quinta-feira, 31 de julho de 2014



A história recente esconde coisas que a gente até duvida que existiam. Hoje, você vê corridas de Superbike, com os pilotos inclinando suas máquinas até encostar o joelho no chão e dando sempre a impressão de que, na próxima curva, realmente irão beijar o solo. E, de fato, não é raro que o beijem.

Pois havia um tempo em que as motos não passavam de bicicletas motorizadas. Mas já havia corridas. Só que as pistas eram ovais... e de tábuas de madeira. Isso mesmo, tábuas de madeira! Essas corridas eram chamadas de “Board Track Racing” ou “Motordrome” e eram muito populares nos EUA no início do século 20.

Segundo o blog “Pelas estradas”, a primeira pista coberta de madeira foi inaugurada em 1909 em Los Angeles e tinha o nome de Coliseu de Los Angeles e se inspirava nas famosas pistas de madeira para corridas de bicicleta, que eram usadas nas Olimpíadas à época.

Nessas pistas aconteciam “espetáculos onde homens pilotavam motos a velocidades de quebrar o pescoço”, diz o blog, que chegavam a 100 MPH (Miles Per Hour). Em 1910 essas pistas aumentaram de tamanho, de um terço de milha para uma milha, e a inclinação passou de 25 graus para 60 graus, tudo para aumentar a velocidade. Havia grandes arquibancadas ao redor das pistas para os espectadores.

É curioso que essas motos não tinham freios porque se julgava mais seguro. A única maneira de parar era acionando uma alavanca que funcionava como freio de motor. Essa falta de freios ocasionou diversos acidentes em que as motos iam para cima do público.

Isso era tão arriscado, tanto para os pilotos quanto para os espectadores, que uma pista em Nova Jersey, por exemplo, foi inaugurada em julho de 1912 e fecha em setembro, depois de um acidente em que morreram dois pilotos e cinco espectadores.


Essas corridas atraíam em torno de 15 mil espectadores, o eu atiçou a cobiça dos fabricantes de motos, que as usavam como instrumento de marketing. Na década de 1930 essas corridas foram perdendo público por conta do alto risco e ao alto custo das pistas de madeira. Existe apenas um filme dessas corridas, encontradas debaixo da cama de uma senhora em 1995, na República Tcheca. É este filme aí, no post.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Bolsa Família da Família Neves


A lambança vem desde 1983, com Tancredo governador. Acompanhe o passo-a-passo de um plano que pode livrar o titio Múcio de uma devolução de dinheiro público desviado para seu terreno particular, pelo cunhado e então governador mineiro.
Resumo:
1) Tancredo acertou com Múcio (prefeito de Cláudio em 1983) gastar, em valores atualizados, 497,5 mil Reais com uma pista de terra na fazenda do então prefeito. Que teria de desapropriar a sua própria fazenda para a obra pública.
2) Múcio se “esqueceu” de desapropriá-la e Tancredo fez a obra sem fiscalizar o processo de desapropriação. O MP abriu ação de improbidade administrativa e exigia o ressarcimento aos cofres público do investimento feito.
3) Décadas depois (2008), o neto de Tancredo, já governador do estado, resolve a querela: desapropriou o terreno que já era objeto de disputa judicial e fez o aeroporto.
4) Num jogo que parece combinado, o tio Múcio (o mesmo de 1983 e proprietário do terreno) entra na justiça, contestando o valor da desapropriação definida pelo estado (um milhão de Reais).
5) Só que a família, diante da primeira querela, usou desde 1983, até 2008 (por 25 anos) a pista de pouso de forma privativa.
6) De 2010 para cá continua a usar, por causa da segunda querela (a do valor da indenização). Ou seja, 31 anos de apropriação e uso familiar de recursos públicos.
7) Tio Múcio tem 88 anos e não é eterno. A trama é visível: os herdeiros, primos de Aécio, manteriam a querela… se nada disso tivesse vindo à tona.
Eis mais um segredo da “Bolsa Família” das elites vindo à tona.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A única verdade é a morte

Alguma vez, já faz muito tempo, porém diante de outra situação bélica, escrevi que para além dos argumentos, válidos ou não, das explicações, que na maioria dos casos se parecem mais com desculpas ou pretextos do que com razões que surgiram na inteligência humana, a única verdade é a morte. É isto que está acontecendo por esses dias na Faixa de Gaza. A isso se poderia acrescentar, com a mesma força e as mesmas evidências, o episódio recente que terminou com a derrubada de um avião comercial na Ucrânia. À margem das palavras, a morte de seres humanos inocentes é a verdade terrível e acusadora que nos atinge na cara como sociedade, como comunidade humana, como civilização.

