
Em 1966 o então menino Bob Ashford (13 anos) foi persuadido por um grupo de garotos mais velhos da escola a invadir a linha do trem para brincar com uma pistola de ar comprimido. Ele não queria ir, mas temia sofrer represálias. Alguém viu o grupo “armado” e chamou a polícia. “Os garotos mais velhos fugiram, eu e outros dois ficamos paralisados de medo e fomos apanhados”, recorda Ashford. O resultado: ele foi levado a julgamento e condenado por invasão da linha ferroviária e porte de arma. O preço da travessura infantil, porém, foi muito além da multa que pagou à época: 46 anos depois, ao candidatar-se ao cargo de comissário de polícia, descobriu que deveria retirar a candidatura por possuir antecedentes criminais. A “ficha” dele estava suja pela infração que havia cometido aos 13 anos.
Casos como o de Ashford são uma das faces da lei inglesa que permite responsabilizar como adultos meninos e meninas desde os dez anos, substituindo o enfoque socioeducativo pelo caráter punitivo. Na Inglaterra e no País de Gales, a partir dessa idade, crianças podem ser julgadas, presas e ter o “crime” registrado em seus antecedentes criminais para o resto de suas vidas.
A cena da foto mostra outro caso. Trata-se de um adolescente que é preso por usar máscara durante um protesto na Inglaterra. Por conta disso, ele vai ter "antecedentes criminais" pelo resto da sua vida e isso terá consequências dramáticas em diversas iniciativas que o futuro adulto tomará.
“Uma criança com menos de 13 anos, de acordo com a lei inglesa, não é considerada capaz de consentir uma relação sexual. Todavia, se o assunto é crime, ela pode ser responsabilizada como um adulto a partir dos dez anos”, critica Pam Hibbert, da Associação Nacional para a Justiça Juvenil, uma das principais organizações que pede o aumento da idade de responsabilidade criminal na Inglaterra. “Para certos temas, aceitamos que a capacidade das crianças para fazer escolhas informadas é limitada por sua idade, mas, para outros, não”.
Repito a minha pergunta inicial: é isso que você quer para os nossos jovens, para os seus filhos e para as suas filhas? Reflita antes de apressar-se com a resposta. Para aprofundar ainda mais a sua reflexão eu pergunto: É justo abrir mão dos direitos que os nossos filhos e filhas adolescentes conquistaram só porque uma meia dúzia de jovens resolveu assaltar, matar, vandalizar e barbarizar? Sinceramente, eu penso que essa é uma decisão que terá péssimas consequências para as futuras gerações.
Jesus pegou as criancinhas no colo para dizer: "Se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu" (Mateus 18.2).

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A internet é o pelourinho global

A era da comunicação digital é fascinante. Frequentemente é possível saber dos acontecimentos quase na mesma hora em que acontecem. Em qualquer parte do planeta, há “olheiros” de plantão, sempre prontos a divulgar as novidades. A internet – mormente as redes sociais – contribui enormemente para tal agilidade.

A agilidade é tanta que os meios tradicionais de comunicação, os noticiosos televisivos e impressos, perdem de goleada para a internet. Quase diariamente, ao ver o jornal na TV ou ler as páginas do diário impresso, a sensação é de déjà vu. Ou seja, vivemos num tempo em que os noticiários da noite e os jornais do dia seguinte parecem comida requentada.

Essa versatilidade da internet está longe de ser um problema. Muito pelo contrário, a rapidez da informação beneficia todos, inclusive os meios tradicionais.

Entretanto, o maior problema da pulverizada informação a jato dos meios digitais é de caráter ético. O jornalismo tradicional era “controlado” por uma série de regras escritas ou cristalizadas pelo tempo que ainda hoje enquadram abusos. Identificar menores de idade, expor crianças ou mostrar imagens chocantes, por exemplo, são episódios raros e regularmente punidos por um código de ética interno ou leis reguladoras.

Um bom exemplo são reportagens sobre catástrofes ou guerras. Muitas imagens são intencionalmente borradas nos meios noticiosos abertos. Num acidente ou na guerra, por exemplo, o código de ética não recomenda a publicação de imagens com corpos dilacerados ou a exposição explícita da morte. De certo modo, há um censo comum que exige um paciente tr4abalho de maquiagem daquilo que é mostrado.

Já na internet frequentemente tudo é mostrado. De certa maneira, nas redes sociais resgata-se um antigo instrumento de pressão social pela via do terror.

O crime e o castigo eram publicamente exibidos no passado da humanidade. A crucificação de Jesus no Calvário não era uma exceção. Havia dezenas de cruzes todos os dias no império romano; sempre à beira do caminho ou na periferia das cidades. Era comum expor a pena de morte, com requintes de crueldade.

Na idade média, a praça principal era o palco da exposição pública da justiça. Pelourinhos expunham os criminosos à execração pública, com a cabeça e os pés atados a pesados troncos, presos a correntes. A vila inteira juntava-se ao redor de patíbulos de enforcamento, fogueiras para queimar bruxas ou pelourinhos em que os criminosos eram vaiados, agredidos e cuspidos pelos passantes. E a igreja cristã participou desses atos com uma naturalidade vergonhosa, mesmo tendo em um crucificado o seu principal Senhor e na cruz um de seus mais significativos símbolos.

Aqui mesmo, no Brasil, a sociedade era acostumada ao pelourinho e ao castigo público. O enforcamento e posterior esquartejamento de Tiradentes é um dos exemplos mais conhecidos dos livros de história do Brasil. Os escravos eram expostos publicamente em pelourinhos quando castigados com a chibata.

A internet transformou-se no pelourinho global do século 21. Especialmente depois da exibição das execuções de James Foley, Steven Sotloff e David Haines pelos terroristas do Estado Islâmico (EI), tal pelourinho global tomou proporções jamais presenciadas em tempo algum na história humana. Suas decapitações viraram virais nas redes sociais.

Terroristas de todas as estirpes expuseram suas vítimas à execração pública em todos os séculos da história da humanidade. E seu objetivo sempre foi o mesmo. Os sádicos carrascos do Estado Islâmico estão na mesma lista dos criminosos que incendeiam ônibus às pencas aqui em Santa Catarina. Promovem terror, medo e insegurança. A exposição de seus atos de terror potencializa a incapacidade de reação e a fraqueza.

