Mateus com o avô, praticando lições construtoras de inclusão no IPad.
O dia 3 de dezembro é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, instituído pela ONU. O objetivo desse dia é chamar a atenção para a vida dessas pessoas e promover a inclusão delas na sociedade. A maioria vivia escondida em casa até bem pouco tempo, às vezes em condições inferiores às que recebem os animais domésticos. Em diversos momentos da história humana e em todas as civilizações elas foram vítimas de maus tratos e descaso, quando não de atentado à sua vida.
Hoje, a humanidade empenha-se em adaptar todos os setores da
sociedade às necessidades das pessoas com deficiência (PD), buscando levar em
consideração os direitos humanos, ainda tão desrespeitados em todo o mundo. “Esse
dia quer ser um impulso para que a reflexão e ações sobre inclusão aconteçam
durante todos os dias do ano”, diz a diácona Carla Vilma Jandrey, que coordena
o Programa Diaconia Inclusão, da Secretaria de Ação Comunitária da IECLB.
A IECLB é uma igreja pioneira na reflexão da inclusão para
as pessoas com deficiência, tendo ajudado a colocar alguns marcos no cenário
protestante brasileiro a este respeito. Lembro-me do saudoso Arno Glitz, de
Curitiba, que na década de 1980 levantava esta bandeira em todos os concílios
da igreja, instigando-nos a refletir a questão e a buscar por sinais concretos
de inclusão, como rampas de acesso e banheiros adaptados nas instalações das
igrejas.
O tema da inclusão das PD é objeto de reflexão e estudo em
nossas comunidades. No ano passado, todas as comunidades da IECLB receberam um
material com o tema “Normal é ser diferente”, que chama atenção para a
necessidade de construir comunidades inclusivas para todas as pessoas. O dia de
hoje também quer refletir sobre a remoção das barreiras para
criar uma sociedade inclusiva e acessível para todas as pessoas.
Há diversos subsídios para a reflexão neste dia. Em agosto a
IECLB distribuiu o caderno da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, com
subsídios para tratar do assunto nos grupos comunitários, cujo material pode
ser encontrado na íntegra no Portal Luteranos.
Neste material há um texto sobre os seis
eixos da acessibilidade – arquitetônica, comunicacional, instrumental,
programática, atitudinal e metodológica – para refletir sobre acessibilidade nas
comunidades.
Para muito além das quatro paredes da IECLB, entretanto, o
Dia Internacional das PD é um gigantesco desafio de inclusão no planeta, em
especial nas regiões mais pobres. Enquanto aqui no Brasil se fala em inclusão
escolar das crianças com deficiência, que tem o objetivo de socializar e chamar
atenção das pessoas “normais” para a existência daquelas que aos nossos olhos
não o são, há muita desgraça neste aspecto no mundo. Lembro, por exemplo, das
milhares de vítimas de minas terrestres na África. Crianças, jovens e adultos que perderam pés,
pernas, mãos ou braços por causa das minas terrestres, a maioria delas de
fabricação brasileira... Muitas vivem na mais absoluta miséria e abandono, sem
condições de garantir seu sustento e abandonadas pela sociedade que lhes causou
os ferimentos.
Mas também não posso deixar de olhar para dentro da minha
própria casa, onde há uma adorável criança de seis anos, que é o Mateus. Meu neto é uma
criança carinhosa, que adora nadar e sair para passear, ver as luzes da cidade
e encantar-se com as belezas que nós, ditos normais, muitas vezes nem
enxergamos mais, em nossa louca correria estressante. Ele sobretudo é um apaixonado por música, que ele milagrosamente domina para muito além da maioria das crianças, que nós tão superficialmente classificamos como "normais". Mas é uma criança totalmente
dependente dos que a cercam para locomover-se, comer, vestir-se, limpar-se, entender os
recados que consegue transmitir (ele ainda não fala, mas entende tudo) e para
levar uma vida plena.
Para chegar ao atual estágio de desenvolvimento, aos seis anos ele já enfrentou mais sessões de fisioterapia e fonoaudiologia do que qualquer estudante de medicina enfrenta de aulas em seu curso na faculdade. Cada avanço seu na área comunicacional ou motora é como se ele tivesse passado de ano na escola. Cada avanço em sua vida equivale a uma formatura.
Fico pensando como seria a sua vida se tivesse nascido num
ambiente sem recursos, hostil e despreparado... Ainda assim, temos que protegê-lo
o tempo todo dos que não entendem, não aceitam, não têm abertura para lhe dar o
espaço que é seu ou mesmo coragem para aproximar-se e tentar conhecer melhor esta tão adorável criatura de Deus.
Muitos sequer aceitam que ele socialize num ambiente escolar
normal, junto de outras crianças. Na sala de aula, ele ensina lições inimagináveis a quem
se aproxima dele no ambiente escolar, como o fato de se tornar um mascote das crianças da sua
turma, que o adotam incondicionalmente.E isso é inclusão, de um jeito tão completo que nós adultos temos muita dificuldade em aprender...
Este pequeno ser, tão frágil e dependente, mas ao mesmo
tempo tão agarrado à vida quanto qualquer um de nós, é um herói desde o
dia do seu nascimento. Por isso, no dia de hoje, rendo uma comovida homenagem a Mateus, meu amado Mateus...
Todos os PD são heróis desde o nascimento. Por isso, a
sociedade dos ditos “normais” não pode ignorar os 20 milhões de PD que
participam hoje do universo das pessoas que vivem no Brasil. Inacreditavelmente, entretanto, ainda gastamos verdadeiras fortunas em pets, deixando de lado gente como nós, só porque nos negamos a entrar de cabeça e mente aberta no seu mundo, às vezes tão restrito na nossa visão, mas tão largo e inacreditavelmente mais aberto a sentimentos do que o nosso...
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