quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A África na pauta da esquerda

Junto ao monumento ao renascimento africano, símbolo de Dakar, montanhas do outro lado da África se acumulam.

Estamos bem no meio da semana em que acontece o maior evento das esquerdas mundiais. Desta vez em Dakar, na África, o Fórum Social Mundial reúne a nata do pensamento social mundial para discutir uma nova fase da descolonização do continente negro, depois de meio século de independência de vários países das suas antigas colônias europeias, comemorados no ano passado. O objetivo é construir um debate propositivo, que permita avançar na questão de como as populações de alguns países africanos podem reconquistar a própria liberdade e construir democracia, livrando-se de novas formas de colonialismo, especialmente na área econômica.

A realidade atual na África é que não somente os países europeus ou os Estados Unidos, colonizadores do passado, avançam sobre os recursos naturais do continente. Os novos ricos do mundo, como o Brasil e a China, copiam velhos modelos e em muitas situações perpetuam a dependência dos países africanos, especialmente no que se refere à transferência de tecnologia. O Fórum Social Mundial em Dakar deve colocar na balança social as chamadas parcerias sul-sul, para avaliar se os modelos propostos por países como o Brasil e a China são de fato bons para o continente africano.

Participam do FSM organizações e pessoas de 123 países. Nascido no Brasil, o encontro tem forte sotaque brasileiro. Mais uma vez, uma das estrelas do encontro será o ex-presidente Lula, cuja retórica não só moldou o Fórum mas o próprio discurso das esquerdas mundiais. Alguns itens importantes da agenda social mundial foram forjados na cabeça do maior líder social das américas na última década.

Agora livre do peso do cargo que exerceu nos últimos oito anos, Lula poderá dar atenção redobrada na busca de algumas conquistas sociais importantes também para o continente africano. Apesar da sanha capitalista de empresários interessados em lucros nas novas fronteiras que por lá se abrem, Lula redescobriu a África. Durante o seu governo, diversos projetos importantes, como pesquisas agrícolas inéditas lideradas pela Embrapa, projetos de combate à AIDS e uma importante fábrica de remédios genéricos em Moçambique, entre outros, foram implementados. Também a dívida externa de vários países africanos com o Brasil foi zerada. Trata-se de um empenho pessoal de Lula. Em sua ótica, o Brasil tem uma imensa dívida para com o continente africano. Seus projetos são um brando início de pagamento desta dívida histórica.

Nesse sentido, os protagonistas do FSM estão certos em monitorar com lupas a nova “conquista” do continente africano. Aquela gente já foi explorada demais, exageradamente, ao ponto da inanição. Como um bagaço de laranja, depois de dar o seu próprio sangue para o desenvolvimento do hoje chamado “primeiro mundo”, a África foi solenemente ignorada e lançada fora. Seu subdesenvolvimento é uma vergonha para a humanidade. A indiferença mata e, neste caso específico, somos todos um pouco assassinos da Mama África.

Um comentário:

  1. Li agora no site da Deutsche Welle que Lula, ao lembrar que o Brasil tem a segunda maior comunidade negra do mundo, depois da Nigéria, apelou à África que perceba que ela tem um "grande futuro", com "seus 800 milhões de habitantes e seu vasto e rico território". Além disso, afirmou que o continente poderia construir sua independência através da produção de alimentos. Ele reafirmou que o Brasil não será uma força dominadora na África, mas sim um parceiro. "Sem ingerências externas, a África pode construir seu destino, seu desenvolvimento econômico e social, sua democracia e sua inserção soberana no mundo", afirmou.

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