O problema da exposição dessa natureza no século 21 é que ela deixou de ser exceção para tornar-se regra. Ela é diária, epidêmica e monstruosamente gigantesca. Já não é possível dar mais de três cliques sem topar com alguma imagem chocante. E ela pode atingir qualquer pessoa. Teoricamente, cada cidadão ou cidadã deste planeta está sujeito a virar, de uma hora para a outra, uma exposição macabra no pelourinho digital.

O risco de ser vítima desse pelourinho é real. Mas o fato de sermos todos impotentes expectadores da volúpia pela tragédia alheia é um drama ético de proporções épicas. É assustador. Devíamos nos preservar.

Enquanto sentir eu um arrepio na espinha com imagens do gênero, minha saúde mental está preservada. Der Mensch ist ein Gewohnheitstier. Este é o risco real: acostumar-se; tolerar cada vez mais, como no passado, quando patíbulos, cruzes e pelourinhos viraram espaços públicos apreciados junto ao poço da vila. Com o viés viral da internet, este risco nos transformará lentamente em insensíveis sádicos, apreciadores do sofrimento alheio.

O problema é que a tecnologia nos permite ver coisas que, de outro modo, nos faria desviar o olhar, ficar vermelho de vergonha ou, simplesmente, indignado. Através dos óculos digitais, espiamos para a intimidade das pessoas com lupa aumentada, imaginando que tudo é permitido, mesmo à custa da reputação alheia.

Para contrapor tal voyeurismo digital precisamos de uma dose de sensatez e de ética humana. O prazer do escândalo, a fascinação pelo terror ou a infantil curiosidade mórbida não combina com censo humanitário. Por isso, cada espiada e cada clique deveriam ser precedidos da pergunta: Realmente desejo ou preciso ver isto? Vou compartilhar isto e com que objetivos?

Talvez se esteja pedindo muito, mas é um pedido inadiável. Liberdade de expressão pressupõe responsabilidade, pois liberdade sem responsabilidade é terror. O que nos iguala, de certo modo, aos terroristas do EI. Penso nisso cada vez que pululam em meu rosto as tristes imagens de homens ajoelhados vestidos de laranja ao lado de homens encapuzados vestidos de negro e armados. Não tenho obrigação de olhar essas imagens. Nem de compartilhá-las.

O homossexualismo, a lei e o evangelho

Você é contra os homossexuais porque a Bíblia condena, certo? Quantos versículos tem a Bíblia, você sabe? Pois saiba que são 31.278 versículos, registrados em 1.189 capítulos de 66 livros. É verdade que, ali no meio, tem menos de dez versículos que condenam a prática do homossexualismo. Não é, por certo, nenhuma novidade para você, que é um bom estudioso da Bíblia, mas eles são Gênesis 19.4-5,24-25; Levítico 18.22; Levítico 20.13; Romanos 1.26-28 e 1 Coríntios 6.9-11.

Mas, se for para ler a Bíblia assim, sobram ainda 31.250 versículos que certamente têm o mesmo peso que se dá a esses daí, não é mesmo? Eu, ao menos, acho. E olha que tem umas coisas lá que iriam nos colocar numa verdadeira sinuca de bico. A ilustração em anexo fala de apenas três situações bem escabrosas, que estão lá em Levíticos (pra ficar só num desses 66 livros). Mas, depois de Cristo, os óculos da leitura bíblica receberam as poderosas lentes do AMOR. Eu não consigo ler a Bíblia sem esses óculos de Cristo. Experimente! Você vai ver que a leitura será tão mais libertadora...

Vamos conhecer apenas algumas leis do mesmo livro de Levíticos que estão no mesmo patamar desse que fala sobre o homossexualismo:

"Uma pessoa que sofrer de uma doença contagiosa de pele deverá vestir roupas rasgadas, deixar os cabelos sem pentear, cobrir o rosto da boca para baixo e gritar: 'Impuro, impuro!' Enquanto sofrer de uma doença contagiosa, a pessoa continuará impura e precisará morar sozinha, fora do acampamento." PALAVRA DE DEUS, escrita em Levítico 13.45-46. Então, cumpra-se! Se é por este caminho, deve ser cumprido.

"Quando Deus fizer aparecer mofo na casa de alguém, o dono irá falar com o sacerdote e dirá que descobriu mofo na sua casa. Antes de ir examiná-la, o sacerdote mandará que tirem tudo da casa; se não, tudo o que estiver lá dentro será considerado impuro. Se houver manchas esverdeadas ou avermelhadas nas paredes... então o sacerdote sairá da casa e a deixará fechada sete dias... voltará e examinará a casa de novo. Se descobrir que as manchas se espalharam pelas pareces, mandará que tirem as pedras em que está o mofo e as joguem fora da cidade, num lugar impuro" (Levítico 14.34b-40). PALAVRA DE DEUS! Se cumprirmos isso aqui em Blumenau, não sobrará pedra sobre pedra e o Vale do Itajaí é um lugar amaldiçoado!

Vamos à palavra não cumprida: "Não ponha na frente de um cego alguma coisa que o faça tropeçar" (Lv 19.14b). PALAVRA DE DEUS, amplamente desrespeitada em nossas cidades, cheias de postes bem no meio da faixa-guia para cegos ou repleta de cestos de ferro sobre canos altos, para colocar o lixo nas calçadas longe dos cachorros. Vamos todos para o inferno por isso.

Mais algumas que mandariam muitos para o limbo? "Não vistam roupas feitas de tipos diferentes de tecidos" (Lv 19.19b); "Não prejudiquem os outros, usando medidas falsas de comprimento, peso ou capacidade. Usem balanças certas, pesos certos e medidas certas" (Lv 19.35); "Se um homem cometer adultério com a mulher do outro, ele e a mulher devem ser mortos!" (Lv 20.10).

Umas leis para mim: "Os sacerdotes não podem raspar a cabeça e aparar a barba" (Lv 21.5). Santo Deus, eu faço a barba todos os dias! Estou perdido para sempre! Faço isso desde os 16 anos e já devo ter cortado, nesses 44 anos, uns 15 metros da minha barba (contando só um milímetro de crescimento diário).

Nem vou mencionar as horríveis regras sobre sacerdotes que tenham qualquer defeito físico, como ser manco, cego, corcunda ou anão... Veja você mesmo, em Lv 21.18ss. É uma afronta ao programa de inclusão que a minha igreja, a IECLB, está implantando com um esforço enorme, abrindo espaço para as Pessoas com Deficiência.


Bom, basta. Acho que deu para entender porque falo dos belos Rayban que Cristo colocou sobre os nossos olhos legalistas e moralistas. A LEI MATA. O EVANGELHO LIBERTA! AMÉM!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

São Paulo falou, tá falado

Paulo Roberto Costa, o boca santa da vez.

