sexta-feira, 30 de março de 2012

Briga de comadres


A incompreensível demora do governo em instalar a Comissão da Verdade, já aprovada pelo congresso há meses, está levando o julgamento da história do Brasil para as ruas e da pior forma possível. Ontem, no Rio, diante do Clube Militar, o confronto entre os que pedem justiça e os militares que defendem o regime de 64 chegou às raias da pura falta de educação.

Xingamentos, cuspidas, ofensas e um nível que beira a baixaria reinou diante do prédio em que se entrincheiravam militares em defesa deles próprios. Os manifestantes não respeitaram os entrincheirados em seu próprio território e demonstraram uma inaceitável sanha de fazer justiça pelas próprias mãos, enquanto os militares, em atitude de quem tem certeza de que jamais sentarão no banco dos réus pelos crimes cometidos durante a ditadura, zombavam das reivindicações dos manifestantes com gestos e declarações pouco condizentes com a farda que vestiam.

A culpa, no final das contas, é do governo. Falta o quê? Coragem? Determinação? Ou simplesmente vergonha na cara para enfrentar o monstro de vez? Está na hora de a comandante em chefe das forças armadas vestir as calças e começar a botar as coisas em pratos limpos.

E os militares, o que tanto temem? A insistência em não dar sinal verde para a Comissão da Verdade até parece motivada pela necessidade de quem tem, sim, muita coisa para ser ocultada. Enquanto isso, quem vai às ruas com desejo de fazer justiça sem apoio da justiça é a gurizada medonha que, outra vez, pintou a cara e foi às ruas.

Isso ainda pode ter conseqüências nada recomendáveis. Mais uma vez o Brasil perde a chance de se fazer digno do status que lhe dão no exterior...

Quando se toca nesse assunto por aqui, logo aflora uma tonelada de ressentimentos, que têm uma carapaça ideológica que nubla o céu da justiça.

Entre os militares reina um corporativismo estúpido, que defende bandidos notórios com o mesmo brio e orgulho com que se pendura medalhas no peito dos heróis nacionais. Entre as vítimas do regime e seus descendentes, na maioria, reina um oportunismo que beira a avareza, no sentido de que se entra nessa briga já de olho no tamanho das indenizações que engordarão a conta bancária.

Onde ficou a busca pela verdade, para construir um dossiê histórico honesto e robusto das mais escuras décadas da história brasileira? Esta, certamente, não será uma história que se resolverá do mesmo jeito que se soluciona uma simples briga de comadres. Até agora, entretanto, é exatamente assim que se comportam os dois lados dessa peleia...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Arcaismo mútuo


Outra vez, o Pagina 12 resumindo com precisão e acertando na mosca. "Na reunião entre Fidel e o Papa houve duras críticas contra esse sistema anacrônico, dogmático e fechado." " De quem contra quem?"

O estado laico deve ser ateu?


A recente controvérsia sobre a presença de símbolos religiosos em repartições públicas dá muito pano para manga. Dizem aqueles que querem ver as assembleias legislativas, as câmaras de vereadores, os gabinetes das autoridades, os tribunais e toda e qualquer parede de repartição pública livre de crucifixos, que este é um imperativo constitucional de um Estado que se auto-define “laico”. As igrejas é que andam escandalizadas com isso.

Na verdade e a bem dela, essa onda nem deveria escandalizar tanto assim as igrejas. Quem tem memória, irá lembrar que no seu próprio seio houve e há movimentos que querem banir os crucifixos até das próprias igrejas e de seus altares. Os defensores dessa onda “anabatista” argumentam que o crucifixo remete ao Jesus morto, que não se encontra mais na cruz, uma vez que ressuscitou na Páscoa. Agora querem escandalizar-se porque a crescente secularização do mundo exige o fim da cruz nas paredes dos juízes?

Uma recente obra publicada na França sobre o tema – com o instigante título “La Laïcité Falsifiée” (A Laicidade Falsificada), do sociólogo Jean Baubérot, professor da cátedra de sociologia da laicidade da École Pratiques des Hautes Études –, mostra que há muita confusão em torno disso também na França. Sem aprofundar a discussão, a tendência é um debate raso, não é mesmo? E nessa rasura confunde-se “laico” com “secular”, deixando de entender o Estado como laico para passar a exigir que seja “ateu”. A defesa do laicismo de Estado tem preconizado o ateísmo de Estado. (Leia mais sobre o assunto do livro aqui).

No Brasil estamos vivendo uma inacreditável demanda de leis. Um legalismo exacerbado está tomando conta do caldo social, numa sociedade notoriamente descumpridora das leis e consciente de que elas não melhoram as relações. Não adianta botar na lei, porque ninguém cumpre e ninguém fiscaliza o seu cumprimento. Mesmo assim, aqui tudo vira lei. Tem música que ofende a mulher? Cria-se uma lei que proíbe contratar cantores dessas canções com dinheiro público. Simples assim, mesmo que seja uma lei que fira a liberdade de expressão. Cresce a criminalidade de adolescentes explorados por bandidos maiores para fazer o serviço sujo? Mude-se o ECA para acabar com a proteção aos bandidos infantes inimputáveis, mesmo que isso desmonte um estatuto criado para proteger os nossos filhos da truculência do Estado.

Já a febre pelo Estado laico está criando leis estaduais banindo símbolos religiosos das repartições públicas, o crucifixo como a principal peça a ser retirada. Nessa febre, o Estado laico obriga o juiz a ser ateu, porque se ele basear seu veredicto nos princípios regidos pela cruz que enfeita o cenário ao fundo do tribunal ele estará sendo “parcial” e “tendencioso”. Como se o fato de não haver mais a cruz ali melhorasse a sua habilidade de julgamento...

Em outros países, como a Inglaterra, a coisa já chegou ao ponto de proibir o funcionalismo público de ostentar símbolos cristãos no próprio corpo, como em correntes no pescoço ou brincos nas orelhas. Nada pode lembrar a cruz. Isso já se tornou um fundamentalismo às avessas, que confunde laicidade com ateísmo imposto pela lei.

Por outro lado, quando se trata de acolher direitos das minorias, como a dos homossexuais, por exemplo, exige-se do Estado que baseie suas leis nos mais rígidos e literais princípios expressos no livro sagrado dos cristãos, que condena expressamente a prática do homossexualismo. Aqui vale até mesmo ignorar um século de pesquisa histórico-crítica do texto bíblico e voltar a olhar a Bíblia não mais como uma construção da igreja primitiva mas outra vez como obra lançada por Deus diretamente do céu sobre as nossas cabeças.

É uma dualidade inadmissível.

A condição laica do Estado não se apura pela “cruzada” contra a cruz ou outro símbolo religioso qualquer. O estado laico dá ampla liberdade religiosa, inclusive a magistrados, parlamentares, governantes e seu staff de servidores públicos. Eles podem ter fé em Javé, em Cristo, em Maomé, em Buda, em Iemanjá ou em quem quer que seja. Esse Estado, entretanto, não pode basear suas decisões, leis ou princípios em nenhum dos preceitos oriundos dessas crenças ou de seus escritos sagrados.

Obviamente, isso é difícil. É quase impossível, eu diria. É por isso mesmo que a problemática da laicidade e da secularização continua sendo um campo de difícil compreensão, quando não se torna um terreno minado, em que imperam os equívocos. É bem isso que está se vendo no Brasil (e em muitos outros países no mundo todo) no momento.

E é exatamente neste ponto que a teologia deveria empenhar-se mais para dar uma contribuição de peso a este debate. As igrejas ligadas ao CONIC deveriam protagonizar a reflexão sobre Estado e Laicidade, até como demonstração de que não está mais em seus planos impor sua fé à cultura da nação. Isso é coisa do período colonial, um tempo, aliás, do qual a nossa legislação é pesada herdeira.

Livrar a legislação do ranço colonialista é uma tarefa dura, que não se resolverá com “leizinhas” proibindo juízes de pendurar o crucifixo no tribunal. Precisamos de igrejas que sejam capazes de dizer a seus fieis que não podem continuar a querer impor o legalismo bíblico à legislação. Num Estado laico, o direito de todos só pode ser construído a partir de um amplo acordo que respeite as particularidades de cada um sem imposições unilaterais.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Morre Millôr Fernandes


Millôr se foi, nesta manhã. É mais uma brecha de pura genialidade que se fecha no país da mediocridade. Ele era simplesmente o melhor na arte da ironia fina, da síntese perfeita e do humor contextualizado. Ele pegava pesado pegando leve... Frasista como nunca houve outro, ele sabia dizer tudo no mínimo.

