terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ser vivo de estimação


Uma experiência inusitada me fez refletir sobre um aspecto pouco considerado na nossa relação com os seres vivos que nos cercam. Aproveitando a bela manhã de sol, estávamos passeando no calçadão da beira-mar de Balneário Camboriú. Muita gente fazendo o mesmo, com a indisfarçada intenção de espantar o frio. Carrinhos de bebê das mais diversas grifes e cães… Cachorrinhos e cachorrões de todos os tamanhos eram solenemente conduzidos entre os humanos na calçada.
Ao chegar à Praça Central, um vendedor de orquídeas ainda organizava seus espécimes de uma das flores mais típicas do litoral brasileiro, embora nem prestemos tanta atenção nisso: a orquídea é nossa! E é de uma beleza tipicamente brasileira: quente e criativa. Ela se apresenta de tantas formas, cores e aromas diferentes que chega a confundir a gente. Desde muito pequeno admiro esta flor. Meu pai já tinha um orquidário e, quando tiver tempo, também vou ter o meu.
Minha esposa encantou-se com uma orquídea da terra, maravilhosa, cor de carne, com quatro majestosos galhos repletos de flores. Num dia pós-dia-dos-namorados, não podia negar o regalo a ela, que é a mais perene das orquídeas na minha vida. Compramos o enorme vaso com os quatro cachos de flores, o metemos numa sacola e voltamos para casa. As flores pareciam ainda mais reluzentes sob o sol da manhã.
Tínhamos nos distanciado uns bons dois mil metros de casa e, sem nenhuma intenção, pegamos cada um numa das alças da sacola que continha a imponente orquídea. Caminhávamos de mãos dadas com aquela flor e, a cada encontro, nos divertíamos com os olhares e os comentários dos passantes e dos abancados. Alguns chegavam a retirar os óculos escuros para admirar melhor aquele inusitado espetáculo. Outros comentavam em voz alta sobre a beleza da flor. Acho que nem nos percebiam e tinham razão nisso.
A cada passo, nossa satisfação aumentava e passamos a desfilar a orquídea ostensivamente, como quem leva um cão de raça para passear. Se outros desfilam o seu cão, por que não podemos levar a nossa flor para passear? Plantas também têm sentimentos, vocês sabiam? Ah, e como têm! Uma palavra, um carinho, um olhar detido podem fazer mais milagres que uma rega com adubo foliar. Pode ter sido só impressão, mas aquela orquídea ficou ainda mais cor-de-carne depois daquele passeio numa das mais badaladas avenidas do litoral do sul do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...