O que dizer diante da recente polêmica em torno da Petrobrás? Ora, VEJA bem, eu diria...

Este país é engraçado. Tem uma montanha de gente que fala mal dos corruptos, quer vê-los atrás das grades a todo custo. E eu também penso que este é o melhor lugar para eles. Mas quando estão lá, não mais que repentinamente, eles viram arautos da verdade!

Não foi assim no caso do publicitário Marcos Valério? De repente, a boca dele virou santa! Tudo que ele dizia, em sua metralhadora giratória para salvar a própria pele, virava versículo bíblico.

Agora, o arauto da verdade chama-se Paulo Roberto Costa. Não é, Marina? Contra São Campos nada deve ser dito, porque é somente uma declaração sem provas. Mas que o resto da turma tem que ser investigado com rigor, ah, isso tem! Porque isso é mais que evidente que o que Costa afirma, pelas costas, só pode ter alguma verdade nisso...

Afinal, o fato de Paulo Roberto Costa ter sido exonerado como diretor da Petrobrás não tem nenhum valor aqui. No Brasil, principalmente naquela parte do Brasil que lê, incorpora e põe a mão no fogo por VEJA, ele é mais um santo.

Ex-diretor de abastecimento e refino da Petrobras entre 2004 e 2012, Costa é suspeito de intermediar negócios entre a estatal e fornecedores, e distribuir propina a políticos. Ele foi preso no dia 20 de março deste ano por tentar ocultar provas de esquema de lavagem de dinheiro e solto cerca de um mês depois. Em junho, voltou à prisão e aceitou acordo de delação premiada. Ou seja, faça aí uma listinha de nomes que a gente livra a tua cara!

Não me entendam mal, eu não tenho nenhuma boa palavra a dizer sobre qualquer um daquela listinha feita pelo Costa pelas costas para livrar as suas costas. Aquela turminha ali é da braba. Por isso, diante da chuva de coisas que cada um tem a resolver com a justiça, constar em mais uma lista não muda nada, não é? Mas para a VEJA, veja bem... muda tudo! Pode até mudar o Brasil, como seria bom isso, não é? Ainda mais se for para levar vantagem. Então tá...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Assustado com o ISIS

Você sabe como surgiu o grupo terrorista mais poderoso do mundo? Pois o ISIS (Islamic State in Iraq and Syria, sigla Inglês), um estado islâmico apócrifo na fronteira entre o Iraque e a Síria, é resultado direto do combate ao terrorismo. E aí já está dito quase tudo que é preciso dizer, resumido em três letras: EUA. 

Os americanos, não mais satisfeitos com seu antigo aliado Saddam Hussein, resolveram fazer uma guerra para derrubá-lo e abrir caminho paraos interesses americanos no Iraque. Aliás, a imagem de Saddam Hussein enfiado num buraco feito um rato e sendo caçado como um cachorro louco não me sai da cabeça, com aquele aspecto de mendigo que mora no esgoto.

Mentiras, imperialismo e a falta absoluta de alguém neste planeta que tenha peito para enfrentar os americanos, resultaram no fim do regime de Hussein. Morreu muita gente por conta disso. Ele foi derrubado por mentiras sobre armas de destruição em massa, das quais nem sequer foram encontrados os eventuais projetos.

O que nunca se disse claramente é que Saddam Hussein, que não era nenhum santo, mas era o fiel da balança naquele emaranhado fundamentalista que é o Iraque. Depois que ele foi enforcado pelos americanos, o exército americano permaneceu no Iraque por muito tempo. Se o “mal” estava eliminado, qual seria o motivo? Bem, o motivo era medo de que aquele caldo, sem Saddam, virasse exatamente o que está acontecendo agora, com o ISIS transformando a Al Qaeda num clubinho de maricas.

Resumindo, a doença psicológica dos americanos – que temem o terrorismo mais do que as baratas – e a loucura bêbeda de Busch (aliadas ao silêncio conivente de Obama sobre a Síria) prepararam o caldo em que se desenvolveu o ISIS. Agora é inevitável: eles vão limpar a área de TUDO que não lhes diz respeito. E isso inclui a minoria cristã do Iraque. Execuções, fuzilamentos, amputações e apedrejamentos são rotina DIÁRIA no Iraque.

A imagem que eu vi ontem na TV, de um ainda menino mudando sua voz para a de homem (um pouco mais velho que o meu neto), declarando o seu ódio mortal contra o ocidente com uma ferocidade visceral, me faz afirmar que ainda não vimos nada do que é realmente terrorismo. E o ISIS não vai perguntar a ninguém se pode fazer o que está fazendo, e vai criar o seu estado fundamentalista e está mandando o mundo às favas.

Depois, ah, depois... Que Deus nos proteja! Porque a turma da Al Qaeda era gente boa...

Mosquito ensebado no Morro dos Cavalos

Nem um mosquito ensebado conseguiria se infiltrar nas matérias sobre os índios guarani publicadas nesta semana noDiário Catarinense (DC). A expressão é usada, pelo menos no Amazonas, para designar algo fechado, impenetrável, difícil de entrar, seja a bola no gol, uma ideia na cabeça ou um "mosquito ensebado" numa fortaleza inexpugnável. É o caso do jornal do grupo RBS de Comunicação, que está absolutamente fechado a qualquer informação fornecida pelos índios. Durante cinco dias, publicou 20 páginas sobre os guarani e cometeu a façanha de não ouvir nenhum dos envolvidos. Sequer uma linha, uma palavra, uma vírgula guarani.

Editado em Florianópolis há mais de 28 anos, o Diário já tem idade para criar vergonha na página. Não criou. As matérias assinadas por Joice Barcelo e Ivan Rodrigues, sob o título "Terra Contestada", publicadas entre os dias 07 a 11 de agosto, ocuparam caderno com 20 páginas para desqualificar os índios guarani, atacar a demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos, localizada no município de Palhoça (SC), e agredir os antropólogos que não rezam pela cartilha do agronegócio.

Quem achava que não existia discurso mais nojento sobre os índios do que o da revista Veja se equivocou. O Diário Catarinense caprichou. Requentou as fantasias da Veja e desinformou seu leitor, jurando que os guarani que vivem no Brasil são estrangeiros, vieram do Paraguai, são falsos índios, manipulados por organizações não governamentais e por antropólogos inescrupulosos, que criaram uma "fábrica de aldeias".