Uma das coisas mais espetaculares que aprendi com o gênio Millôr Fernandes foi a serenidade de perceber que a crítica não muda o mundo, mas o transforma em algo que pode ser revisto, avaliado. E ele o fazia com humor. Seus espetaculares hai-kais descreviam o nosso tempo com a precisão necessária e hilária. Nos fazia rir da própria desgraça. O que ele conseguia dizer com poucas palavras fazia análises que se diluem demais em longos textos e teses acadêmicas. Uma dezena de palavras bastava para uma análise que ia direto ao ponto; atingia o âmago.

Fica a sua magistral lição: "O último refúgio do oprimido é a ironia, e nenhum tirano, por mais violento que seja, escapa a ela. O tirano pode evitar uma fotografia, não pode impedir uma caricatura. A mordaça aumenta a mordacidade."

Um coral de 800 anos


Fundado em 1212 pelo marquês Dietrich von Meissen, “Die Thomaner”, o famoso Coro de Meninos da Igreja de São Tomás de Leipizig, comemora em março 800 anos de existência.

A igreja de São Tomás ficou conhecida pela atuação de seus inúmeros diretores musicais. O mais famoso deles foi Johann Sebastian Bach, que conseguiu para a cidade de Leipzig o reconhecimento como importante centro musical. Também outros acontecimentos históricos, como o sermão de Martinho Lutero no dia 25 de maio de 1539, concorreram para que a igreja de São Tomás se tornasse famosa.

O mais importante diretor musical da igreja de São Tomás foi sem dúvida Johann Sebastian Bach, que atuou em Leipzig de 1723 a 1750. Foram anos de intensa produtividade musical para o compositor. Desde 1950, a igreja abriga os restos mortais do grande músico.

O cotidiano não é nada fácil para os integrantes do coro conseguir equilíbrio entre os 800 anos de tradição e o mundo moderno. Entre as tarefas escolares e os ensaios diários, sobra muito pouco tempo para outras atividades. Principalmente neste ano de comemorações é necessário ter muita disciplina e dedicação para obter sucesso nos inúmeros concertos.

Conhecido no mundo inteiro, o Coro de Meninos da igreja de São Tomás de Leipzig já realizou diversas turnês. A primeira viagem internacional dos garotos foi em 1920, quando se apresentaram na Dinamarca e na Noruega. Atualmente, eles têm fãs em todo o mundo.

A escola que foi acoplada à igreja também estava aberta às crianças da comunidade. Entre os ex-alunos se encontram alguns nomes famosíssimos, como o do compositor Richard Wagner. A igreja, a escola e o coro de São Tomás formam uma tradicional unidade e são uma das mais antigas instituições culturais da cidade de Leipzig.

No dia 19 de março começou em Leipzig a semana comemorativa aos 800 anos do Coro de São Tomás. Como parte das festividades, será inaugurado o Campus Forum Thomanum, com inúmeros concertos em homenagem a esta tradicional instituição.

Fonte: Deutsche Welle

terça-feira, 27 de março de 2012

Por mais controle no comércio internacional de armas


O comércio de armas suscita preocupações que tocam pontos centrais da fé cristã, como a santidade da vida, o mandamento de não matar e o preceito bíblico de amar os vizinhos, diz declaração do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) ao reivindicar a urgente adoção de um Tratado de Comércio de Armas (ATT), que será negociado em julho deste ano.

Nesta quarta e quinta (28 e 29 de março), representantes governamentais e da sociedade civil do Mercosul e de Estados associados vão se reunir em Buenos Aires para debater o ATT. A professora Marie Krahn, da Faculdades EST, de São Leopoldo, representará o CMI e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) no encontro.

Uma legislação é urgente num mundo cada vez mais interdependente. Ainda não existe um tratado universal para controlar transações comerciais de armas, um comércio com menos controle do que as remessas de eletrodomésticos de um país a outro. “As igrejas são testemunhas da violência armada, ajudam as pessoas afetadas e compartilham o sofrimento que ela causa”, diz a declaração do CMI.

Os governos soberanos e a indústria de armamentos têm responsabilidades públicas com as populações que compartilham um destino comum na nave Terra. O comércio de armas, sustenta o CMI, não é um negócio normal. “A maioria dos Estados reconhece o fato mediante a imposição de controles nacionais”, assinala o organismo ecumênico.

Um tratado do comércio de armas eficaz tem que privilegiar disposições relativas à prestação de contas, transparência, responsabilidade e aplicação que servem para proteger as comunidades, nações e regiões afetadas por transferências mal regulamentadas de armas. A cada ano, milhões de vidas são ceifadas ou perdidas devido à violência armada. Cerca de dois terços dessa tragédia ocorrem em países aparentemente em paz.

Para o CMI, um tratado de comercialização de armas deve ser um instrumento jurídico que tem tarefas complementares. Ele deve evitar as transferências de armas para países onde o governo representa uma ameaça ao seu próprio povo ou outros Estados. Ele também deve melhorar os controles comerciais para evitar o contrabando e a venda de armas no mercado negro, e deve servir para proteger comunidades e salvar vidas.

O organismo ecumênico enfatiza que o Tratado de Comércio de Armas “deve coibir todos os tipos de armas convencionais e seus componentes, incluindo armas de pequeno calibre, armas ligeiras, munições e peças, bem como equipamentos policiais e de segurança”.

A declaração do CMI conclama as igrejas a aderirem à campanha em defesa de um tratado que regule o comércio de armamento, sobre que armas trocam de mãos, como elas trocam de mãos, de onde elas vêm e onde vão parar.

Dados divulgados pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Sipri), de Estocolmo, informam que o comércio mundial de armas convencionais cresceu 24% de 2007 a 2011. Os cinco maiores exportadores – Estados Unidos, Rússia, Alemanha, França e Reino Unido – monopolizaram 75% do comércio no quinquênio. A índia foi o país que mais comprou armamento no período, com 10% do volume, seguida da Coréia do Sul (6%), Paquistão (5%), China (5%) e Singapura (4%). Na América do Sul, Chile e Venezuela lideram a lista das importações na região, somando 61% do montante adquirido.

Fonte: Agêndcia Latgino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC

segunda-feira, 26 de março de 2012

Estão matando as ONGs


Uma surda campanha dentro do Brasil e do próprio governo brasileiro tem levado Organizações Não Governamentais (ONGs) a morrerem de fome ou a fecharem as portas. Cada vez mais vistas como vilãs – por conta de falsas entidades intencionalmente criadas para apoderar-se de verbas destinadas ao serviço social –, as ONGs sérias estão sendo severamente afetadas por conta da má fama desse tipo de organização em todo o mundo.

Outro fator que dá origem ao recuo das ONGs tem por base a crise financeira internacional dos países desenvolvidos. Os maus resultados das economias dos países ricos diminuem o fluxo de dinheiro para investimento social nos países menos desenvolvidos.

Há ainda um terceiro fator, que começa a prejudicar o caixa de entidades sociais históricas que atuam no Brasil. Este fator é a nova projeção do Brasil no cenário internacional, que coloca o país no papel de doador de recursos e não mais de receptor – causando uma falsa percepção de que os problemas internos estão resolvidos. O Brasil não precisa mais de ajuda, segundo esta interpretação.

Recentemente, importantes organizações dedicadas ao tema fecharam suas portas depois de anos de serviço público relevante.

A ameaça do fechamento também paira sobre outras organizações históricas que enfrentam crises severas de recursos, como o Grupo SOMOS (Rio Grande do Sul), o GAPA de Minas Gerais e o GAPA de São Paulo que já anunciaram a suspensão de suas atividades.

Parte da origem da crise das ONGs brasileiras vem do recuo financeiro da cooperação internacional. Essas ONGs dependiam desse modelo de cooperação internacional para prestar um valioso papel na defesa do interesse público e na luta por políticas públicas que universalizem direitos e cidadania no país.

Além de se basear num argumento simplista de que o PIB brasileiro é o sexto maior do mundo e ultrapassa inclusive o do Reino Unido, o estrangulamento financeiro das ONGs parece ter outros interesses por trás que querem intencionalmente a debilidade da sociedade civil organizada.

