terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma pausa no Amargo Pesadelo



Esta sequência do filme “Amargo Pesadelo” foi um maravilhoso encontro do acaso, e merece ser relembrada pela sua beleza. Eu também estou aprendendo que pessoas especiais têm dons muito especiais, que nós, normais, temos dificuldade em compreender. A música é uma linguagem universal, que permite que entremos no mundo lindo de pessoas como este garoto do filme. Antes, porém, vamos à história desta sequência, que me marcou muito desde que a vi no cinema pela primeira vez.

O filme estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos e, para esta sequência, o diretor John Boorman fez a locação de um posto de gasolina num lugar isolado, onde vários atores iriam contracenar com o proprietário do posto, que morava no local, com a sua mulher e o seu filhofilho. O rapaz era autista e nunca saía do terreno da casa.

Naquele cenário insólito aconteceu a cena mais marcante que o diretor teve a felicidade de encaixar no filme. Num dos cortes para refazer uma cena de abastecimento, um dos atores, que era músico e sempre andava acompanhado de seu violão, já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa, aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto. Como houve uma resposta musical por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar. O resultado, para quem não viu o filme ou quer relembrar a espetacular cena, pode ver o vídeo.

O garoto é verdadeiramente um autista. O diretor incluiu o garoto, que não estava nos planos do filme. Alguns detalhes chamam a atenção: a alegria do pai curtindo o duelo dos instrumentos, dançando; a felicidade da mãe captada numa janela da casa; a reação autêntica de um autista, quando o ator músico quer cumprimentá-lo no final.

Vale a pena o duelo, a beleza do momento e, mais que tudo, a alegria do garoto, a sua expressão. No início está distante, mas à medida que toca o seu banjo ele cresce com a música e vai se deixando levar por ela, até transformar a sua expressão num sorriso contagiante, transmitindo a todos a sua alegria.

A alegria de um autista, que é resgatada por alguns momentos, graças a um violão forasteiro. O garoto brilha, cresce, exibe seu sorriso e seu talento, que a magia da música traz à superfície. Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada por acaso, no filme “Amargo Pesadelo”, de 1972.

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