Enquanto as autoridades entraram num jogo de empurra empurra
desde antes do Natal, o caldo vai engrossando na ocupação Amarildo de Souza, em
Florianópolis. Já passa de 200 pessoas na ocupação de um terreno de 600
hectares no bairro Vargem Pequena, às margens da SC-401, a rodovia que leva às
praias do norte da Ilha de Santa Catarina.
O terreno, segundo a justiça, pertence ao ex-deputado
estadual Artêmio Paludo (dois mandatos, uma pela extinta ARENA e outro pelo
extinto PDS, o primeiro em pleno regime militar e o segundo no apagar das luzes
do dito cujo). A família de Paludo quer instalar um clube de golfe ou um
condomínio na área, mas hoje é uma fazenda de crustáceos entregue às moscas. Segundo
a família e a justiça, não se trata de “área improdutiva”.
Os acampados, gente que quer um telhado sobre a cabeça e um
lugar para viver, vem recebendo diversos apoios que só engrossam o caldo social
em estado de ebulição no local, como um grupo de índios e estudantes da UFSC
que lutam por moradia digna para os acampados e também para si, defendendo que
uma universidade de 30 mil estudantes não pode se contentar em oferecer apenas
300 moradias estudantis.
Quanto aos índios, querem um lugar no centro da cidade para
ficar e vender seu artesanato, única fonte de renda dos Kaingang e de todas as
tribos. É justo e urgente, até para parar de confundir índio vendendo
artesanato com indigente. Eles estão trabalhando!
A execução da ordem de reintegração de posse depende da
burocracia.
Enquanto isso, a sociedade “de bem” se apressa em julgar os
acampados como baderneiros, gente desqualificada movida por interesses
políticos etc. O editorial da IC Record e os textos da coluna de Moacir Pereira
na RBS são de arrepiar. A enxurrada de preconceitos é tamanha que sequer merece
revide.
Resumo da ópera: a ocupação Amarildo de Souza é só mais uma
de centenas de situações semelhantes em todo o país. Depois de mais de uma
década no governo, a esquerda não fez nada pela Reforma Agrária. Em nome da
governabilidade, traiu seus princípios mais caros e fugiu da reforma agrária
como o diabo da cruz.
E o Brasil continua sendo o que sempre foi: um dos países
mais injustos do mundo na questão do uso da terra. A constituição garante “fim
social” para a terra. O que se fez, desde as capitanias hereditárias, sempre
foi defender o “direito de propriedade”. Quem tem terra, é do bem. Quem não
tem, que vá plantar batatas no inferno. É assim que se pensa e é assim que se
age, no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. E é também assim que se
prega, insistentemente, na imprensa. E a sociedade fica de claque...
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