É verdade que o PIB brasileiro aumentou drasticamente. Mas também é óbvio que são poucos os que se beneficiam realmente desse crescimento econômico. Excluem-se da equação a renda per capita, as fortes desigualdades internas, as situações de extrema exclusão de parte da população e a manutenção de vulnerabilidades sociais. O Brasil que brilha nos salões de Genebra e Nova Iorque certamente não é o mesmo com o qual essas ONGs lutam todos os dias, com suas incoerências, injustiças e inadequações. O Brasil das ONGs ocupa o 81º lugar no índice de desenvolvimento humano.

Politicamente está patente que há um “clima anti-ONGs” no Brasil. Para satisfazer a insaciável gula da “base aliada”, o Governo se afasta da sociedade civil organizada, entre elas com forte recusa às reivindicações das ONGs. Jamais houve, na história recente do país, um período de tamanho distanciamento entre o Ministério da Saúde e a sociedade civil brasileira, por exemplo. Na lista dessa “guerra surda” está, por exemplo, o visível desmonte do Departamento de DST AIDS, onde um número expressivo de pessoas classicamente envolvidas na luta contra a AIDS no país estão sendo desligadas.

Todas essas instituições estão sendo lançadas na vala comum da desconfiança, com o argumento de que as ONGs se desvirtuaram e servem hoje apenas de instrumento de desvio de dinheiro público. Também há a aceitação pacífica da crença de que o Brasil está em pleno desenvolvimento, no qual a participação da sociedade civil organizada é um elemento supérfluo, anacrônico.

Entretanto, a partir da redemocratização do Brasil nos anos 1980 e da Constituição cidadã de 1988, os movimentos sociais tiveram um papel histórico na construção da cidadania no Brasil. A restrição do princípio do controle social agora em curso certamente afeta todo o processo democrático. Como dizia Betinho (o sociólogo Herbert de Souza), não cabe às ONGs brasileiras acabar com ou pretender substituir o Estado, mas colaborar para a sua democratização. Muitas ONGs têm feito isso com dedicação há pelo menos trinta anos e não é por outro motivo, por exemplo, que o programa de Aids do Brasil é considerado um dos melhores do mundo.

No momento em que o enfraquecimento dessas organizações é mais latente, o silêncio impera. No entanto, as ONGs ainda têm muito que dizer, fiscalizar, propor e defender. Nem que seja em mensagens coladas em portas de ONGs fechadas.

É preciso lutar contra esse processo de desmoralização das ONGs, para que não sintamos saudades dos dias em que o controle social existia de fato. A luta deve levar as autoridades que agem com descaso frente ao desmantelamento desse princípio a sentir vergonha proporcional à ofensa que representa à democracia brasileira e a todos que lutaram por ela.

A democracia não se constrói sem a participação efetiva das organizações civis. Não se pode aceitar a idéia de que cabe ao governo resolver todos os problemas da sociedade. As organizações civis devem participar do processo, sob pena de, ao não fazê-lo, estarmos contribuindo para o enfraquecimento da democracia que vem sendo construída nas últimas três décadas no Brasil.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A generosidade fiscal de Deus


Por esses dias recebi um comunicado seco da Secretaria da Fazenda da prefeitura da minha cidade, informando que havia débito de IPTU. Caso não passasse num exíguo prazo de alguns dias na Prefeitura para acertar os débitos pendentes, o meu nome seria incluído na dívida ativa do Município.

Tremi na base. Logo eu, que sempre procuro andar dentro da lei e pagar direitinho as minhas contas. Entrar na lista negra dos devedores do Fisco não era exatamente o que eu apreciava.

Virei gavetas do avesso e desenterrei todos os carnês de IPTU desde 2001. Fui à cata dos que não estavam no respectivo envelope, tudo para saber exatamente do que se tratava. Misteriosamente, alguns carnês haviam sido extraviados ou guardados em algum lugar que, quando a gente atinge certa idade, é simplesmente apagado de nossa mente.

A minha filha prontificou-se a ir até a Prefeitura para ver o que estava havendo. Ela também havia recebido a mesma notificação. Não sendo afeita a ficar pendurando contas no prego do esquecimento, foi atrás.

“Pai, sabe aquela história do IPTU? Por alguma razão, faltava o pagamento de uma única prestação do carnê do ano passado, no valor de 35 reais!”

Ela pagou a dívida e ficou mais tranquila, embora revoltada, porque todos os anos a Prefeitura alardeia “abatimento da dívida ativa” para devedores contumazes. Eles já sabem de antemão que não pagar impostos gera benefícios posteriores. Para receber parte, o Estado “esquece” o grosso da dívida, passando uma borracha. A gente que paga os impostos rigorosamente em dia e não deixa nada pendente, sente-se otário diante de relapsos que deixam tudo atrasar para pagar menos mais tarde.

Foi nisso que veio à minha mente uma celebrada afirmação do Reformador Martim Lutero. “Esto peccator et pecca fortiter” (seja um pecador e peque forte), aconselhou ele numa de suas muitas pregações dominicais. O objetivo era valorizar a graça de Deus.

Muitos cristãos ficam com uma listinha na mão do que deve e não deve ser feito, pode ou não pode ser experimentado, dito, visto, ouvido e pensado. A sua vida vira um verdadeiro inferno de pequenas leis e regras áureas. O objetivo é a clara tentativa de manchar o menos possível a alva túnica com que pretendem apresentar-se diante do Senhor no juízo final.

Alguns até se aplicam em sublinhar algumas coisas nessa lista que devem ser destacadas como mais importantes do que outras. Outros se esmeram ao extremo para montar uma lista para ser cumprida pelos outros e tornam-se intransigentes. Gostariam de ter um lugar à direita do Senhor para alertar contra eventuais benevolências exageradas com este ou aquele devedor, que em sua visão merecia maior rigor no juízo divino.

Lutero é cruel. Ele reduz essas listas de boas intenções a pó. “Tudo isso não serve para coisa alguma.” No final de anos de bom pagador de impostos, vem o Fisco ameaçar você de inclusão na dívida ativa por conta de uma prestação de 35 reais. Já aqueles que deixam tudo atrasado recebem regalos do Fisco, para que paguem ao menos uma parte do que devem.

Não que a graça de Deus seja comparável à generosidade fiscal da Prefeitura da minha cidade. Muito menos que agora você ou eu devêssemos parar de pagar as nossas contas só porque a perspectiva futura é de que nos perdoem boa parte delas no futuro.

A graça de Deus independe da nossa listinha de pessoas comportadas e cumpridoras dos seus deveres. “Peque forte!” Somente assim você saberá dar valor à graça, que nos recolhe bem do meio do lodo em que nos metemos todo santo dia, nos dá um banho e passa o melhor perfume para receber-nos em salões da mais alta nobreza.

Nesse contexto, sempre é bom lembrar que não existem “pecadinhos e pecadões”. No imaginário popular, o pecado é quase como algo que a gente vai acumulando ao longo da vida, como dívidas do IPTU, por exemplo. Um dia, sem mais nem menos, a gente acha que vai parar na “dívida ativa” de Deus, uma lista de gente que, com certeza, vai amargar o inferno por conta das coisas que fez (ou deixou de fazer!).

O pecado não é uma desobediência aqui e outra ali, numa lista pré-determinada. O pecado é uma condição. Segundo essa visão, não somos a soma da nossa lista de pecados diante de Deus, mas simplesmente pecadores. E isso nos lança na condição de afastados de Deus. Nesse sentido, todo o esforço para “pagar as nossas dívidas mantendo os carnês em dia” não ajuda em coisa alguma.

Em outras palavras, com os carnês em dia ou não, todos nós já estamos na lista da dívida ativa de Deus. Não há como escapar. Por mais que nos esforcemos, sempre haverá um carnê que sumiu ou uma prestação que não foi quitada. Os nossos 35 reais estarão esperando por nós e nos lançarão inevitavelmente na lista negra dos devedores.

Por isso, diante de Deus e de sua graça, o comportamento daqueles que jogam os carnês fora e ficam esperando a generosidade da “prefeitura” divina é o correto. As contas já estão pagas e eventuais dívidas serão perdoadas. Cristo nos liberta da condição de devedores – de pecadores – e nos reaproxima de Deus. A distância que nos separava desaparece. Assim, diante de Deus, nada de listinhas ou de carnês quitados...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pregação de morte às minorias

Emerson Eduardo Rodrigues (32) de Curitiba e Marcelo Valle Silveira Mello (29) de Brasília foram presos hoje (22 de março) em Curitiba por publicações de apologia à violência contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus em um site. O site com conteúdo criminoso também incitava o abuso sexual de menores.

