quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
A igreja e a VW, a Kombi e Razinger
A Kombi nacional, em sua última versão. É o que a VW do Brasil oferece aos brasileiros.
No dia da aposentadoria do Papa Razinger, é anunciada a aposentadoria de outra cidadã alemã. Trata-se da velha Kombi, veículo montado pela Volkswagen do Brasil desde 1957, mas vendido por aqui desde 1950 (ano do seu lançamento na Alemanha) e produzido exclusivamente no Brasil desde 1996. Sempre do mesmo jeito, sem muita mudança. Assim como Ratzinger via a igreja e a conduziu, desde os tempos de Prefeito e mentor teológico de João Paulo II.
Não sou de fazer comentários sobre automóveis neste espaço, mas a Kombi merece uma reflexão.
A velha Kombi quase não sofreu modificações substanciais no Brasil, com a diferença de ter sido motorizada por pouco tempo com um motor diesel e, desde 2006, receber o motor flex 1.4 do Fox, refrigerado a água.
Enquanto isso, a velha senhora foi submetida a vigorosas atualizações tecnológicas no país de origem desde meados dos anos 1980 e hoje concorre de igual para igual com as mais modernas vans e transporters em produção no mundo.
Já no Brasil – que tem essa mania desde o Fusca, o Opala, o Corcel, a CG 125, a D 20 e até o FIAT Uno – as fábricas vão empurrando tecnologias ultrapassadas goela abaixo da nossa gente, que compra e demostra saudosismo e tristeza quando o produto é descontinuado. A velha Kombi é o exemplo mais longevo desse apego do brasileiro a velharias tecnológicas.
Pasmem, mas a VW não queria tirar a anciã da linha de produção. Tentou, num último arroubo de cara de pau e com a ajuda de um engenheiro da VW alemã em Wolfsburg, encontrar meios de plugar airbag e freios ABS na carroça-mor que monta em São Bernardo do Campo. É que esses itens são obrigatórios no Brasil a partir de janeiro de 2014.
Dietmar Schmitz, o dito engenheiro, aceitou a tarefa que considerou um dos pedidos mais estranhos que já tinha recebido em toda a carreira. Mas, é óbvio, não conseguiu realizar a façanha. Motivo? Simplesmente não encontrou um ponto no eixo dianteiro da Kombi para prender os sensores que enviam ao computador central a mensagem para abrir o airbag em caso de acidente.
Deus é Pai! A velha senhora foi derrotada pelas novas tecnologias e, finalmente, vai para seu lugar de honra: as garagens de colecionadores e os museus. Agora a VW do Brasil vai ter que trazer uma das novas versões da Kombi alemã. Se trouxer a que eu conheci em 1988 na Alemanha, terá dado um salto tecnológico gigantesco. Mas as novas versões da Kombi alemã farão a concorrência entrar em parafuso, porque são realmente veículos dignos do século 21!
O VW Transporter atualmente fabricado na Alemanha. Bem que merecíamos uma Kombi assim por aqui.
De certa maneira, a atitude da VW lembra a Igreja. Em time que está ganhando, não se mexe, mesmo que o resultado seja quase sempre o empate... Ou seja, o conservadorismo nos fornece uma igreja desatualizada e com dificuldade de adaptação às necessidades do século 21. Nessa frouxa comparação, espero que não tentem colocar airbag e ABS em outro ancião para manter o papado no seu velho formato de Kombi e que, finalmente, apresentem um projeto de igreja digno do século 21.
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