O Senado brasileiro programa uma homenagem, na próxima
quinta-feira, devolvendo os oito mandatos de senadores cassados pela ditadura
entre os anos de 1966 e 1969, além de Eduardo Campos (cassado em 1975), o único
vivo. Também Jucelino Kubitscheck (foto) receberá simoblicamente o seu mandato de senador de volta.
Em outra homenagem, a Câmara dos Deputados também devolveu, no último dia
6 de dezembro, os mandatos de 173 deputados federais cassados nas mesmas
condições, dos quais somente 28 estão vivos. Parentes de 145 deputados já
falecidos receberam os diplomas e os broches de uso parlamentar.
Esses dois atos, por si só, derrubam a tese simplista de que
a ditadura foi necessária para livrar o Brasil do iminente comunismo e dos guerrilheiros
terroristas, todos bandidos armados que atentavam contra a instituição. A ditadura fechou as duas casas do povo e
pisoteou a democracia, esmagando à força quem se opunha às suas vilanias.
Aliás, desde 1985, a lenta e gradual reconstrução da nossa
frágil democracia foi toda trabalhada num cuidadoso pisar em ovos. Bastou
surgir a comissão da verdade para que a velha serpente adormecida expusesse as
presas com o veneno pingando nas pontas. A descoberta casual dos documentos
ocultos do caso Rubens Paiva expos de modo dramático uma pequena parte da
verdade dessa guerra suja, sórdida e repleta de mentiras oficiais do exército,
da marinha e da aeronáutica.
Nesse contexto, particularmente aqui no sul, onde ainda se
cultiva o mito do mal menor necessário, a homenagem das duas casas do povo,
devolvendo os mandatos legítimos aos senadores e deputados cassados, é justa e
oportuna. Assim como também são oportunas e justas as indenizações concedidas
às vítimas do exílio, bem como a busca da verdade sobre as torturas e desaparecimentos
políticos ou, ainda, a divulgação plena das atrocidades cometidas pelo regime
em nome desse “mito do mal menor”.
O período entre 1964 e 1985 foi o mais nefasto na história
do Brasil. Enquanto não nos livrarmos dos flashbacks
desse pesadelo absurdo, não vamos consolidar a nossa democracia, porque as
velhas forças, nefastas e oportunistas, estarão sempre prontas a recuperar o
terreno perdido.
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