O Ministério Público Federal (MPF) e a ONG SaferNet receberam 70 mil denúncias contra o conteúdo do site. A página ainda está no ar nesta quinta-feira. Ela está hospedada em um provedor na Malásia e a PF requisitou ao governo daquele país que o desative.

Os suspeitos apoiaram o massacre em uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, em 7 de abril de 2011, no qual 12 estudantes foram assassinados. Também no site, Rodrigues postou fotos de mulheres ensanguentadas, dizendo que elas mereciam morrer por manterem relações com homens negros. Usando o apelido “Búfalo Viril”, o suspeito publicou uma mensagem de apoio ao homem de 22 anos que quebrou o braço de uma moça de 19 anos em Natal, após ela ter se recusado a beijá-lo. O site também fez ameaças de morte ao deputado federal Jean Wyllys por atuar em defesa dos direitos dos homossexuais. A Polícia Federal investiga se as imagens postadas no site são reproduções ou se estão relacionadas a crimes cometidos pelos suspeitos.

Na decisão judicial que decretou a prisão preventiva dos criminosos, consta que “a manutenção dos investigados em liberdade é atentatória à ordem pública. A conduta atribuída aos investigados é grave, na medida em que estimula o ódio a minorias e a violência a grupos minoritários, através de meios de comunicação facilmente acessíveis a toda a comunidade. Ressalto que o conteúdo das ideias difundidas no site é extremamente violento. Não se trata de manifestação de desapreço ou de desprezo a determinadas categorias de pessoas (o que já não seria aceitável), mas de pregar a tortura e o extermínio de tais grupos, de forma cruel, o que se afigura absolutamente inaceitável”.

Eu já disse aqui que eles estão bem perto de nós, circulando em nosso meio, fazendo parte do nosso círculo de conhecidos. Eis mais uma demonstração evidente disso.

Propaganda sacana



Um vídeo viral produzido pela Comissão Europeia foi tirado do ar por ter sido considerado racista. A peça mostra uma mulher representando a União Europeia (UE), vestida de Beatrix Kiddo, a protagonista do filme “Kill Bill”, sendo ameaçada por um negro capoeirista, por um lutador de kung fu e por um mestre de artes maciais (kalaripayattu). Estes últimos personagens representariam o Brasil, a China e a Índia, países emergentes que representam sério risco para a Zona do Euro por conta de sua economia crescente. A mulher protagonista se multiplica por 12, fazendo referência à bandeira da União Europeia, e derrota os homens que a ameaçaram. Os “inimigos” não chegam a lutar e abaixam suas armas.

Outros episódios recentes evidenciam a mesma tendência na União Européia, onde se teme o crescimento econômico desses países em detrimento da qualidade de vida no continente. Num deles, a chanceler alemã Angela Merkel insinuou que o Brasil e outros emergentes tinham a obrigação de ajudar a Zona do Euro a sair da crise porque as dificuldades no continente representariam a redução do mercado para os emergentes e acabaria prejudicando seus negócios na Europa.

Nenhuma palavra sobre a redução da pobreza no Brasil e na Índia, ou sobre o fato de a China ter um sexto da humanidade para alimentar. O que importa, para os europeus, é não perder os privilégios (gigantescos!) de que desfrutam.

Também não se diz nenhuma palavra sobre os séculos de exploração desses países que finalmente conseguem sair da lama. Brasil (e toda a América Latina), Índia e China (e toda a Ásia) contribuíram com seu próprio sangue para construir a riqueza e os privilégios (gigantescos!) de que a Europa usufrui até os dias de hoje.

Dia Mundial da Água


Hoje é o Dia Mundial da Água. A data é marcada há duas décadas. Vinte anos de denúncias e advertências que mudaram muito pouco no Planeta Água. O mar continua sendo o esgoto do mundo. Os rios não passam de "canos de esgoto" em muitas cidades absolutamente erguidas sobre a desordem.

Cada gota de suór que cai do meu rosto, cada copo de água que mata a minha cede, cada regador de água que rega o meu jardim, cada banho, momento de higiene ou de lazer numa praia me recordam o quanto sou dependente desse líquido. Se fosse ouro, estaria determinando a nossa vida e ditando regras de valores em bolsas de Nova York. Mas é o líquido mais vilipendiado, abusado e detonado do universo.

Na atualidade, pelo menos 12 países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio vivem em “absoluta escassez” de água, mostra o Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento da Água, preparado pela ONU e apresentado no Fórum Mundial de Águas, reunido há dias em Marselha, na França.

O quadro vai piorar. Sem novas políticas de manejo da água, mais de 40% da população mundial viverá em áreas de alto estresse hídrico até 2050, alerta a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Água é motivo de conflitos armados e de ferrenhas disputas. Relatório do Senado estadunidense, de fevereiro do ano passado, alertava para o risco de uma “guerra da água” entre o Paquistão e o Afeganistão. A média de recursos de água disponível por habitante tem caído nos dois países, para 1,7 mil metros cúbicos na Índia e 1 mil metros cúbicos no Paquistão.

A agricultura é o grande consumidor da água do planeta. Ela representa em torno de 70% do consumo. Projeções indicam que esse setor necessitará de 19% a mais de água até 2050 para atender a demanda crescente da produção de alimentos voltada a uma população mundial em expansão e que se aproxima dos 9,3 bilhões de habitantes. A produção de alimentos deverá crescer 60% até 2050, calcula a Agência para Agricultura e Alimentação (FAO).

Omã, Síria e Iêmen importam boa parte de grãos para preservar a água e destiná-la ao consumo humano. Estimativas apontam que, hoje, 800 milhões de pessoas não têm acesso à água no planeta. A Ásia, que concentra 60% da população mundial, dispõe de apenas um terço da água potável da Terra.

O Brasil concentra 12% da água doce do mundo. Mas 70% desse volume correm na Bacia Amazônica e menos da metade da população brasileira tem acesso à água tratada.

Com informações da ALC (Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação)

Vitória contra a impunidade


O Tribunal Penal Internacional-TPI, em Den Haag, concluiu o seu primeiro processo, ao condenar o ex-chefe dos rebeldes do Congo, Thomas Lubanga (51 anos), por crimes de guerra. Entre 2002 e 2003, Lubanga recrutou crianças abaixo de 15 anos para combaterem no conflito do Congo Oriental. Ele está preso desde 2006, aguardando julgamento por seus crimes contra a humanidade e foi entregue ao TPI pelo próprio governo do Congo. O processo do TPI iniciou em 2009.

A condenação cria jurisprudência internacional em casos de crimes cometidos por abuso de poder, que podem ser punidos com prisão perpétua. Lubanga foi condenado nos três crimes que enquadram o recrutamento de crianças para a guerra. Como presidente e comandante em chefe das forças armadas ele estava pessoalmente envolvido e era responsável direto. Lubanga também usou crianças em sua segurança pessoal, como guarda-costas.

Lubanga não moveu um músculo do rosto ao ouvir o veredicto, que recebeu vestido em um impecável traje branco. Ele jurou inocência e a defesa ainda pode recorrer. O ditador foi o fundador da União dos Patriotas Congoleses-UPC e comandante da sua milícia armada.

As crianças com menos de 15 anos eram recrutadas e até mesmo obrigadas a engajar-se nas fileiras das milícias. Muitas delas foram testemunhas no processo do TPI contra o ex-comandante congolês. Muitos foram forçados à guerra por meio de drogas, seqüestradas de suas casas, das escolas ou mesmo de campos de futebol de várzea e levados para instalações militares. Meninas recrutadas também foram submetidas a abusos sexuais e estupros por comandantes e soldados, segundo os juízes. Ao todo, o conflito sob o comando de Lubanga utilizou cerca de 30.000 desses soldados infantes.

Militantes dos direitos humanos celebraram o veredicto e consideraram a condenação de Lubanga um claro sinal contra o uso de crianças em conflitos armados. Trata-se de uma virada na luta contra a impunidade de crimes contra a humanidade, além de ser uma vitória da justiça e da dignidade humana.

