segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Homenagem contra o mito do mal menor




O Senado brasileiro programa uma homenagem, na próxima quinta-feira, devolvendo os oito mandatos de senadores cassados pela ditadura entre os anos de 1966 e 1969, além de Eduardo Campos (cassado em 1975), o único vivo. Também Jucelino Kubitscheck (foto) receberá simoblicamente o seu mandato de senador de volta. 

Em outra homenagem, a Câmara dos Deputados também devolveu, no último dia 6 de dezembro, os mandatos de 173 deputados federais cassados nas mesmas condições, dos quais somente 28 estão vivos. Parentes de 145 deputados já falecidos receberam os diplomas e os broches de uso parlamentar.

Esses dois atos, por si só, derrubam a tese simplista de que a ditadura foi necessária para livrar o Brasil do iminente comunismo e dos guerrilheiros terroristas, todos bandidos armados que atentavam contra a instituição.  A ditadura fechou as duas casas do povo e pisoteou a democracia, esmagando à força quem se opunha às suas vilanias.

Aliás, desde 1985, a lenta e gradual reconstrução da nossa frágil democracia foi toda trabalhada num cuidadoso pisar em ovos. Bastou surgir a comissão da verdade para que a velha serpente adormecida expusesse as presas com o veneno pingando nas pontas. A descoberta casual dos documentos ocultos do caso Rubens Paiva expos de modo dramático uma pequena parte da verdade dessa guerra suja, sórdida e repleta de mentiras oficiais do exército, da marinha e da aeronáutica.

Nesse contexto, particularmente aqui no sul, onde ainda se cultiva o mito do mal menor necessário, a homenagem das duas casas do povo, devolvendo os mandatos legítimos aos senadores e deputados cassados, é justa e oportuna. Assim como também são oportunas e justas as indenizações concedidas às vítimas do exílio, bem como a busca da verdade sobre as torturas e desaparecimentos políticos ou, ainda, a divulgação plena das atrocidades cometidas pelo regime em nome desse “mito do mal menor”.

O período entre 1964 e 1985 foi o mais nefasto na história do Brasil. Enquanto não nos livrarmos dos flashbacks desse pesadelo absurdo, não vamos consolidar a nossa democracia, porque as velhas forças, nefastas e oportunistas, estarão sempre prontas a recuperar o terreno perdido.

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