quinta-feira, 29 de junho de 2017

Os que foram na frente

No dia 29 de junho lembramos o martírio de Pedro e de Paulo. Os dois seguiram caminhos diferentes por toda a vida. Um foi pescador e saiu pescado. O outro, um intelectual, cidadão romano, que entrou no movimento pela porta dos inimigos e se tornou seu comandante.

Pedro era um cara simples, que não se envergonhava de suas lacunas. Era sarcástico e afeito a frases curtas. Foi o discípulo amado, que jurou fidelidade eterna. Mas, traiu o Mestre e foi capaz de chorar por isso. Um de nós, com todas aquelas falhas de caráter que tanto detestamos, porque nos tornam fracos. Ainda assim, foi elevado ao posto de pedra angular da Igreja. O pescador Simão virou Pedro, para ser apóstolo. Jesus lhe deu o novo nome, para ser a “rocha” sobre a qual ergueria seu Reino.
Tornou-se o apóstolo da esperança cristã, porque assume suas fraquezas. Seu título apostólico é “Pastoreia as minhas ovelhas”. Que se calem os “pastores” midiáticos dos nossos dias, diante do sucesso de Pedro. Seu primeiro discurso juntou três mil batizados ao grupelho dos doze! Poucos dias depois, outros cinco mil entraram na de Jesus. É mole ou quer mais? Seu sucesso incomodava Roma, e ele já era o chefe daquela igreja que crescia como fermento na massa.

Portanto, esquece aquela história boba de chefe do tempo, que fica mexendo na torneirinha e soprando nuvens pelos céus. As chaves que Pedro recebeu são de outra verve. Abrem muito mais portas do que imagina nossa tola religiosidade viciada pelas divindades que dominavam as cabeças do cidadão comum do antigo império dos césares. Foi por causa do poder dessas chaves que Nero resolveu trancafiá-lo atrás das grades.

Saulo era diferente. Um jovem rico e fanático, de direita, que vestia a camisa do império com orgulho, entrou de cabeça na caça aos extremistas seguidores daquele crucificado que se dizia rei. Exterminar aquele bando de pés rapados de esquerda era a missão que assumiu como sua. Convicto, ajudou a apedrejar Estevão. Perseguiu essa gente até Damasco, na Síria. O cidadão romano ligado às milícias do império era aluno dedicado dos escribas e fariseus. Sonhava em ser rabino.

Que me perdoem os que se dizem “convertidos”, mas se tem alguém que pode falar de uma verdadeira conversão, é Saulo! Na senda da perseguição para Damasco, Saulo caiu do cavalo. Em vez dos miseráveis pés rapados que perseguia, deu de cara com o próprio chefe do bando, que o cegou com uma luz tão branca como o laser. “Saulo, por que você me persegue?”. Um encontro de tirar o fôlego e a visão! Uma luz tão clara que ilumina um caminho completamente novo. Aos 30 anos, o jovem “coxinha" transforma-se em “mortadela”. É tão radical que Saulo vira Paulo. Seguem-se outros 30 anos de fanática dedicação à causa que outrora perseguia. Ali, aos 30, nasce uma nova personalidade, tão arrebatadora e radical quanto a que morria naquela luz ofuscante.

Agora Paulo, ele não se intimidou com o ódio sincero que os judeus passaram a dedicar-lhe. Viajou pelo mundo espalhando a doutrina proscrita. Enfrentou aventuras dignas de Moby Dick para falar de Cristo. Enquanto Pedro segurava as pontas com os judeus convertidos, Paulo tornou-se o “apóstolo dos gentios”. De uma seita judaica dissidente, com Paulo, a incipiente igreja iniciada por Pedro teve que escancarar suas portas. Paulo, o fundador do ecumenismo, não titubeou nem diante da estátua ao “deus desconhecido”. Um gênio da homilética missionária, soube como ninguém converter momentos de puro embaraço em oportunidades de pregação. Intelectual de amplo conhecimento, as principais formulações da primeira teologia cristã saíram de sua espetacular verve de escritor. De pena fácil e agilidade mental genial, seu legado ainda faz ferver as mentes dos grandes teólogos dois mil anos depois.