Para Angelina Jolie, militante na causa que denuncia o uso de crianças para a guerra, disse que este era um dia especial para essas crianças.

terça-feira, 20 de março de 2012

Morre o pastor Alcides Jucksch


O pastor e evangelista mais conhecido da IECLB, Alcides Jucksch, morreu ontem à tarde. Faltavam quatro meses para que ele completasse 100 anos de vida. Nascido no dia 22 de agosto de 1912, em Curitiba (PR), Jucksch estudou num seminário para evangelistas na Alemanha e foi ordenado pastor no ano de 1947. Desde então ele dedicou a sua vida ao anúncio do evangelho, chamando à conversão.

Autor de vários livros e pregador admirado, o pastor Jucksch era um evangelista conhecido para muito além das fronteiras da IECLB. Suas pregações repletas de exemplos vivos estão disponíveis na internet em áudio e vídeo.

Suas jornadas evangelísticas chegaram a todos os recantos da IECLB, passando pelo Vale do Itajaí, onde fez sua primeira evangelização em Timbó (SC), e pela Amazônia. Ele andou pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Incansável, o evangelista ainda mantinha nove grupos de estudos bíblicos em Porto Alegre, no Vale dos Sinos e na Serra Gaúcha até um ano atrás. Ele está sendo velado em Gramado, onde será sepultado no final da tarde de hoje.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pistômetros


Não deixa de ser curioso e eloquente ao mesmo tempo, observar o quanto os americanos usam o pistômetro na política. Em tempo: pistômetro é um instrumento imaginário que mede o índice de fé de alguém (vem do grego Pistys = fé).

Os republicanos são craques nisso. Tanto que o assunto do momento, na excitante campanha política norte-americana, não é a crise financeira, o desemprego agudo ou o decrescimento da economia americana. Eles preferem lançar dúvidas sobre a verdadeira fé do seu maior alvo, Barak Obama. O filho de um muçulmano não-praticante e de uma mãe agnóstica está na mira dos “crentes” da ultra-direita americana.

A fé sempre “brincou rolo” (tradução literal do alemão “Rolle spielen” = ter importância, espaço ou destaque) na política norte-americana, apesar de grande parte do eleitorado americano hoje se classificar como “não praticante” ou até ateu. O congresso americano é fortemente influenciado pela fé dos congressistas, que misturam sua crença em tudo o que fazem.

Numa disputa pela Casa Branca o pistômetro entra em ação. Sempre apontado para o adversário, como um radar a medir-lhe a “velocidade” da sua relação pessoal com Deus. Esse instrumento abre ou fecha as portas da governança ao postulante de mandatário número um do planeta.

Até aqui vai a minha classificação de “curioso” para este aspecto muito particular relacionado à política da (ainda) maior nação do planeta e indiscutível (ainda) líder do mundo ocidental.

A classificação de “eloquente” fica por conta do fato de que isso mostra o quanto, sem o querer e sem o admitir nem em seus piores pesadelos, os americanos se aproximam ideologicamente de seu maior inimigo, o mundo islâmico. A diferença é que o pistômetro muçulmano é classificado pelo pistômetro americano de “terrorismo, fundamentalismo ou barbárie”.

Tanto isso é assim que poucas vezes presenciei um malabarismo retórico tão descabido quanto aquele que os americanos (inclusive o seu presidente “pouco crente” Barak Obama) estão usando para justificar o massacre promovido pelo oficial americano no Afeganistão na semana passada.

Ele foi posto como uma pessoa com “problemas psicológicos”, como se a tropa toda não padecesse do mesmo mal (incontáveis casos desde os tempos do Vietnã dão trstemunho disso). Ele teve a sua privacidade invadida, justificando seu ataque como razão para os problemas que estaria vivendo no seu casamento, como se qualquer homem que tem problemas com a sua esposa pudesse se justificar caso saísse por aí dando tiros em velhos e crianças.

A verdade, que nem mesmo Obama quer admitir embora ele saiba disso, é que o exército americano inteirinho enfrenta uma diuturna lavagem cerebral que deixa muito claro qual é o seu “Feindbild” do momento. Dia e noite eles aprendem a ter ódio do seu inimigo. Dia e noite eles são treinados para matar todos aqueles que em sua retina distorcida aparecem com a cor que aprenderam a odiar mortalmente.

O maluco que saiu pela madrugada atirando em civis dormindo, invadindo seus domicílios impiedosamente, é só a ponta de um gigantesco iceberg de ódio e de fundamentalismo.

O pior de tudo é que ele é sistematicamente justificado pela fé que se baseia na Bíblia dos cristãos. O livro sagrado, que fala de paz, que tem um profeta que quer ver espadas transformadas em relhas de arado e lanças em podadeiras, é usado para antecipar o juízo final na forma de mariners atirando em “infiéis” muçulmanos idosos ou filhos de “inimigos de Deus” que poderiam, um dia, crescer e se transformar num novo Bin Laden.

E é aqui que o aspecto curioso da política norte-americana determinada por pistômetros se transforma em um perigoso combustível de uma guerra santa em pleno século 21. Se a humanidade não desengavetar o milenar discurso do profeta dos arados e podadeiras e o transformar numa bandeira válida a ser empunhada no século da razão e da ciência, vamos ter uma reedição das Cruzadas ainda antes da virada de 2050.

E esta não será uma cruzada de templários e homens abençoados pelo Papa para matar mouros em nome de Deus com espadas e lanças. Ela será a cruzada da tecnologia, movida a bombardeiros e armas ultra-modernas, mas ainda tendo o mesmo pistômetro medieval na cabeça de cada um que tem o dedo no gatilho.

À guisa de auto-avaliação, é preciso perceber que esta mesma ideologia do pistômetro está perigosamente se infiltrando na cabeça dos nossos políticos, dos nossos congressistas e dos nossos eleitores tupiniquins, que jamais perderão a incrível capacidade de imitar tudo o que vem do irmão mais poderoso do Norte do continente. Ainda veremos tempos de um inacreditável fundamentalismo religioso movendo tudo e todos neste país que, lenta porém gradualmente, deixa de ser uma nação tolerante e hospitaleira para mostrar-se cada vez mais com a cara do seu ídolo, em tudo.

Oremos pela sanidade mental da nossa nação, porque ela esta dramaticamente em perigo também.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Imagem arranhada


Segundo o filósofo francês Luc Ferry, “é preciso ser popular para se conquistar o poder, e às vezes seria necessário poder ser impopular para exercê-lo bem”.

Em nome de manter os índices de popularidade, se deixa de fazer coisas que deveriam ser feitas. O excessivo empenho do governo em manter a base aliada em torno do seu projeto de segurar índices confortáveis de popularidade está permitindo que as oportunidades de mudar realmente este país sejam desperdiçadas. Para determinadas tarefas, é necessário tirar as luvas de veludo das mãos e agarrar com força e coragem.

Mas não é só o governo que pensa e age dessa maneira. Todos nós queremos preservar a nossa imagem a qualquer custo e, muitas vezes, deixamos de fazer o que deveria ser feito só para não desagradar fulano ou beltrano.

Todos precisamos tirar as luvas de veludo de vez em quando. Mesmo que, ao fazê-lo, arranhemos as mãos...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Chocante é o soldado estar lá

O texto a seguir é uma análise pertinente sobre o que aconteceu no Afeganistão. Foi retirado do blog “Tijolaço”, de Brizola Neto.

O presidente Barack Obama disse que a morte de 15 afegãos – entre eles, nove crianças e três mulheres – assassinados por um soldado americano no Afeganistão, é um incidente “trágico e chocante”. Não é chocante, embora seja trágico. Porque ninguém mais pode se chocar depois do enésimo episódio de abuso violento de tropas americanas.

Não é um louco isolado, como pode surgir em Realengo, na Noruega ou lá no Oriente. São episódios que se repetem, com uma brutalidade em série, e em crescendo. Porque Afeganistão e Iraque não são guerras entre exércitos regulares, mas massacres.

É inútil o presidente Barack Obama dizer que esta chacina “não representa a qualidade excepcional de nossa força militar e o respeito que os Estados Unidos têm para com o povo do Afeganistão”. Se respeitassem os afegãos, já teriam saído de lá, ainda mais agora que a “desculpa” Bin Laden já não existe, faz tempo. Não teriam bombardeado o país durante anos, sem que nem mesmo houvesse uma força de resistência organizada, mas apenas pequenos grupos dispersos e mal-armados. Não teriam cometido humilhações e violações, das quais a incineração de exemplares do Corão, há poucos dias, foi o corolário de um processo de desprezo pela cultura, pelas tradições e pela fé dos afegãos. Não teriam, sobretudo, reservado a mais rápida e severa punição para o soldado Bradley Manning, cujo “crime hediondo” foi revelar algumas destas barbaridades.