Diário Catarinense jogou na lata do lixo documentos históricos, mapas, livros e a memória oral para afirmar que os guarani não habitam tradicionalmente a TI Morro dos Cavalos e agora estão atrapalhando a duplicação da BR-101. O jornal faz tais afirmações estapafúrdias, buscando apoiar-se em autoridades como o Tribunal de Contas da União (TCU), que questionou a ocupação tradicional da área, além de um antropólogo de araque que desconhece os guarani, ambos possuidores da mesma legitimidade e dos mesmos conhecimentos técnicos de um ciclista para pilotar um avião.

O OUTRO LADOA parcialidade do jornal fica patente quando despreza estudos, laudos e pareceres técnicos realizados por quem tem competência e legitimidade para isso, e se esconde detrás de autoridades de duvidoso e interesseiro saber.

Aqueles que defendem os direitos dos índios são atacados pelo jornal. Foi o que aconteceu com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e a antropóloga Maria Inês Ladeira, cujo "crime" foi ter coordenado o grupo técnico responsável pelos estudos de identificação e delimitação da Terra Indígena Morro dos Cavalos. Para desqualificar a antropóloga, reconhecida pesquisadora da cultura guarani, autora de livros e artigos usados em muitas universidades, o Diário usa suposto laudo de um tal Edward Luz, que nunca publicou uma palavra sobre esses índios.   

Uma nota oficial aprovada no XV Encontro Estadual de Historia de Santa Catarina, realizado entre 11 e 14 de agosto, manifestou sua indignação e tocou na ferida quando ressaltou que "a reportagem veiculou a entrevista de um único Guarani, que há algum tempo já não reside mais na Comunidade e cujos argumentos e posição não são sustentados por qualquer outro guarani. Os sujeitos envolvidos e atacados pela reportagem, sequer foram ouvidos, lideranças (caciques, professores, anciões), famílias Guarani que residem na comunidade Itaty do Morro dos Cavalos" - diz a nota.

O Conselho Indigenista Missionário-Regional Sul também tornou pública uma nota em que manifesta "repúdio às matérias publicadas pelo jornal Diário Catarinense, que externa sua visão desqualificada e anti-indígena contra os Guarani, demonstrando uma profunda falta de conhecimento a respeito da realidade indígena". Informa que os Guarani já se manifestaram várias vezes, desde 2001, de que não se opõem à construção dos túneis da BR-101, contradizendo a reportagem.

Com relação às fontes do jornal, o CIMI estranha "como um jornal pode dar destaque para um antropólogo, no caso Edward Luz, que foi expulso da ABA por falta de ética profissional, não conhece os Guarani e é contratado pelo agronegócio para produzir contra laudos. Pelo nível de agressividade e intolerância nos perguntamos: Que interesse tem por trás de uma matéria? Quem pagou por essas matérias? Quem pagou pela arte do site do jornal?".

CARTA PARA DILMA – Uma manifestação foi convocada para quarta-feira, às 10 horas, no centro de Florianópolis, enquanto os guarani encaminharam uma carta para a presidenta Dilma cobrando a homologação da Terra Indígena Morro dos Cavalos.

Eis a íntegra do documento:
Excelentíssima Presidenta da República, Dilma Rousseff
Nós povos indígenas guarani, em nome de nossos irmãos, pais, filhos e toda ancestralidade que veem por nós, solicitamos a Vossa Excelência a imediata homologação de nossa Terra indígena do Morro dos Cavalos, município de Palhoça, em Santa Catarina. Esperamos já há 20 anos enfrentando todas as dificuldades e etapas para chegarmos até aqui onde estamos.

Durante os últimos anos, pela demora do processo demarcatório, algumas pessoas que moram por perto em nome de interesses particulares, tem organizado um forte movimento político para impedir que a gente seja reconhecido, juntamente com algum meio de comunicação, dizendo que nunca existiram indígenas aqui e inventam muitas outra mentiras sobre nossa originalidade. Somos caluniados, difamados, ameaçados e sofremos muitas pressões psicológicas da sociedade Palhocense. Também temos sido alvos de racismo preconceito e discriminação por parte do Estado.

Estamos esperando com muita paciência pelo dia que em poderemos viver  nossas vidas com dignidade. Aprendemos a ler e escrever na língua da Senhora para que chegasse logo este momento.

Portanto, estamos diante da Sra neste tempo, na esperança da homologação imediata de nossa terra, de reparar um grande erro histórico. Homologue nossa terra, nosso futuro, nossa história. Seremos eternamente gratos, por dividirmos este tempo, este lugar com a Sra. presidenta da república: Dilma Roussef.

Atenciosamente

Comunidade indígena guarani da Terra Indígena Morro dos Cavalos.

A questão é que o discurso dos índios, dos antropólogos, dos historiadores e dos indigenistas, cujas pesquisas trazem dados novos sobre a realidade indígena, contradizem a narrativa sobre o Brasil, que já foi cristalizada e naturalizada. Nem um mosquito ensebado consegue nela penetrar como demonstra o Diário Catarinense.

Os guarani com quem convivo são elegantes, discretos, refinados, educados, incapazes de uma grosseria.  No entanto, eles tem alguns amigos, como eu, que não hesitam em usar uma palavra feia para designar uma coisa feia. Por isso, peço a eles que fechem os ouvidos para o que vou aqui escrever: a matéria do Diário Catarinense, por praticar o anti-jornalismo, por ser preconceituosa e desinformativa, foi escrota, muito escrota.  Não tenho outra palavra para classificá-la.


(José Ribamar Bessa Freire, 17/08/2014 - Diário do Amazonas)

quinta-feira, 31 de julho de 2014



A história recente esconde coisas que a gente até duvida que existiam. Hoje, você vê corridas de Superbike, com os pilotos inclinando suas máquinas até encostar o joelho no chão e dando sempre a impressão de que, na próxima curva, realmente irão beijar o solo. E, de fato, não é raro que o beijem.

Pois havia um tempo em que as motos não passavam de bicicletas motorizadas. Mas já havia corridas. Só que as pistas eram ovais... e de tábuas de madeira. Isso mesmo, tábuas de madeira! Essas corridas eram chamadas de “Board Track Racing” ou “Motordrome” e eram muito populares nos EUA no início do século 20.

Segundo o blog “Pelas estradas”, a primeira pista coberta de madeira foi inaugurada em 1909 em Los Angeles e tinha o nome de Coliseu de Los Angeles e se inspirava nas famosas pistas de madeira para corridas de bicicleta, que eram usadas nas Olimpíadas à época.

