quinta-feira, 2 de julho de 2015

Profecia e realidade

Tenho uma admiração especial pelos profetas do Antigo Testamento. Segundo os teólogos, receberam uma missão especial de Deus, de alertar o povo desobediente sobre as consequências disso. É uma interpretação legítima, mas torna Deus uma espécie de vingador do futuro.

O que realmente admiro nesses profetas é a sua arguta capacidade de olhar para o momento histórico, para a realidade sócio-cultural e religiosa do povo em determinado momento e, com base nessa análise, puxar os registros e apontar as consequências. Eles eram os passageiros da história que, sem medo, puxavam o freio de mão. Como disse muito bem Dietrich Bonhoeffer, se atiravam nos raios da roda para parar a carroça. Muitos perderam a própria vida por isso, foram perseguidos e considerados traidores.

Longe de mim querer ser como os profetas bíblicos. Sou um reles cidadão assustado com o que está acontecendo. Mesmo assim, ouso profetizar. Faz parte da minha atribuição de anúncio e de denúncia. Quem mandou dizer "sim" ao ministério...

Eis minha profecia. Vejo com grande preocupação o que estão fazendo com o nosso país. Não veremos o apagar das luzes do século 21 sem lamentar profundamente no que terá sido transformado a nossa pátria. Não estarei lá para ver. Mesmo assim, segue o meu alerta.

Querem trazer de volta a lei do Talião, do "olho por olho, dente por dente". O Brasil  está a largos passos se transformando no que Gandhi tão sabiamente alertou: "Olho por olho, e acabaremos todos cegos". Em 2050 teremos uma nação de cegos e banguelas.

Teremos uma educação que se esmerará em criar machos dominantes e fêmeas submissas e que, sobretudo, usará de todos os meios para combater tudo o que se considera transgressão e perversão em matéria de sexualidade.

Teremos uma nação que tratará a juventude como potencialmente criminosa e a colocará atrás das grades. E o fará, sobretudo, com base numa equivocada ideologia de segurança, que reluta em confessar que falhou na educação dos jovens.

Teremos leitura da Bíblia e cultos evangélicos nos parlamentos, como forma de mostrar o quanto estamos próximos do deus que criamos à nossa própria imagem e semelhança, justificando plenamente nosso instinto corrupto e hipócrita, e nos autodenominando "do bem".

Teremos uma nação em que ideologias serão consideradas proscritas e expressões religiosas enquadradas como anátema. O passado histórico do catolicismo como religião de Estado será apenas a lembrança de tempos amenos, em que a intolerância religiosa era tratada com batismo e chibatadas no pelourinho. No Brasil da intolerância do século 21, essas coisas serão assunto de polícia, da justiça comum... e da turba raivosa com autorização para o linchamento.

Muitas outras coisas se pode prever, numa sociedade movida por ódio e intolerância religiosa e política. Mas eu fecho com um alerta: Não culpem Deus depois. Ao contrário do que dizem sobre ele, Deus não é um vingador do futuro. Os culpados seremos nós mesmos. Cito novamente Bonhoeffer: De nada adianta caminhar na direção contrária dentro de um trem em alta velocidade, porque isso não mudará a sua direção. Lembre-se dos raios... É preciso parar o trem.

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