Dizer que o soldado assassino sofreu “uma crise nervosa” é patético. Quem está em crise, profunda, são os valores universais da autodeterminação dos povos. A “loucura” é da guerra, os “cães de guerra” são apenas sua expressão mais crua.

terça-feira, 13 de março de 2012

Peter Maffay, roqueiro e embaixador da tolerância



“Du bist alles was ich habe auf der Welt. Du bist alles was ich will. Du! Du allein kannst mich verstehn. Du! Du darfst niemehr von mir gehn” (Tu és tudo que eu tenho neste mundo. Tu és tudo que eu quero. Tu! Somente tu me compreendes. Tu! Tu nunca mais deves me deixar). O maior sucesso da música alemã dos anos 1970. Palavras românticas, que marcaram a minha juventude, o início do namoro com a minha esposa e deixam lembranças lindas de um tempo que se foi, mas jamais irá apagar-se. O autor dessas palavras era um jovem roqueiro alemão, que cantava divinamente. Você pode ver isso no vídeo acima. O nome dele é Peter Maffay.

Depois dessa música eu ouvi poucas vezes alguma coisa dele ou sobre ele. Hoje fui positivamente surpreendido por uma notícia bonita, que me faz ter um baita orgulho do roqueiro que compôs e interpretou as mais ardentes e marcantes palavras da minha juventude.

O roqueiro alemão Peter Maffay na atualidade.

Peter Maffay, hoje com 63 anos de idade, será laureado com o Prêmio Tolerância, da Academia evangélica de Tutzing, na Alemanha. Segundo o diretor da Academia Udo Hahn, Maffay é um convincente embaixador da tolerância, que coloca sinais de esperança e realiza uma significativa contribuição para realizar justiça social.

A Fundação Peter Maffay dá apoio a projetos na Alemanha e no exterior que ajudam crianças traumatizadas pela violência, por abusos sexuais ou por causa de uma infância difícil. O cantor receberá, no dia 26 de junho, um dote de 7.500 euros da Academia.

O Prêmio Tolerância vem sendo entregue a cada dois anos desde o ano 2000. Entre os laureados estão o ex-presidente alemão Roman Herzog, o regente Daniel Barenboim, o escritor Henning Mankell, o chefe religioso Aga Khan, a Nobel da Paz Shirin Ebadi e o ministro Wolfgang Schäuble.

segunda-feira, 12 de março de 2012

O monstro está solto entre nós


Para quem imagina que a minha insistência em levantar assuntos relacionados à intolerância de qualquer espécie é preciosismo e exagero da minha parte, segue abaixo um link que mostra o quanto os pensamentos da extrema direita estão dentro da nossa sociedade.

Enquanto muita gente simplesmente considera exagero tudo isso, essas ideias estúpidas vão se agigantando, tomando forma cada vez mais monstruosa. Não tardará o dia em que consequências dramáticas se revelarão bem presentes também entre nós, o país que todos consideram pacífico, livre do ódio racial, da discriminação. Os mendigos queimados ou assassinados em Brasília enquanto dormiam são apenas exemplos que chegam ao conhecimento da grande imprensa. Muitos outros casos acontecem e não viram notícia.

O jornal Brasil de Fato é um exemplo de imprensa alternativa que tem divulgado sistematicamente violações de direitos humanos no Brasil. Mas as suas denúcias quase nunca chegam à grande imprensa. Os assuntos que levanta não interessam ao público que lê Veja, Estadão, Folha, IstoÉ etc.

O caso da escola infantil Guia Lopes, no bairro Limão, em São Paulo, já foi pichada várias vezes por extremistas neo-nazistas. O motivo é o debate sobre intolerância. Veja a matéria sobre o que ocorreu ali, nessa reportagem. A denúncia é gravíssima e mostra o tamanho do monstro entre nós. Se as autoridades permitirem que isso fique sem solução, veremos uma sociedade impotente diante de tudo isso, querendo resolver o que já deveria ter feito há muito.

domingo, 11 de março de 2012

O abismo do ódio que nos separa


O ódio mortal que separa o Ocidente e o Oriente por meio de um abismo cada vez mais intransponível toma proporções atemorizantes. Os muçulmanos querem ver os cristãos mortos, massacrados e exterminados. Os cristãos oram para que os muçulmanos sejam assados no inferno em fogo brando, sem direito a clemência ou compaixão. Cada vez mais gente condena os defensores dos direitos humanos por condenarem a violência inter-religiosa gratuita e por motivo torpe, uma atitude aliás cada vez mais instalada de ambos os lados e que vem construindo uma escalada inacreditável.

O atentado promovido por um suboficial do exército americano de ocupação no Afeganistão, nesta madrugada de domingo, é um lamentável exemplo dessa escalada. Sem motivo algum, apenas como válvula de escape para o gigantesco ódio contido dentro de si, alimentado por um intermitente discurso militar de transformar o outro em “Feindbild” inapelável, ele saiu pela noite matando gente. Segundo informações oficiais, dezesseis vítimas foram abatidas dentro de suas casas, no espaço mais íntimo de uma residência abastada ou humilde: o quarto de dormir.

O atentado foi motivado pela inacreditável escalada de ódio que reina no planeta, cuja principal lenha é justamente a belicosidade americana e o ódio gigantesco do islã contra os americanos. Segundo dados oficiais, 16 pessoas foram mortas pelo americano. Entre os mortos estão nove crianças e três mulheres. Todos os 16 eram civis e estavam dormindo. Além dos mortos ainda houve cinco feridos.

Os assassinatos foram cometidos de modo intencional, com requintes de crueldade, a sangue frio, como se estivesse matando um ninho de cobras venenosas. Segundo informações oficiais ainda, o soldado foi apresentado como alguém provavelmente acometido de distúrbios psicológicos. O mesmo ódio que acometeu o maluco de Oslo a matar estudantes dando como justificativa que estava fazendo uma limpeza para livrar a Noruega de gente daquela laia que fica defendendo estrangeiros e gente que merece morrer. Os mesmos distúrbios psicológicos de quem se julga no direito de condenar à morte seus desafetos, mesmo que seja em nome de um sentimento que qualifica de fé.

De nada resolvem os pedidos de desculpas do governo americano, manifestações de pesar e de estupefação do comando da OTAN ou de quem quer que seja. A escalada do ódio e da intolerância contra os muçulmanos foi diligentemente construída ao longo da última década, desde os atentados de 11 de setembro de 2001. A guerra do Afeganistão foi promovida e executada até os últimos recursos. A belicosidade agora se volta contra o Irã. A reação do suboficial foi esmeradamente construída por essa ideologia anti-islâmica. Ele só fez o que semearam nele.

Infelizmente, lamentavelmente e tristemente esse tipo de pensamento se oculta nas mentes de muitos também entre nós. Aparentemente inofensivos cristãos de nossas comunidades e igrejas ficam corados de ódio e revelam têmporas entumecidas quando falam da religião islâmica e a classificam solenemente como a religião do diabo. Seus corações estão tão dramaticamente doentes psicologicamente quanto a desse suboficial. Se tivessem oportunidade, só Deus sabe do que seriam capazes para mostrar que gente que não pensa e não age como eles merece ser extirpada da Terra.
Se nada for feito pela paz, a escalada do ódio tomará proporções ultrajantes também entre nós. Se deixarmos quieto nas nossas escolas, nos nossos meios de comunicação, nas nossas igrejas e templos, nas nossas rodas de amigos e de conversas formais ou informais, se não fizermos um gigantesco mutirão da tolerância, da aceitação do outro, do respeito pelas diferenças, vamos erguendo lentamente os muros de um beco sem saída.

Esse atentado é inaceitável. O que anda aparecendo na internet, em termos de blogs, sites, vídeos e manifestações repletas de ódio nas redes sociais é intolerável. Temos que colocar um freio em toda essa escalada de intolerância. Temos que encontrar mecanismos que revertam essa realidade e convertam os corações monstruosos para que se tornem tolerantes e pacíficos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

deficiente e sem recursos?


