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Hoje, há 50 anos, o Brasil entrava de cabeça no período mais terrível da sua história política. Foram 21 anos de cerceamento das liberdades individuais e políticas, em nome da falácia de combater o comunismo. Os partidos foram extintos, o congresso foi fechado, os opositores foram perseguidos, torturados e mortos, muitas vezes em processos kafkianos (Leia o livro "O Processo", de Franz Kafka). Quem ousava falar, insinuar ou até mesmo pensar diferente, vivia escondido pelos cantos...
Para este dia, um magistral texto do filho de preso político Ricardo Gondim. Ainda menino, ele viu o seu pai sendo preso no primeiro dia do golpe, 1 de abril de 1964. Além do texto abaixo, confira outras reflexões do pastor Da Assembleia de Deus Bethesda, contando sua saga pessoal com um regime que, em nome de sua ideologia torta e a serviço do Big Boss, voltou-se contra o seu próprio povo. Confira:
Madrugada de 1 de abril de 1964. O sol, envergonhado, sujeita-se às sombras. Nas estradas tortuosas de Minas Gerais, tanques, feito lesmas diabólicas, se arrastam rumo ao Rio de Janeiro. Nuvens se encolhem no belo horizonte. Um país inteiro assume a posição fetal. Declaro vaga a presidência da república, grita um golpista na Câmara dos Deputados em Brasília. Canalha, reage Tancredo Neves. Acabou-se a democracia. A Constituição está rasgada. Na vassalagem coletiva, a bandeira chora sangue.
O 1 de abril de 1964 permanece vívido em mim. Traumas de um pré-adolescente. Como esquecer? A família ao redor da mesa e mamãe lendo, em alta voz, a carta de despedida que papai conseguiu fazer chegar até nós. Ele não tinha ideia de seu rumo. Onde seria mantido em cativeiro?
Revejo mamãe grávida e espalho cinzas sobre minha calva. Contemplo seu desespero. Sem lugar para morar com os 5 filhos, grávida de gêmeos e sem salário. Sinto-me só ao seu lado. Cogito contratar carpideiras com ordens específicas de prantearem a nossa sorte. O jipe da aeronáutica estaciona na pracinha da Gentilândia trazendo notícias tristes. Ele realmente foi preso. Será mantido incomunicável. Papai é um subversivo e a partir daí, um pária. Trancamos a porta de entrada da casa e choramos. Somos a ponta mais frágil do processo ardiloso de políticos, intelectuais, jornalistas, religiosos, empresários e militares que jogaram o país numa ditadura.
(Leia o restante do texto aqui. Confira também outros textos de Gondim sobre sua saga pessoal durante a ditadura, uma reflexão necessária e dolorida).
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