quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Caçadores à solta, ambientalistas caçados

Wigold, depois de levar um tiro na mão, argumentando com o caçador (a tarja no rosto do caçador foi sugestão do advogado do casal de ambientalistas)


A ousadia da frontal falta de qualquer respeito às leis quase transforma em tragédia um encontro já corriqueiro no pouco que resta da nossa escassa reserva florestal, que põem numa guerra os ambientalistas e os caçadores. O casal de ambientalistas Wigold Schaffer e Miriam Prochnow, que têm reconhecimento internacional e a admiração de todos, viraram caça em sua mata, em Atalanta, nas mãos de Odair Gembro.

Camuflado, Odair caçava tranquilamente na floresta, quando foi surpreendido por um passeio matinal dos donos da propriedade, que estavam tirando fotos da fauna que, a muito custo e contra a falta de escrúpulos de gente como Odair, defendem com seu próprio sangue. 

Irritado por ter sido descoberto apesar da camuflagem, Odair partiu para a agressão. Ao perceber que estavam fotografando, transformou-se em bandido armado disposto a tudo, para botar a mão no instrumento que o incriminava num crime, largamente praticado e pouco reprimido, o da caça da vida selvagem e em risco de extinção.

Afora a brutal violência sofrida por Wigold e Miriam, minuciosamente retratada na matéria de capa do Jornal de Santa Catarina de hoje (Leia a reportagem do Santa aqui), o que espanta é a descarada cara de pau de Odair, um jovem de 27 anos, de agir na contramão da lei e ir à caça em terreno proibido, propriedade particular e protegido por lei federal. Eu até poderia esperar isso de um velho caçador que, de tanta caça, não consegue se livrar do velho hábito de dar uns tirinhos em bichinhos indefesos. Mas, de onde vem esta nova geração de predadores com rifles moderníssimos e uma cabeça tão jurássica quanto a dos velhos barões europeus que praticavam o “esporte” dos safáris na selva africana?

Espanta ainda mais que, ao ser pego em flagrante ato de crime, em vez de reconhecer e fugir com medo da cadeia, enfrenta de arma em punho e com violência extrema quem está em seu pleno direito...

Espanta também que este tipo de crime acontece todo final de semana, em plena luz do dia e nenhum caçador é preso ou conduzido aos tribunais. Nada acontece. Por isso, gente como Wigold e Miriam entram na mata que protegem com medo, acuados como os animais que estes bandidos caçam, convictos que, atrás da próxima árvore, pode estar à espreita um bandido armado até os dentes que, sem escrúpulos de matar um animal indefeso, também não se intimidariam em abater um ambientalista. Eles morreriam como caça. Afinal, já faz tempo que são caçados impiedosamente. 

E agora a realidade é esta. Não são os ambientalistas que expulsam os caçadores da floresta, mas estes mantêm os ambientalistas fora das florestas, para que não incomodem sua hedionda prática de caça predatória e ilegal. Eu pergunto, e a polícia ambiental? Onde está e para que serve? Para se enfurnar em mofados escritórios envoltos em um ar viciado de burocracia movida a papelada e cheiro de cooler de computadores?

Com estas perguntas atravessadas e um nó na garganta indignada, o Programa Ambiental Galo Verde, de ação ambiental nas igrejas cristãs, solidariza-se com o casal de ambientalistas Wigold Schaffer e Miriam Prochnow e vem a público pedir a mais rigorosa apuração dos fatos e a punição exemplar dos caçadores tão à vontade em nossas últimas e minúsculas reservas ambientais.
Pastor Clovis Horst Lindner
Coordenador do Programa Ambiental Galo Verde

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