Nessas pistas aconteciam “espetáculos onde homens pilotavam motos a velocidades de quebrar o pescoço”, diz o blog, que chegavam a 100 MPH (Miles Per Hour). Em 1910 essas pistas aumentaram de tamanho, de um terço de milha para uma milha, e a inclinação passou de 25 graus para 60 graus, tudo para aumentar a velocidade. Havia grandes arquibancadas ao redor das pistas para os espectadores.

É curioso que essas motos não tinham freios porque se julgava mais seguro. A única maneira de parar era acionando uma alavanca que funcionava como freio de motor. Essa falta de freios ocasionou diversos acidentes em que as motos iam para cima do público.

Isso era tão arriscado, tanto para os pilotos quanto para os espectadores, que uma pista em Nova Jersey, por exemplo, foi inaugurada em julho de 1912 e fecha em setembro, depois de um acidente em que morreram dois pilotos e cinco espectadores.


Essas corridas atraíam em torno de 15 mil espectadores, o eu atiçou a cobiça dos fabricantes de motos, que as usavam como instrumento de marketing. Na década de 1930 essas corridas foram perdendo público por conta do alto risco e ao alto custo das pistas de madeira. Existe apenas um filme dessas corridas, encontradas debaixo da cama de uma senhora em 1995, na República Tcheca. É este filme aí, no post.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Bolsa Família da Família Neves


A lambança vem desde 1983, com Tancredo governador. Acompanhe o passo-a-passo de um plano que pode livrar o titio Múcio de uma devolução de dinheiro público desviado para seu terreno particular, pelo cunhado e então governador mineiro.
Resumo:
1) Tancredo acertou com Múcio (prefeito de Cláudio em 1983) gastar, em valores atualizados, 497,5 mil Reais com uma pista de terra na fazenda do então prefeito. Que teria de desapropriar a sua própria fazenda para a obra pública.
2) Múcio se “esqueceu” de desapropriá-la e Tancredo fez a obra sem fiscalizar o processo de desapropriação. O MP abriu ação de improbidade administrativa e exigia o ressarcimento aos cofres público do investimento feito.
3) Décadas depois (2008), o neto de Tancredo, já governador do estado, resolve a querela: desapropriou o terreno que já era objeto de disputa judicial e fez o aeroporto.
4) Num jogo que parece combinado, o tio Múcio (o mesmo de 1983 e proprietário do terreno) entra na justiça, contestando o valor da desapropriação definida pelo estado (um milhão de Reais).
5) Só que a família, diante da primeira querela, usou desde 1983, até 2008 (por 25 anos) a pista de pouso de forma privativa.
6) De 2010 para cá continua a usar, por causa da segunda querela (a do valor da indenização). Ou seja, 31 anos de apropriação e uso familiar de recursos públicos.
7) Tio Múcio tem 88 anos e não é eterno. A trama é visível: os herdeiros, primos de Aécio, manteriam a querela… se nada disso tivesse vindo à tona.
Eis mais um segredo da “Bolsa Família” das elites vindo à tona.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A única verdade é a morte

Alguma vez, já faz muito tempo, porém diante de outra situação bélica, escrevi que para além dos argumentos, válidos ou não, das explicações, que na maioria dos casos se parecem mais com desculpas ou pretextos do que com razões que surgiram na inteligência humana, a única verdade é a morte. É isto que está acontecendo por esses dias na Faixa de Gaza. A isso se poderia acrescentar, com a mesma força e as mesmas evidências, o episódio recente que terminou com a derrubada de um avião comercial na Ucrânia. À margem das palavras, a morte de seres humanos inocentes é a verdade terrível e acusadora que nos atinge na cara como sociedade, como comunidade humana, como civilização.

Poderíamos ingressar no campo das análises e das considerações políticas. Elas existem e não são menos importantes. Mas nem sequer vale a pena entrar nesse terreno quando os campos e as ruas se cobrem de corpos inertes, sem que ninguém possa explicar minimamente a razoabilidade da absurda e demente semeadura de morte. Pode-se falar da absurda intransigência de uns, do fundamentalismo de outros, da justiça negada e dos direitos não reconhecidos e, sobretudo, do uso irracional, exagerado, não justificado, desmedido, inexplicável da força. Tanto para quem utiliza um enorme poderio militar contra a população civil como para quem dispara mísseis contra alvos desconhecidos ou dirigidos a um avião comercial. Nada, absolutamente nada se justifica.

A única verdade é a morte. E os cúmplices da morte são as grandes potências que seguem dominando o mundo, que jogam seus próprios interesses, que usam a diplomacia para travar ou burlar a justiça internacional e que de maneira covarde, arteira e falaz rasgam suas vestes e fazem declarações supostamente condoídas diante dos familiares das vítimas.

Os mortos que estamos semeando como comunidade internacional são o resultado de um sistema econômico político essencialmente injusto, que não atenta para danos nem para vítimas. Em alguns casos, nem sequer nos sacrificados do próprio bando que, em todo caso, são jovens, migrantes, membros de minorias étnicas em grande parte.

Portanto, não se trata de casos isolados. Em Gaza, na Ucrânia, no Iraque, no Afeganistão ou no lugar que escolherão amanhã os detentores do poder (que poderá ser o pátio da nossa própria casa), operam sempre os mesmos interesses e os mesmos atores. Dirigentes que falam de paz nos organismos internacionais e logo travam resoluções ou ações decididas por maiorias esmagadoras. Supostos líderes internacionais que enchem a boca em público com discursos pacifistas e em particular aprovam operações de guerra e extermínio. Tudo isso converte os discursos de paz dessas pessoas numa grande mentira. Porque a única verdade é a morte. Lamentavelmente.

E todos os que reclamarem justiça e exigirem que seus direitos sejam reconhecidos, serão sempre, em qualquer lugar, “terroristas”... porque subvertem o poder dominante que não admite outra ordem, razões e interesses distintos dos próprios. O que podemos e devemos fazer como cidadãos que defendemos a vida e a justiça diante de tanta insensatez, loucura e irracionalidade exterminadora? Ajudem-me a pensar. Por favor. 


(Washington Uranga, trad.: Clovis Horst Lindner, Artigo de Pagina12, de 22 de julho de 2014)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Tragédia, a nossa?

Enquanto o país inteiro chora, faz piada e entope as redes sociais com sua raiva intestinal, extravasando seu lamento pela "tragédia" dos 7x1, outra tragédia real vai sendo construída bem debaixo do nosso nariz: Para cada gol, uma criança morta. É isso mesmo. E olha que nem o golzinho do Brasil escapou de entrar na conta. 