Poderíamos ingressar no campo das análises e das considerações políticas. Elas existem e não são menos importantes. Mas nem sequer vale a pena entrar nesse terreno quando os campos e as ruas se cobrem de corpos inertes, sem que ninguém possa explicar minimamente a razoabilidade da absurda e demente semeadura de morte. Pode-se falar da absurda intransigência de uns, do fundamentalismo de outros, da justiça negada e dos direitos não reconhecidos e, sobretudo, do uso irracional, exagerado, não justificado, desmedido, inexplicável da força. Tanto para quem utiliza um enorme poderio militar contra a população civil como para quem dispara mísseis contra alvos desconhecidos ou dirigidos a um avião comercial. Nada, absolutamente nada se justifica.

A única verdade é a morte. E os cúmplices da morte são as grandes potências que seguem dominando o mundo, que jogam seus próprios interesses, que usam a diplomacia para travar ou burlar a justiça internacional e que de maneira covarde, arteira e falaz rasgam suas vestes e fazem declarações supostamente condoídas diante dos familiares das vítimas.

Os mortos que estamos semeando como comunidade internacional são o resultado de um sistema econômico político essencialmente injusto, que não atenta para danos nem para vítimas. Em alguns casos, nem sequer nos sacrificados do próprio bando que, em todo caso, são jovens, migrantes, membros de minorias étnicas em grande parte.

Portanto, não se trata de casos isolados. Em Gaza, na Ucrânia, no Iraque, no Afeganistão ou no lugar que escolherão amanhã os detentores do poder (que poderá ser o pátio da nossa própria casa), operam sempre os mesmos interesses e os mesmos atores. Dirigentes que falam de paz nos organismos internacionais e logo travam resoluções ou ações decididas por maiorias esmagadoras. Supostos líderes internacionais que enchem a boca em público com discursos pacifistas e em particular aprovam operações de guerra e extermínio. Tudo isso converte os discursos de paz dessas pessoas numa grande mentira. Porque a única verdade é a morte. Lamentavelmente.

E todos os que reclamarem justiça e exigirem que seus direitos sejam reconhecidos, serão sempre, em qualquer lugar, “terroristas”... porque subvertem o poder dominante que não admite outra ordem, razões e interesses distintos dos próprios. O que podemos e devemos fazer como cidadãos que defendemos a vida e a justiça diante de tanta insensatez, loucura e irracionalidade exterminadora? Ajudem-me a pensar. Por favor. 


(Washington Uranga, trad.: Clovis Horst Lindner, Artigo de Pagina12, de 22 de julho de 2014)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Tragédia, a nossa?

Enquanto o país inteiro chora, faz piada e entope as redes sociais com sua raiva intestinal, extravasando seu lamento pela "tragédia" dos 7x1, outra tragédia real vai sendo construída bem debaixo do nosso nariz: Para cada gol, uma criança morta. É isso mesmo. E olha que nem o golzinho do Brasil escapou de entrar na conta. 

Uma insana chuva de mísseis israelenses na Faixa de Gaza já matou oito crianças. A destruição de 64 casas palestinas, a morte de 32 palestinos e ferimentos sérios em outros 230 é o resultado de uma chacina patrocinada por Israel.

Trata-se de uma clara demonstração de que o principal alvo de Israel não é militar. Israel quer varrer a Faixa de Gaza do mapa, num absurdo exercício de extermínio em massa para limpar o terreno.

O país vítima do maior holocausto do século 20 agora trata de protagonizar a sua própria versão do horror. Bombardeando qualquer alvo no que já está sendo considerado o maior campo de concentração que existiu: a Faixa de Gaza. Enquanto isso, os EUA encobrem os crimes de guerra israelenses e calam o mundo indignado, como expressou muito bem o chargista Latuff (imagem).

Até quando? Talvez, depois de passar a frustração da copa, acordemos para as tragédias reais... Inclusive esta, que é humanitária.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Renovação

A obra do fotógrafo e artista digital argentino Martín De Pasquale é inspiradora. Utilize o Fotoshop da determinação e faça isso também na sua vida. Livre-se do ranço, do cheiro de mofo que vem do seu interior. Recicle seus pensamentos e renove suas ideias. Um bom começo é livrar-se do velho homem que encobre o guri que está dentro do seu peito. Rompa a pele das aparências. Tire a máscara. Mostre a sua alma. Escancare o seu espírito. Você vai ver renascer de dentro de você o menino que nunca saiu dali. Ele está lá! Liberte-o! 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Como construir uma Pátria

Milhares de turistas visitaram Gehlweiler enquanto foi Schabbach

Um dos dias mais impressionantes da nossa viagem à Alemanha foi 25 de maio, quando nossos amigos Erdmuthe e Uli nos levaram ao Hunsrück, região de onde veio grande leva dos imigrantes alemães para o Brasil a partir de 1824, acentuadamente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Detalhes impressionantes reproduziram até a miséria da época.

