Hoje, 21 de abril, há 50 anos, o presidente Jucelino Kubitscheck, o JK, inaugurava Brasília. Foram três anos de trabalho ao redor do relógio e muita, muita oposição. Um país inteiro não acreditava que JK conseguiria. Os grandes jornais, os políticos da oposição e da base aliada, os funcionários públicos e os integrantes dos três poderes da República, que não abriam mão da proximidade das belas praias cariocas, combatiam a ideia da transferência da Capital para o sertão de Goiás com toda a força que conseguiam juntar em seus corpos.
Um bom exemplo do clima na imprensa em torno da obra da NovaCap - a empresa criada pelo Governo para construir a capital - é um artigo escrito pelo escritor Gustavo Corsão num dos maiores jornais do Brasil à época. Engenheiro que era, Corsão afirmou que o Lago Paranoá jamais ficaria cheio, porque o solo da região em que a Capital estava sendo construída era muito poroso e absorveria toda a água destinada a enchê-lo. No dia da inauguração, o lago estava cheinho. Uma beleza. Qual não foi a sua surpresa ao receber um telegrama de JK em sua casa, no Rio. Ao abrir o telegrama, havia duas palavras: "ENCHEU, VIU?"
A determinação exagerada de JK presenteou o Brasil com Brasília, hoje patrimônio mundial e uma das mais belas obras de engenharia do século 20 em todo o mundo. Saiu das pranchetas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer um marco da arquitetura mundial e referência em todo o mundo, pela abundância de curvas em seu perfil arquitetônico.
Meio século depois, as polêmicas iniciais foram superadas e Brasília não encheu somente o Lago Paranoá, mas transformou-se numa cidade cheia. Além de sua inegável beleza e importância para a estratégia de desenvolvimento da Nação, também é uma cidade cheia de problemas. O belo Eixo Monumental está hoje cercado de caos urbano. As cidades-satélite são imensas favelas que foram se agregando à cidade de forma desordenada e longe das pranchetas. E também a cidade "ENCHEU, VIU?".
Essa confusão brasiliana é um retrato miniaturizado do próprio país do qual Brasília é a capital. Belíssimo e pronto para engatar marcha de cruzeiro, o Brasil está cheio de problemas para resolver, não só de infra-estrutura, mas principalmente com relação a sua gente. Uma locomotiva turbinada como a economia brasileira não pode continuar arrastando vagões sucateados e cheios de gente que não tem direito algum.
Que o telegrama de JK chegue aos corações dos brasileiros e das brasileiras, despertando para uma reação sem precedentes, no sentido de construirmos uma nação justa e digna para todos os nossos compatriotas. Fome e miséria: "Encheu, viu?"; corrupção e roubalheira: "encheu, viu?"; ensino sem qualidade e falta de habitação: "encheu, viu?"; injustiça no campo e na cidade: "encheu, viu?"; tantos outros problemas: "encheu, viu?"... Que o nosso Lago Paranoá da justiça social, da vida digna para todos, de habitação, terra e educação possa encher de verdade, e rapidamente. Para que possamos encurtar o "Parabéns, Brasília", transformando-o num "Parabéns, Brasil!".
Amigo Clóvis:
ResponderExcluirLinguagem clara e recado direto.Parabéns!
Partilho também meus sentimentos sobre Brasília em http://heitormeurer.blogspot.com
Estimado colega.
ResponderExcluirLi com muito gosto o seu artigo sobre os 50 anos de Brasília. Gostei muito da forma como você relacionou o lado extremamente positivo, progressista desse feito histórico e, por outro lado, as incoerências, injustiças e safadezas relacionadas à Brasilia. Parabéns!
Pena que não conseguimos descentralizar a capital da IECLB. Pelo menos intencionamos descentralizar as decisões no processo da reestruturação. Infelizmente, mudanças estruturais ainda não mudam mentalidades. Vale a pena continuar nesse processo, pois ele deve fazer parte do dia a dia da vida dos cristãos.
Parabéns e abraço cordial,
Huberto Kirchheim