Uma insana chuva de mísseis israelenses na Faixa de Gaza já matou oito crianças. A destruição de 64 casas palestinas, a morte de 32 palestinos e ferimentos sérios em outros 230 é o resultado de uma chacina patrocinada por Israel.

Trata-se de uma clara demonstração de que o principal alvo de Israel não é militar. Israel quer varrer a Faixa de Gaza do mapa, num absurdo exercício de extermínio em massa para limpar o terreno.

O país vítima do maior holocausto do século 20 agora trata de protagonizar a sua própria versão do horror. Bombardeando qualquer alvo no que já está sendo considerado o maior campo de concentração que existiu: a Faixa de Gaza. Enquanto isso, os EUA encobrem os crimes de guerra israelenses e calam o mundo indignado, como expressou muito bem o chargista Latuff (imagem).

Até quando? Talvez, depois de passar a frustração da copa, acordemos para as tragédias reais... Inclusive esta, que é humanitária.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Renovação

A obra do fotógrafo e artista digital argentino Martín De Pasquale é inspiradora. Utilize o Fotoshop da determinação e faça isso também na sua vida. Livre-se do ranço, do cheiro de mofo que vem do seu interior. Recicle seus pensamentos e renove suas ideias. Um bom começo é livrar-se do velho homem que encobre o guri que está dentro do seu peito. Rompa a pele das aparências. Tire a máscara. Mostre a sua alma. Escancare o seu espírito. Você vai ver renascer de dentro de você o menino que nunca saiu dali. Ele está lá! Liberte-o! 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Como construir uma Pátria

Milhares de turistas visitaram Gehlweiler enquanto foi Schabbach

Um dos dias mais impressionantes da nossa viagem à Alemanha foi 25 de maio, quando nossos amigos Erdmuthe e Uli nos levaram ao Hunsrück, região de onde veio grande leva dos imigrantes alemães para o Brasil a partir de 1824, acentuadamente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Detalhes impressionantes reproduziram até a miséria da época.

Grande emoção tomou conta de nós quando percorremos as ruas do povoado de Gehlweiler, uma simpática vila de pouco mais de 250 habitantes, com um riacho e uma ponte de pedra.

Uma verdadeira pintura, tudo para "Die Andere Heimat".

O que chamou especial atenção, entretanto, não é a vila como é hoje, parecida com centenas de outras na região. Este lugar foi um dos pontos dos quais centenas de famílias iniciaram uma inacreditável saga de busca de uma pátria que lhes permitisse sair da miséria e construir um futuro para si e para seus descendentes.

Gehlweiler sem as fachadas de Schabbach é assim.
Em primeiro plano, uma ferraria original, que inspiriou a ferraria da "Família Simon".

É uma história emocionante. E ela foi registrada em livro há três décadas por Edgar Reitz, diretor de cinema alemão. Ele mesmo encarregou-se de transformar sua obra num épico do cinema alemão em 2012. Para isso, transformou Gehlweiler, a vila real, no lugar da história do seu livro, Schabbach.

O interior de uma casa adaptado para o filme.

“Die Andere Heimat, Chronik einer Sehnsucht” (A outra pátria, crônica de uma saudade) é a história da família Simon, que resolveu juntar seus poucos pertences numa carroça e partir para a América em busca de uma nova pátria, junto com centenas de outras famílias, de Schabbach e de outras vilas do Hunsrück. Seu destino, o interior do Rio Grande do Sul, local em que surgiu uma nova Hunsrück, nas muitas picadas da serra gaúcha.

Cena do filme, rodado em preto e branco e cores, para acentuar o drama e o aspecto histórico.

O que empurrou os Simon e seus conterrâneos para fora da antiga pátria foi o trinômio fome-miséria-opressão política. O filme de longa duração (230 minutos!) conta em detalhes este drama, protagonizado pela Alemanha do século 19 para reduzir a miséria em seu território. Muitos, de tão pobres e desesperados, venderam seus últimos pertences para comprar a passagem de navio. Com o ticket na mão, imaginaram ter comprado o ingresso do paraíso. Nem sempre isso se confirmou e, na nova pátria a miséria também atingiu muitos deles e se prolongou por gerações. É uma longa história, que não vou detalhar aqui.

Jakob Simon e o livro que o levou a sonhar com o Brasil.

De volta a Gehlweiler. Para registrar seu épico e transformar Gehlweiler em Schabbach, Edgar Reitz e sua brilhante equipe (melhor filme alemão de 2013) reconstruíram o ambiente em que viviam os miseráveis que deixaram a Alemanha. Os detalhes dos cenários de fachadas que refizeram a vila são de uma impressionante verossimilhança. O que se vê no filme pode ser visto hoje em parte no interior do sul do Brasil. A “outra” pátria não se tornou tão outra assim. Em muitos casos, nem tão promissora quanto os sonhos dos que largaram tudo lá para refazer a mesma coisa aqui.

Jakob Simon na hora do embarque, diante do cartaz do Império Brasileiro com gentil convite.

Como diz Edgar Reitz, “Pátria não se herda, não se compra, não se vende. Pátria só se pode edificar”. E isso vale para Gehlweiler/Schabbach e vale também para Montenegro, Ivoti, Feliz, Linha Nova, Picada Hartz, Picada Café, Rondon, Matelândia ou qualquer outro lugar, em qualquer canto do planeta.

Além de contar essa história em detalhes, o filme também é uma lição de metas, objetivos e esperanças para as novas gerações, que embarcam na vida decepcionados com a “pátria” que recebem de seus pais (que não se pode herdar, segundo Reitz) ou que gostariam de tirar da prateleira de algum shopping (também não é possível comprar uma pátria). Também hoje os jovens precisam aprender, a duras penas, que “pátria” é somente aquela que erguemos com nossas próprias mãos, na Alemanha, no Brasil ou em qualquer lugar do planeta.

Inclusive o Planeta Terra, nossa pátria globalizada, somente poderá continuar a ser uma “pátria” se nos ocuparmos de seus problemas graves de sustentabilidade, equilíbrio ambiental e energético; paz, justiça e igualdade para todos os seus habitantes. Que Deus nos ajude a “construir” pátria também hoje, com todas as implicações de nossos sonhos e esperanças. Porque, quando nascemos, também temos somente um ticket somente de ida, rumo ao futuro, que não cai pronto do céu, mas nós mesmos construímos.