Pedro, o simplório, e Paulo, o teólogo, fizeram a Igreja de Cristo prosperar. Não sem razão são chamados de príncipes dos apóstolos. Os caminhos tão diversos desses dois – na maioria das vezes mais divergentes do que diversos – uniram-se no final. Presos em Roma, foram executados no mesmo dia pelo imperador Nero. Diz a tradição da igreja ortodoxa que isso aconteceu no dia 29 de junho, em Roma.


Lenda ou verdade, o dia 29 de junho é um chamado à missão. E isso significa que não guardamos o tesouro da fé a sete chaves dentro do peito, mas o espalhamos com vigor e determinação. Como Pedro. Como Paulo. Como eles, todos e todas nós somos apóstolos e apóstolas; ou seja, enviados e enviadas. A palavra apóstolo, em seu sentido original, significa “alguém que vai na frente”, com uma mensagem. Assim, somos carteiros e carteiras do Evangelho.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

O Planeta e o Topetudo

O mês de junho começou com uma notícia triste para toda a humanidade. Vinha da Casa Branca a informação de que o presidente Homer Simpson decidia que os EUA não vão cumprir o tratado que assinaram junto com outros 195 países, de reduzir a emissão de gases de efeito estufa (CO2).
A saída dos EUA do Tratado de Paris não significa meramente um país a menos na lista. Representa, antes, que a maior economia do planeta, que detém sozinha a produção e o consumo equivalentes ao de pelo menos outros 150 signatários juntos, desembarca dos esforços de salvar a Criação de Deus. Isso não é pouco. Segundo a ONU, esse “calote ambiental” significa que as metas de Paris não poderão mais ser cumpridas.
E nada vai acontecer. Homer Simpson continuará desfilando seu topete exageradamente loiro pelo mundo, e todos estenderão tapetes vermelhos para ele e perfilarão suas tropas de elite para bater-lhe continência. Se um país do terceiro mundo dá um calote econômico, é sufocado por sanções internacionais até que faça um acordo que permita que continuem sugando seu sangue até a última gota. Quem vai peitar os EUA por causa desse calote ambiental? A China? A maior poluidora do planeta disse apenas que vai cumprir o que prometeu.
Enquanto Trump manda um sonoro “Fuck the World” e declara com arrogância que a economia americana não pode arcar com esse ônus, a humanidade arca com o pesado ônus da insaciável escalada de consumo de um país que nos manda para o inferno. Enquanto esta geração fica com o bônus, a Criação pode ficar com o ônus.
Ontem vi uma reportagem sobre a mina de ametistas na Bahia. Não me impressionaram as joias e a louca corrida para extraí-las, embora seja uma metáfora perfeita para o que fazemos com a Terra, nosso lar. O que me impressionou é o pó da estrada que leva ao local. Mais de meio metro de profundidade, como se fosse água.
Mad Max veio à minha mente. Da Bahia ao norte do Espírito Santo, a água foi embora. Sumiu. Uma extensa região que vai sendo anexada ao semiárido nordestino. Dá o que pensar sobre essa temática do aquecimento global, não?
E tem muita gente que prefere aplaudir Homer Simpson. Afinal, ele é o cara topetudo (no sentido literal e simbólico), que ousa enfrentar essa falácia do aquecimento global e do politicamente correto. Trump é o herói dos que acham que já deu esse papo dos ambientalistas. Tudo terror climático, não? Veremos.
Um abençoado Dia Mundial do Meio Ambiente a todos e todas vocês. Enquanto ficamos apreensivos com o volume das águas que descerão pela calha do nosso rio, pensemos nas advertências dos ambientalistas sobre o aquecimento global. Tudo a ver.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...