Grande emoção tomou conta de nós quando percorremos as ruas do povoado de Gehlweiler, uma simpática vila de pouco mais de 250 habitantes, com um riacho e uma ponte de pedra.

Uma verdadeira pintura, tudo para "Die Andere Heimat".

O que chamou especial atenção, entretanto, não é a vila como é hoje, parecida com centenas de outras na região. Este lugar foi um dos pontos dos quais centenas de famílias iniciaram uma inacreditável saga de busca de uma pátria que lhes permitisse sair da miséria e construir um futuro para si e para seus descendentes.

Gehlweiler sem as fachadas de Schabbach é assim.
Em primeiro plano, uma ferraria original, que inspiriou a ferraria da "Família Simon".

É uma história emocionante. E ela foi registrada em livro há três décadas por Edgar Reitz, diretor de cinema alemão. Ele mesmo encarregou-se de transformar sua obra num épico do cinema alemão em 2012. Para isso, transformou Gehlweiler, a vila real, no lugar da história do seu livro, Schabbach.

O interior de uma casa adaptado para o filme.

“Die Andere Heimat, Chronik einer Sehnsucht” (A outra pátria, crônica de uma saudade) é a história da família Simon, que resolveu juntar seus poucos pertences numa carroça e partir para a América em busca de uma nova pátria, junto com centenas de outras famílias, de Schabbach e de outras vilas do Hunsrück. Seu destino, o interior do Rio Grande do Sul, local em que surgiu uma nova Hunsrück, nas muitas picadas da serra gaúcha.

Cena do filme, rodado em preto e branco e cores, para acentuar o drama e o aspecto histórico.

O que empurrou os Simon e seus conterrâneos para fora da antiga pátria foi o trinômio fome-miséria-opressão política. O filme de longa duração (230 minutos!) conta em detalhes este drama, protagonizado pela Alemanha do século 19 para reduzir a miséria em seu território. Muitos, de tão pobres e desesperados, venderam seus últimos pertences para comprar a passagem de navio. Com o ticket na mão, imaginaram ter comprado o ingresso do paraíso. Nem sempre isso se confirmou e, na nova pátria a miséria também atingiu muitos deles e se prolongou por gerações. É uma longa história, que não vou detalhar aqui.

Jakob Simon e o livro que o levou a sonhar com o Brasil.

De volta a Gehlweiler. Para registrar seu épico e transformar Gehlweiler em Schabbach, Edgar Reitz e sua brilhante equipe (melhor filme alemão de 2013) reconstruíram o ambiente em que viviam os miseráveis que deixaram a Alemanha. Os detalhes dos cenários de fachadas que refizeram a vila são de uma impressionante verossimilhança. O que se vê no filme pode ser visto hoje em parte no interior do sul do Brasil. A “outra” pátria não se tornou tão outra assim. Em muitos casos, nem tão promissora quanto os sonhos dos que largaram tudo lá para refazer a mesma coisa aqui.

Jakob Simon na hora do embarque, diante do cartaz do Império Brasileiro com gentil convite.

Como diz Edgar Reitz, “Pátria não se herda, não se compra, não se vende. Pátria só se pode edificar”. E isso vale para Gehlweiler/Schabbach e vale também para Montenegro, Ivoti, Feliz, Linha Nova, Picada Hartz, Picada Café, Rondon, Matelândia ou qualquer outro lugar, em qualquer canto do planeta.

Além de contar essa história em detalhes, o filme também é uma lição de metas, objetivos e esperanças para as novas gerações, que embarcam na vida decepcionados com a “pátria” que recebem de seus pais (que não se pode herdar, segundo Reitz) ou que gostariam de tirar da prateleira de algum shopping (também não é possível comprar uma pátria). Também hoje os jovens precisam aprender, a duras penas, que “pátria” é somente aquela que erguemos com nossas próprias mãos, na Alemanha, no Brasil ou em qualquer lugar do planeta.

Inclusive o Planeta Terra, nossa pátria globalizada, somente poderá continuar a ser uma “pátria” se nos ocuparmos de seus problemas graves de sustentabilidade, equilíbrio ambiental e energético; paz, justiça e igualdade para todos os seus habitantes. Que Deus nos ajude a “construir” pátria também hoje, com todas as implicações de nossos sonhos e esperanças. Porque, quando nascemos, também temos somente um ticket somente de ida, rumo ao futuro, que não cai pronto do céu, mas nós mesmos construímos.

Enquanto aguardamos pelo filme em DVD (lançamento previsto para o dia 10 de julho na Alemanha), convido você a olhar fotos e vídeos no Youtube que falam do filme. Aguardo com ansiedade para ver toda a obra!

(Clovis Horst Lindner)

Veja também os seguintes filmes sobre a montagem de Schabbach em Gehlweiler e sobre a casa preparada para as filmagens:

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...