Enquanto aguardamos pelo filme em DVD (lançamento previsto para o dia 10 de julho na Alemanha), convido você a olhar fotos e vídeos no Youtube que falam do filme. Aguardo com ansiedade para ver toda a obra!

(Clovis Horst Lindner)

Veja também os seguintes filmes sobre a montagem de Schabbach em Gehlweiler e sobre a casa preparada para as filmagens:

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Nikolaus Schneider renuncia à presidência da Igreja Evangélica na Alemanha

Nikolaus Schneider renuncia ao mandato de presidente da Igreja Evangélica na Alemanha e deixa o posto em novembro. O presidente do Conselho da IEA surpreendeu a comunidade protestante alemã e europeia com o anúncio de sua renúncia. O câncer de sua esposa é o motivo. “Acompanhar minha esposa que contraiu um câncer torna este passo inevitável”, disse Schneider em um comunicado à imprensa.
“Pretendo dedicar todo o meu tempo ao nosso caminho em comum e este é um desejo que não vou realizar ao lado do ministério na IEA”, concluiu.


Anne e Nikolaus Schneider casaram em 1970 e têm três filhos, sendo que a filha mais nova faleceu em 2005 vítima de leucemia. A luta da filha contra o câncer rendeu um livro que o casal escreveu em conjunto. Schneider, de 66 anos, é o dirigente máximo dos protestantes na Alemanha desde 2010, quando substituiu a bispa Margot Kässmann na função. Seu mandato no comando da IEA iria estender-se até novembro de 2015.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Prefeito destemperado


O prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, pisou no tomate ontem. Sua aparição na TV, falando dos grevistas, mostrou um político despreparado para a função que exerce. Destemperado, com a face vincada pelos traços da ira e da irredutibilidade, ele transpirava determinação em defender a administração implacável do orçamento municipal contra as reivindicações dos professores. Ao classificar a justa reivindicação dos nossos mestres de irresponsabilidade, junta-se ao que há de pior no trato do tema Educação de parte da politicalha tupiniquim. O que se viu ali foi um homem irredutível, incompatível com a simpatia e o discurso quase tagarela de outrora. Ele foi curto e grosso. Com isso, em minha avaliação Napoleão Bernardes começa a trilhar um caminho sem volta, o do fim precoce da sua carreira política.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Procura-se pastor motociclista

Cerca de 25 mil motociclistas e suas máquinas participaram do culto em Hamburgo, no dia 22 de junho. 

A Igreja Evangélica do Norte da Alemanha está procurando um pastor para coordenar o programa que mantém junto aos motociclistas. O pastor Joachim Lenz, que entrou no programa apesar de ser o ministro responsável pelo Dia da Igreja Evangélica em Fulda, não tem espaço na agenda para tocar os dois projetos.
O pastor Joachim Lenz organizou o culto deste ano, mas tem outra função e busca um substituto.

Uma das principais tarefas do pastor dos motociclistas é organizar o encontro anual, junto com uma comissão de voluntários motociclistas coordenada por Bernd Lohmann. O encontro deste ano, em Hamburgo, no dia 22 de junho, reuniu 25 mil motociclistas, apesar da chuva. Estavam sendo esperados 35 mil. O culto na igreja de São Miguel lotou o templo até o último lugar e estava sob o tema “Olhos abertos!”, para o trânsito e para a vida. “No meio de nossos passeios de moto, não percamos o céu de vista”, pregou o pastor Lenz.

Mas, o movimento dos motociclistas da Igreja Evangélica do Norte da Alemanha não organiza somente este culto. “A comunidade de motociclistas precisa de um pastor em t5empo integral, pois tem muitas atividades, encontros de voluntários e diversos outros programas”, enumera Lenz.  Além do culto de motociclistas em Hamburgo, há ainda outros encontros em Husum, Kiel, Köln, Bad Doberan e até na distante cidade de São Petersburgo.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Estou rindo à toa!

Há cerca de dois meses eu falava a quem quisesse ouvir: "Vocês vão ver! Não vai acontecer nada durante a Copa. Vai ser tudo redondinho e essa história de que 'Não Vai Ter Copa' é um discurso vazio, que não vai pegar!"

A minha vontade de rir à toa aumenta desmedidamente, quando leio o editorial da RBS de hoje: "Começam a se confirmar as previsões mais otimistas sobre o impacto da Copa na vida dos brasileiros e de estrangeiros que vieram participar da festa...", embarca a subsidiária da Globo no discurso quase inflamado de euforia pela beleza do espetáculo, pela simpatia do povo brasileiro, pelos poucos deslizes até agora ocorridos.

O editorial chama o Brasil de "anfitrião exemplar". Afirma que "obras atrasadas, questionamentos sobre prioridades, EVENTUAIS(!) falhas de planejamento e problemas PONTUAIS(!) de organização são DA NATUREZA DE ACONTECIMENTOS GRANDIOSOS(!)". Me digam (estou me beliscando!), tenho ou não motivo para rir à toa?

O editorial da RBS fala que esta copa contribui para "a afirmação da nossa imagem no mundo" (lindo isso!). Não dá um nó na garganta de orgulho? Se a turma eternamente do contra pode finalizar um texto quase apaixonado pelo desenrolar das coisas com um "O Brasil... vem, sim, vencendo os imprevistos de última hora e os pessimistas, ao mesmo tempo em que conquista o reconhecimento dos visitantes e da imprensa". Palmas, RBS! Reconhecimento é sempre bom, ainda que venha tardiamente!

E olha que eu andei lendo coisas que até Deus duvida na imprensa internacional sobre o Brasil, o que esperar de nós nesta Copa, que tudo ia ser uma verdadeira tragédia... Quase tive uma síncope ao ler a capa da revista alemã "Der Spiegel" duas semanas antes da bola rolar na Arena Corintians. 

Estou rindo à toa! Não sou profeta, mas que é bem feito para os eternos agourentos e pessimistas de plantão que andam disseminando tanta lamúria e choradeira, isso é!


terça-feira, 10 de junho de 2014

As enchentes e "o outro lado do muro"

Vista panorâmica da Barragem Norte, em José Boiteux.

"É de conhecimento e de angústia de todos a situação das nossas cidades frente às chuvas. Blumenau, Jaraguá do Sul, Guaramirim, Rodeio, Corupá, Massaranduba, Schroeder, Gaspar... Desespero e incertezas novamente estão presentes, e em tão pouco tempo.

Eu gostaria de colocar nesta triste lista mais um nome e que por inúmeras vezes é ignorado, e que tem papel fundamental para que a tragédia não seja pior em nossas cidades: o outro lado do muro.

