A Rede Ecumênica da
Juventude-REJU publicou, nesta quarta-feira 8 de maio, uma nota contra a
redução da maioridade penal. A nota dos jovens tem o meu total apoio. Por isso
a publico aqui, para nossa reflexão acerca das precipitadas iniciativas de “solução”
para a “criminalidade” praticada por adolescentes e jovens e elevada à milésima
potência pela mídia brasileira nos últimos dias, colocando adubo na cultura do
medo que domina a nossa sociedade. Leia a nota da REJU:
NOTA CONTRA A
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Diante da súbita
retomada da discussão acerca da viabilidade da diminuição da maioridade penal,
a Rede Ecumênica de Juventude (REJU) entende que não poderia posicionar-se,
senão, contrária às linhas de pensamento que propõem tal redução, assim como a
qualquer outra medida que, de forma camuflada, apresente “solução” que, na
prática, culminaria em resultado semelhante.
É sabido que a
opinião popular geralmente inclina-se em favor do tratamento de adolescentes em
conflitos com a lei igual ao de indivíduos adultos acreditando-se que tal
alteração deverá promover a diminuição da violência e criminalidade que assolam
as grandes cidades brasileiras. Acreditamos que, em parte, a desinformação e a
cultura do medo, exploradas pela grande mídia sejam responsáveis por essa
crença. Especialmente quando analisados alguns dados importantes, como os
fornecidos pela Fundação Casa (São Paulo), que significativamente apontam que,
dos aproximadamente 9.016 internos, apenas 0,6% estão encarcerados por motivo
de assassinato*.
É significativo
justamente porque, de forma oportunista, alguns políticos, depois de casos de
assassinato cometidos por/ou com a participação de adolescentes e amplamente
divulgados pelos noticiários, valem-se de tal inclinação popular a fim de
promoverem-se diante dos eleitores, propondo alterações em legislações
específicas que resguardam tratamento diferenciado @s adolescentes brasileir@s.
É óbvio que as
pautas de segurança pública devem vir à tona e serem discutidas amplamente. Não
obstante, tal debate deve ser qualificado, de modo a não ceder a medidas
“populistas”, nem tampouco sucumbir em decisões superficiais que, quando muito,
vão agravar as situações de precariedade na qual noss@s adolescentes e jovens
estão sujeit@s.
Ora, qualificar o
tema significa levar em conta, primeiramente, os aspectos jurídicos em questão.
Oportunamente, o jurista Pedro Monteiro foi incisivo ao lembrar que:
A proposta da
redução da idade penal é uma das atuais pérolas do popularismo penal
brasileiro, cuja realização no presente quadro constitucional brasileiro é
impossível. Na Constituição Federal, a inimputabilidade do menor de 18 anos é
um direito individual do adolescente, sendo, portanto, cláusula pétrea que não
pode ser abolida por emenda constitucional, tendo em vista o disposto no art.
5.º, § 2.º combinado com os artigos 60, § 4.º e 228 da Constituição Federal **.
Ainda assim, há
pelo menos 5 projetos*** tramitando no Congresso que visam emendar a
Constituição Federal para tornar imputáveis @s adolescentes em conflitos com a
lei (PECs – Projetos de Emenda Constitucional). Todavia, devido a dificuldade
de tais ações em alcançarem êxito, pela razão acima exposta, há pouco, o
governador Geraldo Alckmin enviou ao Congresso uma proposta de reforma do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), propondo medidas mais duras para
infrações contra a vida cometidas por adolescentes. Em suma, a pretensão é que
o adolescente permaneça mais tempo internado. A previsão atual é de 3 anos. O
governador propõem 8 anos.
Entendemos que tal
reforma não se trata senão de uma estratégia político-jurídica a fim de se
conquistar o mesmo resultado, só que por outras vias. Na prática, a
consequência seria a mesma que queremos evitar. Isto é, o agravamento das
condições questionáveis às quais @s adolescentes internados são submetidos. As
falhas nas medidas socioeducativas, que envolvem desde precariedade ao
atendimento, escassez de atividades educativas e culturais, bem como distintas
violações de direitos humanos, produzem a reincidência de delitos entre os
jovens que vão gradativamente, entre uma passagem e outra pela Fundação Casa,
por exemplo, aumentando de roubo e tráfico para latrocínio e homicídio.
Para tanto,
rejeitamos a lógica “industrial” no trato de adolescentes, essa lógica pela
qual seres humanos são manejados como componentes de um maquinário, de modo que
quando não se apresentam funcionais, são lançados fora da linha de produção. Ao
contrário, pensamos de forma humanística, depositando nossa esperança não no
“dogma da pena”, mas sim em medidas afirmativas que estão alicerçadas na
concretização das garantias contidas em nossa própria Carta Magna – educação,
trabalho, lazer, cultura, etc. Tais medidas representam a prevenção para muitos
males sociais e favorecem o protagonismo e a construção de uma vida autônoma
para adolescentes e jovens.
Queremos, então,
propor que senador@s e deputad@s venham a se preocupar mais em como efetivar as
políticas publicas para a juventude ao invés de buscar soluções rápidas e
ineficientes para realidades crônicas, a fim de que @ adolescente, de fato,
possa ter opções dignas; e aquelas pessoas já marcadas por histórias trágicas,
vivenciem a esperança diante da perspectiva de uma vida diferente. Em outras
palavras, desejamos que nossas crianças e adolescentes saboreiem uma vida
digna!
Rede Ecumênica da
Juventude - REJU
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