quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Asilo artístico

Cartum de Carlos Latuff protegido no gabinete do desembargador Siro Furlan.

A figura jurídica do Asilo Político nós todos conhecemos. É um recurso jurídico que permite que um cidadão de um país que está sofrendo discriminação ou perseguição por motivos políticos possa pedir asilo em outro país, onde possa viver em segurança.

Agora, você já ouviu falar de Asilo Artístico?

Pois foi exatamente isso que o desembargador Siro Darlan concedeu na semana passada a uma obra de arte, um quadro do polêmico cartunista Carlos Latuff. A obra "Por uma cultura de paz", mostra um policial fardado atirando contra um homem negro crucificado.

A polêmica fica evidenciada em algumas características da obra de Latuff, que coloca um negro numa cruz, de braços abertos, como Jesus, com um fio de sangue escorrendo do coração, num ferimento supostamente provocado pela arma de um policial militar que está aos pés da cruz ainda com a arma na mão.

O objetivo do artista foi homenagear o pedreiro Amarildo de Souza, de 43 anos, desaparecido desde 14 de julho após ter sido conduzido por policiais militares de sua casa até a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha.

Não há dúvida que não somente o negro foi crucificado. O próprio cartum de Latuff está sendo pendurado na cruz, como Jesus Cristo. Mas ele não está sendo crucificado pela igreja, por católicos fervorosos ou cristãos indignados.

A obra está sofrendo censura de parte do próprio Judiciário carioca. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Darlan abrigou a gravura no dia 2, após o Órgão Especial do TJ-RJ determinar a retirada do quadro da parede do gabinete do juiz João Batista Damasceno, da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio. A decisão foi tomada após solicitação do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), encaminhada naquele mesmo dia à presidente do TJ-RJ,desembargadora Leila Mariano.

A atitude corajosa e acolhedora do desembargador, entretanto, suscitou nova ação. Na terça-feira 10, Darlan foi comunicado verbalmente pelo corregedor do tribunal, desembargador Valmir de Oliveira Silva, de que o Órgão Especial também decidiu que o quadro deveria ser retirado de seu gabinete. Darlan, que não integra o Órgão Especial, solicitou que fosse informado oficialmente da ordem judicial, o que não havia acontecido até terça à noite.

Ele não pretende retirar o quadro da parede, que está num espaço particular que é o seu gabinete de trabalho. Darlan pretende abrigar a obra de arte em seu gabinete até a data de seu leilão, no próximo dia 24, na Casa da Gávea, na zona sul do Rio. A produtora Paula Lavigne foi convidada a comparecer ao evento. O dinheiro arrecadado será revertido em benefício da família do pedreiro Amarildo de Souza.

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