O jornalista Rafael Bonfim, de Curitiba, tem um blog sobre inclusão que é uma aula sobre acessibilidade e denuncia o preconceito contra pessoas com necessidades especiais. O “Inclusilhado” está abrigado na Gazeta do Povo.

Num de seus posts, ele conta de uma aluna do último ano do curso de Administração que teve a ideia de desenvolver o projeto de um bar completamente preparado para receber pessoas com deficiência e que use desse preparo como diferencial para atrair a clientela. O projeto dela não foi aceito porque os seus professores acharam que não haveria mercado para um negócio desse tipo, porque pessoas com deficiência não saem à noite, não se divertem e não têm dinheiro para isso.

O bar imaginado pela estudante teria “rampas de acesso, cardápios em braile, um profissional com domínio de Libras, banheiros adaptados e as mesas seriam dispostas visando a boa circulação de cadeira de rodas. Era nesse conjunto de medidas que a aluna estava apostando para apresentar um negócio inovador, requisito pontuado pela orientação.”

Os professores do curso da universidade de Curitiba, pelo visto, desconhecem a realidade das pessoas com deficiência no Brasil. Segundo o IBGE, o Brasil tem hoje 45 milhões de pessoas com deficiência. Em 2000 esse grupo chegava 24,5 milhões. Só de invalidez permanente causada por acidentes de trânsito, o número de vítimas por ano passou de 31 mil em 2005 para 152 mil em 2010, a maioria (70%) em acidentes de moto sofridos entre os 18 e os 44 anos de idade. Nesse contexto, tem muita gente que tem dinheiro e vontade de ter um espaço como um bar assim.

Conheça e espetacular blog de Rafael Bonfim, que também é cadeirante desde pequeno e sabe do que está falando.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Insistindo no vagalume

Obras da usina de Angra 3

Nem sempre o Brasil está na moda somente por causa do boom econômico que está vivendo. Todo mundo quer lucrar com o desenvolvimento brasileiro e tirar um naco da terceira moeda mais valorizada do planeta atualmente, nada menos que o Real.

Desta vez, entretanto, o Brasil virou motivo de protestos na Alemanha. Há muitas críticas ao governo alemão, que recebe a visita da presidenta Dilma, porque insiste em manter uma garantia de 1,3 bilhão de euros para a construção da usina nuclear de Angra 3. Segundo o Greenpeace, o projeto de construção da usina tem tantas falhas que coloca a sua segurança em sério risco.

O Brasil também não está cumprindo o acordo realizado com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de deixar nas mãos de um órgão independente a fiscalização sobre as atividades nucleares. Atualmente essa fiscalização é feita pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), mesmo órgão que administra, constrói e mantém as usinas brasileiras. Ou seja, o próprio dono fiscaliza o seu negócio.

Uma das maiores críticas a Angra 3 entretanto é que o projeto é ultrapassado. Tecnologias e práticas modernas usadas em usinas nucleares hoje em dia passam longe de Angra. Planejado na década de 70, o projeto das instalações da usina é basicamente o mesmo desde os anos 80. A contenção, uma construção que protege os reatores nucleares da usina, tem apenas 60 centímetros de espessura, muito fina para resistir à queda de avião comercial, por exemplo. Reatores modernos utilizam duas paredes de contenção de 1,30 metro.

Outra crítica é sobre o local escolhido para a construção da terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, o mesmo em que já existem as usinas Angra 1 e 2. O município de Angra dos Reis, conhecido pela bela costa, oferece grandes riscos de deslizamentos de terra, como tem ocorrido nos últimos anos, podendo danificar as instalações das usinas e mesmo dificultar uma rota de evacuação da população, em caso de acidente.

Para o Greenpeace, o reator brasileiro descumpre totalmente os critérios básicos de segurança estabelecidos desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e a catástrofe de Fukushima no ano passado.

Há anos, as organizações ambientais vêm aumentando a pressão para que Berlim não conceda a garantia de 1,3 bilhão de euros – uma espécie de fiança para proteger as empresas envolvidas do negócio, em caso de fracasso. Angra 3 será construída pelo conglomerado francês Areva, do qual participa também a empresa alemã Siemens.

Apesar das declarações anteriores de que o futuro reator brasileiro seguiria as técnicas usadas na Europa ocidental e de que a produção das peças asseguraria empregos na Alemanha, o governo alemão dá sinais de que pode recuar na garantia. Nesta segunda-feira, durante a feira de informática CeBit, em Hannover, Merkel ressaltou que uma decisão final ainda não foi tomada sobre o assunto. Questionada pela imprensa, porém, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, recebida no evento pela premiê alemã, reiterou que o projeto Angra 3 está mantido. (Com informações de DW-World)

Faltam mulheres na política


Algumas informações importantes para este Dia Internacional da Mulher. Menos de um quinto dos parlamentares do mundo é constituído de mulheres, segundo dados divulgados pela União Interparlamentar e pela ONU Mulheres, em Genebra (Suíça), no dia 2 de março. O número de deputadas cresceu de 19 para 19,5 por cento no ano passado, revela a pesquisa.

Nos países árabes a participação das mulheres nos parlamentos chega a meros 10,9 por cento. Embora as mulheres estivessem nas primeiras filas dos protestos na recente primavera árabe, a eleição delas para a vida política ainda é um passo a ser conquistado no Oriente Médio.

Ao contrário do que se deveria esperar, o número de deputadas eleitas nas últimas eleições na Tunísia e Egito caiu drasticamente. Em Cairo especialmente sobraram somente dez mulheres no parlamento. Nos tempos do ditador Mubarak elas eram 64, num universo de 508 parlamentares. As mudanças na legislação eleitoral permitiram essa redução.

Apesar de o Brasil ter mulheres em pontos-chave da administração federal, a começar pela presidenta da República, Dilma Rousseff, e das dez ministras que fazem parte de seu governo, a atual bancada feminina na Câmara Federal representa apenas 8,77% do total da Casa, com 45 deputadas. No Senado, há 12 senadoras, dentre os 81 lugares.

De acordo com a representante do Brasil nos organismos internacionais em Genebra, embaixadora Maria Nazaré Farani, que acompanhou a apresentação do relatório, é preciso reconhecer que, nesse tema, o Brasil não conseguiu avançar muito. “Temos uma mulher como presidenta da República, temos duas mulheres ocupando as vice-presidências do Senado e da Câmara, mas o número de deputadas e senadoras é muito baixo, apesar de as mulheres serem maioria da população”, disse ela.

Segundo o relatório, ainda, o número de mulheres no comando de nações, como primeiras ministras e presidentas, no mundo inteiro cresceu levemente entre 2005 e 2011, passaqndo de 14,2 para 16,7 por cento.

Ainda segundo a pesquisa, os países que estabeleceram cota mínima de representantes mulheres na política nacional têm um índice de 27,4 por cento de mulheres nos seus parlamentos, comparado a somente 15,7 por cento nos países sem cota. A entidade parlamentar internacional reúne mais de 150 parlamentos de todo o mundo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Bombas ou Mc'Donalds


Mais uma demostração imperdível de que os chargistas têm o poder de resumir o mundo em alguns traços, algumas poucas ideias. fantástica essa charge, não é mesmo?

Salvem Youcef Nadarkhani


Ativistas dos direitos humanos e políticos de todo o mundo se empenham para salvar a vida do pastor iraniano Youcef Nadarkhani, condenado à morte por renegar a fé islâmica e converter-se ao cristianismo. No mundo inteiro reivindica-se a libertação do pastor de 34 anos, que se converteu ao cristianismo aos 19 anos de idade, tornou-se pastor de uma igreja protestante livre, e agora tem negados os seus direitos de liberdade religiosa no país de maioria muçulmana.

A Sociedade Internacional pelos Direitos Humanos convocou uma vigília mundial em defesa de Nadarkhani. Segundo a entidade, não é possível medir o grau de influência dos protestos internacionais sobre o governo iraniano, mas não se concebe a hipótese de reduzir os esforços na busca por sua libertação.

A justiça revolucionária iraniana condenou Nadarkhani à morte por enforcamento em setembro de 2010, por renegar o Islamismo e propagar doutrinas não-islâmicas. O veredicto foi mantido em última instância em julho de 2011 e poderá ser executado a qualquer momento.

