Uma das experiências mais espetaculares que eu vivi na minha
infância tem a ver com o cinema e com a oportunidade de ver um filme que, na
época, já era um bem vivido adulto. Lembro como se estivesse acontecendo neste
momento. A matiné dominical do Cine Teatro Dom Bosco, na minha querida Rio do
Sul, exibia “Branca de Neve e os Sete Anões”, de Walt Disney. Isso foi no ano em torno de 1968 e eu já não era mais tão
criança assim. Mas o meu deslumbramento era indescritivelmente maior do que o
de qualquer criança que hoje vai ver um espetáculo arrebatador em 3D.
Aquilo tudo ficou
registrado em minha mente como uma imagem numa película fotográfica. Cada gesto de Dunga
ou do momento mágico na mina com os anões cantarolando “eu vou, eu vou,
prá casa agora eu vou! Pa, ra, ra, tchim, bum! Eu vou, eu vou!”... está tudo
gravado na minha retina, como se eu tivesse visto o filme ainda ontem.
Eu fico impressionado como eu registrei tantos detalhes
que ficaram profundamente marcados em mim como um DNA em Technicolor... mais até do que detalhes de
“Rei Leão”, que eu vi com o meu neto ao menos umas dezena de vezes.
Pois hoje, dia 4 de fevereiro, completam-se 75 anos da
estreia de “Branca de Neve e os Sete Anões” nos cinemas americanos. O ano era
1938. Era o primeiro filme de animação produzido nos EUA, o primeiro todo em
cores, o primeiro de Walt Disney e tornou-se o primeiro dos seus clássicos.
Desde então, vem sendo relançado a cada dez anos e adaptado às novas tecnologias
cinematográficas, sem nunca, jamais, perder sua encantadora genialidade.
Nunca, desde que os Irmãos Grimm escreveram “Schneewitchen”
(“Branca de Neve” em alemão), essa história era contada com tamanho requinte,
tanta riqueza de detalhes e de forma tão arrebatadoramente comovente.
Quando Disney começou a falar do seu projeto, quase ninguém
acreditou que o público iria ver um filme de longa duração sobre anões. Lilian
Disney, esposa de Walt, temia ficar endividada depois que seu marido apostou
todos os seus bens para emprestar 1,5 milhão de dólares para produzir o filme.
No dia 21 de dezembro de 1937 o filme foi apresentado em
Hollywood para uma pré-estreia para astros e estrelas. Ao final, uma estrondosa
ovação prenunciava o sucesso da empreitada de Disney. Depois do dia 4 de
fevereiro, rapidamente o filme arrecadou 8 milhões de dólares em plena Grande
Depressão americana.
Desde então – e não só até passar pelos meus deslumbrados
sentidos naquele cinema em Rio do Sul –, o filme de Disney lhe rendeu um Oscar
honorário e continua sem perder a força original. Em 2008, o American Film
Institute escolheu Branca de Neve e os Sete Anões como o melhor filme de
animação de todos os tempos.
Nem é preciso dizer que não havia nenhum recurso eletrônico
ou efeitos de computador. Tudo foi minuciosamente desenhado, quadro a quadro,
por centenas de desenhistas sob o exigente crivo do mestre Disney. Só na
criação dos sete anões, que foi a parte mais difícil da produção do filme,
foram necessários 570 desenhistas e várias versões até chegar à versão final.
Um trabalho muito além de grandioso, não acham? Vale a pena conferir ainda
hoje. Especialmente, se você nunca se deslumbrou diante de uma maravilha
cinematográfica, tal qual me aconteceu naquele longínquo domingo à tarde, há
mais de 45 anos passados...
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