O general Efrain
Ríos Montt (85 anos) não viverá o suficiente para cumprir a pena de 80 anos a
que foi condenado pelo Tribunal de Sentença da Guatemala, no último dia 10 de
maio. O pastor da igreja “O Verbo”, que se tornou também general e presidente
da Guatemala, agora vai pagar pelo crime de genocídio e delito contra a
humanidade, por ser o responsável direto pelos assassinatos de 1.771 pessoas,
cometidos no curto período de 16 meses em que governou o mais pobre país da
América Central, de março de 1982 a agosto de 1983.
Durante
esse período, Rios Montt promoveu um banho de sangue na Guatemala. O ditador
declarou uma “guerra santa” sem quartel contra o comunismo, o crime comum e a
violência política. Estima-se que dez mil guatemaltecos, a maioria indígenas,
foram vítimas de execuções extrajudiciais e seus corpos atirados em valas
comuns. A bárbara repressão obrigou camponeses a procurar refúgio no outro lado
da fronteira, em acampamentos no México. Mais de 100 mil pessoas fugiram. O
grupo étnico Ixil foi o mais atingido.
Durante
seu mandato de presidente da República, Ríos Montt fazia “sermões” televisivos quase
todos os domingos. “Se queremos paz, temos em primeiro lugar que ter paz em
nossos corações. Se não há paz na família não há paz no mundo. Os guatemaltecos
são o povo eleito do Novo Testamento”, dizia o general pregador, com uma Bíblia na mão.
Vítimas
desse período relataram com detalhes como soldados do exército chegavam nas
suas comunidades, matavam e sequestravam pessoas e violavam mulheres. Uma
testemunha narrou como sua filha de sete anos foi violentada até a morte.
Nos
anos 1980, um quinto da população guatemalteca era evangélica. Em março de
1982, militares golpistas procuraram o pastor da Igreja “O Verbo” para assumir
o governo. Ele recebeu apoio de diferentes setores, entre eles o religioso,
pois o caos e a corrupção asfixiavam o país. O imaginário de um presidente
cristão que traria paz e justiça parecia que se realizaria.
O povo
ixil viveu, então, o seu apocalipse. Ele era acusado de dar guarida a
conspiradores. Durante os primeiros cem dias de governo ocorreu a maior parte
da matança auspiciada pelo Estado. Enquanto o ditador preparava os seus programas
dominicais repletos de citações bíblicas, ele ordenava e consentia na morte de
mais de 3 mil pessoas só no primeiro mês de seu mandato.
A
terrível passagem-relâmpago do pastor-general Ríos Montt pela presidência da
Guatemala é um exemplo assustador do que se pode fazer com uma ideologia na
cabeça e uma Bíblia na mão. Para mim, um dramático exemplo de que o Estado
Laico é o melhor caminho para a democracia.
Os defensores do pastor-general podem ficar sossegados, segundo a ISTOÉ publicou na noite do dia 21 de maio, a suprema corte da Guatemala acaba de anular a sentença contra ele. Veja:
ResponderExcluirCorte Constitucional da Guatemala anula condenação de ex-presidente
A Corte Constitucional (o equivalente à Suprema Corte) da Guatemala anulou a sentença de 80 anos de prisão contra o ex-ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt (1982-1983), de 86 anos, por genocídio e crimes de guerra. No último dia 10, o ex-presidente foi condenado a 80 anos de prisão – 50 pelo massacre de povos indígenas e 30 anos por crimes contra a humanidade e de guerra. Foi determinado um novo julgamento. O ex-presidente, que é general da reserva, cumpre prisão domiciliar e começou a ser julgado em meados de março pela morte de cerca de 771 indígenas da etnia Ixil, na região de Quiche, no Norte do país.
A anulação da sentença, segundo a Corte, foi provocada por erros cometidos durante o julgamento. Os advogados de defesa do ex-presidente argumentaram, em recursos interpostos, que houve equívocos no julgamento. A Suprema Corte da Guatemala aceitou os argumentos do advogado Francisco García, defensor de Ríos Montt.