quarta-feira, 17 de março de 2010

Quando o assunto é cota, vamos à guerra


A Deutsche Telekom, gigante alemã das telecomunicações, vai introduzir uma cota de 30% dos postos entre seus executivos para mulheres até o final de 2015. Será a primeira empresa entre as 30 maiores companhias abertas da Alemanha. Esforços anteriores nesse sentido eram bem-intencionados, mas não muito bem-sucedidos. Dos 130 mil funcionários da empresa na Alemanha, apenas 32% são mulheres, e somente 13% dos postos administrativos de médio e alto escalão são ocupados por elas.

Não se trata de contratar mulheres apenas por contratar mulheres, mas conseguir uma estrutura de competição e de procura de talentos, num país em que cresce o número de mulheres diplomadas nas universidades, atualmente 60% do total de formandos. Segundo os especialistas, quem não está contratando mulheres hoje em dia, na verdade está focando apenas na metade dos talentos disponíveis no mercado.

A iniciativa da Deutsche Telekom acendeu um debate na Europa sobre o melhor caminho para elevar o número de mulheres em postos executivos nas empresas. “Como economista, sou a favor da autorregulação e da criação de incentivos voluntários para que as companhias contratem mulheres”, disse Elke Holst, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica. “Mas pessoalmente sinto que muito pouco aconteceu e que uma ação mais forte, como a legislação, pode ser necessária.” Segundo o Instituto, as mulheres atualmente ocupam apenas 2,5% dos conselhos diretivos das 200 maiores empresas alemãs e 10% dos conselhos de supervisão.

A Alemanha está seguindo o exemplo da Noruega, que introduziu a lei de cotas que obriga as empresas a terem 40% de mulheres em cargos de chefia, estabelecendo penalidades às empresas que não atingem esta cota. Também já adotaram legislação de cotas a Finlândia, a Suécia e a França.

A tendência até agora na Europa tem sido de insentivar iniciativas voluntárias de levar mais mulheres aos cargos de chefia. Entretanto, ninguém cobra das empresas que não cumpriram as metas que elas mesmas colocaram. Para a associação Mulheres em Conselhos de Supervisão, leis que obriguem as empresas a respeitar cotas são necessárias. Nem todas as mulheres concordam. Para algumas, as cotas podem garantir a igualdade, mas não necessariamente o mérito.

Aqui no Brasil, quando se fala de cotas, toca-se num assunto tabu. No caso das cotas para negros nas universidades, então, o chão chega a tremer. Pessoalmente, considero que os argumentos válidos para debater uma legislação de cotas para toda a Europa sobre a presença do talento feminino nas empresas encaixam-se com precisão no debate sobre cotas nas universidades brasileiras. O argumento mais usado para combater as cotas - além de afirmar que a cota é uma forma de racismo invertido (!), o que é um golpe abaixo da linha de cintura - é o da igualdade para entrar na universidade, quando é sabido e notório que não há igualdade alguma. E isso, historicamente...

Infelizmente, nos falta sobriedade e maturidade intelectual para debater o assunto num nível civilizado. O tema certamente é polêmico. A diferença de posições, entretanto, apenas deveria ajudar a aprofundar e amadurecer o debate e a reflexão.

Mas, quando o assunto é defender a própria opinião, nos comportamos como se estivéssemos numa guerra. Cada um fica na sua trincheira e vai atirando a esmo. O que importa é atingir o outro. De preferência, para matar. Muito pouco se considera a possibilidade de um debate real. Ouvir não faz parte. Ceder, nem pensar! Nem um único milímetro... Para a maioria dos brasileiros, é muito mais uma questão de torcida, de lado... Temos muito a aprender ainda.

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