Milhares de turistas visitaram Gehlweiler enquanto foi Schabbach
Um dos dias mais impressionantes da nossa viagem à Alemanha
foi 25 de maio, quando nossos amigos Erdmuthe e Uli nos levaram ao Hunsrück,
região de onde veio grande leva dos imigrantes alemães para o Brasil a partir
de 1824, acentuadamente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Detalhes impressionantes reproduziram até a miséria da época.
Grande emoção tomou conta de nós quando percorremos as ruas
do povoado de Gehlweiler, uma simpática vila de pouco mais de 250 habitantes,
com um riacho e uma ponte de pedra.
Uma verdadeira pintura, tudo para "Die Andere Heimat".
O que chamou especial atenção, entretanto, não é a vila como
é hoje, parecida com centenas de outras na região. Este lugar foi um dos pontos
dos quais centenas de famílias iniciaram uma inacreditável saga de busca de uma
pátria que lhes permitisse sair da miséria e construir um futuro para si e para
seus descendentes.
Gehlweiler sem as fachadas de Schabbach é assim.
Em primeiro plano, uma ferraria original, que inspiriou a ferraria da "Família Simon".
É uma história emocionante. E ela foi registrada em livro há
três décadas por Edgar Reitz, diretor de cinema alemão. Ele mesmo encarregou-se
de transformar sua obra num épico do cinema alemão em 2012. Para isso,
transformou Gehlweiler, a vila real, no lugar da história do seu livro,
Schabbach.
O interior de uma casa adaptado para o filme.
“Die Andere Heimat, Chronik einer Sehnsucht” (A outra
pátria, crônica de uma saudade) é a história da família Simon, que resolveu
juntar seus poucos pertences numa carroça e partir para a América em busca de
uma nova pátria, junto com centenas de outras famílias, de Schabbach e de
outras vilas do Hunsrück. Seu destino, o interior do Rio Grande do Sul, local
em que surgiu uma nova Hunsrück, nas muitas picadas da serra gaúcha.
Cena do filme, rodado em preto e branco e cores, para acentuar o drama e o aspecto histórico.
O que empurrou os Simon e seus conterrâneos para fora da
antiga pátria foi o trinômio fome-miséria-opressão política. O filme de longa
duração (230 minutos!) conta em detalhes este drama, protagonizado pela
Alemanha do século 19 para reduzir a miséria em seu território. Muitos, de tão
pobres e desesperados, venderam seus últimos pertences para comprar a passagem
de navio. Com o ticket na mão, imaginaram ter comprado o ingresso do paraíso.
Nem sempre isso se confirmou e, na nova pátria a miséria também atingiu muitos
deles e se prolongou por gerações. É uma longa história, que não vou detalhar
aqui.
Jakob Simon e o livro que o levou a sonhar com o Brasil.
De volta a Gehlweiler. Para registrar seu épico e
transformar Gehlweiler em Schabbach, Edgar Reitz e sua brilhante equipe (melhor
filme alemão de 2013) reconstruíram o ambiente em que viviam os miseráveis que
deixaram a Alemanha. Os detalhes dos cenários de fachadas que refizeram a vila
são de uma impressionante verossimilhança. O que se vê no filme pode ser visto
hoje em parte no interior do sul do Brasil. A “outra” pátria não se tornou tão
outra assim. Em muitos casos, nem tão promissora quanto os sonhos dos que
largaram tudo lá para refazer a mesma coisa aqui.
Jakob Simon na hora do embarque, diante do cartaz do Império Brasileiro com gentil convite.
Como diz Edgar Reitz, “Pátria não se herda, não se compra,
não se vende. Pátria só se pode edificar”. E isso vale para
Gehlweiler/Schabbach e vale também para Montenegro, Ivoti, Feliz, Linha Nova, Picada
Hartz, Picada Café, Rondon, Matelândia ou qualquer outro lugar, em qualquer
canto do planeta.
Além de contar essa história em detalhes, o filme também é
uma lição de metas, objetivos e esperanças para as novas gerações, que embarcam
na vida decepcionados com a “pátria” que recebem de seus pais (que não se pode
herdar, segundo Reitz) ou que gostariam de tirar da prateleira de algum
shopping (também não é possível comprar uma pátria). Também hoje os jovens precisam
aprender, a duras penas, que “pátria” é somente aquela que erguemos com nossas
próprias mãos, na Alemanha, no Brasil ou em qualquer lugar do planeta.
Inclusive o Planeta Terra, nossa pátria globalizada, somente
poderá continuar a ser uma “pátria” se nos ocuparmos de seus problemas graves
de sustentabilidade, equilíbrio ambiental e energético; paz, justiça e
igualdade para todos os seus habitantes. Que Deus nos ajude a “construir”
pátria também hoje, com todas as implicações de nossos sonhos e esperanças.
Porque, quando nascemos, também temos somente um ticket somente de ida, rumo ao
futuro, que não cai pronto do céu, mas nós mesmos construímos.
Enquanto aguardamos pelo filme em DVD (lançamento previsto
para o dia 10 de julho na Alemanha), convido você a olhar fotos e vídeos no
Youtube que falam do filme. Aguardo com ansiedade para ver toda a obra!
Veja também os seguintes filmes sobre a montagem de Schabbach em Gehlweiler e sobre a casa preparada para as filmagens:
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