A decisão da justiça iraniana representa uma drástica volta aos métodos da Idade Média,caso seja consumada a decisão de executar alguém por causa de sua opção religiosa, disse um porta-voz da entidade de direitos humanos. O Irã ratificou o pacto internacional sobre direitos civis e políticos, que também contempla a liberdade religiosa como um dos direitos fundamentais da pessoa humana.

As igrejas no mundo inteiro também organizam vigílias e se empenham pela ampla libertação do pastor iraniano. No último final de semana o Facebook foi tomado pela falsa notícia de que Nadarkhani já teria sido executado, o que foi negado pelas autoridades iranianas.

Nadarkhani é desde 2001 pastor numa rede de igrejas domiciliares, à qual pertence também a “Church of Iran” (Igreja do Irã), uma das maiores igrejas domiciliares cristãs no país muçulmano. Até ser preso, ele era ministro de uma comunidade integrada por 400 pessoas cristãs.

terça-feira, 6 de março de 2012

Salário digno aos professores


Um dos mais recorrentes e pertinentes discursos de políticos e cidadãos conscientes no Brasil fala do lamentável nível da nossa educação formal. O discurso está coberto de razão, mas pouquíssima gente quer uma solução real.

Culpa-se o governo por investir pouco em educação. O problema, entretanto, é que o governo investe de forma errada.

Como o salário dos professores está abaixo de qualquer crítica, obviamente só se torna professor quem não tem outra opção, nivelando a qualidade de ensino perigosamente por baixo. Afinal, tem cada vez mais gente com diploma de pedagogia preferindo trabalhar de diarista, porque com o salário que pagam para enfrentar uma sala de aula não dá para sobreviver.

Segundo o DIEESE, o salário mínimo necessário para uma família sobreviver deveria ser de R$ 2.212,66, segundo cálculos do ano passado.

A partir deste mês, nenhum professor da rede oficial de ensino poderá receber menos que R$ 1.451. O novo piso estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC) representa um aumento de 22,22%, se comparado ao valor pago em 2011. O reajuste é calculado com base no crescimento dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

Um projeto em discussão na Câmara dos Deputados pretende vincular futuros reajustes às variações da inflação. A obrigação de cumprir o piso foi questionada na Justiça por diversos governadores, mas no final do último ano o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional os valores estabelecidos pelo MEC.

A lei que estabelece o piso nacional do magistério foi aprovada em 2003. Ela determina que nenhum professor pode receber menos do que o valor determinado por uma jornada de 40 horas semanais. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), até hoje nenhum estado ou município a cumpre integralmente.

Um dispositivo prevê que a União complemente o pagamento nos casos em que os governos municipais e estaduais não possuírem recursos necessários. Desde 2008, nenhum valor adicional foi repassado. Segundo o MEC, isso não ocorreu porque nenhum prefeito ou governador conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim.

Perguntinha: Como queremos transformar o Brasil numa potência sem educação? Com professores tão mal pagos, nossas escolas continuarão despejando todos os anos milhares de zumbis intelectuais no mercado. Longe de ser um salário digno, recompensar quem se dedica a mudar esse quadro é um bom começo para que o futuro do Brasil saia do papel.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Tributo a Milton Schwantes

O autor do Tributo, Dr. Martin Dreher, ao lado de Milton Schwantes (sentado)

No momento em que nos despedimos de Milton Schwantes, vai uma homenagem. A América Latina (e não somente a IECLB) perdeu um de seus maiores estudiosos da Bíblia. O seu legado ecoará ainda por muito tempo. Ele não defendeu os fracos somente na teoria. Sua vida sempre foi um espelho de suas teses revolucionárias.

Por isso, hoje você precisa tomar um tempo e ler o magnífico relato historiográfico sobre Milton Schwantes, a sua época, o seu pensamento e o seu legado, construído por outro ícone da sua geração, o professor Dr. Martin Norberto Dreher. É um espetacular estudo sobre um tempo profíquo e rico da nossa teologia. Enquanto Milton nos deixa, a sua impressionante obra espalha a sua luminosidade sobre nós, os que permanecemos.

Leia o brilhante texto de Martin Dreher aqui.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Adeus, Milton


Após dois meses de hospitalização, morreu na madrugada desta quinta-feira, 1º de março, o biblista e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Dr. Milton Schwantes. Durante mais de uma década, Schwantes foi professor de Teologia da UMESP-Universidade Metodista de Sao Paulo. O sepultamento acontecerá no Cemitério da Paz, na região de Santo Amaro, distrito da zona sul da cidade de São Paulo, nesta tarde (17 horas).

Professor de Antigo Testamento na Faculdades EST entre o final dos anos 70 e início dos anos 80, o testemunho ecumênico de Schwantes extravasou os limites de atuação da IECLB, influenciando uma geração de biblistas brasileiros e latino-americanos.

“Voltado à leitura popular da Bíblia, Milton Schwantes foi um teólogo de vanguarda e um dos biblistas mais reconhecidos em todo o país, ao lado de Carlos Mesters e de todo o grupo do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)”, afirmou o professor da EST, Dr. Roberto Zwetsch.

Ex-aluno de Schwantes na Faculdades EST e na Universidade Metodista de São Paulo, o Prof. Dr. Flávio Schmitt disse que a IECLB perdeu o testemunho de um cristão comprometido com a causa do Evangelho, incansável na defesa dos valores proferidos pelos profetas do Antigo Testamento.

“Como professor e como grande amigo, Milton Schwantes foi uma pessoa que transcendeu qualquer fronteira étnica, racial ou geográfica, conseguindo se comunicar com o mundo através do ensino da Palavra de Deus”, sublinhou Flávio.

Formado em Teologia pela Faculdades EST na década de 70, Schwantes cursou doutorado em Bíblia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Apesar dos vários títulos de Doutor Honoris Causa acumulados ao longo da carreira, enquanto teve forças continuou assessorando grupos e comunidades.

Milton viveu os últimos anos de sua vida com graves problemas de saúde, oferecendo um testemunho de resistência e alegria. Desde agosto de 2002, após a realização de uma delicada cirurgia para a retirada de um tumor na hipófise, conviveu também com graves limitações físicas.

Casado com Rose, Milton era pai de três filhas.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Faculdades EST

Rubens Paiva e o motim da caserna



Será realizada hoje, 1 de março, às 19h, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a abertura solene da Comissão Estadual da Verdade, que, em homenagem ao ex-deputado Rubens Paiva, terá o seu nome. Rubens Paiva era um parlamentar democrata da resistência de São Paulo, que foi assassinado pela ditadura e até hoje seus familiares não conseguiram enterrá-lo, pois deram sumiço no seu corpo. É um ícone da luta pela democracia no Brasil. Os depoimentos nesse vídeo sobre Rubens Paiva são mais um motivo para que essa e outras histórias sejam colocadas em pratos limpos.

A instalação oficial foi nessa terça-feira, 28 de fevereiro. O deputado estadual Adriano Diogo (PT) foi escolhido como presidente. São também seus membros efetivos os deputados estaduais Marco Zerbini (PSDB), André Soares (DEM), Ed Thomas (PSB), Ulysses Tassinari (PV). Os substitutos são João Paulo Rillo (PT), Mauro Bragato (PSDB), Estevam Galvão (DEM), Orlando Bolçone (PSB), Regina Gonçalves (PV).

“A Comissão Estadual da Verdade deve colaborar com a Comissão Nacional da Verdade na apuração de violações graves dos Direitos Humanos, durante a ditadura militar, que vigorou de 1964 a 1982”, esclarece o deputado Adriano Diogo. “Ela vai se ater aos crimes políticos ocorridos no Estado de São Paulo ou praticadas por agentes públicos estaduais.”

Enquanto isso, está ocorrendo um verdadeiro motim gigante nas Forças Armadas, que não conseguem conviver com o fato de ter uma mulher como Comandante em Chefe e um político de esquerda, como Amorim, no papel de Ministro da Defesa.

A presidenta Dilma precisa agir com firmeza, com atitude disciplinar e até exoneração dos militares das três forças, que se rebelam nos clubes militares contra o comando supremo das Forças Armadas. O grupo é composto por uma centena de militares graduados, entre eles alguns generais da reserva. O principal motivo do “motim” é a Comissão da Verdade e as declarações de integrantes do Governo Federal sobre a necessidade de fazer justiça em relação aos crimes cometidos durante a Ditadura.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...