A Barragem Norte, localizada no Município de José Boiteux, é uma das comportas que controla o forte fluxo de água que entra no Rio Itajaí-Açu. Para minimizar a quantidade de água que chega em nossas cidades (imaginem se viesse mais água???), o que tem atrás deste muro precisa ficar submerso. E atrás deste muro têm pessoas, que vivem na Terra Indígena Xokleng-Laklãnõ.

Por estar trabalhando no COMIN (entidade que atua com os povos indígenas dentro da Terra Indígena Xokleng-Laklãnõ), recebi ligações de lideranças ontem e hoje informando que a situação está caótica: pessoas ilhadas e desabrigadas, barreiras caídas nas estradas, falta de alimento, necessidades básicas... E a preocupação aumenta porque as águas dos morros precisam ainda descer, pois a chuva parou somente domingo à noite. As nossas cidades felizmente têm um círculo de solidariedade nestes momentos de dor e carência, mas as aldeias indígenas estão lançadas à própria sorte. Segundo informações internas, a comporta da Barragem Norte foi aberta ontem depois de muita pressão das aldeias. Faltou menos de 1 metro para a água transbordar.

Duas questões são levantadas:

1. Encontrar maneiras de pressionar os órgãos competentes para que atuem com agilidade: têm casas rachando e com água dentro, e em torno de 50 famílias desabrigadas que estão fazendo protesto na Barragem (mais uma entre tantas, pois quando há enchentes este é o primeiro local de destruição);

2. Segundo a liderança da Aldeia Sede, que terá reunião com os outros caciques nesta tarde, as famílias desabrigadas necessitam de alimentos. Quem puder auxiliar na compra de alimentos, agradecemos. Acredito que o caminho mais prático seja via depósito na minha conta corrente (Banco do Brasil, Ag.2990-4, c.c10914-2, JASOM DE OLIVEIRA) e estaremos comprando."

Desde já agradecemos a rede e solidariedade com todos e todas que sofrem nestes momentos,

Jasom de Oliveira
COMIN / Leste Catarinense

Tentando voltar...

Ao abrir o meu blog, levei um susto. Faz um bocado de tempo que não ando postando nada por aqui. Vou me redimir daqui por diante. É que entrementes estive viajando, com um mês de ricas experiências na Alemanha. Nesse tempo, fiquei mais de duas semanas trabalhando intensamente sobre o tema sustentabilidade, ao lado de um precioso grupo de brasileiros e brasileiras, na Frísia do Norte, na Alemanha. Tem muitas experiências para compartilhar. Aguardem.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Conhecer o índio de carne e osso


A professora Ingrid Lindner, da Escola Barão de Blumenau, minha amada esposa, iniciou no ano passado um trabalho cultural/social com a sua turma do quarto ano, voltado a desarmar preconceitos em relação a outros povos e culturas, especialmente em relação ao povo Xokleng que vive na Reserva Duque de Caxias. Graças a seu empenho, todas as turmas do quarto ano da Barão estão indo à Aldeia Bugio, em Dr. Pedrinho (SC), visitar a bela trilha que jovens indígenas organizaram na floresta, bem na nascente do Rio Benedito. É um lugar preservado que, entre outras espécies, tem centenas de exemplares do raríssimo xaxim-bugio - outrora dizimado para fazer potes para orquídeas, também impiedosamente arrancadas da nossa belíssima mata atlântica.

As visitas têm sido um banho de cultura e cidadania. A trilha montada pelos jovens indígenas se transformou numa fonte de renda para eles, e contribui para fixar os jovens na aldeia, além de ajudar no resgate da cultura do seu povo, que é mostrada num lindo momento de convivência entre os alunos da escola e xokleng de todas as idades. Tudo isso é um banho de imersão fenomenal em outra cultura, aproximando pessoas que se descobrem iguais. Ela mesma nos conta, num inspirado texto de Cordel que ela criou para contar a visita. Veja:



Cordel sobre a viagem a Aldeia Bugio, em Doutor Pedrinho.

O Quarto ano aprendeu
O índio na vivência conheceu
Viajou duas horas a fio
Para chegar à Aldeia Bugio
Onde, ainda que frio,
Nosso coração se aqueceu.

Na recepção, quanta alegria,
Já se foi o preconceito.
A amizade logo se instalaria:
São iguais, tem o nosso jeito!
Até os cães eram dóceis, quem diria,
E trilheiros preparados pra folia.

Planejada com segurança,
A trilha avança na mata atlântica.
Quantos segredos ela esconde
Mas os índios a conhecem
E a todos esclarecem.
Na esperança de vitória
Vão contando sua história.

No caminho há muita surpresa,
água cristalina, que beleza!
Com velha sabedoria foi ensinado
A beber com copos de caeté enrolado.
E vi os dois grupos em sintonia
As diferenças sumiram por magia.

Mais adiante, numa cabana de sapé
Cheia de adultos e crianças índias, pode crer.
Ali comemos carne e capu
Tudo assado em gomos de bambu
Junto com chá de folha de sassafrás
Numa roda que emanava muita paz.

Era hora de ouvir o velho índio contar
na língua Xokleng todo o seu penar.
Tribo de vida sofrida, com bugreiros a gritar:
Olhem os bugres, vamos matar!
Não sou bugre, sou brasileiro,
E nesta terra fui o primeiro.

Os brancos, o governo pagava,
Pelo número de orelhas que juntavam
Enfiadas Num imenso colar
Para a caçada comprovar.
Nem o velho grande escapou
e seu corpo no rio se atirou.

Em silêncio ouvimos sofrimento naquela voz.
E em seguida a tradução da história atroz.
Que tristeza, quanta maldade,
Gente que não entendia a diversidade.
O velho Xokleng, que agonia,
Ao nos historiar ainda sofria.

Um grande círculo se formou
A curiosidade sempre aflorou
Um canto com eles entoei
A letra era Xokleng, estranhei
Mas a melodia eu conhecia
Em seguida também cantaria.

A hora voava, o tempo corria,
Cadê os colares, o arco e flecha, que não se via?
Começou o escambo e adornamos o coração;
Agora sim, éramos todos da mesma nação.
Brasileiros sem preconceitos, amando a natureza
E do povo Xokleng vimos toda sua beleza.

O preconceito se foi e o respeito nasceu
A diversidade de cultura em mim cresceu
A cidadania em nós se instalou
E ao ver um índio ninguém mais estranhou.
Uma grande lição aprendi
Que nenhum ser humano se deve excluir.

Autora: Ingrid Lindner


DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...